Discurso durante a 220ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.:
  • Críticas ao Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2015 - Página 62
Assunto
Outros > CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Indexação
  • CRITICA, EDUARDO CUNHA, DEPUTADO FEDERAL, MOTIVO, AUSENCIA, DECLARAÇÃO, EXISTENCIA, CONTA BANCARIA, PAIS ESTRANGEIRO, REGISTRO, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, ASSUNTO, NECESSIDADE, AFASTAMENTO, PRESIDENCIA, LEGISLATIVO, SITUAÇÃO, ABERTURA, INVESTIGAÇÃO, OBJETO, CONDUTA, PRESIDENTE.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, Senadora Gleisi Hoffmann; Senadores e Senadoras, telespectadores e telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, como não poderia ser diferente, hoje, os olhos do Brasil estão voltados para esta Casa, para o Congresso de modo geral.

    A situação política atual, com essa decisão desastrosa do Deputado Eduardo Cunha, colocando em processo o impeachment da Presidente Dilma, naturalmente criando aí um pano de fundo, de uma forma raivosa, vingativa, usando o Parlamento brasileiro, a Casa do Povo, que é a Câmara Federal, num ato de total desespero, naquele sentido de que "eu caio, mas eu levo alguém comigo", numa demonstração absoluta de que não há nele nenhum sentimento nacionalista, de brasilidade, patriótico, mas sobretudo, de espírito público.

    Portanto, Srª Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ontem fomos dormir sob uma imensa e vergonhosa dúvida sobre a que ponto a imoralidade ética chegou ao Congresso Nacional. Presume-se que o indivíduo escolhido para presidir um órgão da importância da Câmara dos Deputados seja alguém de reputação ilibada e caráter irretocável. Esse é o sentimento. Infelizmente essas características não estão presentes na pessoa do Deputado Eduardo Cunha, ora Presidente da Câmara Federal.

    Esta semana, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados tentou se reunir mais de uma vez para analisar o pedido de abertura de processo de cassação de mandato contra o Deputado Cunha por ele ter se apoderado de dinheiro público e enviado ao exterior sem declarar à Receita Federal nem pagar os impostos devidos.

    Sr. Presidente, José Pimentel, esta é a pergunta que não quer calar: por que ele não informou às autoridades brasileiras sobre essa remessa? Aí a grande interrogação, porque as acusações são de que não era dinheiro ganho com o suor, como fazem milhões de brasileiros todos os dias quando pegam o metrô, quando vão para as fábricas, para os escritórios, para os postos de saúde, o gari, o advogado, o médico. Por que esse dinheiro não foi declarado, Senador Cristovam? Não tem que responder porque V. Exª não faz parte de quadrilha. É uma pergunta no sentido de não haver explicação. Ora, era dinheiro fruto da roubalheira, que muitos chamam de corrupção, porque, se rouba uma motocicleta, uma bicicleta, ele é ladrão e, se rouba dinheiro público, ele é corrupto. Já muda o tom da viola, a linguagem e o adjetivo.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senador Veín, que orgulha o nosso Piauí e o PTB, nosso histórico Partido Trabalhista, esse dinheiro do Sr. Eduardo Cunha que foi para o exterior não era o dinheiro dos hospitais? Não era o dinheiro da educação? Não era o dinheiro das nossas estradas? Não era o dinheiro da nossa casa e da nossa vida?

    Não era o dinheiro que pavimentava as nossas ruas? Que iluminava as nossas avenidas? De quem era esse dinheiro?

    É tanto dinheiro que muitas Megassenas não alcançam. Não alcançam. Ele é acusado de esconder na Suíça mais de R$32 milhões. É dinheiro que eu, como auditor de banco, nunca contei. E trabalhei 19 anos e, sempre que chega nas agências, tinha que contar o dinheiro do caixa.

    Dinheiro público, em nome dos seus familiares. Saiu calado. Calado! Saiu mudo, às escondidas. Esse cara é que tenta paralisar o Brasil. É esse senhor que se acha na autoridade de abrir um processo de cassação de uma Presidenta que tem o nome totalmente ilibado.

    O SR. PRESIDENTE (José Pimentel. Bloco Apoio Governo/PT - CE) - Senador Telmário, o Deputado Eduardo Cunha, ao assumir a Presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2015, inicia este ano com a chamada "pauta bomba", cujo objetivo era inviabilizar a economia brasileira.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - E tornar impopular a Presidenta da República.

    O SR. PRESIDENTE (José Pimentel. Bloco Apoio Governo/PT - CE) - Ao mesmo tempo, aprovando um conjunto de medidas contra os mais pobres. De imediato, reduziu a maioridade penal, para pegar as nossas crianças e, em vez de levá-las para escola de tempo integral, cuja ideia o Senador Cristovam Buarque é um dos elaboradores, queria levá-las para os presídios, para que saíssem pior do que chegaram.

    Em seguida, resolveu aprovar o projeto de armamento. Enquanto o resto do mundo luta pela paz, pelo desarmamento, inclusive os Estados Unidos, aqui faz-se exatamente o contrário: revoga-se o Estatuto do Desarmamento, que foi aprovado no Congresso Nacional, e passa-se a criar a lei do armamento, para beneficiar a indústria bélica e aqueles que fabricam armas, para eliminar as pessoas no Brasil.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senador José Pimentel, que ora preside esta Casa, para honra deste Senado, eu incorporo à minha fala essas informações tão boas e tão preciosas, para esclarecer a nossa sociedade.

    Até agora foram descobertas 23 contas em quatro países. Imaginem o procedimento - eu que fui auditor -, o cara sai abrindo contas tentando despistar, camuflar, como sabe o Coronel Arthur, que está ali, ou seja, vestir uma roupa na cor da natureza para ninguém ver. Ele tenta camuflar o dinheiro que saiu calado.

    Senador Raimundo Lira, que acaba de chegar a este plenário, o desvio de todo esse dinheiro já foi provado e comunicado oficialmente pelo Ministério Público e pelas autoridades suíças. Está provado com vasta documentação.

    Mas para tentar desviar a atenção do seu processo de cassação, ao invés de provar que é um homem honesto, o que fez o Deputado Eduardo Cunha? O que fez ele? O que fez ele? Acatou um pedido de impeachment, que estava engavetado, a título de chantagem e de revanchismo e de rancor e de ódio e de negociação contra a Presidente Dilma.

    É por isso que esta Casa não pode parar. Este Congresso tem que ir a fundo agora. Temos que levar esse processo ao seu final. Nós temos que respeitar o povo brasileiro, que já foi roubado pelo Seu Cunha. E não vamos parar o Brasil pelo bel-prazer de um homem que está mandando dinheiro às escondidas, sem pagar as suas divisas, sonegando o Fisco, abrindo contas camufladoras na Suíça e em mais quatro países. Não podemos cruzar os braços diante de uma crise que ora foi imposta pelo Sr. Eduardo Cunha, para fazer um pano de fundo de sua possível cassação na Comissão de Ética.

    Sr. Presidente, finalizo deixando a seguinte pergunta ao Deputado Cunha - e olha que cunha é uma coisa boa; cunha é uma coisa para ajustar alguma coisa. Eu me lembro da cunha que se coloca em carro de boi. Quando ele está desigual, você bota uma cunha para melhorar. Essa cunha que entrou aqui foi para mandar dinheiro para fora, é uma cunha que não serve.

    Por que essa raiva contra a Presidente Dilma, se ela não desviou dinheiro público nem abriu conta no exterior? É a Presidente Dilma culpada de ele abrir 32 contas em quatro países, de mandar dinheiro às escondidas? O que tem a ver a Presidente Dilma com isso? O que tem o povo brasileiro?

    Vamos acordar, Brasil! Vamos acordar, Brasil! Estamos a um golpe malicioso por um chefe de quadrilha treinado para desestabilizar o Brasil, para criar um clima de que o Brasil não tem solução, para criar um clima de que não há governabilidade, para esconder debaixo do tapete sujo de seus procedimentos, de um currículo nojento, a verdade, que não é transparente em grande mídia nacional. Entendo que o Presidente da Câmara que esteja sob investigação pelo Supremo Tribunal Federal não tem condições morais para presidir uma Casa de tamanha importância.

    Estou apresentando proposta de emenda à Constituição, Sr. Presidente, Srs. Senadores, para que o Presidente de qualquer Casa do Poder Legislativo seja afastado do cargo a partir da abertura de processo investigatório no Supremo Tribunal Federal. Aqui está a minha proposta de emenda à Constituição. Nós queremos dar esse cunho, para evitar que sejamos presa fácil de um manipulador sem escrúpulo como é o Sr. Cunha.

    Eu gostaria que o Supremo Tribunal Federal, assim como fez analogia para punir o Senador Delcídio, cujo crime não está escrito que era inafiançável, e não houve o flagrante, mas, por analogia e pela gravidade, o Supremo o prendeu e esta Casa endossou...

    O Sr. Cunha não está atrapalhando uma investigação policial, está atrapalhando o desenvolvimento, o crescimento e a vida de uma nação. Está na hora de tomarmos uma decisão sobre ele.

    Era essa a minha fala, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2015 - Página 62