Discurso durante a 224ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a possível proibição judicial da prática da vaquejada; e outros assuntos.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
  • Preocupação com a possível proibição judicial da prática da vaquejada; e outros assuntos.
CULTURA:
IMPRENSA:
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2015 - Página 120
Assuntos
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Outros > CULTURA
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • REGISTRO, VIAGEM, DESTINO, RORAIMA (RR), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, DILMA ROUSSEFF, OBJETIVO, ENTREGA, DOCUMENTO, AUTORIA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), ASSUNTO, LIBERAÇÃO, LICENÇA AMBIENTAL, OBRAS, CONSTRUÇÃO, USINA HIDROELETRICA, REGIÃO, TUCURI, ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • APREENSÃO, DECISÃO JUDICIAL, ASSUNTO, PROIBIÇÃO, REALIZAÇÃO, COMEMORAÇÃO, FESTA NACIONAL, CAÇA, BOVINO, AUSENCIA, MORTE, ANIMAL, ABRANGENCIA, DISTRITO FEDERAL (DF), REGISTRO, IMPORTANCIA, HISTORIA, FESTA, SOLICITAÇÃO, APOIO, DEFESA, FESTIVAL.
  • CRITICA, PUBLICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ORIGEM, RORAIMA (RR), MOTIVO, AUSENCIA, VERDADE, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, ENTE FEDERADO, MANIFESTAÇÃO, OBJETIVO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Cristovam, que ora preside – sempre trazendo o seu conhecimento, o seu posicionamento firme e responsável, debatendo os assuntos de âmbito nacional e olhando o País de frente –, senhores telespectadores e senhoras telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, vejam o que é a questão do destino.

    Neste final de semana, eu, por força do nosso trabalho, não fui ao meu Estado, até porque vim na segunda e voltei na quarta com a Presidente Dilma. Nós fomos até o Estado de Roraima e voltamos. E eu agradeço muito à Presidenta por isso, porque ela demonstrou grandeza, já que foi um dia, digamos assim, extremamente tenso, quando estavam se trocando as comissões na Câmara. Ela não abandonou a sua agenda. Assim mesmo, ela foi a Roraima, porque ela sabia que o assunto que ela estava levando ao Estado de Roraima era um assunto da maior importância para aquele povo.

    É a mesma coisa de alguém sequestrar alguém de a polícia chegar ao cativeiro e saber que ali há um sequestrado e um sequestrador, precisando dar àquela pessoa a liberdade. Outros governos engessaram o Estado de Roraima, e a Presidente Dilma, naquela hora, foi à Roraima levar documentos importantes, como a liberação do Ibama para dar continuidade à obra de Tucuruí, para se ter uma energia mais firme, para interligar o País e, mais do que isso, para dar ao Estado de Roraima uma energia mais barata, uma energia segura, para permitir futuros investidores naquele Estado que agora já se desponta como a nova fronteira agrícola do País.

    Ao mesmo tempo, quando fizeram a lei que passou as terras da União para o Estado de Roraima, ex-Território, ela não previu que o Estado de Roraima tivesse 66,8% de suas terras comprometidas com área militar, unidade de conservação, área indígena etc. Ao passarem esse decreto, fizeram isso de forma irresponsável e incluíram o Parque do Lavrado como uma forma de preservar a Savana que existe hoje no Estado, mas que já está preservada nas áreas indígenas. É uma área que ainda está disponível para produção e que, por acaso, foi colocada nesse parque. E a Presidenta foi lá.

    Eu fiquei no final de semana para dar continuidade ao trabalho.

    Fui convidado, Senador Cristovam, para ir a um Município, o que eu queria falar para V. Exª, para o Senador Reguffe e para o Senador Hélio José, companheiros que representam o Distrito Federal. Senador Cristovam, aqui, hoje, ao redor do Distrito Federal, há aproximadamente 18 parques de vaquejada. A vaquejada é uma festa genuinamente brasileira, com tradição de mais de cem anos, que, nos últimos dez anos, modernizou-se e profissionalizou-se, tornando-se reconhecida como esporte através da Lei Pelé, regulamentada pela Lei Federal nº 4.495/98 e pela Lei do Estado do Rio de Janeiro nº 3.021, de 23 de julho de 1998. Apesar de concentrar-se nas Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, atualmente são realizadas, Senador Cristovam, Senador Paulo Paim, mais de mil festas de vaquejada por ano. Isso não só envolve a cultura e a tradição, mas envolve geração de empregos, de impostos, de fábricas.

    Enfim, a vaquejada, que era um esporte genuinamente brasileiro, Senador Cristovam, hoje, no Distrito Federal, está sofrendo uma grande baixa. Os ambientalistas entraram contra a vaquejada e um juiz de primeira instância suspendeu, no âmbito do Distrito Federal, qualquer prática de vaquejada.

    Eu queria aqui fazer um apelo a esse juiz, fazer um apelo ao Judiciário. Sabe o que prejudica o povo brasileiro? É a maconha, que ministros, juízes e políticos estão liberando. Essa, sim, uma droga que destrói os lares, destrói as famílias; pai mata filho e filho mata pai para roubar, mata os vizinhos, mata a família toda.

    A vaquejada nasceu de uma disputa natural, bem natural. O vaqueiro, com seu gibão, seu chapéu de couro, na Caatinga do Nordeste, ou lá na savana de Roraima, ou na mata, ia buscar os bois, o gado bovino, e muitos desses animais, às vezes, se recusavam a seguir ou a entrar no curral – uma coisa assim – e o vaqueiro tinha que partir com o animal para fazer a doma. Daí surgiu uma disputa entre fazendeiros, criatórios. Houve o aprimoramento de animais nesse sentido, de pedigree, que começou com o cavalo crioulo, no Rio Grande do Sul, onde há animais fantásticos crioulos, Senador Paulo Paim, lindos, animais dóceis, bons de rédea, como diz o vaqueiro.

    Esta Casa aqui reconheceu a profissão de vaqueiro. A mão de obra que construiu Brasília não foi dos brasilienses, mas do nordestino, do nortista, do Brasil. Então, não pode, porque aqui é a Capital Federal, seu juiz, acabar com uma cultura genuinamente brasileira!

    Aqui mora o gaúcho, o paulista, o paraibano, o macapaense, o rio-branquense, o amazonense, o roraimense, o catarinense, o paranaense, o carioca, gente de todo canto. Aqui mora o Brasil. E, de repente, o juiz dá uma canetada um dia antes de um grande evento. Não queiram nem saber o prejuízo dessas pessoas! Eu vejo às vezes a Justiça, ou essas pessoas que têm o poder da Justiça, engolir um elefante e se engasgar com uma formiga. E aí a cultura brasileira, o rodeio, a vaquejada, a corrida de cavalo, coisas do campo, que são festas que alegram o homem do campo...

    Dr. juiz, quando V. Exª senta em uma mesa para comer uma maçã, houve alguém lá no campo que ficou horas e horas plantando. Quando V. Exª come uma beterraba, alguém meteu a mão no chão para plantar. Quando V. Exª come uma alface, V. Exª tem alguém plantando, mão calejada. V. Exª estudou, os outros trabalharam. Quando o campo não planta, a cidade não janta. Quando Deus criou o mundo, ele tirou um dia para o descanso, para o lazer, e o homem do campo encontrou essa forma de manter a sua cultura e a sua alegria.

    Então, eu queria fazer um apelo ao Senador Cristovam, do Distrito Federal, ao Senador Hélio José, ao Senador Reguffe, no sentido de que atentem para esse esporte, essa cultura reconhecida pelas leis brasileiras, e que está extremamente perseguida aqui, no Distrito Federal.

    Ontem fui convidado para comer um churrasco no parque. A enfermeira Sueli estava lá. Vi lá crianças, mulheres, empresários, peões, toda a sociedade brasiliense, gente de todas as suas camadas sociais, levando carinho, dando um banho, tratamento, interagindo. Eu não vi ninguém lá fumando maconha nem cocaína, nem atirando, nem espancando, nem batendo. Eu vi amor naquelas pessoas, no trato, no zelo, na boa alimentação. Havia lá veterinários, advogados, professores. Até anotei: Dr. Márcio, advogado; Sansão, um garotinho de onze anos – um abraço, Sansão! O Professor Tadeu, professor universitário, o Assis, enfim, vários.

    Eu queria aqui aproveitar e fazer este apelo, principalmente ao Governador do Distrito Federal, que foi desta Casa, que aprovou aqui a profissão de vaqueiro. O Governador de Brasília, tem um negócio nele: deu pressão, ele corre. Deram essa pressãozinha nele aí e ele não assinou. O cabra é frouxo! Deram a pressãozinha e tomaram o monumento do João Goulart. Eu queria ver ele ouvir ontem a rádio dando pressão dos PMs. Vamos ver se ele vai também.

    O gestor tem que ter compromisso com o seu Estado, com o seu povo, com a sua cultura, com a sua origem. A pressão vai existir sempre. É preciso ter a sensibilidade. Aqui eles vetaram, e esse veto estaria até hoje, parece-me lá na Câmara Distrital, para ser reapreciado.

    Então, está aí o recado aos companheiros que gostam de vaquejada e que ontem estavam tristes por conta dessa decisão judicial tão forte.

    Bom, eu quero aqui também aproveitar e parabenizar o povo de Roraima. Eu disse, no início da minha fala, que a Presidenta Dilma olhou Roraima com o olhar de mãe, Senador Paulo Paim e Senador Cristovam. Com o olhar de mãe porque ela foi duas vezes no ano a Roraima, que tem uma população de 500 mil. Não dá 300 mil eleitores, é menor do que alguns bairros, mas ela foi duas vezes ao Estado de Roraima para fazer ações positivas. Hoje as praças, o PAC, o ProUni, todos esses recursos que hoje circulam no Estado de Roraima são frutos, a maioria, dos programas federais. Mas ela foi lá e ajudou. E o povo de Roraima reconheceu. Dos 16 prefeitos lá, só o prefeito do PMDB, da capital, que é a mais beneficiada, a Prefeita Teresa Jucá, não assinou contra o impeachment. Os demais, até do PSDB, assinaram, sem nem conhecer a Presidenta, mas sabendo da importância da Presidenta Dilma para o Estado de Roraima.

    Hoje, em Boa Vista, se há essas praças, se há essas creches, se há essas casas – o Minha Casa Minha Vida, o Luz para Todos –, é por causa de programas federais para os quais a Presidenta Dilma libera recursos.

    Fico triste de ver, por exemplo... Essa aqui é a quantidade da manifestação que houve lá, ontem, pelo impeachment, organizada por um jornal que é do grupo do PMDB lá. Olha a manchete do jornal: "Roraimense apoia o movimento. Vão ao centro cívico e pedem saída da Presidente". Trinta pessoas, todas carimbadas: advogado da prefeitura do PMDB, e outros. Trinta pessoas, em 500 mil pessoas! Quem é bom de matemática, Prof. Cristovam, vê o percentual. O jornal do PMDB abre uma manchete dizendo que a população de Roraima foi à rua. É muita demagogia, é muito oportunismo, é muita picaretagem. Essa é que é luz da verdade. Mas o povo realmente reconheceu. Não está aprovando isso ou aquilo, mas aprovando a ação da Presidenta, a coragem, a determinação de ela ter mostrado a sua preocupação com o Estado de Roraima, meu Estado natal, onde eu nasci, onde a gente se focou. Eu pedi dela isso, e ela dizia no avião que sentia um pedido com muito amor, com muito carinho por aquele povo, e que ela atendeu.

    Portanto, Sr. Presidente, eu fico aqui, hoje, com a minha fala não presa, mas limitada a esses dois assuntos: a questão da vaquejada no Distrito Federal e no Brasil inteiro – eu sei o quanto isso mexe com o povo nordestino, nortista, do Centro-Oeste, de todo canto –, e também essa questão do movimento ontem, em Roraima. Graças a Deus, o povo de Roraima mostrou que não é um povo oportunista, não é um povo traidor. É um povo que sabe qual é a sua necessidade e na hora vai. Eles param rua, param a BR, fazem greve de 70 dias, mas não aceitam ser peças de manobras de políticos oportunistas, políticos sem compromisso com a história de Roraima, políticos que chegaram a Roraima levando na mala só a ficha da corrupção e que estão hoje milionários, dominando meios de comunicação, televisão, rádio, mineradoras, shopping center, posto de gasolina, etc. O povo sabe quem são essas aves de rapina, esses parasitas do nosso Estado. Portanto, não foram às ruas, não atenderam a esse chamado da ingratidão.

    Eu queria aqui, Sr. Presidente, concluir a minha fala parabenizando o povo de Roraima, que, quando é preciso ir às ruas para tirar um péssimo gestor, sempre vai. Mas vai por sua vontade, pela sua dor, pela sua necessidade, não induzido por jornalistas que ganham na Assembleia Legislativa e ganham dos meios de comunicação, que fazem sensacionalismo, que soltam uma manchete mentirosa com essa. Trinta pessoas não representam 500 mil pessoas. Eu queria fazer essa colocação e esse desabafo.

    Sr. Presidente, Senador Cristovam, só para encerrar, eu queria chamar a população brasileira para uma reflexão. A não ida das pessoas às ruas não é aprovação do Governo. O grau de insatisfação existe, há erros, há acertos, mas há vontade de mudar. Agora, o que as pessoas sabem...

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) – ... é que não se troca Presidente da República como se troca um técnico de futebol. Por melhor que ele seja, se os jogadores não o estão recebendo bem, fazem um boicote, se a diretoria não está se encontrando, se a diretoria vendeu os melhores jogadores e há ali uma rivalidade, o time começa a perder, a torcida entra em desespero, eles tiram o técnico, como se ele fosse a causa daquelas derrotas. Aprendeu-se isto no Brasil: sacrificar os técnicos de futebol. Mas um Presidente da República brasileira não é um técnico de futebol.

    Senador Cristovam, se você fizer uma manobra brusca, se der uma bruta freada ou uma curva fechada com uma carreta, ela vai capotar. O Brasil é uma carreta, não pode fazer essa manobra violenta assim. Até porque é trocar o motorista dessa carreta pelo copiloto que ajudou a dirigir o tempo inteiro!

    Então, eu tenho dito aqui, já vi Senadores repetirem, e vou repetir o que eu tenho falado desde o início: se é para fazer uma mudança – eu tenho oito anos de Senador, eu abro mão, com a maior aprovação no meu Estado –, que se faça uma eleição geral! Aí, sim, vamos estabelecer um novo caminho. Agora, usar mecanismo que não está previsto na Constituição para fazer uma curva, promover acertos, telefonemas oferecendo – "eu dou mais, fulano dá mais"! O que é isso? Com isso, o povo brasileiro não concorda, e eu, como um Parlamentar aqui dentro, não vou concordar. Vou, claro, de forma a buscar o entendimento, tentar a construção, mas se eu vir que este barco aqui vai afundar para se montar uma quadrilha, em que o principal personagem é o Sr. Cunha, tem que tocar fogo, tem que virar o bicho, tem que brigar até com o céu da boca, porque nós estamos caminhando para um suicídio político!

    Então, eu queria fazer esse alerta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2015 - Página 120