Discurso durante a 214ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da criação de um conselho nacional destinado a propor ações para solucionar o problema do desemprego.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Defesa da criação de um conselho nacional destinado a propor ações para solucionar o problema do desemprego.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2015 - Página 331
Assunto
Outros > TRABALHO
Indexação
  • APREENSÃO, RELAÇÃO, AUMENTO, DESEMPREGO, LOCAL, BRASIL, DEFESA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, CONSELHO, AMBITO NACIONAL, OBJETIVO, COMBATE, CRISE, FALTA, EMPREGO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Medeiros, ontem, quando estava vindo para cá, vim pensando em fazer um discurso sobre quais são as grandes tragédias que acontecem em um país, à exceção daquelas naturais, que são a guerra, a inflação, o desemprego e a recessão. Recessão, que empobrece; inflação, que empobrece também; o desemprego, que não só empobrece, mas também envergonha, incomoda, maltrata. E a guerra. As guerras levam a sofrimentos muito grandes.

    Eu disse que queria falar sobre isso como uma proposta para fazer ao Governo, mas que, diante do que tinha acontecido na manhã de ontem, com o prisão do nosso colega, Senador Delcidio, eu não ia falar sobre isso e preferi falar sobre o que me parecia a necessidade de votar aberto, que o senhor defendeu também. E que, como terminou acontecendo, que seria correto que nós respeitássemos a decisão da Justiça.

    Felizmente, o Senado agiu assim. Hoje o Senado acordou muito melhor na opinião pública do que se tivesse votado secreto ou se tivesse votado contra a decisão da Justiça diante de tantas evidências.

    Hoje eu posso falar sobre o assunto que eu queria falar ontem, Senador Benedito, a guerra. Nós vivemos em guerra hoje. São 50 mil mortes por ano. É mais do que a guerra do Vietnã em todo o tempo que durou, na parte contra os Estados Unidos, tirando a parte que foi contra a França. Isso sem falar nas mortes no trânsito, pois uma parte delas é uma questão de guerra. Não é uma questão de acidente. É guerra. Motoristas embriagados, motorista descuidados, estradas ruins, sinalização malfeita. Isso é guerra.

    Nós vivemos uma inflação que assusta. Quando passa de 10%, dois dígitos chamados, num país cuja cultura historicamente de inflação é assustadora, até porque a inflação, além de empobrecer, de diminuir o que você leva para casa com o seu salário, ela tem a maldade da ilusão, do engano.

    A recessão também é algo que leva ao sofrimento pela falta de emprego que a recessão provoca e também pelo fato de que diminui a quantidade de bens que você tem à sua disposição.

    Mas eu quero falar do último dos itens, Senador, que é o desemprego, que talvez seja, de todos eles, excetuando o sofrimento de guerra, que é uma outra coisa, que é localizado em quem sofre ali...

    O Brasil está vivendo uma taxa de desemprego que destrói famílias, desagrega famílias, enlouquece pessoas. Chegar em casa depois de um dia procurando emprego e dizer que não encontrou emprego, e ter que pedir açúcar ou pão ao vizinho, ou ao irmão ou ao parente que talvez esteja desempregado também, é algo que destrói o tecido social, inclusive levando à criminalidade. Por isso, eu creio que nós, brasileiros, deveríamos nos unir às lideranças para que o Brasil supere o assunto do desemprego.

    Senador, há muitas ações que um governo pode tomar para reduzir a tragédia do desemprego. Não vou listar aqui, do ponto de vista técnico - e posso fazer, sim, com mais tempo -, o que é preciso fazer para que o desemprego não fique calamitoso. Não vou dizer que zere o desemprego, não vou falar em pleno emprego, que é algo quase impossível no capitalismo, mas que não seja calamitoso como está sendo. E aí, Senador, é uma sugestão simples, única: que o desemprego passe a ser uma questão de fato nacional, e que una todos - situação e oposição.

    Minha proposta de como fazer isso é que a Presidente da República crie um conselho nacional para enfrentar o problema do desemprego, do jeito que, se estivéssemos em guerra, criaria um conselho nacional para enfrentar o problema da guerra, que ia fazer o quê? Saberia onde buscar dinheiro para fazer com que nossas armas chegassem em tempo e funcionassem; uniria todo o Brasil, até mesmo para convencer os patriotas de irem à guerra; trabalharia para que a indústria produzisse aquilo que uma guerra exige, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Nós criaríamos um conselho de guerra.

    Eu sugiro que a Presidente crie um conselho de guerra contra o desemprego, que coloque nesse conselho, obviamente, aqueles mais diretamente ligados, que são o Presidente do Banco Central, o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento, o Ministro da Indústria; mas que nos chame também, que chame a oposição, que deixe claro que este País chega a ter 24% dos seus jovens desempregados, o que significa que, de cada 4, um não tem emprego. De cada 4, um não tem emprego, sem estar estudando, porque o que está estudando não se considera desempregado.

    Quando se chega a esse ponto, tem que se declarar estado de emergência, como se fosse uma guerra, enfrentando inimigos estrangeiros. Em uma guerra, um país não tem situação e oposição. Em uma guerra, todos somos Nação, todos somos situação. Todos estamos com o País, independente do Governo daquele momento.

    Eu creio que o desemprego exige uma postura da oposição de colaboração com o Governo - desde que o Governo mereça - e, de fato, queira levar adiante as medidas necessárias, para enfrentar o problema do desemprego. Seria um grave equívoco se as oposições, imaginando que vão ganhar eleição, graças ao descontentamento com o desemprego, não quisessem colaborar com isso.

    Se o desemprego cresce, quem ganha não é quem disputa eleição de forma tradicional. Serão populistas que chegarão por fora. O Sr. Adolf Hitler chegou ao poder graças ao desemprego na Alemanha, mas ele veio por fora, era de fora da política tradicional e fez aqueles horrores. A gente não quer isso.

    A oposição decente, essa oposição não pode deixar de querer colaborar, para que o Brasil enfrente a guerra contra o desemprego. Essa é a minha proposta, Senador. Não o consultei, mas tenho certeza - pelo que lhe conheço - de que o senhor é um daqueles que, sem ser do Governo, como eu também não sou, é capaz de entender a necessidade de união nacional, para enfrentar alguns problemas concretos. Eu gostaria de uma união nacional pela educação de qualidade para todos os brasileiros.

    Mas não é este o momento para se propor isso, algo estrutural que levará anos. O desemprego não pode levar anos, temos que enfrentá-lo já! Não podemos chegar ao próximo Natal, com 24% dos jovens desempregados e sem estudar; com os adultos, em uma taxa que nem sabemos qual é exatamente, porque essa taxa que apresentam, de quase 9%, não leva em conta a multidão de subemprego que não dá para ser considerado um emprego digno, decente, nem considera aqueles que desistiram de procurar emprego, não entram nas estatísticas.

    O nosso desemprego - concreto, real, um sofrimento - é muito maior do que as estatísticas mostram. As estatísticas terminam mentindo, nem por manipulação deliberada, mas por incapacidade de captar toda a dimensão da tragédia. Nós precisamos enfrentar essa tragédia. Nós precisamos enfrentar esse caos. Nós precisamos enfrentar esse inimigo do Brasil de hoje: o desemprego de brasileiros, de pais de família, de mães de família, de jovens que querem trabalhar porque terminaram seus cursos.

    Nós precisamos enfrentar. E isso não é uma guerra que será ganha só pelo Governo, que, aliás, ao meu ver, está sendo incompetente e está agravando o problema. Este Governo precisa de nós para enfrentar o problema do desemprego, e nós não temos o direito de, simplesmente, fugirmos disso. Não temos o direito de, simplesmente, dizer que esse não é um problema do Brasil, esse é um problema do Governo. Não, esse é um problema do Brasil, que precisa de todos nós.

    Mas o primeiro passo - vem aqui a minha sugestão - seria a Presidente, ela própria, tomar a iniciativa. Eu sugiro que essa iniciativa seja a criação desse conselho de guerra contra o desemprego, um conselho de enfrentar o desemprego, e chamar todos nós, seus ministros, os Parlamentares, os empresários e um conselho, que não precisa ser grande, pequeno, mas que diga: nós, juntos, vamos ajudar a elaborar as propostas e vamos aprovar essas propostas aqui no Congresso. Mais do que aprovar as propostas para o ajuste, eu creio que haveria uma compreensão aqui de se aprovar um pacote, chamemos assim, uma política, um conjunto de medidas para enfrentar o problema do desemprego. Fica aqui a minha sugestão.

    Creio, Senador Paim, que se houver sensibilidade - e o senhor é um que entende disso, do desemprego, porque fala disso e porque representa os trabalhadores -, eu duvido que algum brasileiro patriota diga não à Presidente porque acha que o problema é só dela. Podem até dizer: "Eu vou sem acreditar, mas eu vou, eu vou tentar." E há medidas, há programas, há possibilidade. Inclusive, ajudaria a resolver o outro problema que é a recessão; ajudaria até a resolver um pouco o outro, que é guerra, porque a guerra, em parte, vem da violência que, em alguns casos, é causada pela necessidade de se sobreviver sem emprego.

    Fica um grande problema: como enfrentar a inflação? Porque o emprego, muitas vezes, acirra a inflação. Teríamos que analisar como fazer. E é possível, sabe-se como fazer, mas é preciso um grande pacto nacional pelo emprego. É isso o que eu quero propor hoje, aqui. Queria propor ontem, não deu, hoje, está dando. Vamos formar um pacto nacional pelo emprego. Isso depende da Presidente criar e convocar um conselho nacional pelo emprego, unindo todos os brasileiros, independente de partido, para que não tenhamos que passar o próximo Natal - este não vai ter mais jeito - com o quadro de desemprego triste que o Brasil enfrenta hoje.

    Era isso, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Parabéns, Senador Cristovam. Por coincidência, eu preparei a minha fala de hoje justamente com o tema do desemprego também. O seu pronunciamento maravilhoso, com certeza, tocou na ferida, no centro do que é a dor do País hoje, do que as famílias estão passando. Mato Grosso, por exemplo, tem indústrias fechando, frigoríficos fechando.

    V. Exª traz aqui, digamos assim, no day after, no "dia da ressaca", um tema importante, mostrando a saída, para que possamos ter um caminho melhor para a população e um Natal de 2016 bem melhor. Meus parabéns.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2015 - Página 331