Discurso durante a 217ª Sessão de Premiações e Condecorações, no Senado Federal

Sessão do Senado destinada a conferir a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

Autor
Randolfe Rodrigues (REDE - Rede Sustentabilidade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Outros:
  • Sessão do Senado destinada a conferir a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2015 - Página 12

    O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, Senador Marcelo Crivella, Presidente do Conselho da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

    Quero também cumprimentar os demais Senadores aqui presentes, a Senadora Ana Amélia, o Senador Lasier Martins, o Senador Eduardo Amorim. Um cumprimento todo especial ao meu companheiro de Bancada Senador Davi Alcolumbre, autor da proposição e primeiro responsável pela homenagem que estamos fazendo hoje à S. Rev.ma o Padre Paulo.

    Cumprimento a Senadora Lúcia Vânia e a Senadora Lídice da Mata.

    Ao mesmo tempo, quero estender os cumprimentos ao Sr. Horacio Sevilla Borja, embaixador e caríssimo representante de um país irmão nosso, a República do Equador.

    Cumprimento o Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Dr. João Ricardo dos Santos Costa.

    Permitam-me aqui, rapidamente, fazer um cumprimento aos agraciados com a Medalha Dom Hélder nesta manhã tarde de hoje no Senado Federal, ao Sr. Cesare de Florio de La Rocca, pelo seu trabalho, já destacado aqui pela Senadora Lídice, de proteção à criança e ao adolescente, através do Projeto Axé; à Srª Gleice Francisca Machado, por seu trabalho na Associação Brasileira de Xeroderma Pigmentoso, pela divulgação nacional da doença e pelo combate à doença; à Drª Maria Berenice Dias pela sua importante atividade neste País, em respeito aos direitos da mulher, em respeito à diversidade sexual, tão necessitada neste País; ao Dr. Wellington Mangueira, pela sua atuação em defesa dos direitos humanos no Estado de Sergipe; à Srª Yvonne Bezerra de Mello, que coordena também o Projeto Uerê, voltado a crianças com problemas de aprendizagem devido à violência, pelo trabalho que tem feito, e, por fim, ao meu conterrâneo, o caríssimo, o meu querido Padre Paulo. Permitam-me aqui detalhar, talvez ser repetitivo, porque o Senador Davi já o fez, mas permitam-me detalhar alguns aspectos da homenagem ao Paulo.

    Quem inspira esta medalha para todos nós, Dom Hélder, costumava dizer que o verdadeiro Cristianismo rejeita a ideia de que alguns nascem pobres e outros nascem ricos, que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus. Essa afirmação de Dom Hélder foi a prática da sua vida. Dom Hélder dedicou a vida à luta em defesa dos mais pobres, à luta contra a opressão. Parte da sua vida ele dedicou ao enfrentamento e à denúncia de uma das piores arbitrariedades que já ocorreram em nosso País, a ditadura civil e militar, de 1964 a 1985.

    Paulo, permita-me dizer que Dom Hélder tem, em particular, a mesma opção política pelos mais pobres, opção que você também faz. Faço isso como testemunho da sua trajetória e das opções que você fez. Escolher os mais pobres, escolher defender os mais pobres é uma escolha de vida, não é uma escolha simplesmente política.

    É uma escolha em nome do que é ser verdadeiramente cristão, ser verdadeiramente cristão diretamente relacionado aos ensinamentos do Cristo aqui na terra. O Cristo que nos ensinou que se devem amar os outros assim como ele amou; o Cristo que se levantou e denunciou os vendilhões do templo, o Cristo que denunciou as arbitrariedades do Império Romano, o Cristo que propôs a revolução pela paz. Essa trajetória é a trajetória e esses ensinamentos são os ensinamentos de Dom Hélder.

    Eu sou testemunho, Paulo, de que esta é a conduta sua no nosso querido Estado do Amapá, vencendo todas as dificuldades. A primeira delas, em um país lamentavelmente de triste tradição racista como o nosso, de mais de 300 anos de escravidão, você, nascido negro, se afirmou como negro e lutou e tem lutado pela igualdade racial. A celebração que você faz todo 20 de novembro da Missa dos Quilombos, lá na sede da União dos Negros do Amapá, que por mim tem sido presenciada, é fundamentalmente uma declaração cristã do amor ao outro, uma declaração cristã de que não existe e não pode existir um mundo com diferenças, que um mundo de igualdade não só é possível de ser construído. Ele é necessário.

    Você venceu uma vida de dificuldades, estudando em escola pública, mostrando que a escola pública pode formar os melhores. Está aí o presente que é você ao povo do meu Estado. Você, com carisma singular, celebra, todas as quintas-feiras, a missa da cura.

    Dizem que se necessitam ter palavras. Mas mais importante do que as palavras são gestos. Você conjuga as palavras da missa da cura, faz a celebração do Evangelho na missa da cura com gestos concretos em defesa do bem comum.

    Ano passado você lançou uma obra que se intitula Confesso Que Vivi: uma lição de vida. Toda arrecadação dessa obra foi dedicada à sua causa do momento. Você, meu querido Paulo, que é um homem de tantas e de todas as causas, a sua mais dedicada no momento é o trabalho no Instituto do Câncer Joel Magalhães, num Estado em que boa parte da população sofre e padece com o câncer e onde o Poder Público, irresponsavelmente, em todas as sua esferas, não dá a guarida necessária àqueles que padecem com o sofrimento do câncer. Você construiu uma ONG para abrigar os necessitados.

    A essa organização não governamental você deu o nome de um jovem, cuja vida e sofrimento com o câncer você acompanhou.

    Só pode sentir o drama e o sofrimento de alguém e só pode ser intérprete do sofrimento de alguém aquele que o sente. Você interpretou muito bem o sofrimento de Joel Magalhães e de tantos que sofrem com a terrível doença do câncer no Amapá. E tem dedicado todos os minutos e horas da sua vida para isso.

    Ainda estou emocionado com a sua última celebração em pleno Estádio Zerão para mais de 8 mil pessoas no jogo pela vida, organizado com muita honra por mim e pelo Senador Davi Alcolumbre. Pela primeira vez, você consegue levar para um local que geralmente é de disputas, pois é um estádio de futebol, a harmonia e a unidade da visão cristã, na missa que lá celebrou.

    Paulo, esta sessão tem por objetivo agraciar com a Comenda Dom Hélder, por um reconhecimento do Conselho da Comenda aqui no Senado, todos cujas trajetórias e vidas têm identidade principalmente com o legado que Dom Hélder deixou para todos nós, brasileiros.

    Meu querido Paulo, permita-me dizer que você é uma espécie de representante e emissário de Cristo e de Dom Hélder em nosso Amapá. E, para concluir, quero dizer que você também cumpre outra máxima de Dom Hélder: "É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca."

    Meus cumprimentos a você e, em seu nome, cumprimento a todos os agraciados com a Medalha. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2015 - Página 12