Discurso durante a 213ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e entregar a Comenda Abdias Nascimento, em sua 2ª edição.

Autor
Lúcia Vânia (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e entregar a Comenda Abdias Nascimento, em sua 2ª edição.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2015 - Página 44
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, GRUPO ETNICO, NEGRO, ENTREGA, COMENDA, ABDIAS NASCIMENTO.

    A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, senhoras e senhores convidados, eu gostaria de iniciar os meus cumprimentos ao querido Governador Alceu Collares. A sua presença aqui nos honra, pelo seu exemplo, pelo seu trabalho, pela sua dedicação e, acima de tudo, pela superação. Parabéns, meu querido Governador!

    Cumprimentando-o, quero cumprimentar o Frei David; a representante da Fundação Cultural Palmares; o José Vicente; a Mari Baiocchi; a Srª Neiva Maria Santos; o Sr. Leonardo, filho do Sr. Linduarte Noronha; e a Diretora Presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, a viúva do Senador Abdias Nascimento, a Srª Elisa Nascimento. Cumprimento os Srs. Embaixadores e os senhores convidados, que nos honram com suas presenças.

    São passados 320 anos da morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1695, na Serra da Barriga, hoje Estado de Alagoas.

    Zumbi dos Palmares foi adotado pela população brasileira como símbolo da resistência à escravidão imposta à população negra, desde que seus primeiros representantes aportaram no Brasil em 1594.

    São momentos históricos que despertam reflexões sobre as relações inter-raciais em nosso País, neste início de século XXI. Não podemos deixar de reconhecer que as relações raciais estão fortemente enraizadas na vida social dos indivíduos, grupos e classes sociais. Nesse sentido, as desigualdades sociais se manifestam nos estereótipos, nas intolerâncias e são polarizadas em torno de etnias, de gêneros e de outras diversidades, como as religiosas.

    Diante desse verdadeiro caldeamento religioso e, sobretudo, étnico que é o Brasil, a homenagem que esta Casa presta ao saudoso Senador Abdias Nascimento é por demais oportuna. Abdias Nascimento, Senador e Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, foi, acima de tudo, um militante do movimento negro e foi um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra.

    Cumprimento a Senadora Lídice da Mata - idealizadora desta premiação, ao lado do Senador Paulo Paim - pela iniciativa. Muito apropriadamente, a Senadora Lídice é representante de um dos Estados mais miscigenados e multiculturais do Brasil: a Bahia.

    Como representante de Goiás, Estado também bastante identificado com a cultura afro-brasileira, apresentei a essa premiação o nome da Profª Drª Mari de Nazaré Baiocchi, aposentada, professora titular da Universidade Federal de Goiás.

    Levando em consideração que a premiação Comenda Senador Abdias Nascimento, destina-se a "personalidades que tenham oferecido relevante contribuição à proteção e à promoção da cultura afro-brasileira", justifico a indicação da Profª Mari Baiocchi por ter dedicado uma grande parte de sua vida a pesquisar, escrever e conviver com um dos povos mais tradicionais da cultura afro-brasileira, os kalungas.

    A pouco mais de 300km da Capital Federal, está localizada a maior e mais antiga comunidade quilombola do Brasil - os kalungas -, que reúne mais de 3 mil pessoas nos limites geográficos de dois Municípios de Goiás, Teresina e Cavalcante.

    Coincidentemente, a população kalunga tem vivido uma triste situação de impunidade, que está corroendo a infância de toda uma geração de crianças. Elas estão sendo vítimas de abuso sexual e exploração do trabalho infantil, e não são poucas as ocorrências. O Conselho Tutelar registra, por mês, pelo menos cinco acusações só de abusos, o que, fazendo as contas, são mais de 50 casos por ano.

    Temendo pelas famílias e, sobretudo, pela infância e pelo futuro da comunidade, adotei, como pessoa pública, uma série de medidas e ações. Uma das iniciativas foi uma audiência com a Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. Sensível ao problema, a Ministra enviou uma equipe a Cavalcante para apurar a situação do Centro de Referência de Assistência Social do Município, que não recebia recursos federais há meses.

    Os kalungas, de fato, sofrem da maior e mais grave ameaça que pode atingir uma comunidade: o silêncio perante os abusos que já destruíram tantas famílias.

    Foi a esse povo que a antropóloga Mari de Nazaré Baiocchi dedicou parte considerável de sua vida. Porém, a Profª Mari Baiocchi não se contentou apenas em pesquisar e escrever sobre os kalungas. Ela os apoiou nas suas lutas, indo inúmeras vezes conviver com eles na sua isolada comunidade, mas também os recebendo em sua residência em Goiânia, quando membros da comunidade tinham que vir à capital resolver várias de suas pendências.

    Por tudo isso, cumprimento todos os premiados na pessoa de Mari Baiocchi, pelo todo do seu trabalho como pesquisadora, mas, acima de tudo, pela dedicação pessoal a essa comunidade dos kalungas, que continua a exigir a atenção das autoridades públicas.

    Espero, minha querida Profª Mari Baiocchi, que, com a real situação de uma comunidade que V. Sª tão bem defendeu, ela venha a obter evidência perante as autoridades e que, através de todo esse trabalho e desse despertar que o prêmio ocasiona a V. Sª, tenhamos um resultado efetivo, para defender, com toda a força, o povo kalunga do nosso Estado de Goiás.

    Parabéns, minha querida professora e antropóloga.

    Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2015 - Página 44