Discurso durante a 218ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir a crise e a escassez de água no Brasil.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Sessão de Debates Temáticos destinada a discutir a crise e a escassez de água no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2015 - Página 32
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, CRISE, CONSUMO, DISPONIBILIDADE, ABASTECIMENTO DE AGUA, LOCAL, BRASIL, ENFASE, NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, PLANO DE AÇÃO, COMBATE, SECA, REGIÃO NORDESTE, PRESERVAÇÃO, RECURSOS HIDRICOS.

    O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco Oposição/DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente.

    Presidente desta sessão, Senador Cássio Cunha Lima, a alegria de participar desta reunião é dobrada, porque aqui eu tenho a oportunidade de me reencontrar com o Deputado Felipe Mendes, que não via há anos e agora o vejo como Presidente da Codevasf; tenho também a oportunidade de encontrar o meu conterrâneo Walter Gomes, Paulo Varella, enfim, eu quero cumprimentar, nas pessoas citadas, todos os membros da Mesa.

    E quero dizer o seguinte: a iniciativa desta reunião temática foi de um nordestino de qualidade, chamado Cássio Cunha Lima. Ele esteve na reunião, Senador José Medeiros - que é meu conterrâneo de Caicó, exilado no Mato Grosso -, na Convenção Nacional do meu Partido e, na saída, disse: "Não esqueça a reunião temática que temos". Ele, no auge de uma Convenção Nacional, ainda teve lembrança de me falar neste assunto, dada a importância da iniciativa e da reunião. Logo, temos que ter um resultado, recolher um resultado desta reunião.

    Por aqui passou o Senador Tasso, do Ceará; do Piauí, está aqui o Senador Elmano Férrer; da Paraíba, estão os três, Cássio Cunha Lima, José Maranhão e Raimundo Lira; do Rio Grande do Norte, estamos eu e Garibaldi. Praticamente todos os Estados vieram. Vieram os Senadores do Nordeste todos. Por quê? Porque estamos tratando de uma coisa que para nós é sobrevivência. É sobrevivência pura.

    Eu, quando fui governador pela primeira vez, inaugurei uma barragem, e tive a alegria de cortar a fita simbólica. Era a maior barragem do meu Estado e uma das maiores do Nordeste, a Barragem Germano Ribeiro Gonçalves. Não imaginei nunca que aquela barragem, com aquele tamanho, algum dia viesse a mostrar o cocuruto da igreja da cidade que ela havia feito submersa. Como engenheiro, iniciei a construção da Barragem de Sobradinho. Para mim, Sento Sé, Sobradinho são palavras muito familiares. Anteontem, vi na televisão as ruínas da cidade de Sento Sé à mostra, pelo nível da barragem, que foi lá para baixo.

    Paulo Varella, você que é Diretor da Agência Nacional de Águas, eu ando apavorado. Uma coisa que eu não imaginava nunca ter que tocar e considerar, "dessalinizador", hoje aparece como salvação da pátria. Por quê? Porque a água do Nordeste está faltando nos mananciais, mesmo nos maiores. Não estou falando em Barragem do Itans, de Açu, que, ao longo dos anos, foi assoreada e que já não mais abastece a cidade de Caicó. Estou falando da Barragem de Santa Cruz, da Barragem de Sobradinho, da Barragem do Açu, que estão com o nível lá embaixo. Por quê? Há um desequilíbrio de clima no mundo? Claro, deve haver, não pode deixar de estar havendo.

    A carência de água da nossa Região é uma carência que arrepia os cabelos da cabeça. Eu fico imaginando...

    Felipe - permita-me chamá-lo assim -, nós estamos transportando água para Currais Novos de carreta, puxando água da Barragem do Açu, a 200km de distância. Eu fui governador e acudi uma cidade chamada Santa Cruz, perfurando um paliteiro de poços, para que a água de Santa Cruz saísse de Santa Cruz. Hoje, porque a Barragem de Gargalheiras secou e não há mais alternativa nenhuma - nenhuma! - para Currais Novos, nós estamos puxando água do último reduto, do último reservatório, que é a Barragem de Açu, em carretas, para distribuir água dia sim, dia não, bairro sim, bairro não, para acudir a angústia de uma população de mais de 40 mil habitantes. Nós estamos chegando ao limite.

    Agora, o Diretor-Geral do DNOCS, Walter Gomes, participou de reuniões que eu e Garibaldi fizemos com o DNOCS, com o Ministério da Integração Nacional, para tentar recursos para a construção de uma adutorazinha ligando a Barragem de Açu até a cidade de Currais Novos. Uma bobagem em matéria de investimento. O dinheiro que prometeram não veio. O dinheiro que prometeram não veio, e nós estamos lá, arrancando os cabelos da cabeça, porque a adutora não veio. Então, o transporte da água agora é feito em carreta.

    É preciso que se comece por valorizar os órgãos que estão aqui. O DNOCS está sendo dilapidado. Estão liquidando. Até o pessoal que se aposenta, não há mais como repor o pessoal. Na sua Codevasf, deve estar ocorrendo coisa semelhante.

    Senador Cássio Cunha Lima, nós temos que tirar um resultado desta sessão. Nós temos que fazer uma frente de pressão. Há crise? Claro que há crise. Mas crise maior do que a da água do Nordeste não há. Não há, mas não há mesmo, porque se vive sem energia elétrica; agora, sem água, não se vive.

    Então, se tivermos que partir de um diagnóstico, que seja: "Não, nós temos que fortalecer o DNOCS, a Codevasf, nós temos que fazer um orçamento privilegiado para a água do Nordeste, nós temos que pensar em dessalinizadores, como um instrumento efetivo." Nós temos que pensar. Agora, sair da mesmice. Nós temos que colher desta sessão um caminho de saída da mesmice. Na mesmice, nós vamos entrar pelo cano, literalmente. Vamos entrar pelo cano, e não vai haver água nesse cano.

    Então, é muito boa a iniciativa. Eu fiz questão de ir e voltar, voltei na carreira para pegar esta sessão, para dizer só isto: nós temos que ter, da sua iniciativa, Senador Cássio Cunha Lima, um resultado concreto. E nós temos que armar barricadas. Eu, deste plenário, armei barricada e consegui fazer o seguro defeso do pescador, interrompendo, obstruindo sessão. Nós temos que fazer coisa semelhante, porque estão brincando com a Região Nordeste e com a crise hídrica do Nordeste. Estão brincando de verdade. Estão brincando com os órgãos federais. Não dão mais nenhuma importância aos órgãos federais. Cabe a nós, da classe política, tentar resgatar a importância que tem de ter Codevasf, DNOCS, ANA, enfim, todos os órgãos que cuidam de água na nossa Região.

    Desculpem-me a franqueza, mas eu acho que esta reunião tinha de ter esse tipo de tom nas colocações e tem de ter o toque de reunir os Senadores, as autoridades que pensam água na Região Nordeste e nós, do Congresso Nacional, à frente o Senador Cássio Cunha Lima, que é um paraibano com muita vergonha na cara e que propôs esta reunião, reunião que tem de ter começo, meio, fim e conclusão. E a conclusão tem de ser uma frente em favor da água para o Nordeste.

    Muito obrigado. (Palmas.)

 

    


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2015 - Página 32