Pronunciamento de Eduardo Amorim em 09/12/2015
Discurso durante a 222ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre a crise político-econômica por que passa o País.
- Autor
- Eduardo Amorim (PSC - Partido Social Cristão/SE)
- Nome completo: Eduardo Alves do Amorim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ECONOMIA:
- Considerações sobre a crise político-econômica por que passa o País.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/12/2015 - Página 283
- Assunto
- Outros > ECONOMIA
- Indexação
-
- ANALISE, SITUAÇÃO, POLITICA NACIONAL, ECONOMIA NACIONAL, APREENSÃO, AUMENTO, DESEMPREGO, INFLAÇÃO, JUROS.
O SR. EDUARDO AMORIM (Bloco União e Força/PSC - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.
Srªs e Srs. Senadores, aqui registramos a presença do ex-Governador de Alagoas - Estado vizinho ao meu -, ali conversando com o Senador Aloysio Nunes, o Governador Teotônio Vilela.
Seja bem-vindo, mais uma vez, a esta Casa. Sergipe, com muito orgulho, e Alagoas, Estados vizinhos unidos pelo Rio São Francisco, Senador Aloysio Nunes.
Sr. Presidente, prezados ouvintes da Rádio Senado, prezados amigos e telespectadores da TV Senado, que nos assistem frequentemente - a exemplo do grande amigo e neurocirurgião sergipano Dr. Petrônio, que está nos assistindo lá em Sergipe, muito obrigado pela audiência aqui pela TV Senado; todos do complexo de comunicação da TV Senado; todos que nos acompanham pelas redes sociais, hoje, como já foi dito anteriormente, é o Dia Internacional de Combate à Corrupção. Infelizmente, esse mal, essa mazela, não apenas o Brasil, mas muitos países do mundo ainda carregam essa chaga entre seus povos e sua gente, lamentavelmente. Ralos da perversidade como esses devem ser fechados, porque o prejuízo para o nosso povo, para a nossa gente, é enorme, como se tem visto, lamentavelmente.
Daqui a alguns dias se completará o primeiro ano do atual Governo, reeleito no ano passado em circunstâncias que todos nós, aqui, conhecemos. Gostaria, Sr. Presidente, colegas Senadores, de estar aqui elogiando, Senador Aloysio Nunes, e realçando os grandes feitos em prol de nossa população, do povo brasileiro. Mas não temos o que comemorar, assim como também não o tem o povo brasileiro.
Chegamos até aqui de um modo muito triste, muito melancólico, como se estivéssemos no fim de um Governo, e não no seu primeiro ano. Talvez estejamos, mesmo, apenas temporalmente no começo, mas na essência estamos à mercê de um Governo que está no seu fim, ou mesmo que nunca existiu de fato.
Tenho para mim que, no mais das vezes, toda conquista é resultado do trabalho e do merecimento, e toda perda é resultado do comportamento. Este Governo tem se comportado muito mal nos campos da economia, da política, da ética, do zelo com a Administração Pública. Por isso, não consegue sair das cordas e continua pressionado por uma rejeição popular sem precedentes. Passa os dias a criar novas fórmulas contábeis e a inventar neologismos, mas não é capaz de pôr fim às ultrapassadas e já carcomidas práticas que tanto marcaram as administrações nos últimos anos.
A vida é uma intersecção de valores e não podemos desprezar nenhum, absolutamente nenhum. Infelizmente, estamos vivendo em uma quadra de nossa História onde o próprio Governo tem dado os piores exemplos de má conduta que se pode imaginar, mergulhando o País em uma crise de governo, síntese, perversa de um emaranhado de crises que se entrelaçam, comprometendo a economia, a política, a ética, a governabilidade, a confiança e até mesmo o nosso futuro.
Mas seja por inércia, pela falta de atividade, seja por inépcia, pela falta de aptidão, o fato é que este Governo se perdeu, e sua continuidade poderá conduzir o Brasil a sofrer as consequências de um modelo econômico, político, ético e administrativo fracassado. Em qualquer cenário, há sempre um grande perdedor, e, neste caso, é o povo brasileiro.
No campo da economia, e, sobretudo, com o afã de conseguir sua reeleição, o Governo atual agiu irresponsavelmente, gastando muito mais do que podia. Nossa moeda, que era forte e respeitada, agora está com o seu valor comprometido pela volta da inflação e pela desvalorização diante de outras moedas de referência. A perda de valor do real pode ser vista diariamente, com a escalada dos preços dos mais básicos produtos. Hoje, com a mesma quantia de dinheiro de pouco tempo atrás, uma dona de casa já não consegue comprar os mesmos itens; começa a faltar itens indispensáveis em sua casa. A inflação voltou, e temos a sensação de que supera os índices oficiais.
O desemprego aumenta mês a mês e não tem poupado nem mesmo esta época de fim de ano, onde, tradicionalmente, Senador Alvaro Dias, havia aumento de números de vagas de trabalho em decorrência das vendas de Natal. Nada disso existe mais. O que temos é um desemprego crescente, que compromete os sonhos dos jovens e o desejo de tranquilidade dos mais vividos.
A partir do ano que vem, tudo indica que voltaremos a conviver com indicadores de dois dígitos: a inflação poderá superar os 10% anuais, o desemprego também, lamentavelmente. A taxa de juros poderá, com toda certeza, voltar a subir e a recessão chegou de vez - e como chegou!
E o pior de tudo é que não se consegue vislumbrar um quadro de melhoria dentro de uma economia colocada em recessão pelo Governo atual.
O IBGE acaba de divulgar queda de 0,7% na produção industrial de outubro em comparação com o mês anterior. É a quinta queda mensal consecutiva deste importante indicador.
É uma espiral negativa: menos produção, menos comércio, menos emprego, menos renda. E insisto que não há a mínima perspectiva de reversão deste quadro pelo atual Governo. O País está à míngua, a sua própria sorte, sem comando e, infelizmente, sem direção. Diante desse quadro, não há investimentos, o Brasil não cresce. Quem, qual empresário sente-se seguro para investir atualmente?
Quando lançamos o olhar para os aspectos políticos, éticos e de governabilidade desta crise de governo, o desalento é maior ainda. Simplesmente não há governo. A Presidente não sabe o que fazer, muito menos agora, quando terá que tratar de salvar seu mandato e sua biografia diante de um processo de impeachment de desfecho imprevisível.
O Governo não tem um norte, uma linha a seguir que traga de volta o equilíbrio das contas públicas e a recuperação da economia. Sentimos isso aqui, Senador Alvaro Dias. Sentimos isso aqui, Senador Aloysio Nunes, todos os dias. Falta norte, falta rumo, falta comando. Muito pelo contrário, em vez de organizar a economia, nesta semana o Governo conseguiu o inverso: que o Congresso Nacional aprovasse mudança na meta fiscal, autorizando a União a fechar as contas públicas com um déficit de quase R$120 bilhões, muito diferente da proposta original de superávit primário de R$55,3 bilhões. Que diferença! São quase R$200 bilhões de diferença.
A falta de diálogo deste Governo é extrema. O diálogo é o cimento de qualquer relação, seja afetiva, seja comercial, seja política, até com a oposição. Mas, infelizmente, esse elemento tão simples, que faz unir, que faz agregar, nem isso o Governo consegue fazer. Quando não se dialoga na política, e na vida em geral, não se consegue atingir os melhores objetivos. O Senado Federal está novamente sem a presença do Líder do Governo, como foi dito aqui por diversas vezes. E aqui na Casa ao lado, o PMDB acaba de substituir o seu Líder, pelo tanto em demasia que era aliado do Governo.
Aliás, diante disso, a Presidente está cada vez mais sozinha, como já se diagnosticara há alguns meses o Ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal. Como de costume, o Ministro foi preciso em sua avaliação - abre aspas: "A Presidente da República está muito isolada" - fecha aspas.
Penso que esta seja uma definição objetiva e acurada do atual momento. Mas eu vou além. Para mim, a Presidente está sendo cristianizada tal qual fizeram os Líderes do antigo PSD, que, em 1950, perceberam que a derrota de seu candidato à presidência, Cristiano Machado, era iminente e, extraoficialmente, passaram a apoiar Getúlio Vargas.
Mas nos dias de hoje, algumas Lideranças de partidos de Base se dizem formalmente governistas, mas procuram descolar a sua imagem do fracasso do atual Governo. Há casos ainda velados, enquanto outros são bastante rumorosos, mas, de fato, a prática é cada vez mais frequente. O andamento do processo de impeachment mostrará a tendência deste movimento de diáspora.
Ontem a Câmara dos Deputados elegeu uma chapa de oposição para a comissão que irá analisar o pedido de impeachment da Presidente da República. Isto ocorreu logo após a divulgação da carta do Vice-Presidente da República, Michel Temer, que é um político hábil e profundo conhecedor do Parlamento.
O jornal O Estado de S. Paulo de hoje traz a chamada - abre aspas: "Planalto avalia que carta de Temer pesou na votação" - fecha aspas.
Não tenho nenhuma dúvida disto, esta carta de Temer me faz recordar outra, a carta de Lula à Nação brasileira, feita na eleição que o levou pela primeira vez à Presidência da República.
Digo isto porque, na possibilidade de a Presidente da República vir a ser afastada em definitivo, este início de ciclo se fecha e a sua duração foi o tempo entre uma carta e outra, da de Lula até a de Temer, mas suas consequências negativas para o País ocuparão páginas e páginas dos futuros compêndios da nossa História.
Esses treze anos mais recentes do Governo de nosso País são uma simbiose perfeita entre a legenda do Partido do Governo, o ex-Presidente Lula e a Presidente atual. É impossível dissociá-los, como também é impossível para o Brasil e os brasileiros fugir da atual coleção de crises se este Governo continuar.
Ora, Sr. Presidente, o povo está ficando sem os empregos, não há mais investimentos, estamos assistindo a um processo de desconstrução da esperança.
Repito, Sr. Presidente: estamos assistindo todos os dias, Senador Alvaro Dias, uma desconstrução do processo da esperança. Para onde vamos? Este País agora é o Brasil que não queríamos; não queríamos e não merecemos, mas que poderemos reerguer, a partir de quando voltarmos a ter um governo sem esse viés, viés muito triste e de má condução.
Para encerrar, Sr. Presidente, gostaria apenas de dizer que historicamente a América do Sul tem movimentos semelhantes em seus países. Enquanto sofremos aqui com os anos de chumbo da ditadura pós-64, o povo chileno não teve melhor sorte após a deposição de Salvador Allende, em 1973, assim como os argentinos, a partir de 1976. E agora os países sul-americanos, Senador Aloysio Nunes, começam a ver descortinar-se no horizonte... E, com a posse de Macri amanhã na Argentina, hoje, e com a vitória da oposição na Venezuela, que conseguiu eleger dois terços do parlamento, no Brasil já passou da hora de voltarmos a ver a luz, de ver iluminar essas trevas dos últimos 13 anos, período de mentiras infelizmente, de mau zelo, de má condução da coisa pública, período de pedaladas e período de inúmeras mazelas. Inclusive, Sr. Presidente, muitas aqui relatadas.
A gente sente a hora, sente o momento, sente a oportunidade de ver renascer a esperança de um Brasil livre, livre dessas inúmeras mazelas: crise política, crise econômica, crise fiscal, crise ética, crise moral, sobretudo no trato e no respeito com a coisa pública, e, como se não bastasse, crise até na saúde pública, como nunca, até com vírus que faz com que brasileiros realmente nasçam com o crânio menor - quanta tristeza! É possível que estejamos muito perto de um novo amanhã. Espero que isso venha o mais rápido possível, para muito menos sofrimento do povo brasileiro, que não merece continuar pagando por todas essas contas, contas da perversidade.
Muito obrigado, Sr. Presidente.