Discurso durante a 223ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do Dia Mundial dos Direitos Humanos, celebrado hoje, e preocupação com as violações desses direitos; e outro assunto.

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Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Registro do Dia Mundial dos Direitos Humanos, celebrado hoje, e preocupação com as violações desses direitos; e outro assunto.
ECONOMIA:
  • .
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2015 - Página 177
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • REGISTRO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, DIREITOS HUMANOS, ELOGIO, MELHORAMENTO, NECESSIDADE, AUMENTO, POLITICAS PUBLICAS, COMBATE, VIOLENCIA, MULHER, NEGRO, LESBICAS GAYS TRAVESTIS TRANSSEXUAIS E TRANSGENEROS (LGBT).
  • REGISTRO, COMENTARIO, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, SETOR, BANCOS, COMPARAÇÃO, FATO ANTERIOR, EXPECTATIVA, LANÇAMENTO, LIVRO, CONFISSÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENFASE, CONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Apoio Governo/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, convidados do Mato Grosso, eu quero começar falando do dia de hoje, 10 de dezembro, Dia Mundial de Luta pelos Direitos Humanos.

    Essa é uma pauta que se impõe a nós - pelo menos deveria se impor -, porque, em pleno ano de 2015, século XXI, ainda vemos tantas coisas ruins acontecendo em relação aos direitos humanos. Não que não tenham melhorado, que não tenham sido feitas algumas coisas políticas. Eu, inclusive, vou relatar as políticas públicas de combate à violência contra a mulher - e há muita coisa acontecendo -, mas ainda é muito pouco em relação ao tamanho do problema.

    Ainda vemos menina ser apedrejada, porque expressa, em sua roupa, preferência religiosa de matriz africana. A intolerância religiosa, neste País, é muito grande ainda. Vemos os índios lutando ainda para manter suas terras, que o latifúndio teima em querer tirar. Vemos mulheres sendo estupradas e mortas pelos maridos ou ex-maridos, pelos namorados ou ex-namorados, porque acham que são proprietários da mulher. Ainda temos muito trabalho escravo nas fazendas e em outras empresas também. Vemos a população LGBT lutando para ser aceita. Parece que é uma raça diferente, que é outra gente. As pessoas não querem aceitar a opção sexual das outras pessoas.

    Ficamos triste de ver a reação de muita gente contra um tema de um vestibular, porque falou da violência contra a mulher. Que bom que falou, que bom que fez 7 milhões de cabeças pensarem sobre o tema. Certamente lá havia gente que sofreu, gente que praticou e, então, refletiu. E havia muita gente também por fora gerando o debate. Mas é triste ver pessoas, religiões, pastores, padres reprovando a escolha do tema. Como se viu também a retirada da palavra gênero, em muitos Municípios, no Plano Municipal de Educação.

    Tudo isso ainda nos faz ver que o nosso caminho, na Comissão de Direitos Humanos - que o senhor tão bem preside, Presidente - é longo. Ainda vemos a morte de meninos negros só porque são negros - e de mulheres negras. Diminuiu a violência contra a mulher branca, mas aumentou contra a mulher negra. Isso não se justifica, não tem explicação.

    Eu hoje vi um filme, As Sufragistas, que ainda não está em cartaz, mas foi passado para as Parlamentares hoje. Ele mostra a luta das mulheres, na Inglaterra, pelo voto, pelo direito de votar. Quantas vidas foram sacrificadas para que as mulheres tivessem o direito de voto na Inglaterra e em muitos outros países, mas o filme é sobre a Inglaterra.

    Essa é uma pauta que não se esgota. E é por isso que o senhor faz, quase todos os dias, reuniões. Infelizmente não temos como acompanhar todas, porque temos outras comissões também para participar. Mas fica aqui o meu registro sobre este dia, para que todas as pessoas exerçam a sua cidadania e o seu direito de lutar por coisas melhores, por dias melhores.

    Eu quero entrar aqui em outro assunto. Neste tempo de muitas manchetes, em que a mídia pauta alguns discursos, eu quero ler algumas manchetes de jornais, para poder depois ampliar a fala. Então, vou ler manchetes de jornais: "Gasolina tem terceiro reajuste em 35 dias"; "País tem 50 milhões de indigentes, diz FGV"; "Crise energética maior já vista no Brasil"; "Brasil tem segundo maior risco-país do mundo"; "Brasil é o segundo do mundo em desemprego"; "Dívida pública dobra na gestão FHC"; "Desemprego bate recorde"; "Tarifaço sobe o combustível em até 22%"; "Conserto da privatização exige até 9 bi"; "Sobe preço de gás, gasolina e diesel"; "Desemprego cresce 38%"; "Nova fita liga Sérgio Mota a compra de voto pela reeleição"; "Deputado conta que votou pela reeleição por 200 mil"; "Dólar tem nova subida e fecha a 3,76"; "FMI receita ajuste doloroso ao Brasil"; "Três dias após eleição, BC surpreende e sobe os juros"; "Jazida de nióbio será vendida por 600 mil"; "56% dos jovens estão fora da escola"; e por aí vai. Não vou ler todas. É só para mostrar que a história se repete, infelizmente, em coisas boas e coisas ruins.

    Isso aqui são jornais de 1996 a 2000. São os mesmos jornais e revistas de hoje. Não são jornais de esquerda. Não são panfletos. Isso para mostrar que a história se repete. E a gente precisa refletir sobre ela.

    Neste tempo de impeachment ou golpe, o que queiram - a liberdade permite que cada um chame como quiser -, há algumas coisas que a gente precisa refletir na história, até porque esses meninos que estão aí nas ruas, com 25, 30 anos, há 15 anos, tinham seus 15, 12 anos. Então, não sabem o que foi a receita que se viveu neste País, que a gente chamava de neoliberal. Eu era sindicalista do Banco do Brasil na época.

    Eu estou fazendo essa viagem na história para, inclusive, falar também de um discurso de um Senador que fala da questão do Bamerindus, que ele chama de episódio lamentável e execrável, os prejuízos causados ao Brasil, o que se fez com o Bamerindus em não salvá-lo. E olha que o dono do Bamerindus era amigo do governo. O Bamerindus foi liquidado nos dois sentidos da palavra, porque se negou a ele pagar seus créditos e se negou a ele o Proer, que existia, porque já estava negociado com o HSBC, o famoso HSBC de hoje. Já estava negociado - isso é um discurso de um Senador; não é meu - para o HSBC. Na hora em que o HSBC comprou o banco, ele recebeu os créditos e recebeu auxílio do Proer.

    Então, para mostrar as coisas que aconteciam naqueles anos, de que a juventude de hoje não se lembra, não viveu, não participava naquela época. O HSBC que hoje está aí, detentor das contas secretas. E acaba uma CPI melancolicamente, pois essa CPI não deu em nada, porque, no dia em que essa CPI ia votar...

(Soa a campainha.)

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - ... a quebra de sigilo, pela primeira vez, todos os titulares apareceram lá. Eu sou suplente, eu era suplente, a CPI acabou, já assinamos os termos. Cheguei lá e vi, pela primeira vez, a CPI reunida com todos os suplentes, porque foram todos lá - acompanhei Colegas nossos aqui -, para não deixar quebrar o sigilo de algumas pessoas.

    É só para ver que as coisas não são novidades, algumas coisas de hoje não são novidades. Também aconteceram e acontecem quando interessa.

    Eu estou vendo meu tempo se esgotar, mas eu queria um pouquinho de paciência.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Terei. Terei. Fique tranquila. Como eu tive com os outros oradores. Dei mais cinco. E, se necessário for, vou lhe dar mais cinco minutos.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Queria falar ainda sobre o setor bancário, porque eu sou bancária. Eu vi, e não tinha o nome de pedalada, não. Mas eu era do Banco do Brasil, e havia uma conta chamada "Conta Movimento", em que o Governo metia a mão na hora em que queria. Tivesse fundo ou não tivesse fundo, ele metia a mão quando queria. Foi uma das grandes lutas, como sindicalista, para acabar essa conta. Que o Governo botasse dinheiro no banco para depois usá-lo. Então, também é história.

    Eu queria falar ainda do tema banco, sobre a questão do Banorte. O Banorte foi entregue a uma família de Minas. É muito interessante o que um juiz diz aqui sobre como se deu a questão do Banorte para o Banco Bandeirantes. Foi entregue a parte boa Banorte para o Banco Bandeirantes. E o juiz diz, lá no processo:

Em 24 horas, decretou-se a intervenção no Banorte, estabeleceram-se as bases e diretrizes da operação, preparou-se o contrato, reuniu-se a diretoria do Banco Central, encaminhou-se o voto favorável do Banco Central ao Conselho Monetário Nacional, que se reuniu na mesma data, apenas com os integrantes constantes da ata, que concedeu, instantaneamente, seu "aprove-se". E celebrou-se o contrato. [Tudo, repito, em 24 horas.] Essa assombrosa e questionável operação contratual representou desprezo pelo patrimônio, nome e fundo de comércio do Banorte e foi uma carta branca ao Bandeirantes. Houve muita pressa na celebração do pacto, enquanto cláusulas e condições totalmente em aberto foram incorporadoras e inexplicavelmente mantidas nos instrumentos contratuais.

    Então, só para mostrar algumas coisas acontecidas no nosso País não tão longínquas.

    Para concluir, quero falar ainda que está saindo aí As Confissões de FHC, ou O Diário da Presidência, em que ele disse que sabia de esquema da Petrobras, que chamava de "bandalheira". E fez o quê? É importante que todo mundo leia esse livro. Não sei se já está sendo vendido, mas já estão saindo alguns trechos. Diz que foi pressionado pela Globo para vender a Vale e que aconselhou empresários a como comprar a Vale. Imagine um Presidente da República aconselhando um empresário - e diz até o nome de um, Antônio Ermírio de Moraes - a comprar uma empresa brasileira. O que aconteceria com esse Presidente se fosse agora, neste momento?

    Então, Sr. Presidente, eu queria fazer esse retrospecto da história. Alguns podem dizer que estou olhando no retrovisor, mas às vezes é preciso olhar, até porque muita gente que está embarcando na onda não conhece a história e não sabe o que se viveu.

    Ninguém deve acreditar que, se se fizer o impeachment, no dia seguinte estará tudo maravilhoso. O Temer assume, adota a política de José Serra, o receituário econômico de José Serra, e vai ficar tudo bem, tudo maravilhoso.

    Os meninos de hoje devem perguntar aos seus pais, principalmente àqueles que eram trabalhadores nos bancos, no comércio, no serviço público, como era a vida deles como trabalhadores nos anos 90 e até o começo deste século. Eu era funcionária do Banco do Brasil e digo que foram oito anos sem nenhum reajuste salarial. Nenhum. Fazíamos greve de 30 dias e voltávamos para casa com os 30 dias descontados. No ano seguinte, fazíamos uma greve para negociar os 30 dias que havíamos perdido, e era só isso que nós conseguíamos.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2015 - Página 177