Discurso durante a 220ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alegria pela realização de eleições democráticas na República Bolivariana da Venezuela.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA INTERNACIONAL. :
  • Alegria pela realização de eleições democráticas na República Bolivariana da Venezuela.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2015 - Página 71
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, VITORIA, OPOSIÇÃO, ELEIÇÕES, LEGISLATIVO, VENEZUELA, ELOGIO, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, DEFESA, NECESSIDADE, RESPEITO, RESULTADO, ELEIÇÃO.
  • REGISTRO, VITORIA, OPOSIÇÃO, ELEIÇÕES, EXECUTIVO, ARGENTINA, ELOGIO, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO.

    O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amigos e amigas que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado, pelas redes sociais, falar depois do Senador Cristovam é uma tarefa difícil. O Senador Cristovam é um mestre nesta Casa e no País, por tudo o que representa na questão da educação, da cultura. Ficamos aqui instados a caprichar, senão fica complicado.

    Sr. Presidente, eu queria, em rápidas palavras, registrar que - até aproveitando o final do discurso do Senador Cristovam, quando disse que às vezes as pessoas cansam e buscam outro tipo de saída - eu acredito na política, Senador Elmano. V. Exª também - a sua vida tem demonstrado isso. E eu acredito que, às vezes, onde não há até sinal de grande esperança, é possível construir uma saída - pela competência dos homens e mulheres, pela bênção de Deus, enfim, por uma confluência de ações e do bom senso.

    E aqui eu não quero falar hoje do Brasil. O processo no Brasil - acho que algumas pessoas já falaram aqui - ainda está se sedimentando. Os sentimentos ainda não afloraram. Os partidos ainda não se posicionaram. Acho que é um momento de extrema seriedade, que requer serenidade e equilíbrio. Portanto, é muito importante que todos os fatos sejam analisados por todos os ângulos.

    Eu quero falar hoje aqui de um outro país que, apesar da turba, apesar da confusão, apesar da pressão, encontrou um rumo de saída através da política e do posicionamento democrático. Eu quero falar aqui hoje da Venezuela, minha vizinha, vizinha do meu Estado de Roraima, um país que tenho acompanhado ao longo dos últimos 27 anos que moro em Roraima. Eu vi a Venezuela submergir em uma crise muito grande, Senador Elmano. A situação da Venezuela é terrível, uma situação de pré-ditadura, uma situação de descontrole, uma situação de pressão, uma situação de desabastecimento, uma situação de descapitalização, uma situação de inflação galopante, tudo isso estampado e fazendo sofrer o povo da Venezuela.

    Ontem, esse povo da Venezuela foi às urnas e deu uma demonstração de que, quando há uma conscientização na população, se apontam as saídas. Ontem, na eleição, apesar de toda a pressão do governo, a oposição teve uma vitória esmagadora, uma vitória retumbante - não concluída ainda, porque há 22 cadeiras que ainda estão em processo da apuração. Porém, hoje, com o resultado provisório, faltando essas 22 cadeiras, a oposição já tem 99 Deputados e a situação, um pouco mais de 50. Se, das 22 cadeiras, a oposição tiver 12, a oposição terá maioria qualificada para tomar qualquer tipo de decisão no Congresso. Isso é muito importante, porque esse é o instrumento democrático para se corrigirem os rumos. E é muito importante que o povo da Venezuela possa encontrar uma outra direção, é muito importante que o governo da Venezuela respeite essa eleição, é muito importante que o governo da Venezuela reveja seus posicionamentos e os seus equívocos que têm-se avolumado e se multiplicado.

    Eu quero aqui hoje parabenizar o povo venezuelano e registrar que, só com esse resultado da eleição, o Presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, que esteve no Brasil há alguns dias e que tinha anunciado que iria recorrer para afastar a Venezuela do Mercosul, hoje registra que não vai entrar com o pedido de suspensão, porque espera que, com a vitória, com a indicação do povo da Venezuela de um outro caminho, esse caminho possa ser construído e trilhado coletivamente entre oposição e governo com maturidade política, respeitando a decisão da população.

    Um posicionamento parecido com esse foi tomado hoje também pelo governo dos Estados Unidos. O governo americano é taxado pelos seguidores de Maduro como o grande satã, como algo que vive a tentar desestabilizar a Venezuela, numa tentativa de polemizar uma luta que não é do povo americano, que não interessa nem à América do Sul nem à América Latina. O governo americano, hoje, por meio do Secretário John Kerry, disse que os Estados Unidos estão dispostos a apoiar os esforços de entendimento entre os diversos partidos, o governo e a oposição.

    Eu faço esse registro, Presidente Elmano, apenas para dizer que há saída para que se construam alternativas democráticas. Aqui o Senador Cristovam falou: "Pode ser que alguns defendam a vinda dos militares, e isso pode, no futuro, virar um caminho". Jamais o caminho será a ditadura, qualquer que seja a cor ou a ideologia da ditadura. Jamais o caminho será o totalitarismo. Os caminhos têm que ser democráticos, mesmo que sejam caminhos traumáticos. Mesmo que sejam caminhos traumáticos, eles têm que rezar na Constituição e têm que estar, sobretudo, sintonizados com a aspiração popular. Aqueles que estão nesta Casa representam os Estados da Federação e o povo do Brasil. Nós temos que nos fazer respeitar e sermos respeitados por essa população que está lá fora.

    E, assim como a Venezuela, que é um país muito mais sacrificado do que o Brasil e que pelo menos apontou uma saída democrática, assim como a Argentina, que, alguns dias atrás, construiu uma saída democrática, através do posicionamento das ruas e do voto, eu não tenho dúvidas de que aqui, no nosso País também, até por sermos o País mais forte da América do Sul, o País que tem uma estrutura muito mais moderna, uma estrutura muito mais permanente e consistente, nós temos a obrigação de construir uma saída para o povo brasileiro.

    Nós vamos, a partir desta semana, acompanhar as ações da Câmara dos Deputados. Eu entendo que os partidos políticos precisam se posicionar. Eles claramente precisam discutir sem personificar qualquer decisão e precisam constituir uma alternativa viável e institucional para o Brasil.

    A cada dia que passa, Senador Elmano, mais brasileiras e brasileiros perdem os seus empregos, mais brasileiras e brasileiros perdem a esperança. Os números da economia, Senador Raimundo Lira, são terríveis e pioram a cada dia. Nós temos que parar essa marcha da insensatez econômica. Nós temos que reverter a expectativa, recuperar a credibilidade do Governo, recuperar a segurança jurídica e trazer de volta as condições que o Brasil tem, como poucos países no mundo têm, para ser atrativo ao investimento internacional e ao investimento nacional.

    Eu queria fazer hoje este pequeno pronunciamento, parabenizando a população da Argentina, que construiu uma saída democrática, parabenizando o povo da Venezuela, que construiu ou pelo menos apontou uma alternativa. Isso vai depender muito do posicionamento do governo do Presidente Maduro e vai depender muito também da cobrança e do posicionamento do Governo brasileiro e dos governos dos países que foram o Mercosul e a Unasul junto com a Venezuela. A Venezuela precisa respeitar a decisão democrática da grande maioria da população, que votou com fome, que votou assustada, que votou, enfim, com poucas condições, mas falou mais alto, com coragem e com determinação, em busca de um novo caminho. Então, eu quero saudar o povo venezuelano e dizer que nós do Estado de Roraima ficamos felizes de ver que a Venezuela pode construir uma alternativa que não seja a alternativa de hoje que é a do sofrimento, da desagregação, da violência e da falta do desenvolvimento.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2015 - Página 71