Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao sistema de saneamento básico brasileiro, responsável pela propagação de doenças, e elogios à Campanha da Fraternidade Ecumênica da CNBB relacionada à habitação.

Autor
Lúcia Vânia (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Críticas ao sistema de saneamento básico brasileiro, responsável pela propagação de doenças, e elogios à Campanha da Fraternidade Ecumênica da CNBB relacionada à habitação.
Publicação
Publicação no DSF de 17/02/2016 - Página 39
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • CRITICA, SISTEMA, SANEAMENTO BASICO, BRASIL, MOTIVO, PROPAGAÇÃO, MOSQUITO, AEDES AEGYPTI, ENFASE, VIRUS, DENGUE, ZIKA, RESULTADO, MICROCEFALIA, CRIANÇA, MORTALIDADE INFANTIL, COMENTARIO, IMPORTANCIA, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), REFERENCIA, HABITAÇÃO.

    A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, agradeço ao Senador Lindbergh, que foi gentil em me ceder o seu lugar. Aliás, nós vivemos aos trancos e barrancos, e hoje foi muito bom.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a jornalista Denise Rothenburg, na seção Brasília, Distrito Federal, do Correio Braziliense, do último domingo, colocou a seguinte nota. Abro aspas: "Segundo um analista internacional, a metáfora que fazem do nosso país é que temos uma economia grega e um saneamento básico africano, traçando um parâmetro entre o zika e o ebola."

    Pelo grave momento em que vivemos na área da saúde, pelas doenças provocadas pelo onipresente mosquito Aedes aegypti, atenho-me à incontornável questão do saneamento básico.

    Embora a situação não seja exclusiva do Brasil, o nosso quadro interno é grave, senão gravíssimo: estima-se que uma pandemia de zika atinja quatro milhões de pessoas nas Américas, sendo 1,5 milhão só no Brasil.

    Em 2015, o Brasil bateu o recorde de vítimas da dengue, que atingiu 1,65 milhão de pessoas, com 854 mortes. O Rio, como o nosso cartão postal turístico mais evidente, registra consideráveis índices de notificação de zika, fazendo com que as viagens marcadas estejam sendo canceladas.

    As crianças nascidas com microcefalia já chegam a 462, segundo o Ministério da Saúde, sendo 41 casos comprovadamente ligados à exposição das mães ao vírus do mosquito Aedes aegypti.

    A situação no Brasil e nos demais países levou a Organização Mundial de Saúde a decretar uma situação de emergência internacional de saúde, o que traz o significado de que o zika - e sua relação com a grave microcefalia - é uma ameaça à saúde de boa parte do Planeta.

    O que destaco aqui é que o Brasil, por várias circunstâncias, está sendo protagonista desse grave quadro de saúde mundial.

    Numa feliz coincidência, a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, no dia 10 último, tem como tema, abre aspas: "Casa comum, nossa responsabilidade", fecha aspas, com foco no saneamento básico, desenvolvimento, saúde integral e qualidade de vida aos cidadãos.

    Por ocasião do lançamento, foi destacado que o Brasil, mesmo estando ainda entre as maiores economias do mundo, tem mais de 100 milhões de pessoas sem saneamento básico. O Estado brasileiro, historicamente, tem deficiência na prestação de serviços relacionados ao tratamento da água, do esgoto e do lixo. O objetivo da Campanha da Fraternidade 2016 é, portanto, "assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas".

    Na sua mensagem ao Brasil sobre a campanha, o Papa Francisco destacou, abre aspas: "O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis e para a sustentabilidade ambiental."

    Oportunamente, o Senado, ontem, realizou sessão solene homenageando a Campanha da Fraternidade 2016, em que o Presidente Renan disse que a campanha certamente vai ajudar a sensibilizar a população e as autoridades sobre a dengue, a zika e a chikungunya.

    O Senado da República, com tudo o que está acontecendo, não pode ignorar que ainda há um alto índice de mortalidade infantil no Brasil por falta de rede de esgotos, de acesso à água potável e de higiene.

    Segundo o Ministério da Saúde, somente em 2013 ocorreram mais de 340 mil internações por infecções gastrointestinais. Temos pouco mais de 82% da população servida com água potável. Em pleno século XXI, mais de 100 milhões não têm coleta de esgoto e apenas 39% dos rejeitos são tratados. O restante é despejado na natureza. No ranking mundial, o nosso País está entre os 20 países em que os cidadãos têm menos acesso a banheiros.

    São dados que nos levam a pensar não somente na saúde das pessoas, mas também na economia dos recursos da saúde.

    Segundo o Sistema de Informática do SUS, a universalização do saneamento básico implicaria uma economia de R$27,3 milhões só com a redução das internações. Essa economia corresponde a 10% dos R$284,7 milhões previstos no Orçamento da União para apoiar os Municípios na implantação, ampliação e melhoria do sistema de esgotamento sanitário por meio do PAC.

    O oportuno tema da Campanha da Fraternidade deste ano é um incentivo para que todos nós promovamos uma mudança no estilo de vida nos modelos de produção e de consumo, em função do patrimônio natural.

    Mas o que destacamos mesmo é que o Poder Público tem que dar prioridade ao saneamento básico como instrumento de defesa da vida e redução das desigualdades.

    É hora de unimos as nossas forças - Igreja; população em geral; nós, entes políticos - para fazermos frente à crise de saúde que nos assalta neste momento.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Muito obrigada pela tolerância do tempo e muito obrigada, mais uma vez, ao Senador Lindbergh, que me cedeu o seu tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/02/2016 - Página 39