Fala da Presidência durante a 202ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Sessão especial destinada a Comemorar os 120 anos da assinatura oficial das relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão (120 anos de Amizade Brasil-Japão).
Publicação
Publicação no null de 02/12/2015 - Página 12
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, ASSINATURA, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, RELAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.

     O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cumprimento o Sr. Embaixador Kunio Umeda, que já é um amigo, pela maneira como tem trabalhado para aproximar ainda mais os nossos povos.

     Antes de passar a palavra para os colegas Senadores, gostaria de me dirigir rapidamente às senhoras e aos senhores nesta sessão que realizamos aqui no Senado Federal, uma sessão especial, celebrando os 120 anos de amizade Brasil e Japão. Desde a chegada do navio Kasato Maru, em 18 de junho de 1908, o Brasil só tem colhido bons resultados dessa relação entre nossos povos, entre Brasil e Japão. Até a década de 1940, aproximadamente 200 mil imigrantes deixaram seus lares no Japão para fazer do Brasil sua nova casa. E, desde 1958, os empreendimentos de grande peso tecnológico se iniciaram, com a inauguração da Usiminas; desde 1976, novo impulso de produtividade foi dado com a exploração, com o trabalho e as parcerias no Cerrado brasileiro.

     (Soa a campainha.)

     O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu sou do Acre. E, no Acre também, caro amigo Kasatu, meu pai conta - obviamente, o mundo viveu conflitos, as guerras mundiais - que no Acre nós tínhamos uma família, um pequeno grupo de imigrantes japoneses. E eles tiveram que ter uma proteção naquele período difícil, em que havia um confronto mundial.

     Daqui a pouco, o Senador Flecha vai certamente falar com muita propriedade, porque, no Pará, nós temos talvez, na Amazônia, o mais forte exemplo da presença dos descendentes japoneses na Amazônia brasileira, cumprindo um papel muito importante na economia do Pará, em toda a Amazônia. A presença nipônica no Brasil ocorreu em todo o País, de Norte a Sul. Mas, especialmente na Amazônia, há uma presença que vale o registro histórico, e o Senador Flexa certamente vai falar com mais propriedade.

     O segundo país que conheci, quando comecei a viajar, ainda recém-formado, foi o Japão. Visitei a Bolívia ainda como mochileiro, mas a primeira vez em que sai de uma missão no Brasil foi exatamente para ir a Tóquio, por conta de uma organização internacional que tem sede em Yokohama, ITTO, uma organização internacional de madeiras tropicais. E foi em função dessa relação que nós tivemos o apoio do Governo japonês para desenvolver um projeto de estudo das nossas florestas, e que hoje é uma referência na perspectiva do manejo sustentável das florestas, ou seja, da conservação da floresta, o que mostra, como também já foi dito aqui, a preocupação que tem o povo japonês na busca do equilíbrio da atividade humana com a conservação dos recursos naturais.

     Eu sou uma testemunha. Eu já estive, pelo menos, em dez oportunidades, no Japão. É um país pelo qual tenho muito respeito e admiração. E, na última viagem, era um sonho meu, fui a Kyoto, passei por Hiroshima e fui até Kyoto, para ver um pouco a história bonita de Kyoto.

     E há um exemplo meu: estava um pouco quente, e eu fui tomar um sorvete. Eu gosto muito de andar a pé, quando estou viajando; gosto muito de caminhar. Comprei o sorvete e, quando o terminei, estava com uma sobra - a embalagem do sorvete, o palito -, e disse: “Bem, vou atrás de uma lixeira”, e não encontrei lixeira.

     Eu jamais jogo coisas no chão, sempre guardo. E refleti, dizendo: “Nossa! Kyoto evoluiu tanto que não há mais lixeira na rua.” Isso para mim foi marcante.

     E eu falei: “Nós agora vamos ter que trabalhar para não haver lixeira, porque, se há lixeiras, é porque há lixo.” Não precisa haver lixo nem na casa da gente, nem em nenhum lugar. São resíduos que a gente pode manusear, e o guardei até chegar em algum lugar.

     Na primeira viagem que fiz ao Japão, Senador Hélio José, Senador Flexa, senhores convidados, fiz questão de visitar o local onde, no prédio em que fiquei hospedado na casa de um amigo, punham-se os resíduos - isso ocorreu em Tóquio. E eu digo sem problema: não havia diferença, do ponto de vista da higiene, da limpeza, entre esse local onde se colocam os dejetos, os resíduos das famílias, e o meio da rua. A limpeza era igual, tudo muito organizado, acondicionado separadamente, e eu estou me referindo a 1987.

     Então, esse exemplo que eu vivi nas ruas de Kyoto... Depois de andar um quarteirão, dois, eu falei: “Não é possível!” Mas é óbvio: encher a cidade de lixeiras é uma coisa atrasada, porque há alguém produzindo lixo no meio da rua. O certo é termos outro tratamento, e vi isso na cidade de Kyoto.

     Queria também dizer que essa presença, que chega a quase 2 milhões de descendentes - está perto de 2 milhões -, ajudou-nos muito. Vieram aqui para nos ajudar com a mão de obra. Foi isto o que, de alguma maneira, estimulou boa parte dos que vieram para nos ajudar: mão de obra na lavoura do café, essa presença.

     Mas, no fundo, depois nos aproximamos também dessa cooperação. Óbvio que foi muito desfavorável para o Brasil, porque o Brasil, desde o seu descobrimento, segue um caminho muito ruim, que é o caminho de exportar matéria-prima. Isso é terrível.

     Nós já tentamos com pau-brasil, nós já tentamos com ouro, com diamante, com madeira de toda ordem, com minério de ferro. E é óbvio que esse não é o melhor caminho. Ninguém faz isso.

     Eu estava, há pouco, em uma palestra do Presidente Bill Clinton. Nunca vi alguém tão otimista sobre o nosso País, sobre o Brasil. Eu vou reproduzir daqui a pouco na sessão o que ouvi dele.

     Talvez dê uma boa lição a todos nós brasileiros. Ele que falou que já veio 11 vezes ao Brasil. Eu estava lá.

     Mas o nosso País teima em fazer algumas coisas erradas, há séculos. E uma delas é esta, o fato de ser fornecedor de matéria-prima, exportar soja em grão. É óbvio que a gente perde muito quando faz essa opção.

     E o caminho é um pouco do que o Japão... Eu sempre uso o Japão como exemplo. O que o Japão tem em abundância? Sua cultura, seu povo, seu jeito de viver.

     Mas, no Japão, nem o território pode ser ocupado. Não há estrada ligando o Japão a lugar nenhum do mundo. É uma ilha.

     O clima tem extremos terríveis a serem enfrentados. E eles conseguem se firmar como uma das maiores economias do mundo. Tem um PIB duas vezes o do brasileiro.

     Óbvio! E nós não vamos a lugar nenhum, seguindo esse caminho de exportar minério de ferro - é óbvio que esse não é o caminho. Estamos há 500 anos, pegando esse caminho.

     Não é culpa de agora ou de antes. Há 500 anos! Até de diamantes nós já fomos exportadores.

     Então, não importa o valor do que é exportado in natura. Ao exportar in natura, perde quem faz essa opção. Por isso, lamento que a gente não tenha ainda conseguido, mas sou otimista de que nós vamos promover mudanças.

     Eu estive também, na última viagem que fiz ao Japão, em novembro do ano passado, visitando o Parlamento. E já havia uma expectativa.... Nós tivemos a visita aqui do Vice-Presidente do Senado, tive a honra de recebê-lo aqui, juntamente com o Presidente Renan; o Sr. Embaixador nos fez uma cerimônia em sua residência oficial, o Deputado e a Deputada também estavam, outros Parlamentares Senadores estavam juntos. E já havia uma preocupação de celebrarmos esses 120 anos.

     Por isso que eu queria felicitar e agradecer ao Senador Hélio José, que foi o primeiro signatário dessa proposta; todos os que subscreveram, em que me incluo; o Senador Wellington Fagundes; o Senador Flexa, que tem uma atenção muito especial e também porque eu sei que lá no Estado do Pará há uma quantidade muito grande de nipo-brasileiros, que vão se sentir bem, ouvindo o Senador Flexa falar daqui a pouco sobre a história deles, sobre a epopeia que eles viveram, o heroísmo deles em nos ajudar a desenvolver o Brasil em

toda parte,especialmente, na Amazônia brasileira.

     Acho que a vinda de um casal da família real aqui é uma demonstração também do afeto do Estado japonês com o Brasil.

     Fico feliz por saber que, nos 120 anos, no começo de dezembro, a Presidenta Dilma vai estar no Japão levando a mensagem dos 200 milhões de brasileiros, que só são 200 milhões porque há quase 2 milhões de descendentes japoneses.

     Eu cheguei aqui correndo e queria concluir dizendo que a Lesley, uma assistente do meu gabinete, me contou - ela também é nipo-brasileira - que o seu avô chegou ao Brasil em um navio de laranja. O pai dela tem 60 anos, já nascido no Brasil, e ela é acriana, do meu Estado, e agora está aqui. Estudou e trabalha comigo. Então, em todo parte nós temos exemplos dessa relação, dessa amizade dos nossos povos.

     No discurso que me preparam, há uma passagem que é uma singela e corriqueira maneira de japoneses e brasileiros mostrarem o quanto temos de relação. Tornou-se evidente, há muito tempo, a marca dos nipo-descendentes no nosso Brasil: na agricultura, na indústria, na ciência, nas artes, na política, no comércio. No Brasil, já se tornou quase uma piada, como dizemos, uma anedota, que se inicia assim: “Qual é a cidade onde há mais japoneses?” A resposta que o brasileiro dá imediatamente é: “São Paulo”. Aí o interlocutor diz: “Não. É Tóquio”. Por conta da presença tão forte, normalmente nas ruas, as pessoas respondem automaticamente: “Onde há mais japoneses? Em São Paulo.” Alguém tem que dizer: “Não, não. É lá em Tóquio.” De fato, no Estado de São Paulo há uma presença muito forte, que concorre com outros lugares. E essa presença de quase 1,9 milhão de nipo-descendentes é parte viva da cultura do nosso País.

     Acho que os que me antecederam já deixaram o tema bem claro e fico também feliz. Nas vezes em que vou ao Japão, sempre vejo grupos de brasileiros, nipo-descendentes, que estão lá buscando estreitar mais as relações culturais e também conhecer mais a cultura dos seus antepassados. Acho isso muito bonito. Chega a aproximadamente 180 mil o número de brasileiras e de brasileiros que vivem no Japão.

     Então, eu agradeço muito a presença de todos e faço aqui o registro da visita que tivemos de uma delegação, há poucas semanas. O Senador Azuma Koshiishi, Vice-Presidente do Senado, veio após um convite que eu mesmo, lá em Tóquio, formulei no ano passado, e que depois fiz formalmente, com uma carta do Presidente Renan, em nome do Senado. Ele veio com outros dois colegas senadores, compondo essa busca que nós devemos ter, porque, se há uma relação muito forte das nossas culturas, dos nossos povos, das nossas famílias, ainda não temos uma reciprocidade do ponto de vista do Parlamento, Senador Flexa, o senhor que trabalha tanto essa questão na Casa.

     Então, Deputado William, nós temos aqui um desafio: estreitar mais ainda, Deputada Keiko, a relação entre o Parlamento japonês e o Parlamento brasileiro. Acho que fica esse compromisso, esse desafio que nós devemos nos impor, para que sigamos aprofundando a relação dos nossos povos.

     Eu queria agradecer e passar, imediatamente, a palavra para o Senador Hélio José e, em seguida, para o Senador Flexa Ribeiro, para que possam usar a tribuna.

     Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no null de 02/12/2015 - Página 12