Discurso durante a 17ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear os 111 anos de fundação do Rotary International e 100 anos da Fundação Rotária.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a homenagear os 111 anos de fundação do Rotary International e 100 anos da Fundação Rotária.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/2016 - Página 28
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, ASSUNTO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE, ASSISTENCIA SOCIAL, AMBITO INTERNACIONAL, ELOGIO, ATUAÇÃO, SOLICITAÇÃO, FUNDAÇÃO, ENGAJAMENTO, TENTATIVA, ERRADICAÇÃO, ANALFABETISMO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Boa tarde a cada uma e a cada um.

    Meu caro amigo, Senador Hélio José, eu quero cumprimentá-lo por presidir esta sessão. Este é um momento que toca todos nós, e eu vou dizer por quê.

    Quero cumprimentar também o Sr. Michael McGovern, agradecer muito a fala que ele fez aqui, há pouco, que é o exemplo de alguém que tem a solidariedade como uma das razões de ser da sua vida.

    Quero cumprimentar o meu conterrâneo José Ubiracy Silva, o Sr. Mario César Martins de Camargo e a Srª Vera Lúcia Camilo Ribeiro.

    Quero dizer a vocês que, embora eu nunca tenha sido membro do Rotary formalmente, eu me considero parte do Rotary. Primeiro, por razões familiares. Um tio meu, em Pernambuco, Severino Queiroz, no seu clube, sempre me tratou como sendo um dos sobrinhos rotarianos, e não apenas filho de uma irmã dele. Segundo, porque eu tenho, com muito orgulho, a condecoração Paul Harris, que recebi anos atrás - aqui, alguém se lembra disso? E eu tenho, com muito carinho, essa condecoração. Sobretudo, porque eu creio que todos que têm o mínimo de sentimento de solidariedade nas veias é um rotariano.

    Eu sinto que, por influência materna, paterna, de amigos, de colégio, da minha vida, eu carrego comigo esse lado da compaixão e esse lado da solidariedade. Por isso, eu sou rotariano. (Palmas.)

    Sou também pela admiração que tenho, pelo fato de que vocês, vamos chamar assim, rotarianos, constituem uma coisa que considero admirável: não são apenas solidários; são uma família mundial. A sensação é a de que, quando encontro pessoas do Rotary, que nunca se viram antes, elas já convivem como se fossem irmãos, com uma manifestação - não direi de solidariedade, porque isso é com os outros - de irmandade. Isso me toca bastante.

    Além disso, estamos em um mundo em que a globalização, que provocou coisas boas, mas provocou tantas coisas ruins, como a desigualdade crescente, como a degradação ambiental, essa globalização tem o exemplo de globalização do bem, que é o Rotary. O Rotary é uma globalização do bem e anterior à globalização econômica, anterior à globalização comercial. É uma globalização do bem.

    Quando vemos o Sr. Mcgovern falar da luta pela erradicação da pólio no mundo, nos dá orgulho saber que pessoas que não são políticas, que não são do governo, que apenas são parte da humanidade sofrem com a situação da humanidade e lutam para erradicar uma das razões mais fortes de sofrimento, que são as consequências da pólio sobre as pessoas que foram contaminadas, em geral, na idade infantil.

    Esse é um exemplo muito grande de um trabalho global do bem, querendo resolver um problema tão grave. Há um slogan sobre o Rotary, que vi em algum lugar, que diz que a finalidade é fazer o bem pelos outros, e é isso que vemos com a luta contra a pólio.

    Entretanto, gostaria de fazer aqui uma sugestão, um pedido, para uma luta mais difícil do que a contra a pólio, embora possa dizer que não tão importante, alguns achem, que é a luta pela erradicação do analfabetismo no mundo.

    O mundo global, o mundo moderno, o mundo das letras tem 700 milhões de pessoas adultas que não sabem ler e que, portanto, são, de certa maneira, deficientes no dia a dia da vida.

    Nós hoje falamos tanto, Sr. McGovern, especialmente no Brasil, nos riscos de crianças nascerem com microcefalia, ou seja, os cérebros serão pequenos, mas há milhões de pessoas no mundo que nascem com cérebro de tamanho normal e não se desenvolvem do ponto de vista intelectual por falta de educação.

    Nós estamos tão atrasados hoje que estamos tratando os cérebros dos seres humanos como cérebros de outros animais, cuja única dimensão importante é a dimensão biológica, é o tamanho físico do cérebro. No caso dos seres humanos, há dois tamanhos: o tamanho biológico e o tamanho intelectual. O tamanho biológico é físico, é daquele tamanho, tem um peso determinado, mas o tamanho intelectual depende da educação, das leituras, das amizades. O cérebro cresce de duas maneiras nos seres humanos: biologicamente até nascer; depois, um pouco após nascer, porque continua crescendo um pouco e para; e do ponto de vista intelectual, do que ele acumula ao longo da vida, que pode crescer sempre, pode crescer até o último dia de vida se dermos acesso a informações e à formação também, à educação.

    Um dia, imagino que haverá um encontro do Rotary para comemorar: missão cumprida, não há mais pólio no mundo. Vai chegar esse dia, e o mundo vai agradecer ao Rotary. Mas vai demorar muito ainda até que possamos dizer: ninguém com mais de seis anos de idade é analfabeto. Todos, com mais de seis anos, sabem ler. Esse é um desafio que eu gostaria de ver o Rotary abraçando também. É mais difícil, porque não existe vacina para o analfabetismo, não há gotinhas para o analfabetismo. É mais difícil, tem que mobilizar professores, salas de aula. Levar analfabetos adultos para aprender a ler é muito difícil, porque é difícil aprender a ler depois de certa idade. É muito difícil.

    Mas acho que dificuldade não é uma palavra que faz medo a rotarianos. Eu creio que os rotarianos são capazes de aceitar com tranquilidade os desafios carregados de dificuldades. Por isso eu deixo aqui esse desafio.

    Eu sei que já há muitos grupos, clubes, rotarianos envolvidos nisso, inclusive em Brasília. Mesmo assim, faço questão de dizer: vamos homenagear Paul Harris, continuando a luta contra a pólio, continuando todas as outras formas de solidariedade, que caracterizam os rotarianos, mas vamos trazer isso como desafio fundamental para que, dentro de algumas décadas, possamos dizer que no mundo não há mais dengue, não há mais pólio e não há mais adultos que não saibam ler.

    Esta é a maneira de homenagear vocês, de manifestar o meu orgulho de estar aqui, o meu respeito por vocês: trazendo mais um desafio. O Rotary, essa globalização do bem, pode muito bem ser um instrumento de luta pela educação em todo o mundo, para que, neste mundo, todos tenham acesso a uma boa educação, sem o que não é possível ser plenamente livre.

    Muito obrigado por estarem aqui prestigiando o Senado e nos deixando a oportunidade de estarmos juntos com vocês.

    Um grande abraço para cada uma e para cada um de vocês e muito obrigado por existirem como rotarianos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/2016 - Página 28