Comunicação inadiável durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a prisão do marqueteiro responsável pela campanha da Presidente Dilma Rousseff, Sr. João Santana.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Considerações sobre a prisão do marqueteiro responsável pela campanha da Presidente Dilma Rousseff, Sr. João Santana.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2016 - Página 13
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, PRISÃO, JOÃO SANTANA, PUBLICITARIO, CAMPANHA ELEITORAL, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, UTILIZAÇÃO, FALSIDADE, MARKETING, OBJETIVO, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO, PERIODO, ELEIÇÕES.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, não há dia em que não haja surpresa neste País do ponto de vista econômico e do ponto de vista da chamada Operação Lava Jato, mas, às vezes, a surpresa é maior. A prisão do marqueteiro da Presidente Dilma, do PT e de outros candidatos a Presidente em países diferentes é uma das maiores surpresas que nós temos, mas, Senador Lasier, uma surpresa para a qual quero chamar a atenção é a de que ele está sendo processado e até preso por ter recebido recursos que, aparentemente - não houve julgamento ainda -, saíram de propina e pelo fato de esse dinheiro ter ido para contas inexplicáveis no exterior.

    Quando li isso, Senadora Simone, lembrei-me de que, há quase cem anos - creio que sejam 80 anos -, o famoso Al Capone, que matou, que contrabandeou, que fez todo tipo de estrago, foi preso por não ter pagado Imposto de Renda. É parecido, porque, para mim, o grande crime do Sr. João Santana foi o golpe de Estado que ele deu com o marketing mentiroso na campanha de 2014. Para mim, a ação dele usando os equipamentos da publicidade para mentir, para manipular, para enganar é um crime maior do que qualquer conta no exterior que ele tenha e até mesmo do que o recebimento de dinheiro de propina. Não estou diminuindo a importância disso, mas o golpe de Estado que foi dado no Brasil com o voto das pessoas - foram 53 milhões de votos, ninguém pode negar - é um crime. E esse é um crime não só dele.

    O marketing, Senador, é um instrumento antidemocrático. Na democracia, cada candidato convence os eleitores com seus argumentos e com suas propostas, respeitando as propostas e os argumentos dos outros, embora contrapondo-se a eles. Na campanha de 2014, vimos aquele filmezinho - houve muitos outros - em que uma pessoa tirava um prato de comida da mesa de um pobre, como se fosse Marina Silva tirando aquele prato porque queria defender o Banco Central independente. Isso é um crime maior do que essa conta no exterior que o levou à cadeia, é um crime maior do que o recebimento de financiamento - é preciso comprovar; não posso dizer que este é um fato - a partir de propina.

    Temos de parar essa criminalização da política por meio do marketing mentiroso, falso, ilusório, que engana o eleitor. É o carisma do candidato falando, o olho no olho através da televisão e a voz através dos ouvidos e transmitida pelas rádios que devem ganhar ou perder votos.

    Quando vi essa prisão, eu me lembrei de Al Capone, não porque quero comparar os dois do ponto de vista da criminalidade. Não, não quero chamar esse senhor de mafioso, de maneira alguma!

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Quero dizer que houve um crime.

    Em outros países, os golpistas foram presos. Eles foram presos na Argentina, no Chile, na Grécia. Golpista termina na cadeia por causa do golpe. Aqui, parece que terminou preso um golpista por que pegou propina, por que teve conta no exterior aparentemente ilegal. Não vou entrar no julgamento da propina nem da conta. Isso é a Justiça que vai decidir, isso é a Polícia que vai decidir. Não tenho nenhuma razão para dizer que isso é verdadeiro ou mentiroso. Não sei. Mas sei, sim, que, na história, esse senhor está condenado, porque ele deu um golpe neste País: no lugar de canhão, ele usou câmera de televisão; para os eleitores, ele usou argumentos falsos, artimanhas.

    Mas não deixa de ter sido um crime histórico no Brasil, não deixa de ter sido uma ação de golpismo. Golpismo não vem só com as armas militares. Nestes tempos de neoliberalismo e de Tecnologia de Informação, nestes tempos modernos, os golpes não são dados necessariamente pelas armas dos militares, mas também pelas artimanhas dos marqueteiros. E creio que esse foi o grande crime.

    Por esse grande crime, ele vai pagar na história. Pena que nós tendemos a esquecer a profundidade das coisas e ficamos na superficialidade. E uma coisa pode ser superficial e grave. Apesar da gravidade do financiamento de campanha ilegal - se é que este houve, repito - e de ele ter conta no exterior sem declarar - se é que ele a tem, repito -, apesar da gravidade disso, essa é a superfície de uma realidade maldita da democracia brasileira, onde o marketing vale mais que as propostas, onde a mentira vale mais que a verdade para ganhar os votos. E esse senhor foi responsável por esse gesto negativo, nocivo, mau da história do Brasil nas eleições de 2014.

    Espero que a gente desperte para este outro crime que não está aparecendo: o crime da marquetagem, o crime do ilusionismo, o crime da mentira, que corrói, que corrompe o processo democrático de uma forma tão grave ou até pior que caixa dois, que propina. Tudo isso é grave, mas gera menos problemas. O grande problema é o uso da propina, o uso de caixa dois, o uso de recursos para comprar as artimanhas do marketing. Por isso, precisamos parar com esse tipo de instrumento no processo eleitoral brasileiro. Eleição tem de ser transparente entre os candidatos e os eleitores, olho no olho, com uma conversa com cada um, sem essas parafernálias que enganam e ameaçam, tanto no final com uma câmera de televisão, quanto se fez antes com um tanque de guerra na rua.

    Esse senhor está preso por essas razões que a gente vê nos jornais, mas acho que o grande crime dele foi, sim, o golpismo, o golpismo que ele deu na campanha de 2014 sobre os eleitores que acreditaram naquelas mentiras da propaganda.

    Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2016 - Página 13