Pronunciamento de José Medeiros em 03/03/2016
Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações a respeito da possibilidade de delação premiada do Senador Delcídio do Amaral.
Registro da participação de S. Exª na inauguração de centro de pesquisas da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
- Autor
- José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
- Nome completo: José Antônio Medeiros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ATIVIDADE POLITICA:
- Considerações a respeito da possibilidade de delação premiada do Senador Delcídio do Amaral.
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EDUCAÇÃO:
- Registro da participação de S. Exª na inauguração de centro de pesquisas da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/03/2016 - Página 14
- Assuntos
- Outros > ATIVIDADE POLITICA
- Outros > EDUCAÇÃO
- Indexação
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- COMENTARIO, DESDOBRAMENTO, POLITICA, POSSIBILIDADE, DELAÇÃO, DELCIDIO DO AMARAL, SENADOR, REFERENCIA, CORRUPÇÃO.
- REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, INAUGURAÇÃO, CENTRO DE PESQUISA, UNIVERSIDADE PARTICULAR, SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, PESQUISA, TECNOLOGIA, PAIS.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos os amigos que nos acompanham pela Rádio e TV Senado e também pelas redes sociais, antes de começar, quero registrar a presença, na tribuna, do Prefeito Gilmar, conhecido como Gilmarzinho, Prefeito do Município de Nobres, juntamente com sua esposa, que nos visitam aqui.
O Município de Nobres, Senador Dário Berger, é um Município mato-grossense expoente das belezas naturais no Estado de Mato Grosso. É um Município, eu diria, até injustiçado no Brasil, porque ele tem as mesmas belezas de Bonito, aliás, até mais... Em Mato Grosso, há um ditado, cunhado pelo ex-Senador e agora Governador de Mato Grosso, que diz: "Bonito é bonito, mas Nobres é lindo." É um Município onde há rios de uma claridade incrível, com água de transparência extrema, grutas, enfim, uma maravilha da natureza.
O Prefeito está nos visitando aqui. Em breve, teremos uma audiência da Comissão de Desenvolvimento Regional lá no Município para tratar justamente da questão do turismo e também da regularização fundiária, porque, Senador Dário Berger, o Município padece de um câncer que, infelizmente, assola boa parte do Brasil: a regularização fundiária.
O Município, aliás, poderia estar desenvolvendo a todo vapor a indústria do turismo, mas, infelizmente, boa parte dele fica sobre terras que não estão regularizadas ainda, um assentamento que não está regularizado. Então, não há segurança alguma para que as pessoas possam investir ali. O prefeito tem feito muito para fomentar o turismo, mas é preciso superar esses gargalos.
Sr. Presidente, hoje - agora há pouco, nós falávamos justamente desse assunto -, o que se fala é sobre a possível delação premiada que o Senador Delcídio Amaral teria feito. E, neste momento, os desdobramentos na imprensa, a discussão é justamente sobre o tema. Não se fala em outra coisa.
A oposição, antes mesmo de abrir a boca, já está sendo muito criticada. Aliás, tem sido uma tônica: de todos os males que acontecem neste Governo, é como se a oposição fosse a grande culpada. Mas esse cálice não pertence, realmente, à oposição.
Isso aí começou com a prisão do Senador Delcídio, houve todo um desenrolar, e, neste momento, já começam os desmentidos antes mesmo de o Senador se pronunciar sobre se fez a delação ao não. Acabei de ver, na Folha de S.Paulo, o ex-Ministro da Justiça, ex-advogado e atual advogado também do Governo, já dizendo que ele não tem credibilidade nenhuma. De uma hora para outra, o Senador Delcídio passou a não ter credibilidade nenhuma.
Ora, meu Deus do céu! Até ontem, o Senador Delcídio era o Líder do Governo nesta Casa, gozava da credibilidade de todos aqui. Então, não podem, de uma hora para outra, antes de ele se pronunciar, dizer que ele não tem credibilidade - vamos esperar!
Então, se há alguém faltando com a calma, muito açodado, são os defensores do Governo. Por que não esperar ele se manifestar? Agora, uma coisa que não se pode dizer é que ele não tinha credibilidade. Como não tinha credibilidade se era o Líder do Governo nesta Casa?
Sr. Presidente, agora, falando de coisa boa. Ontem, tive o prazer de participar em São Paulo da inauguração de um centro de pesquisas da Universidade Mackenzie, o Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Esse centro é fruto de um projeto iniciado em 2013, no qual foram investidos cerca de 100 milhões. Esse centro de excelência é o primeiro ambiente em toda a América Latina voltado para o estudo dos chamados materiais bidimensionais, que são nanomateriais formados de uma única camada de átomos.
O coração do MackGraphe é um prédio de sete andares e mais de 4 mil metros quadrados de área útil, que abrigará a equipe multidisciplinar coordenada pelo Prof. Eunézio Thoroh de Souza, composta de engenheiros, físicos e químicos. Esses profissionais vêm trabalhando para atingir uma meta estratégica crucial: dominar o ciclo tecnológico do grafeno, conhecido como a matéria-prima do século XXI, e investigar outros nanomateriais promissores.
Orientado por um pensamento de engenharia prática, o time do MackGraphe visa não apenas a expandir a fronteira científica nacional, mas, sobretudo, a viabilizar, por meio da cooperação com a indústria, aplicações tecnológicas do grafeno. Isso é indispensável para garantir a participação ativa do Brasil na configuração de um setor econômico extremamente dinâmico; um setor que, segundo estimativas, pode movimentar mais de US$1 trilhão.
Para alcançar essa ambiciosa meta, o centro de pesquisa da Mackenzie conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) - que já garantiu o aporte de recursos para a construção desse centro - e do CNPq. Também já há promessas do BNDES.
Srªs e Srs. Senadores, o grafeno possui propriedades extraordinárias: é leve, transparente, flexível, impermeável; apresenta elevada condutividade térmica e elétrica; e é extremamente resistente. Essas qualidades superlativas se traduzem em um imenso, e ainda não totalmente conhecido, potencial de aplicações. Na microeletrônica, a elevada eficiência e a flexibilidade desse material possibilitarão a substituição do silício, que hoje é vital na fabricação de microprocessadores e circuitos integrados; nas indústrias automotiva e aeroespacial, a leveza e a impressionante resistência do grafeno, que é cerca de 200 vezes mais forte do que o aço, despertam grande interesse; nas telecomunicações, o nanomaterial tornará possíveis incrementos substanciais na velocidade de transmissão de dados, possibilitando, inclusive, um necessário salto de qualidade em nossa telefonia móvel; na Medicina, o grafeno poderá ser utilizado na fabricação de implantes biônicos, capazes de interagir com tecidos vivos; no setor de energia, o material possibilitará a fabricação de supercapacitores e de baterias ultraduráveis que, além de mais potentes, recarregarão várias vezes mais rápido do que as utilizadas hoje.
Nobres colegas, esses poucos exemplos já são suficientes para compreender que estamos diante de uma verdadeira revolução tecnológica. Nesse contexto, o Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno da Mackenzie tem, para além da sua evidente relevância científica, tecnológica e econômica, profunda importância simbólica, pois nos permite vislumbrar uma nova etapa, uma nova fase na trajetória nacional de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Pela primeira vez, Sr. Presidente, o Brasil participa de forma ativa, ombreando-se com os demais protagonistas de uma transição tecnológica de porte mundial. No século passado, infelizmente, não figuramos como atores relevantes nas evoluções científicas da teoria quântica, da relatividade e da informática.
Há poucos dias, Sr. Presidente, participando das tarefas de casa da minha filha, que faz ainda o ensino fundamental, ela, fazendo ali uma releitura da matéria, disse que o professor de geografia dela tinha dito que o Brasil, no século passado e no anterior, tinha sua base econômica na exportação de commodities. E eu falei: "O que ele não te falou é que continua assim." Continuamos, nossa base econômica, hoje, nossa balança comercial, por exemplo, é suportada, praticamente, pelo setor primário; não avançamos na inovação e na pesquisa.
Na Comissão de Ciência e Tecnologia, temos feito um debate constante, e o Senador Cristovam tem sido um dos baluartes nessa discussão, no sentido de cobrar que precisamos avançar, precisamos quebrar os gargalos que nos prendem e que nos deixam no atraso neste quesito, no desenvolvimento da pesquisa. Até temos pesquisas neste País, mas parece que a nossa academia tem discutido muitos assuntos que não têm muita aplicação técnica. Precisamos passar para uma aplicação, para que ela possa servir ao setor produtivo.
E cito, aqui, um exemplo: no Estado de Mato Grosso, que, hoje, é cantado em verso e prosa por ter o maior índice de produtividade de grãos e que compete de igual para igual em nível mundial, foi devido à pesquisa que o agronegócio despontou daquela forma. Mas precisamos avançar, Sr. Presidente, porque, hoje, a nossa Embrapa está fazendo transferência de conhecimento, transferência dessas tecnologias de produtividade para a África, por exemplo.
Acontece que a África fica no meio do caminho entre a China e o Brasil. E, daqui uns dias, a China vai comprar de quem? Vai comprar do Brasil ou vai comprar da África, que está mais próxima?
Então, neste momento, precisamos dar um salto. Até bem pouco tempo, e já me encaminho para o final, Sr. Presidente - eu cito aqui o exemplo do que é pesquisa e inovação -, a cidade de Detroit, nos Estados Unidos, por exemplo, era o centro de referência da indústria automobilística; hoje, a cidade de Detroit é uma cidade fantasma. Ao passo em que o Estado vizinho ali, a Califórnia, São Francisco, aquela região, eles investiram em conhecimento, em pesquisa, e o Vale do Silício hoje explode, a cada dia, descobrindo novos materiais, descobrindo novas patentes.
No próprio iPhone, para citar aqui um exemplo, há condensadas mais de 200 patentes. E a minha preocupação, quando dou esses exemplos, Sr. Presidente, é justamente, porque hoje, em média, no Brasil, para que um produto seja patenteado, são necessários 11 anos. Então, numa conta rasa, se o iPhone fosse ser desenvolvido aqui no Brasil, com 200 patentes e 11 anos para ser liberada cada uma, iríamos ter cerca de dois mil anos para um iPhone ficar pronto, para vermos que precisamos avançar muito. E, quando nós temos a notícia de que uma universidade privada sai na frente e larga com projeto de pesquisa, com um projeto avançado e ambicioso dessa forma, inclusive, com parcerias com países, como Reino Unido, é de nos encher de alegria e esperança de que estamos começando a sair da letargia e passar para outro nível em termos de pesquisa nesse País.
Ao finalizar este breve registro, Sr. Presidente, cumprimento, na pessoa do Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto, todos os envolvidos no planejamento, na construção do bom andamento dos trabalhos, e cumprimento o Presidente da Fundação Mackenzie, Dr. Maurício Meneses, e todos que contribuíram para que o projeto ficasse pronto.
Acredito que, em pouco tempo, terei o prazer de retornar a esta tribuna, dessa vez para comemorar os excepcionais resultados, que, tenho certeza, serão alcançados.
Muito obrigado, Sr. Presidente.