Discurso durante a 211ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de que a votação que decidirá sobre a manutenção da prisão do Senador Delcídio do Amaral seja aberta; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Defesa de que a votação que decidirá sobre a manutenção da prisão do Senador Delcídio do Amaral seja aberta; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2015 - Página 65
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, VOTO ABERTO, DECISÃO, MANUTENÇÃO, PRISÃO, DELCIDIO DO AMARAL, SENADOR, COMENTARIO, IMPORTANCIA, POPULAÇÃO, PAIS, CONHECIMENTO, POSIÇÃO, MEMBROS, SENADO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu tinha preparado, Sr. Senador Jorge Viana, um discurso hoje sobre o problema do desemprego.

    Um país, na verdade - tirando as tragédias naturais, terremotos, vulcões, furacões -, só vive mesmo quatro grandes problemas: guerra, inflação, recessão e desemprego. Eu queria falar sobre esses quatro assuntos, porque, em geral, quando um país tem inflação, não tem desemprego nem recessão. Quando tem guerra, não tem desemprego, até porque os desempregados jovens estão em guerra. O Brasil está vivendo esses quatro problemas. O Brasil está em guerra, obviamente está em guerra quando tem 50 mil mortos por violência.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Quarenta mil mortes no trânsito.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Sem falar dos 40 mil no trânsito. Estamos com uma inflação que chega a dois dígitos. Não é uma inflação simples de ser tolerada. Estamos em recessão, coisa até contraditória em geral. E temos um forte desemprego, sobretudo um desemprego entre jovens. Eu vim falar sobre isso. Vim trazer uma proposta, inclusive, de como enfrentarmos o desemprego.

    Mas, Senador Jorge Viana, ficaria estranho eu não falar aqui, Senador Moka, da tragédia maior nossa hoje, que é o que está acontecendo com o Senado Federal à medida que temos um dos companheiros mais queridos aqui - isso é verdade - preso por determinação do Supremo. E vai caber a nós, pela Constituição, tomar uma posição em relação a isso. Eu creio que vai ser um dos momentos mais duros que eu, pelo menos, já enfrentei aqui, porque eu nunca fiquei tão triste falando de uma pessoa viva como ao falar da situação que estamos atravessando hoje com o Senador Delcídio.

    Mas o que pelo menos me chegou da cópia do documento, é de uma gravidade, que vai nos deixar tendo que tomar uma posição com base em indicações muito fortes de obstrução da Justiça. E obstrução de Justiça de uma forma extremamente grave, de pagar dinheiro à família de réus, de organizar roteiros de fuga, de dizer - não se pode saber se sim ou não, mas disse, está gravado - que negociava com Ministros do Supremo para conseguir habeas corpus. Além do que, ao fazer isso, que já é grave, levanta suspeita de que, de fato, estaria envolvido em toda a corrupção que aconteceu na Petrobras, porque, se não estivesse, não teria que tomar essa precaução, chamemos assim, de obstrução da Justiça.

    Vamos ter que tomar decisões aqui. E eu queria que, na hora de tomar essas decisões, nós nos lembrássemos de algo importante. Há um Senador preso, mas todos nós estamos sob suspeição, todos os líderes deste País, hoje, estão sob suspeição. Nenhum de nós está livre de ser olhado pela opinião pública, pela população brasileira, pelos eleitores com uma suspeita de onde estávamos em cada momento, do que fizemos em cada instante, que participação tivemos em cada negociação.

    E ao tomarmos a decisão que, ao que tudo indica, vamos tomar hoje a respeito da decisão que a Justiça tomou ou não, a opinião pública tem todo direito de saber como cada um de nós vota.

    E, neste sentido, sem querer adiantar o voto, eu creio, Senador Jorge Viana, que temos que fazer esse voto aberto. Temos que deixar que a opinião pública, os eleitores, o povo saiba que posição cada um de nós toma. É preciso ter a coragem de tomar posição dizendo que a Justiça errou e que o Senador tem que estar solto enquanto continuam as investigações; ou o contrário, é preciso, de público, deixar claro que defende o que a Justiça fez, depois de um debate. Obviamente que teremos que debater aqui. Mas essa decisão não pode ser tomada secretamente.

    Tomar essa decisão na forma secreta é como se tivéssemos tomado de forma aberta por todos, não cada um, todos em conjunto, porque o que a maioria decidir secretamente todos saberão que foi decidido aquilo, então foi aberto, mas aberto em conjunto.

    E aberto, em conjunto, vai sacrificar a instituição. Pode até proteger um outro ou outro, por um lado ou por outro lado: proteger, porque não votou contra a Justiça; ou proteger, porque votou com o companheiro, com o colega, com um amigo nosso que nós respeitamos e de quem gostamos. Então, pode proteger, individualmente, mas compromete a instituição.

    A melhor maneira é que o voto aberto diga o que cada Senador pensa, depois de fazer toda a sua reflexão. Eu quero refletir muito, mas eu quero que, na hora do meu voto, o povo saiba como eu votei; que os juízes saibam como eu votei; que o nosso amigo Delcídio saiba como eu votei.

    Eu quero que o meu voto seja público e gostaria que o Senado da República brasileira, da minha República, do meu País, mostrasse onde cada Senador se expôs, disse o que pensa, votou com a sua consciência, votou respeitando aqueles que nos colocaram aqui. É isso, Sr. Senador.

    Creio que devemos aprofundar uma discussão, depois de tudo isso - e eu venho insistindo nisso há quantos anos? - sobre onde é que nós todos estamos errando. Não adianta jogar pedra para um ou para outro. Nós todos estamos errando. É esse grande erro coletivo que termina levando a que alguns cometam erros individuais, como esse que foi cometido pelo Senador Delcídio, conforme as gravações que o Tribunal Superior recebeu e está mostrando. 

    Vamos votar com consciência, vamos votar com responsabilidade e vamos votar com respeito ao povo, que quer saber como cada um de nós vota!

    É isso, Sr. Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2015 - Página 65