Discurso durante a 15ª Sessão de Debates Temáticos, no Senado Federal

Sessão de debates temáticos destinada a avaliar as dimensões da epidemia do vírus zika no Brasil, bem como averiguar os meios para conter a propagação do mosquito Aedes aegypti em território nacional.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Sessão de debates temáticos destinada a avaliar as dimensões da epidemia do vírus zika no Brasil, bem como averiguar os meios para conter a propagação do mosquito Aedes aegypti em território nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/2016 - Página 23
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • SESSÃO DE DEBATES TEMATICOS, ASSUNTO, EPIDEMIA, VIRUS, ZIKA, BRASIL, COMBATE, TRANSMISSOR, DOENÇA, MOSQUITO, AEDES AEGYPTI.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Sem revisão da oradora.) - Senador Lasier Martins, V. Exª preside esta sessão temática, para debater um tema de extrema gravidade, relevância e importância, porque diz respeito à saúde dos brasileiros e, talvez, da futura geração. Teremos de ter um cuidado adicional, pelo que isso vai representar em termos de exigência ao trabalho das famílias, aos pais e mães especialmente, e também pelo custo que representará a microcefalia para o Estado brasileiro. Como se não bastasse a dor, será preciso ter um extremo cuidado com essa criança que terá dificuldades para aprender, entre várias limitações. 

    Não sou médica, sou apenas uma jornalista e fico muito honrada, Senador Lasier, em estar aqui, nesta audiência pública. Quero cumprimentá-lo bem como os colegas Senadores que contribuíram para que debatêssemos aqui esse tema.

    Fico muito honrada, como mulher, de ver aqui duas pesquisadoras renomadas, dedicadas ao ofício, eu diria, de forma sacerdotal, em uma missão pela vocação que escolheram. São duas pesquisadoras: a Drª Adriana Melo e a Drª Lúcia Bricks. É muito gratificante para nós mulheres, Senador Caiado, quando falamos em ampliar e empoderar as mulheres na política, ver - e fico compensada com isso - mulheres se dedicando à pesquisa.

    Também quero saudar do Dr. Valcler Rangel Fernandes, da Fundação Oswaldo Cruz.

    Ministro Marcelo Castro, disse há pouco o Senador Ronaldo Caiado, que é médico, sobre as limitações orçamentárias no trato desse problema. Imagino sua dificuldade, como gestor público e definidor das políticas públicas para a questão da saúde, em um momento de crise como essa, de acomodar, em um momento de escassez de recursos, as prioridades.

    Então, nós, que vamos lá bater sempre no seu gabinete, pedindo demandas de vários setores, entendemos o dilema que é administrar com a escassez, e isso tudo impacta também sobre os programas que estamos fazendo.

    Caros presentes, autoridades da área militar, que estão contribuindo junto com o Ministério da Saúde e com vários outros setores para o combate ao grande vilão - é o grande responsável -, aqui se discutiu muito a doença e os impactos da doença.

    Na semana passada, exatamente há uma semana, na quinta-feira, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, que tenho a honra de presidir, discutimos o causador da doença, o mosquito Aedes aegypti, e como controlar esse vilão da doença, esse transmissor do vírus zika, da dengue e ad chikungunya.Naquela ocasião, uma outra mulher, uma outra pesquisadora da Embrapa, Drª Rose Monnerat, que descobriu uma geração de bioinseticidas, foi lá e fez uma apresentação que me chamou a atenção, pelo fato de que, assim como nós temos doenças negligenciadas - e elas são negligenciadas porque nós descuidamos do trato da doença -, nós também temos atitudes negligentes, muito negligentes.

    Por que eu digo isso? Porque, em 2007, essa pesquisadora da Embrapa, junto com a equipe dos colegas da Embrapa, numa das crises que aconteceram aqui, no Distrito Federal, com um número enorme de casos de dengue, montou um projeto de erradicação do mosquito na região de São Sebastião, que é um bairro, uma cidade satélite do Distrito Federal.

    Foi um dos modelos mais extraordinários de envolvimento de toda a comunidade: comunidade escolar, professores, pais, líderes comunitários, que se envolveram com as autoridades daquela localidade, com as autoridades do governo local, com os pesquisadores e com a universidade. Em 2007, erradicaram o mosquito. Houve uma grande mobilização das crianças, fazendo desenhos, no ensino fundamental, no médio e no superior. Todos estavam ali envolvidos.

    Foi um caso, eu diria um case, para o mundo conhecer como é possível se fazer uma mobilização comunitária para combater o mosquito da dengue, o Aedes aegypti.

    E aquele projeto, de tão excelentes resultados, de tanta qualidade no que foi obtido ali, aquele trabalho não existe mais, porque foi resolvido naquele momento! Negligência nossa, de todos nós. A negligência tem sido responsável por tudo o que que está acontecendo.

    Trago aqui uma analogia para dar sentido ao que vivemos hoje, da qual me lembro perfeitamente. Brasília viveu, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, uma crise grave de apagão de energia. Quem mora em Brasília talvez se lembre da neurose, do terrorismo que era ter uma lâmpada acesa. Nós vivemos isso, nós pagamos muito mais caro, quem estava gastando energia. O banho tinha que ser menor, tínhamos que apagar todas as luzes, os aparelhos tinham que ser de menor consumo de energia, as lâmpadas, tudo, tudo. Foi um trabalho extraordinário. Encerramos, passou o apagão de energia, mas, terminado o apagão, continuamos sendo perdulários, como se fosse infinita a nossa geração de energia.

    O que está acontecendo hoje com o mosquito é exatamente o que aconteceu com a nossa negligência - eu digo "nossa" porque combater dengue, mosquito é uma obrigação de todos nós. Da plantinha que temos em casa em um vaso de flores, aparentemente inofensivo, até a piscina de uma casa abandonada, o Poder Público, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a comunidade tem que se envolver para estar ali. Nós todos temos que estar presentes - e, claro, a autoridade do Ministério da Saúde.

    A dificuldade apresentada pelo Senador Ronaldo Caiado, entendo perfeita, necessária de ser abordada, que é a questão orçamentária.

    Aqui, ontem, houve a visita da Diretora-Geral da OMS, falando que as iniciativas tomadas pelo Brasil, nessa área, foram medidas muito satisfatórias.

    Espero que assim seja e que nós, a partir desse caso agora, com a gravidade da microcefalia - que a Drª Adriana explicou com muita clareza e que é hoje, por isso, convidada para falar ao mundo e explicar a causa e a relação direta da questão do zika com a microcefalia -, a partir dessa audiência, que nós nos preocupemos, todos nós, para não sermos mais negligentes em relação a esse problema. Esse é um problema de todos nós.

    Obrigada, Senador Lasier Martins.

    Eu queria cumprimentar novamente todos os nossos pesquisadores das instituições públicas, das instituições privadas, todos aqueles que estão abraçados nessa causa. Meus cumprimentos.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/2016 - Página 23