Discurso durante a 26ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Mundial do Rim.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Outros:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Mundial do Rim.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2016 - Página 21
Assunto
Outros
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, ORGÃO HUMANO, COMENTARIO, NECESSIDADE, COMBATE, DOENÇA GRAVE, DEFESA, MELHORIA, SAUDE PUBLICA, PAIS, ENFASE, MELHORAMENTO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente e signatário da presente sessão, Senador Eduardo Amorim, quero deixar meus cumprimentos ao Deputado Federal Andre Moura; ao Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo, Sr. José Osmar Medina Pestana; à Presidente da Associação Brasileira de Nefrologia, Srª Carmen Tzanno Branco Martins; ao Sr. Renato Padilha; ao Sr. Hélio Vida Cassi; e à Srª Antonia da Graça Silva. Também os meus cumprimentos ao Sr. José Aluizio Ferreira Lima, ao Sr. Tarcísio Steffen e a todos que nos acompanham aqui, nesta sessão, e também pela TV Senado e pela Rádio Senado.

    Senador Eduardo Amorim, quero deixar meus cumprimentos e parabenizá-lo por esta importante audiência, por trazer esse importante tema ao Senado Federal brasileiro e a todos os brasileiros, porque é um assunto que, por vezes, fica encoberto.

    O Brasil tem algumas tragédias que não são divulgadas, vamos dizer assim. Vou fazer um comparativo, por exemplo, com o que acontece no trânsito brasileiro. Quantos brasileiros morrem no trânsito por ano? Mais de 40 mil pessoas. Estamos falando deste tema aqui: quantos brasileiros morrem todo ano? E não se fala muito. São mortes anônimas. Não se fala sobre isso.

    V. Exª traz à Câmara Alta do País esse assunto, esse tema de extrema relevância, que é do conhecimento apenas dos profissionais. A Senadora Ana Amélia falou um termo muito interessante: é do conhecimento apenas dos sacerdotes, apenas daqueles abnegados que mexem e que lutam incessantemente, para que possa haver um olhar de prioridade do Governo, para que possa haver um olhar de prioridade das instituições e dos formuladores de políticas públicas.

    Como estamos, com certeza, falando para o Brasil inteiro, pela TV Senado - isso aqui vai ser passado uma vez e repassado na TV -, já foi dito aqui, mas quero passar para todos os brasileiros que nos assistem alguns números que nos estarrecem. Este é o folder da Sociedade Brasileira de Nefrologia, que traz alguns números que são impactantes. O número de pacientes em programa de diálise aumentou 300% nos últimos 15 anos. Enquanto isso, o número de clínicas aumentou apenas 34%.

    O curso que eu fiz, na universidade, foi Matemática, e quem mexe com números sabe bem o impacto disso. Então, eu vou repetir para todos os brasileiros que nos assistem e, principalmente, para o Governo: o número de pacientes em programa de diálise aumentou 300% nos últimos 15 anos e o número de clínicas aumentou apenas 34%, ou seja, 10 vezes menos!

    Outro número: nos últimos 15 anos, 76 clínicas de diálise fecharam ou pediram descredenciamento do SUS. Faz três anos que o valor de reembolso da sessão de hemodiálise está congelado. Três anos! Vale dizer que, apenas neste ano, a inflação está caminhando para algo acima dos dez pontos percentuais. Somente 7% dos Municípios brasileiros têm clínica de diálise, ou seja, faltam vagas para hemodiálise. Essa é uma constatação óbvia. Os valores da diálise peritonial estão defasados, o programa encolheu, no Brasil, e tem risco de acabar.

    Um outro dado que é muito importante que todos os brasileiros saibam - e também está em outro folder da Amarbrasil - vem em uma pergunta interessante. Eu acho que essa é a maior tragédia de todas: "Você sabia que 56% dos órgãos ofertados não são aproveitados pelas equipes de transplantados?" Isso é de nos indignar, porque se gasta tanto neste País com coisas que não chegam nem perto dessa prioridade. Em um programa como esse, apenas 56% dos órgãos são reaproveitados.

    Eu fico imaginando a pessoa que está na fila dos transplantados ou aquela família que aguarda um órgão tomar conhecimento de dado como esse e saber que este Pais não tem, como prioridade, esses programas. Isso é estarrecedor! Por isso, a importância desta audiência, porque precisamos falar sobre isso. Precisamos falar e falar.

    Quando Senadores do naipe do Senador Eduardo Amorim, que é médico e conhece o problema, do Senador Ronaldo Caiado, que é um renomado médico... Inclusive, para os brasileiros que não sabem disso, ele, de vez em quando, faz consultas grátis para os Senadores que passam mal. De repente, há muita gente aqui consultando com ele.

    É muito importante que esses representantes aqui, no Senado Federal, e representantes com o valor agregado de serem também médicos e de conhecerem o sistema possam justamente servir de arautos, servir de amplificação a essas vozes anônimas que, no dia a dia dos hospitais, não são ouvidas, porque há certos assuntos, certas mortes que vão cauterizando, parece que nos acostumamos. Nós temos, parece, uma indignação seletiva ou mesmo uma complacência seletiva.

    Eu vou citar um exemplo, Senador Eduardo Amorim. Aconteceu aquele acidente terrível, aquela tragédia terrível no Rio Grande do Sul, da boate Kiss. O País ficou estarrecido. No outro dia, os Corpos de Bombeiros de todos os Estados estavam fazendo mudanças nos seus protocolos, aquela coisa toda. O País entrou em polvorosa. Justo. Foram 276 pessoas que morreram ali, mas eu faço esse paralelo aqui para dizer que a nossa indignação parece que é seletiva. Se acontece uma tragédia e morrem 100 pessoas num avião, o País entra em luto, mas todos os anos morrem milhares de pessoas - milhares de pessoas -, n boates Kiss, n tragédias, e parece que fica cauterizado.

    Eu entro, no Ministério da Saúde, e parece que aquela burocracia, aquela coisa, o meio é mais importante que o fim, os papéis, aquilo tudo, essa coisa toda está muito atada. Eu ando pelos Municípios - e eu vou falar do Estado de Mato Grosso - e, quando entro nas clínicas de nefrologia, Senador Eduardo Amorim, eu me sinto oprimido por tanto sofrimento, porque são casas de sofrimento. Você vê pessoas ali disputando aquelas máquinas e os profissionais fazendo - vou usar um termo lá do Nordeste - das tripas coração para conseguir atender aquelas pessoas. E você ouve: "Senador, nós estamos com dificuldade, nesse prédio aqui, você vê camas improvisadas em locais onde era uma despensa". É uma dificuldade só. E aí vemos esses números. E, cada vez mais, mesmo essas clínicas estão sendo fechadas. Daí essa importância.

    Na verdade, na minha fala aqui, quero falar o menos possível, porque o importante é que esses especialistas falem e vou deixar para quem realmente entende do assunto. É simplesmente no sentido de homenagear todos vocês que se preocupam e estão aqui hoje, trazendo esse assunto tão importante no dia em que se tirou para se falar sobre o rim.

    E eu falo isso também e conto aqui, para encerrar, Senador Amorim, que acompanhei o sofrimento de um paciente praticamente do início até o dia em que ele morreu. Na década de 90, eu trabalhava na Polícia Rodoviária Federal.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Já encerro, Sr. Presidente.

    Eu tinha passado no concurso, e sempre havia um senhorzinho parado lá. Perguntei o que era, e os policiais mais antigos disseram que eles ajeitavam uma carona para ele, até Cuiabá, porque, na época, não havia clínica ainda na cidade. Ele ia, duas vezes por semana, de um Município do interior até a capital Cuiabá. Era um tormento. E já era uma cidade de mais de 100 mil habitantes. Contei esse fato simplesmente para amplificar a situação. Imagino como deva ser no restante do País. Infelizmente, ele passou mais de dez anos ali, tentando e buscando fila, e acabou indo a óbito. É impactante essa situação.

    Não podemos ficar parados e V. Exª sai na frente. Faço coro com a voz da Senadora Ana Amélia: considere-me um ajudante de soldado para ajudá-lo nessa luta.

    Muito obrigado. Parabéns a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2016 - Página 21