Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para a suposta inconsistência do índice de desemprego anunciado pelo Governo Federal em razão da metodologia adotada nas pesquisas pelo IBGE.

Autor
Ataídes Oliveira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: Ataídes de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Alerta para a suposta inconsistência do índice de desemprego anunciado pelo Governo Federal em razão da metodologia adotada nas pesquisas pelo IBGE.
Aparteantes
Cássio Cunha Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2015 - Página 175
Assunto
Outros > TRABALHO
Indexação
  • APREENSÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, ENFASE, AUMENTO, INDICE, DESEMPREGO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, REALIZAÇÃO, PESQUISA, AUSENCIA, NIVEL, AMBITO NACIONAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, VERACIDADE, DADOS, INCLUSÃO, CIDADÃO, SITUAÇÃO, RECEBIMENTO, SEGURO-DESEMPREGO, ESTATISTICA, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE).

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Obrigado, Sr. Presidente.

    Ontem, estive nesta tribuna para falar sobre o desemprego no Brasil. Hoje, retorno aqui e volto novamente a esse tema, que muito me preocupa.

    Sabemos que o Brasil é um barco enorme e que o Governo Lula e o Governo Dilma fizeram enormes buracos no seu casco. No entanto, este País não afundou. Este País não irá afundar, porque este País é muito maior do que a irresponsabilidade do Governo Lula e do Governo Dilma.

    Hoje, a dívida pública interna e externa do nosso País, que chegou à casa dos R$4 trilhões - pagaremos, neste ano, algo em torno de R$530 bilhões tão somente de juros dessa dívida -, é uma catástrofe. Essa taxa de juros de 14,25%, essa Selic - e o Banco Central disse, no seu último relatório, que há a possibilidade de aumentar essa taxa de juros -, já é a maior taxa de juros do mundo. A inflação está acima de 10%, medida pelo IBGE, e tenho dúvida com relação a essa taxa também. O resultado de tudo isso e mais um pouco desfecha lá no trabalhador, no bolso do trabalhador.

    Aqui vem minha preocupação maior, que é o desemprego. Estou aqui, neste momento, exatamente para falar a verdade sobre o desemprego atual no País.

    Duas semanas atrás, realizamos uma audiência pública com o Coordenador de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Dr. Cimar Pereira, e também com a Drª Maria Emília Veras, Coordenadora de Estatísticas do Ministério do Trabalho, para discutir a metodologia utilizada pelo IBGE e também pelo Ministério do Trabalho com relação ao desemprego.

    Aqui venho dizer, Sr. Presidente, que a PME (Pesquisa Mensal de Emprego), que o Governo usou ao longo dessa última década, simplesmente era feita tão somente em seis regiões metropolitanas: Pernambuco; Salvador, na Bahia; Belo Horizonte; Rio de Janeiro; São Paulo; e Porto Alegre.

    Esta é a Pesquisa Mensal de Emprego, e o Governo dizia que vivíamos o pleno emprego. Foi a bandeira da Presidente Dilma no ano passado.

    O representante do IBGE afirmou nesta audiência que "a pesquisa tem a particularidade dela muito focada nas áreas em que ela é levantada". "O IBGE não traça, em momento algum, a taxa de Pesquisa Mensal de Emprego como a taxa nacional". Ou seja, o coordenador de pesquisas do IBGE disse que essa taxa não pode ser considerada como nacional. No entanto, o Governo sempre colocou o desemprego em nível nacional. Perguntei, então, ao representante do IBGE se a PME era eficiente para mostrar o desemprego em nível nacional, mas apenas nessas seis regiões. Ele respondeu de forma enfática: "Sim, ela é ineficiente." Vejam o que o coordenador do IBGE disse: que a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) era ineficiente.

    O IBGE, diante dessas graves falhas de amostragem da PME, verificou que não dava para continuar enganando o povo brasileiro. Por isso, tirou de circulação a Pesquisa Mensal de Emprego. A partir do ano que vem, a partir de fevereiro, essa pesquisa não será mais utilizada. Tardiamente. Essa pesquisa nunca poderia ter sido utilizada, porque ela é enganosa. No lugar dela, então, entra a PNAD Contínua. No entanto, a PNAD Contínua, que faz pesquisas em torno de 3.500 Municípios, também mantém várias das mesmas premissas equivocadas da PME, que distorcem o resultado final.

    Vou para o primeiro quesito: desalentados. O que é um empregado desalentado para o IBGE? É aquele trabalhador que perdeu o emprego e que, durante 30 dias, não conseguiu encontrar novo emprego.

    Ele sai da estatística como desempregado e entra no outro grupo como desalentado, depois de 30 dias. E o interessante é que o representante do IBGE disse que esta pesquisa, PNAD Contínua, é balizada na Organização Internacional do Trabalho (OIT). Vou mostrar que não é bem assim, como ele disse. Eles não têm essa pesquisa, na verdade, como baliza.

    Vou para o PEA (População Economicamente Ativa), que, hoje, é algo em torno de 101 milhões de brasileiros.

    Então, vamos voltar aos desalentados. Hoje, no Brasil, segundo o IBGE, nós temos 2,1 milhões de trabalhadores desocupados. Perguntei, então, o Dr. Cimar Pereira, e ele disse: "Eu nunca gostei, como técnico, de analisar o mercado de trabalho pelo desemprego e, sim, pelo emprego. O que eu afirmo é que, para analisar o mercado de trabalho, não utilize a taxa de desocupação como indicador sintético." Portanto, aqui ele afirma que não se pode usar essa pesquisa como indicador sintético.

    Vejam como o Governo, nas palavras do técnico, trata o trabalhador que está à procura de emprego. O IBGE sempre defende, dizendo que apenas segue recomendações da Organização Internacional do Trabalho. No entanto, para a OIT, várias situações se enquadram no critério de procurar emprego. É aqui que eu quero chegar a respeito do desalentado, se ele deve sair da pesquisa dentro de 30 dias ou não.

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - A OIT diz o que o cidadão deve fazer depois dos 30 dias: buscar ajuda de amigos, parentes ou qualquer intermediário; atualizar o currículo em redes sociais ou profissionais; responder a qualquer anúncio de emprego; procurar por suprimentos para produção de algo; registrar-se em agência de emprego; solicitar alvarás ou buscar recursos financeiros para se montar um negócio; e, por último, contatar diretamente empregadores.

    Eu pergunto: será que esse desempregado, que, durante 30 dias, não conseguiu emprego, que deixou de bater na porta das empresas, não está fazendo alguma dessas coisas a que a OIT se referiu? Claro que sim! Portanto, esse desalentado não poderia estar fora da estatística de desempregado.

(Interrupção do som.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Permita-me, Sr. Presidente. Este assunto é de... (Fora do microfone.)

    ...muita relevância para o País.

    Pessoas que trabalham tão somente uma hora por dia, o famoso bico, na estatística do IBGE, são consideradas empregadas.

    A Coordenadora de Estatísticas do Ministério do Trabalho afirmou o seguinte, a respeito desse pessoal que trabalha tão somente uma hora por dia, Senador Cássio, que é colocado como empregado; aspas: "Nós sempre discutimos na nossa coordenação essa questão. Temos certa estranheza de considerá-los como ocupados." "Estranheza", a coordenadora disse. Então, não pode ser considerado empregado esse pessoal que trabalha tão somente uma hora por dia.

    Por isso, reafirmo que o método do Governo infla o número de empregados quando considera que um bico equivale a um emprego formal, com carteira assinada.

    Outro item, e eu vou passar a palavra para V. Exª, com todo prazer, Senador Cássio.

(Interrupção do som.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Outro item é o seguro-desemprego. (Fora do microfone.)

    O IBGE disse que, hoje, nós temos 9,3 milhões trabalhadores empregados no seguro-desemprego.

    Perguntei ao representante do IBGE: quem recebe seguro-desemprego pode ser considerado desocupado? Ele respondeu, vejam só: "Pode ser." "Pode ser", sendo que, na estatística do IBGE, o trabalhador que está no seguro-desemprego é colocado como empregado. Aqui o coordenador disse: "Pode ser." Isso está nas notas taquigráficas da audiência realizada há duas semanas, ao dispor de quem julgar necessário.

    O que diz a OIT sobre quem recebe benefícios. Vejam só:

(Interrupção do som.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Devem ser excluídos do conceito de emprego, aspas, "pessoas que recebem transferências, em dinheiro ou em natura, não relacionadas a emprego."

    Ou seja, a OIT disse que quem está no seguro-desemprego é desempregado, e não empregado. Quem recebe benefício, então, do Bolsa Família, do seguro-desemprego, nunca poderia constar como empregado. Aí vem a geração "nem-nem"! Hoje, há 10 milhões de jovens, de 15 a 29 anos, desempregados, procurando uma oportunidade. Isso é lamentável. O desemprego entre jovens que hoje saíram da faculdade e que estão procurando um trabalho, de 18 a 24 anos, representa 18,4%.

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - De forma que, se nós pegarmos, Senador Cássio, hoje, os 8,7% de desempregados no Brasil, publicado pelo IBGE, que corresponde a 8,804 milhões trabalhadores, se nós pegarmos os desalentados, que são 2,1 milhões, que representam 2,8% do PEA (População Economicamente Ativa), e, se nós pegarmos os 9,3 milhões trabalhadores que estão no seguro-desemprego, que representam 9,22%, isso vai dar um desemprego de 20,4%. Isso sem incluir os 10 milhões da geração "nem-nem", sem incluir os jovens que acabaram de sair das universidades.

    Portanto, essa taxa de desemprego, mencionada pelo Governo, através do IBGE, é uma taxa falsa.

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - É um engodo e perigosíssimo para a economia do nosso País.

    Eu passo a palavra, com todo prazer, ao Senador Cássio Cunha Lima.

    O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Muito rapidamente, Senador Ataídes, com a anuência da Presidência, para, em primeiro lugar, felicitar V. Exª pela oportunidade do seu pronunciamento, que traz um tema de extrema relevância para o Brasil atual: a questão do desempenho econômico do nosso País, a tragédia econômica que foi provocada pelo Governo Lula e pelo Governo Dilma. Tudo isso para tentar ganhar a eleição de qualquer forma, a qualquer preço, a todo custo, que arruinou a economia do Brasil; e, como se isso não fosse algo de tamanha gravidade, porque essa ruína que...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - ...foi provocada tem atingido milhões de brasileiros. São milhões de brasileiros desempregados ou ameaçados no seu trabalho, a inflação de volta. Aquilo cujo fim o Brasil considerava uma conquista de toda a sociedade está de volta, que é a carestia. As pessoas não estão conseguindo cumprir suas obrigações cotidianas, de pagar o carnê do financiamento do carro, pagar o carnê do financiamento do eletrodoméstico. É sufoco para comprar o remédio, é dificuldade para pagar conta de luz. Ou seja, a economia brasileira foi para o precipício, foi para o caos, fruto das irresponsabilidades dos Governos Lula e Dilma, que, para ganhar a eleição, levaram o País a essa situação toda. Portanto, trazer luz aos dados verdadeiros do desemprego, e não apenas aos números maquiados, mascarados pelo Governo, é algo muito importante. Mais importante do que essas estatísticas é a saída para essa crise. Quero concluir este meu aparte, Senador Ataídes, reafirmando aquilo que já disse tantas outras vezes da tribuna que V. Exª ocupa neste instante.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - A oposição brasileira está disposta a contribuir para a saída da crise, mas para que isso ocorra é preciso que o Governo adote uma postura de propostas sinceras e leais, transparentes. Não adianta a Presidente da República ir à imprensa anunciar redução de cargos comissionados, diminuição do número de Ministérios, e meses depois nada disso estar efetivado. O Governo só tem um tema, que é ajuste fiscal, e esse ajuste fiscal não terá o apoio da oposição se for apenas pela via do aumento de carga tributária. Estamos prontos para discutir saídas para o Brasil. Temos propostas efetivas para tirar o País da situação caótica em que se encontra, mas é preciso que o Governo faça sua parte, propondo algo que tenha sinceridade e consistência, e que não apenas adie a saída...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - ...dessa crise, que infelicita toda a nossa população. Com a tolerância do Presidente Jorge Viana, eu encerro meu aparte, para que V. Exª também possa concluir o seu pronunciamento, agradecendo a oportunidade de participar dessa sua importante fala, e renovando meus cumprimentos pela oportunidade e relevância do tema que V. Exª traz neste instante.

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Obrigado, Senador Cássio. O seu aparte enriquece muito o nosso discurso.

    No mês de março deste ano, eu vim a esta tribuna e disse que a culpa de tudo isso era do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele jogou a nossa economia, literalmente, no despenhadeiro. Isso é sabido por todos nós.

(Soa a campainha.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Só para se ter uma noção, neste ano nós já perdemos 1,306 milhão de cargos de ocupação, só para celetista, Senadora Ana Amélia.

    Eu encerro dizendo o seguinte: tenho certeza de que pior do que ter indicadores ruins é não poder confiar neles. Distorção de dados é um risco para a Nação brasileira.

    Eu volto a dizer que estou literalmente preocupado com o desemprego no Brasil. Essa taxa Selic de 14,25%, com tendência de aumento, e mais esse desastre econômico de nosso País, isso quem vai pagar - e já está pagando - é o mais pobre. Não tenho dúvida nenhuma disso. Eu quero ver o que vai acontecer com esse pai de família que...

(Interrupção do som.)

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - ... vai acordar de manhã cedo e não tem para onde ir para ganhar o pão (Fora do microfone.) para sustentar a sua família. Isso é muito preocupante. O nosso desemprego hoje não é 8,7%; é, no mínimo, 20,4%.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2015 - Página 175