Discurso durante a 213ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e entregar a Comenda Abdias Nascimento, em sua 2ª edição.

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e entregar a Comenda Abdias Nascimento, em sua 2ª edição.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2015 - Página 46
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, GRUPO ETNICO, NEGRO, ENTREGA, COMENDA, ABDIAS NASCIMENTO.

    A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Bom dia a todos os convidados e homenageados.

    Quero saudar a todos e dizer da nossa alegria. Eu fui autora, com o apoio do Senador Paulo Paim, desta Comenda, porque entendia que era indispensável ao Parlamento brasileiro poder destacar, primeiro, o nome de Abdias neste Senado como o grande Senador das causas da negritude no Brasil; e, segundo, ao fazer essa saudação e manter vivo o nome de Abdias anualmente, neste momento em que homenageamos estas figuras públicas do Brasil, nós pudéssemos ter este instante de dar visibilidade a personalidades negras que contribuem ou contribuíram com a história política, com a história social, com a história econômica, com a história cultural do nosso País e pessoas não negras que também têm participação nesta luta antirracista em nosso Brasil.

    Foram homenageados, no dia de hoje, o ex-Governador, sempre Governador, Alceu Collares, do Rio Grande do Sul, uma enorme honra tê-lo aqui; Frei David, parceiro da nossa luta na CPI da Investigação do Assassinato de Jovens Negros no Brasil, especialmente jovens negros; a Fundação Cultural Palmares, criada em 1988 e vinculada ao Ministério da Cultura, justamente para fortalecer e dar guarda às manifestações culturais afrodescendentes em nosso País; José Vicente, também filho de agricultores, nascido no Município de Marília, no interior de São Paulo, que hoje se destaca como doutor em educação na Universidade Metodista de Piracicaba e que fundou o Instituto Afrobrasileiro de Ensino Superior; Srª Mari Baiocchi, que integra a comunidade Kalunga, reunindo, portanto, essa luta dos quilombolas, destaca, estuda e promove a população quilombola em nosso País; Carlos Silva, como já foi citado aqui pela Senadora, in memoriam, uma homenagem do Rio Grande do Sul a este político negro, Presidente da Assembleia Legislativa; Linduarte Noronha, também in memoriam, foi jornalista, crítico de cinema, professor universitário e cineasta, falecido em 2012, no Rio de Janeiro.

    Esta é realmente uma homenagem muito pequena que o Senado presta a estas personalidades e que acho que nós deveríamos, Senador Paim, até buscar aumentar o número de agraciados ou de homenageados anualmente, porque toda vez que a gente vai debater e votar tem uma enorme dificuldade para trazer aqui nomes tão importantes, como, por exemplo, o de Zezé Motta, esta extraordinária atriz brasileira... (Palmas.)

    ... que é um ícone da luta antirracismo no Brasil.

    Eu vou, depois de falar rapidamente dos homenageados, sintetizar a minha fala para dizer que, realmente, a Senadora Ana Amélia, ao dizer que nós precisamos riscar do nosso dicionário, apagar do nosso dicionário as palavras "discriminação" e "racismo", diz muito bem da necessidade que nós sentimos. E eu queria destacar que, nesse período de 16 dias de ativismo, de luta contra a violência sobre as mulheres brasileiras - ontem nós tratávamos disso, Senadora -, infelizmente, cresce o número de mulheres violentadas, de mulheres assassinadas no Brasil. E as estatísticas demonstram que ela se concentra mais nas mulheres pobres e negras. É também a realidade da CPI, quando nós tratamos da CPI de Assassinato de Jovens - o Frei David é um lutador nisto, esteve fazendo o seu depoimento há uma semana naquela Comissão -, nós registramos esse absurdo: de 56 mil assassinados em 2013 no Brasil, 33 mil são jovens negros!

    Então, nós estamos convivendo com uma herança maldita de mais de 300 anos de escravidão no Brasil, com essa marca de morte, de violência, de pobreza, de dificuldade da comunidade afrodescendente em nosso País. Nós precisamos de políticas compensatórias urgentes para remediarmos e para compensarmos essa população.

    E eu fico feliz que a gente esteja fazendo essa sessão hoje aqui, também tendo coisas a comemorar, não apenas registrar essa marca tão dura, mas também conquistas que realizamos. Nós estamos em um momento em que temos, no Brasil, políticas compensatórias já conquistadas pelo movimento negro, como as políticas de cotas nas universidades e, agora, de cotas em concursos públicos.

    Na Bahia, este ano, Senador Paim, o Governo, com outras entidades da área cultural, lançou uma coleção para crianças com personalidades negras da nossa sociedade, como Milton Santos, como Teodoro Sampaio, negro que governou a Bahia, como figuras da cultura negra que fazem parte da sociedade baiana. E é uma coleção belíssima, escrita por poetas, por pessoas da literatura baiana consagradas, que nesse momento fazem esse reencontro com a história.

    E eu vim da Frente da Criança e do Adolescente e vi que aqui há um grupo de jovens que estavam lá na Frente da Criança e do Adolescente, jovens, meninos, jovens homens e meninas negras, que participavam e faziam uma apresentação lá, uma apresentação cuja frase, dura, o slogan principal, numa manifestação bonita que eles faziam, dizia: "A carne mais barata no mercado é a carne negra", denunciando especialmente a discriminação racial entre as mulheres, das mulheres negras na nossa sociedade. Tudo isso é a tomada de consciência... Eu peço aplauso para eles. (Palmas.)

    É a tomada de consciência de uma geração nova, que se afirma.

    Na Bahia e no Brasil, este ano já aconteceu uma marcha belíssima de mulheres e jovens que diziam: "Sou negro e crespo." Quer dizer o quê? Sou negro de cabelo crespo e sou bonito e sou bonita, porque a beleza estética, a nossa estética negra se afirma com o seu reconhecimento.

    Então são movimentos que se incorporam de maneira forte à vida social brasileira, como foi a Marcha das Mulheres Negras, com cerca de 10 mil pessoas, que aconteceu aqui na Esplanada dos Ministérios, agora no dia 18, que é uma coisa bonita e que certamente marcará, de agora por diante, novas marchas de mulheres negras nas ruas do nosso País. E é o movimento negro que sai das salas pequenas para se afirmar na sociedade brasileira, para firmar a sua dignidade.

    E eu quero parabenizar o Senador Paim, que aqui, no Senado Federal, desenvolve, de forma tão brilhante, o seu trabalho, que foi o autor do Estatuto da Igualdade Racial e que tem dado essa contribuição tão efetiva à nossa luta contra o racismo no Brasil.

    Até rasgarmos essas palavras do nosso dicionário e da nossa vida cotidiana nossa luta continua, permanece cotidianamente contra o racismo e contra a discriminação.

    Obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2015 - Página 46