Pela Liderança durante a 18ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do ex-Presidente Lula e comentários sobre discurso proferido por ele na festa de 36 anos do PT.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Defesa do ex-Presidente Lula e comentários sobre discurso proferido por ele na festa de 36 anos do PT.
Aparteantes
Elmano Férrer, Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 01/03/2016 - Página 21
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EVENTO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, INTEGRIDADE, GOVERNO, EX PRESIDENTE, NECESSIDADE, BASE, APOIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, MELHORIA, SITUAÇÃO, CRISE.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

    Srs. Senadores e Srªs Senadoras, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assiste pela TV Senado, venho hoje a esta tribuna para repercutir aqui o discurso do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nosso ex-Presidente Lula, feito no aniversário de 36 anos do PT, o Partido dos Trabalhadores, ao qual somos filiados, agora no sábado, dia 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro.

    Acho muito interessante porque o Presidente Lula tem uma facilidade muito grande de se comunicar com a população, com as pessoas. E ele sempre mistura os assuntos. Ele nunca fala só de política.

    Ele iniciou o discurso dizendo que, no Rio de Janeiro, o time dele era o Vasco e que, mesmo o Vasco não estando bem, ele continuava vascaíno. Achei bonito isso, porque, muitas vezes, as dificuldades afastam-nos daquilo com que nos identificamos num primeiro momento.

    E o Presidente Lula fez questão de reafirmar isso.

    Mas reafirmou uma outra coisa que, para mim, simboliza muito o que é o Presidente Lula, a sua cabeça, a sua forma de pensar e a forma como ele dirigiu este País. Ele disse: "O Vasco foi o primeiro time brasileiro a ter negros."

    A importância que o Presidente Lula dá para a diversidade, para o reconhecimento das diferenças que temos na população, principalmente da população mais pobre, da população mais excluída, da população que sofre mais preconceito impressiona muito, Sr. Presidente. Por isso, eu não podia deixar de iniciar esta semana registrando esse pronunciamento do Presidente Lula, que passa por momentos dificílimos na sua vida política, pessoal, dificílimos do ponto de vista emocional. Mesmo assim, mostra a que veio.

    E o Presidente Lula continua dizendo o seguinte em relação à economia: "Tem crise desde 2007 e não se resolveu depois de aplicarem US$32 trilhões, porque querem resolver primeiro o problema do mercado e depois o do povo."

    É simples. Na visão do Presidente Lula, é isso o que acontece. A grande crise que tivemos a partir de 2007 e 2008 ainda não foi resolvida e assola as economias inclusive desenvolvidas, exatamente por isto: porque querem resolver o problema do mercado antes, e não o problema do povo.

    O Presidente Lula combateu a fome e a miséria como ninguém. Nenhum outro Presidente fez, nenhum outro líder político fez, nem no Brasil, nem no mundo. Nunca se retiraram tantas pessoas, em tão curto espaço de tempo, da situação de miserabilidade como o Presidente Lula fez. E eu lembro perfeitamente quando ele iniciou o seu governo. Ele disse:

Nós não precisamos resolver primeiro os problemas de mercado, os de crescimento econômico, para dar as mínimas condições de dignidade para o povo. Muito pelo contrário: quando a gente põe dinheiro na mão de pobre, nós estamos resolvendo o problema da economia. E, se quiser resolver a crise [continua ele], tem que olhar para o pobre outra vez: pobre não é problema, mas a solução!

Este governo é nosso!

    Foi o que disse o Presidente Lula, mostrando o lado que ele tem, a responsabilidade que ele tem para com este País e para com o seu futuro. E nós temos responsabilidade de ajudar o Governo, discutir, compartilhar e encontrar saídas. O militante do PT não pode virar as costas e dizer que o problema não é dele. O problema é nosso! O problema é meu, seu e da Dilma! Dilma tem que ter certeza de que, por mais que tenha discordância, o lado dela é esse.

    Ela precisa de nós para enfrentar os ataques que sofre do Congresso e de outros setores da sociedade.

    E aí é importante fazer um registro que eu considero muito esclarecedor para um governo numa democracia: a Presidenta Dilma disse, na sua visita ao Chile, na entrevista que deu, que ela governa para todos. Ela não governa só para o PT.

    De fato, nas democracias, após o processo eleitoral, o governante eleito governa para todos. Sem dúvida alguma. Entretanto, como as eleições são um processo de escolha entre candidato e programas, um deles sai vitorioso. E é esse que deve dar a linha ao governo e estabelecer as prioridades. Caso contrário, nós não teríamos processos eleitorais; nós teríamos uma formatação consensual, e não é assim que é feita a nossa democracia. Então, um governante governa para todos, mas sempre orientado pelo programa de governo que lhe deu a vitória nas urnas.

    Numa disputa eleitoral, dificilmente se ganha - principalmente como é o caso da disputa à Presidência da República no Brasil - com um único partido. Não conheço, na História, tirante o período da ditadura, que um único partido tenha disputado e ganhado as eleições no Brasil. Daí a importância das alianças políticas que agregam ideias coincidentes. Não agregam ideias idênticas, nem são hegemônicas, senão estaríamos todos no mesmo partido. O que isso quer dizer? Quer dizer que, num governo, ganha-se com um programa, ganha-se com uma aliança. E internamente se disputam, nesse governo, as ideias dessa coalizão que o levou a ganhar. Você tem a linha mestra do programa, mas você vai fazer disputas, sim, porque vai pender mais para um lado e mais para o outro.

    Por isso é que se torna muito importante, Sr. Presidente, muito necessário ter a consciência da linha mestra que nos fez chegar ao Governo e nos fez chegar ao poder, para que não fiquemos à deriva das disputas internas num governo, estimulando a oposição a querer interferir nos rumos do governo e fortalecer suas posições.

    E diz o Presidente Lula;

Nós vamos divergir no que tiver que divergir, falar o que tem que falar. Partido não tem que concordar com tudo o que o governo quer, e o governo não tem que concordar com tudo o que o partido ou os partidos que compõem a sua Base querem. Mas nós estamos juntos. É como um casal [diz o Presidente, de novo usando um exemplo simples]: você pode brigar com a tua mulher, mas ela é tua mulher. E você vai tê-la na hora do almoço, vai dormir com ela.

Portanto, precisa ter harmonia para conduzir esse casamento.

    Há uma coisa que diz o Presidente Lula que acho fundamental: ele volta a criticar o que a oposição está fazendo em relação a ele e ao governo dele - a oposição com força da mídia, de instituições, de vários interesses deste País. Diz ele:

Se a oposição quiser voltar, se a grande mídia quer nos tirar, é bom eles saberem: se eles quiserem voltar ao poder, vão ter que aprender a ser democratas, disputar eleição e respeitar o resultado. Golpes nós não vamos aceitar. Vamos disputar democraticamente em 2018. Debater projeto.

    Eu gosto dessa coragem do Presidente Lula, mesmo num clima extremamente difícil, adverso, inclusive a ele.

    Apesar de tudo isso, a Folha de S.Paulo publica no domingo uma pesquisa do Instituto Datafolha, dizendo que o Presidente Lula é considerado o melhor Presidente da história do Brasil por 37% dos brasileiros. Nenhum outro Presidente atingiu esse patamar; aliás, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso não chega sequer à metade disso. Apesar de toda a desconstrução que fazem com o Lula, de todo o ataque que fazem contra ele, de toda a forma mais covarde que fazem para desacreditar um dos maiores líderes populares que este País já teve, Lula continua sendo o melhor Presidente do País na opinião dos brasileiros.

    E mais incrível ainda, Presidente: qualquer que fosse o cenário eleitoral que tivéssemos no Brasil hoje, com qualquer candidato a disputar as eleições - Aécio Neves, Marina Silva, Geraldo Alckmin, José Serra -, o Presidente Lula estaria no segundo turno. E sabe por quê? Porque ele representa um projeto que mudou este País, e o povo mais pobre, o povo mais sofrido sabe disso.

    O povo mais pobre, o povo mais sofrido pode estar decepcionado agora com o nosso Governo, estar decepcionado com a Presidenta Dilma, estar decepcionado com a condição da economia, mas sabe que também, do outro lado, não há ninguém que o vá defender como defendeu o Presidente Lula, como defendeu o PT. Não há ninguém que vai defendê-lo dessa forma, com a coalizão que foi feita. E o Presidente diz o seguinte:

O projeto que interessa a este País é o projeto que colocou o mais pobre na universidade e comida na mesa do brasileiro, que mais investiu em educação e fez 40 milhões de pessoas ascenderem na escala social, e levou energia elétrica a milhões e milhões de brasileiros.

Se durante 500 anos não souberam cuidar desse povo [mais pobre] e nós em doze anos ensinamos que é possível tratar esse povo com dignidade.

Uma menina negra da periferia chegar à universidade e ser doutora. E o moleque da periferia não ser trombadinha, mas ser doutor [É isso que nos fala o Presidente que incluiu tanta gente].

Eles passaram quatrocentos anos para fazer a primeira universidade [é verdade, a primeira universidade deste País é a Universidade Federal do Paraná, universidade pública, feita no início do século passado]. Em doze anos colocamos mais jovens na universidade que eles colocaram em cem anos.

    Só o meu Estado, o Estado do Paraná, que ficou por mais de cem anos com apenas uma universidade federal, hoje tem quatro universidades federais, feitas a partir de 2008, no governo do Presidente Lula.

    "Eles não precisavam porque faziam pós-graduação na Sorbonne, em Harvard e não sei mais aonde. Eles não sabiam que pobre também é inteligente", que pobre, se tiver a oportunidade, pode ascender na vida, pode fazer um curso universitário. Foi o PT que mudou isso, junto com os partidos que ousaram formar essa coalizão.

    "Quando eu cheguei lá, não era um Presidente, era um trabalhador que sabia o que era chão de fábrica e sabia o que era a fome, porque eu tinha passado fome".

    Eu admiro muito o Lula e duvido muito que ele não tenha seus erros, como qualquer ser humano. Todos nós cometemos nossos pecados, temos as nossas dores, também temos nossos acertos e nossas qualidades. Eu tenho certeza de que o Lula tem mais acertos que qualidades, e eu admiro muito esse Presidente. Admiro sobretudo sua coragem por, mesmo num momento de adversidade, fazer o combate e enfrentar o que nós estamos passando, tentando desnudar o que está sendo construído no País para tirar o PT do mapa e acabar com o Presidente Lula. Ele enfrenta as dificuldades. E é isso que faz dele o maior líder político popular da nossa história. Depois de Getúlio, eu não tenho dúvida, é Luiz Inácio Lula da Silva.

    E quero continuar o que ele disse, que acho muito importante. Ele disse o seguinte:

Eu ando de saco cheio com o comportamento de nossos inimigos na imprensa. Nós brigamos na Constituinte para ter um Ministério Público forte e independente, e tem um Ministério Público fazendo jogo da Veja e do Globo.

Não merecem o cargo de quem está no cargo para fazer justiça. (...) Sou acusado de ter um apartamento. Um triplex Minha Casa, Minha Vida, 200 metros quadrados. Quero ver como é que vai ficar essa história.

Digo que não é meu, a empresa diz que não é meu, mas um cidadão que obedece à Globo diz que o triplex é meu.

Quero saber quem é que vai me dar esse maldito apartamento. Como Deus escreve certo por linhas tortas, inventaram uma offshore no Panamá - offshore, não sei o que é isso, deve ser coisa para enganar pobre. Disseram que a empresa veio do Panamá para ser dona do meu apartamento e é dona do triplex da Globo em Paraty, é dona do helicóptero (da Globo).

E a Globo notificou os blogueiros pra tirar o nome da Globo. Então vamos notificar a Globo para tirar o nome do PT como ela usa todo dia.

Todo mundo aqui conhece o Jacó Bittar, meu companheiro de 40 anos, fundador do PT, da CUT e Prefeito de Campinas. O Jacó Bittar inventou de comprar uma chácara para eu usar quando deixasse a Presidência. A chácara não é minha. Ela foi comprada com cheque administrativo. O Jacó deu ao filho Fernando. Eles dizem que a chácara é minha.

Quando acabar esse processo, vão ter que me dar um apartamento e uma chácara. Todo santo dia, levantam dúvidas e mais dúvidas.

    Quem não assistiu aqui às matérias jornalísticas dando conta de que a Dona Marisa havia comprado um barco - um barco - de lata, de R$4 mil, para levar para a chácara?

    Será que um ex-Presidente da República não pode comprar um barco? Será que um ex-Presidente da República não pode usar uma chácara, como Lula está usando? Por que não se fala de outros apartamentos, de outras fazendas, de outros bens de outros políticos e presidentes que já passaram pela história deste País? É porque Lula é operário? É porque foi um pobre que subiu à Presidência da República?

    Diz ele:

O PT não nasceu pra ficar calado!

Se um companheiro do PT cometeu erro, vai pagar pelo erro. Mas não podemos culpar milhões de jovens que ascenderam na política por causa do PT.

Já fui prestar vários depoimentos. A partir de segunda-feira [hoje, portanto], vão quebrar meus sigilos fiscal, telefônico, tudo, meu, da Marisa, da minha netinha e até da minha mãe.

Esse é o preço?

Eu pago! Mas eu duvido que tenha um mais honesto do que eu. É processo em que a Policia Federal e o Ministério [Público], essas instituições não podem fazer, como esse procurador [que tentou me denunciar], que fala primeiro com a revista [Veja] e a Globo e depois com o advogado. Pessoas para estarem presas tem que ser julgadas.

Não podemos criminalizar qualquer pessoa pela manchete da imprensa. Juízes têm medo de votar com medo da manchete do jornal.

    Não podem agir com medo da opinião pública. Se querem disputar a opinião pública, não podem ter emprego vitalício e ficar sob a pressão da imprensa. Disputem um cargo eleitoral. Venham ser Deputados, Senadores. Aí se disputa a opinião pública.

Diz Lula:

Eu tenho 70 anos de idade. Quando eu tive um câncer na garganta, muita gente disse: acabou, esse peão vai embora.

Quero dizer ao Ministro da Suprema Corte, ao juiz mais simples, da televisão maior a menor: não vão me derrotar mentindo. Vão ter que me enfrentar na rua. Eles pensam que fazendo essa perseguição vão me tirar da luta.

O PT é um movimento que em doze anos [tem 12 anos no Governo] fez o mundo admirar este País extraordinário. Eles têm ódio. Já tiveram muitos cientistas políticos e usineiros governando este País e nenhum deles participou de uma reunião do G8, e participei de todas. O que eu tenho e que eles não têm é vergonha na cara e compromisso com o povo.

Quero lançar um desafio. Pensei em sair do Brasil e deixar a Dilma governar. Se for necessário, quero dizer, alto e bom som: terei 72 anos [em 2018] com tesão de 30 para ser candidato a Presidente [da República novamente]!

    Esse é o Lula e é isto que está em jogo: a Presidência de 2018. Pela pesquisa publicada pelo Datafolha, no Jornal Folha de S.Paulo, pode-se evidentemente ver isso. Apesar de haver uma série de dados positivos, a manchete, é óbvio, rumou para o lado negativo.

    Mas o fato é que essa pesquisa diz que Lula estaria no segundo turno. E eu tenho certeza de que ganharia as eleições neste País.

    Por quê, Senador? Porque ele tem o lado do povo, sabe o que é passar fome, deu condições a este povo de ascender, deu condições a este povo de cursar escola, de cursar universidade, de ter salário digno, de ter renda, mesmo vivendo uma das piores crises econômicas, como a que estamos vivendo no País, hoje, que é uma crise grave, como as das décadas de 80 e 90. O nosso povo está sentindo menos esta dor na sua pele. Por quê? Porque tem proteção social, tem um salário mínimo, que foi aumentado pelo poder real, com base no poder real.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Existe o Bolsa Família, que foi ampliado. Existem, hoje, milhões de aposentados e pensionistas que dependem do salário mínimo e têm mais dignidade em suas vidas. Temos benefício de prestação continuidade. Temos uma rede de proteção social.

    Muitas vezes, a elite não suporta isso, porque é isso que está em jogo. Trata-se de alguém que ousou falar, alguém que ousou lutar pela parcela mais pobre da população.

    O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Senadora, V. Exª me permite um aparte?

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Concedo um aparte a V. Exª.

    O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Como nordestino, não poderia, neste instante, deixar de me somar às palavras de V. Exª, sobretudo eu, que, na campanha ao Senado, em 2014, procurei o Presidente Lula no seu instituto...

(Interrupção do som.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu pediria, Presidenta, que nos desse mais cinco minutos para terminar.

    O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - No Instituto Lula, em São Paulo, para que ele fizesse uma gravação pedindo aos piauienses que olhassem para a minha candidatura, que, naquele momento, parecia uma aventura. O pedido dele foi importante para que pudéssemos superar o outro candidato, ex-Governador do Estado por dois mandatos. No ano passado, já como Senador eleito, eu o procurei, no momento em que o Instituto estava um pouco deserto. Fui em família, com minha esposa e minha filha, agradecer a importância que ele teve em minha eleição. Eu o fiz com a consciência muito tranquila e com gratidão. E queria ressaltar, também como nordestino, o trabalho que ele fez para reduzir a pobreza na nossa região e no País. Ele, como nordestino, como disse V. Exª, passou por profundas dificuldades na roça, nos sertões secos do Nordeste, e saiu da região na época de uma grande seca, em 1958, com toda a família, na busca de melhores dias. Ao chegar a São Paulo, começou a escrever uma história que culminou como o primeiro Presidente da República operário, migrante de uma região castigada, que ainda continua assim. Funda um partido, juntamente com a intelectualidade, com a igreja, com os movimentos sociais do Brasil, e chega à Presidência da República. Então, quero trazer o testemunho da contribuição que ele deu para a redução da pobreza, da miséria, para a criação de uma nova classe média em nosso País. Enfim, é neste momento de profundas dificuldades que devemos reconhecer seu trabalho, estar presentes, ser gratos, ter reconhecimento. Eu me somo a todas as palavras de V. Exª e transmito aqui a minha gratidão e o meu reconhecimento, como Senador da República, do trabalho dele, como ex-Presidente da República, que foi importante para a minha eleição no Estado do Piauí. Eram as considerações que eu queria fazer neste instante.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agradeço, Senador Elmano Férrer, suas palavras, que são muito significativas. De fato, V. Exª vem de uma região que sempre sofreu muito na história deste País, em que a pobreza sempre foi maior do que na Região Sul e na Região Sudeste, sempre teve mais dificuldades para ter acesso a investimentos e a políticas mais estruturadas. O depoimento de V. Exª só vem reafirmar o que estou dizendo. Fico muito feliz que V. Exª tenha se somado a mim neste momento de dificuldade para o Presidente Lula. Mas sei que mesmo essas dificuldades, que são terríveis, serão vencidas, porque desde bebê, desde pequenininho, ele foi forjado na dificuldade.

    Eu queria dizer também que foram importantes os passos da Presidenta Dilma em relação à gestão da nossa economia em seu primeiro mandato. Nós não vamos permitir o golpe, como disse o Presidente Lula. A Presidenta Dilma, com todas as dificuldades por que passa agora, explicitou o confronto com o setor financeiro do País e adotou medidas de grande impacto, avaliando a crise econômica dos Estados Unidos, que se espalhava para a Europa, com tantas consequências para os países em desenvolvimento.

    Ela adotou medidas importantes, mais tarde batizadas de "nova matriz econômica", que foram criticadas, desacreditadas pelo sistema, pela mídia, mas que dão a dimensão do compromisso da Presidenta com a ampliação das mudanças pelas quais o Brasil havia passado no governo do Presidente Lula.

    E qual era a direção dessas mudanças que nós tanto queríamos naquele início do primeiro governo?

    A redução dos juros; a desvalorização cambial para o fortalecimento da indústria nacional; o crédito barato, ainda que puxado pelos bancos públicos; uma política fiscal expansionista, principalmente nos investimentos; e a reindustrialização, com tarifas menores nas importações, maiores nas importações, investimentos em infraestrutura, concessões, benefícios tributários. Pudemos acompanhar isso de perto - eu, como Ministra-Chefe da Casa Civil, e tenho certeza, também, de que o Senador Garibaldi, como Ministro da Previdência.

    Talvez por inabilidade política, pela forma de atuação, o programa não conseguiu trazer o apoio das forças progressistas; muito pelo contrário, ele unificou as forças conservadoras do nosso País. E unificou algo que, ao meu ver, é um equívoco em termos de visão de desenvolvimento, mas que nós vamos ver logo, logo, aqui na frente.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Unificou o setor financeiro com o setor produtivo, ao ponto de o setor produtivo ter críticas à queda dos juros que foram praticados no primeiro mandato da Presidenta Dilma. Aí, descobriu-se que o setor produtivo ganhava muito, também, com as operações de mercado e com a administração de boca de caixa. Todo aquele esforço da Presidenta Dilma para que pudéssemos sair da crise com a indústria nacional fortalecida não teve o sucesso que esperávamos.

    Em razão de tudo isso, em razão da situação política, do perfil dela de gestão, o que aconteceu foi que proliferaram as fofocas, as conjecturas - as conjecturas do fim do PT, do fim do Lula, do rompimento da Presidenta com o PT, do rompimento da Presidenta com o Presidente Lula -, e isso continua vicejando na nossa imprensa, nos comentários políticos, nas discussões de rodinhas.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Quero dizer a V. Exªs que não é isso que vai acontecer, não é isso que está acontecendo. Nem Dilma, nem o Governo, nem o PT têm direito a radicalizações ou a ruptura. Nós temos o governo mais longevo da história deste País, da história recente deste País. O governo mais longevo. E isso exige de todos nós uma grande maturidade. Devemos, mais do que ninguém, saber para quem governamos, assim como também devemos saber que um governo, para avançar, faz mediação.

    De novo, a voz mais sensata é a voz do Presidente Lula, como já falei aqui, no início deste discurso. Mesmo sofrendo o que está sofrendo - a desconstrução política que estão fazendo -, o Presidente Lula consegue ter serenidade e consegue olhar para a frente; coisas dos grandes líderes, dos estadistas. E ele diz o seguinte: este Governo é nosso e nós temos a responsabilidade de ajudar,...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - discutir, compartilhar e encontrar saídas.

    Vamos divergir o que tiver que divergir, falar o que tem que falar, Dilma tem que ter certeza de que por mais que tenha discordância, o lado dela é esse. Sem confrontos e sem quedas de braço. O que nos motiva é o projeto de País que nós construímos até aqui; a responsabilidade para com o povo brasileiro.

    O PT e as forças progressistas têm de dar sustentação ao Governo, e a Presidenta Dilma tem de conduzir seu Governo, ainda que com fragilidade política baseada no programa que lhe deu a eleição. Tem que governar para o povo e não para o mercado.

    Muito obrigada, Srª Presidente.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - V. Exª me permite um aparte?

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Permito, sim, Senador.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Quero dizer, Senadora Gleisi, que tive oportunidade de conviver com V. Exª então Ministra-Chefe do Gabinete Civil e eu Ministro da Previdência. Quero dar um depoimento de que V. Exª sempre foi muito receptiva às iniciativas da Previdência. Mas nós não estamos aqui para dizer isso, apesar de querer fazer justiça a V. Ex. Nós estamos aqui ouvindo um discurso de V. Ex a respeito da crise que o País atravessa, e também do que V. Exª considera como injustas aquelas afirmações ou aquelas acusações com relação ao Presidente Lula e que também atingem, também, o Governo da Presidenta Dilma. Eu, a despeito de não ser do PT, tenho confiança de que, em uma hora como essa, o PT vai se mostrar unido ao lado do Presidente Lula e da Presidente Dilma porque seria, realmente, um cenário muito difícil ver o País enfrentando uma crise como essa e o Partido da Presidenta da República entrando em rota de colisão com o Governo da Presidenta Dilma. Eu, pelo menos, não acredito, não sou petista, mas não acredito que isso venha a acontecer.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agradeço seu aparte, Senador, ex-Ministro Garibaldi, meu colega de Governo, uma pessoa por quem eu tenho grande admiração e respeito. Pode ter certeza de que não é isso que vai acontecer. Já passamos por crises mais difíceis, momentos mais duros na história política do nosso Partido, e não vai ser agora, com a conquista que nós tivemos dos governos Lula e Dilma, que vamos romper o equilíbrio e a sustentação desse Governo que é tão importante para o Brasil.

    Foi isto que eu vim falar aqui, defender o legado do Presidente Lula, defendê-lo, acima de tudo, pelo que ele representa para este País; defender o projeto do PT e dizer que a Presidenta Dilma, sim, tem o apoio do PT.

    Tenho certeza de que ela vai estar sempre ao lado do povo e na continuidade desse projeto de governo que a elegeu.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/03/2016 - Página 21