Discurso durante a 28ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito dos treze anos do Governo do PT.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações a respeito dos treze anos do Governo do PT.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2016 - Página 22
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • AVALIAÇÃO, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), GOVERNO FEDERAL, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, PROGRAMA MAIS MEDICOS, BOLSA FAMILIA, CRITICA, ERRO, OBJETIVO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, APARELHAMENTO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), GRUPO, EMPRESA ESTATAL, PREJUIZO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, DESVIO, AMBITO NACIONAL, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), ENDIVIDAMENTO, UNIÃO FEDERAL, ESTADOS, POLITICA FISCAL, AUMENTO, ANTAGONISMO, POLITICA, POPULAÇÃO, DEFESA, MELHORIA, ENSINO, REDE ESCOLAR, PAIS.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Donizeti, fico feliz que estejamos nós dois aqui, sem mais ninguém, porque, se for o caso, poderemos fazer um debate, até para esclarecer pontos sobre os quais eu gostaria de saber se estou fazendo a análise certa.

    Vou começar por aquilo que acho que estamos de acordo. Na democracia, não se pode prender ninguém sem muita justificativa. Não se pode prender nenhum cidadão assim! E a verdade é que todos os cidadãos são iguais. Mas a decisão de um juiz, de um procurador para um cidadão comum, chamemos assim, tem de ser convincente para a sua família, para os seus amigos. Mas, quando é para um personagem com liderança, mesmo que se conteste o comportamento desse líder, isso tem de convencer o povo inteiro, senão temos problemas sérios na própria legitimação da justiça.

    Digo isso em relação ao pedido de prisão do ex-Presidente Lula. Meu primeiro pronunciamento foi no sentido de que aquela decisão tinha de convencer o Brasil inteiro de que foi feita com robustez - usei a palavra que está na moda -, com substância. Isso se deu ontem a noite, e, hoje, já olhando os argumentos, pelo menos pelo que vi na televisão, quero dizer que, desses 200 milhões que deveriam ser convencidos, eu não o fui. Não quero me meter nos aspectos jurídicos, mas, quanto à maneira como li as razões de que o Presidente pode ir embora do País, não vejo a menor possibilidade de o ex-Presidente Lula ir embora do País. Não vejo isso. Houve ainda o argumento de que ele poderia insuflar. Ele insuflará muito mais preso, sem dizer uma palavra, automaticamente, naturalmente.

    Portanto, quero deixar aqui que isso não me convenceu, como cidadão. É preciso convencer todos. Do mesmo jeito que é preciso convencer o cidadão comum, é preciso convencer sua família de que realmente aquele menino - não aquele menino, porque aí caio na justificativa de idade -, aquele criminoso cometeu um crime. A mãe vai visitá-lo constrangida, porque ele está preso, mas vai dizer que o juiz teve seus argumentos ou que o jurado teve seus argumentos. E, no caso de um líder, os jurados são 220 milhões. Nesse sentido, creio que estamos de acordo.

    Agora, o que acho é que todo esse noticiário em relação ao ex-Presidente Lula, por causa de um tríplex, por causa de um sítio, está deixando de lado uma coisa - esta, sim, eu gostaria de debater, e, talvez, a gente discorde: a avaliação dos resultados dos 13 anos dos Governos Lula e Dilma.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador, antes de o senhor continuar, V. Exª me concede um aparte para dialogarmos? (Pausa.)

    Penso que existem algumas coisas que precisam ser rediscutidas, como o papel do Ministério Público. Na minha avaliação - posso estar errado -, quem denuncia não pode ser quem investiga, senão firma a convicção de que existe o crime e vai trabalhar para construir a prova e, depois, fazer a denúncia. Penso que essa é uma anomalia que precisa ser repensada.

    Segundo, vejo que a necessidade que alguns - e aí, talvez, seja uma questão de idade, mas nem sempre é isso - procuradores têm de aparecer nos refletores também é preocupante, assim como os juízes. Por quê? O senhor até disse hoje que eles não falam no processo, mas que eles deviam falar no processo, e não comunicar para as massas antes da sentença, antes do trabalho terminado. Agora, vivemos uma anomalia: o procurador diz a uma revista o que vai fazer e, depois, começa a fazer.

    Penso que o Conselho Nacional do Ministério Público pode ter errado - nem quero dizer que errou -, quando instituiu que tem de ser procurador natural daqui para a frente, mas já deveria ter feito isso para trás também. Talvez, tivéssemos evitado isso. 

    Foi muito importante o comportamento das lideranças da oposição e dos meios de comunicação, neste momento, sobre essa ocorrência. Por isso, eu disse, agora há pouco, que penso que, talvez, seja a hora de fazermos a conciliação nacional.

    É muito relevante a forma como V. Exª abordou a questão. O juiz desse caso são os 220 milhões de brasileiros, que precisam ser convencidos...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eles precisam ser convencidos.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - ...de que o suposto crime realmente foi cometido. 

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É isso.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Inclusive, na leitura da sociedade brasileira, precisa estar claro se o que eles estão dizendo que é um crime realmente foi um crime.

    Obrigado, Senador, pelo aparte.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É isso.

    Isso vale para todos aqueles que representam algo. Vamos ver um caso: o fato de acusarem padres de crimes de pedofilia. É preciso que se tenha convicção de que houve isso, porque aquilo repercute de alguma maneira além de sua família, de seus amigos.

    Dito isso, quero dizer que esses fatos estão tirando o nosso debate sobre o que foram esses 13 anos até aqui do Governo do PT, Partido em que estive por 15 anos.

    Começo pelas coisas que acho positivas, como, por exemplo, o Mais Médicos - eu me pergunto como não se fez isso antes -; o Fundeb, a transformação do Fundef, fundo que atendia o ensino fundamental e que foi transformado em um fundo que atende o ensino básico inteiro, incluindo o ensino médio; o piso salarial - tive um papel ao ser o autor da lei, mas foi o Presidente Lula que a sancionou, e foi o Presidente Fernando Haddad que deu a cobertura, sem a qual o projeto não poderia sair do Congresso, mas teria de sair do Poder Executivo.

    O aumento no número de alunos nas universidades, foi uma coisa positiva, mas que se esvai, se esses alunos entram na universidade sem condições de seguir um bom curso, porque o nível cai, e, aí, o País perde. Do mesmo jeito, o piso salarial, uma boa coisa, mas, se não é renovado todos os anos, não resolve com a inflação - e o Governo provocou a inflação. O Bolsa Família também, que foi uma grande conquista a ampliação do número, porque o programa já existia no Governo Fernando Henrique. A diferença aqui é o tamanho e a centralidade. O Governo Fernando Henrique demorou a começar, apesar de que levei a ideia para ele na transição, depois da eleição dele e antes da posse. Isso está escrito numa carta que está guardada e que já saiu até em livros. Ele esperou muito tempo. O Presidente Lula esperou um ano também. O Presidente Lula não adotou o Bolsa-Escola logo; esperou um ano para lançar o Bolsa Família, mas ampliou e deu centralidade no seu Governo. E, claro, tem aí um mérito: do mesmo jeito que o Mais Médicos chegou lá na ponta, tivemos, nestes 13 anos, a possibilidade de, praticamente, erradicar a fome no Brasil, mas a inflação pode fazer a fome voltar.

    Digo isso, para falar de coisas positivas, Senador, mas são coisas positivas do ponto de vista da generosidade que a elite brasileira nunca teve com o seu povo. O governo Lula teve. Mas não votei no Lula apenas pela generosidade, senão eu teria votado em Madre Teresa para Presidente. Votei para transformar este Brasil. E, se a gente olhar estes 13 anos, é preciso dizer que 13 anos correspondem a 13% de um século. É um tempo grande! Daqui a dois anos, o Governo do PT terá tido mais tempo no Governo do que o governo Getúlio Vargas, que ficou 15. Foi o maior de todos, de longe, disparado. Depois dele, vem Lula e Fernando Henrique, com 8 anos cada um.

    A gente votou para transformar o Brasil, para quebrar as estruturas, e nisso, acho que fracassamos nestes 13 anos. Ao contrário de fazer a reforma estrutural, até mesmo na agricultura, não houve o avanço que deveria ter havido na estrutura da propriedade agrária. Veja que o Ministério da Agricultura, que cuida do agronegócio, hoje, é muito mais forte do que o do Desenvolvimento Rural, que trataria da reforma agrária.

     Aumentou o número de universitários, mas não houve uma reforma na estrutura da universidade, até porque esta deveria partir da reforma da educação de base, e não houve reforma estrutural na educação de base. Houve melhorias. Sem dúvida alguma. Mas a reforma estrutural, a meu ver - e fiquei feliz de ouvir o seu apoio na Comissão -, é a federalização, com o nome que tiver de ser.

    Em 2003, como Ministro, comecei com um programa chamado Escola Ideal, em que adotamos 29 cidades do Brasil, mas ele parou imediatamente quando começou, porque levou até outubro para começar.

    Pois bem, acho que, do ponto vista da transformação, não conseguimos fazer essa reforma. As explicações devem existir fora e dentro do Governo.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª me concede um aparte?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Vamos debater.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Vamos debater.

    Concordo com V. Exª no que diz respeito à transformação em algumas coisas. Há dois pilares para se fazer isso. Penso até que o Presidente Lula poderia ter aprofundado as reformas, ainda no primeiro mandato, em alguns aspectos. Algumas foram feitas; outras, não.

    Por exemplo, o sistema político-eleitoral brasileiro é um sistema falido. Ficamos remendando, remendando e, cada vez que a gente mexe, piora. Do meu ponto de vista, essa última reforma que fizemos no sistema eleitoral foi para pior. E não fizemos.

    Outro ponto é que a sociedade brasileira, no processo de amadurecimento, talvez por longos períodos, sem poder decidir quem seria Presidente ou não, qual seria o projeto que deveria ser desenvolvido no País, apresenta um certo desequilíbrio que, aqui, no Congresso, se revela. A sociedade brasileira não elegeu um Congresso que pudesse ajudar também nessa transformação. Estou dizendo isso aqui porque conversei com o Presidente Lula, há mais ou menos 20 dias. Penso que, no final do segundo mandato ou no início do primeiro, poderíamos ter aprofundado reformas importantes, como a regulamentação - não é a censura, porque não defendemos isso - dos meios de comunicação, a questão da reforma do sistema político-eleitoral e esta questão do Pacto Federativo. Precisamos nos deter muito nisso

    Então, concordo com V. Exª no sentido de que algumas transformações que poderiam ter acontecido não conseguimos fazer. Faltou iniciativa, de um lado, e também V. Exª compreende que administrar o Congresso, a relação com o Congresso com a multiplicidade de partidos que nós temos, do jeito que é e com o método com que é possível operar também é muito difícil para qualquer Presidente do Executivo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu reconheço, sem dúvida alguma, mas era o que a gente queria, era aquilo com que a gente sonhava. É preciso explicar por que não se fez.

    Eu creio que valeria a pena o PT - eu já sugeri isto uns dez anos atrás - chamar para debater pessoas que não são do Partido, perguntar onde erramos. Aí, acho que ele não deveria ficar preso aos aspectos da corrupção. Deixa a Justiça cuidar disso. Eu acho que a gente deve discutir o derrame do ponto de vista de não haver as transformações sociais, como o Tarso Genro, de vez em quando, levanta. E, aí, vou começar olhando ao redor; olhemos ao redor depois desses treze anos. Comecemos pela Petrobras. O debate está concentrado nas propinas, na corrupção, mas eu quero analisar - isso fica para a Justiça - se a empresa, hoje, está mais sólida ou menos sólida do que antes. E está menos sólida, apesar do pré-sal. Embora a gente analise o que está acontecendo na Petrobras, do ponto de vista do preço do petróleo, que caiu, mas não é isso; é que houve aparelhamento, é que se colocaram pessoas que não estavam preparadas. Houve uma euforia que não se tem direito, em política, de se ter, achando que as coisas são maravilhosas, estão indo bem e que tudo vai dar certo. E não nos preocupamos. Então, não é só a Petrobras; outras estatais, hoje, não estão mais sólidas do que treze anos atrás.

    Olhemos a economia, do ponto de vista do crescimento. Estamos numa recessão sistemática, de alguns anos, depois de ter crescido durante o governo Lula. Mas olhemos aqui a ideia de transformação. Aumentar o PIB é melhorar; agora, transformar é mudar a cara do PIB. Nós não mudamos. Continua um PIB da agricultura, da mineração e da indústria metal mecânica. Não conseguimos dar um salto para uma indústria da alta tecnologia, como o mundo está entrando.

    E havia coisas que eu acho que aqui não se ia conseguir impedir. O BNDES poderia ter sido um banco para financiar projetos de indústria de alta tecnologia, como faz o banco coreano. Não quer dizer 100%, até porque não temos capacidade de absorver tanto dinheiro do BNDES. Só empresas de alta tecnologia.

    Mas são gestos que mostrariam um gosto pela transformação, e eu tenho chamado de vigor transformador. Nós não mudamos a cara da nossa produção industrial e ainda levamos a uma desindustrialização. Treze anos depois, não estamos bem no que se refere a isso. O nosso PIB continua feio, velho, porque é primário. Não é de alta tecnologia. E, além disso, em recessão.

    Olhemos a eficiência geral do sistema social e econômico brasileiro. Não demos um salto para melhorar. Não diminuímos a burocracia como deveríamos. Ao contrário, hoje é mais ineficiente o funcionamento do sistema não por conta do Executivo, mas pelas incertezas jurídicas, pelas repúblicas que foram surgindo no Brasil. E o Ministério Público, muitas vezes, age como se fosse uma república independente. E a gente se lembra do caso de mandar prender um ex-Presidente, mas há casos todos os dias de interromper obras. Há uma ineficiência da máquina governamental muito grande hoje.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não estamos melhores do ponto de vista da eficiência. A saúde financeira dos nossos Estados, hoje, não está melhor. E não é por causa da queda de arrecadação apenas, que vem da recessão, que tem a ver com o Governo, mas não só com o Governo. Há fatores extragoverno. Mas não é só a queda da arrecadação. É o excesso de endividamento. Hoje o Brasil é mais endividado do que era. As pessoas são mais endividadas do que eram. E endividamento não leva à saúde no longo prazo. O endividamento leva à quebra no longo prazo.

    Hoje nós somos menos eficientes ainda, mais burocratizados ainda, com o País dividido em repúblicas, as sindicais também. Há repúblicas sindicais, repúblicas jurídicas e até repúblicas dentro do próprio Governo, que fazem com que o sistema não funcione bem.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Hoje nós estamos mais ineficientes - eu digo nós, brasileiros - do que éramos treze anos atrás.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam, em alguns aspectos, há concordância, mas eu penso que há algumas transformações fundamentais.

    Eu não sou adepto de que o fato de estar devendo pode levar à quebra. O que leva à quebra é a falta de planejamento. Às vezes, a dívida promove um processo de produção que ajuda no passo seguinte.

    Há coisas que este Governo fez que são extraordinárias. O Programa Bolsa Família, como o senhor disse, empoderou as mulheres. Elas passaram a ser gestoras de uma receita pequena, mas passaram a ser gestoras. Isso as empoderou, inclusive no enfrentamento da disputa por espaço no mercado de trabalho e também em casa, com o esposo. Outra coisa, a economia dos pequenos Municípios com os programas sociais, que está dependente disso, inclusive, o que não é muito bom, mas ajuda, muito tem ajudado, a partir de programas como o Bolsa Família e outros de distribuição de renda.

    Na questão de que estamos, vamos dizer, piores do que antes, não posso concordar por alguns aspectos. Nossa relação dívida/PIB era de 118%, em 2003. Hoje é diferente. Nossas reservas cambiais, hoje, são dez vezes maiores. E ainda contando que foi preciso tomar empréstimo do FMI de 40 ou 42 bilhões - inclusive, com a anuência, à época, do candidato Serra e do candidato Lula - para ter uma reserva cambial para ver se continha o desequilíbrio. Nós temos um mercado consumidor muito maior do que tínhamos.

    Estou dizendo isso para mostrar que um dos aspectos a serem superados é a crise política, porque ela tem atrapalhado muito; e a correção de rumos e erros.

    Eu penso que a taxa Selic, no valor em que está, não é suportável para uma economia que precisa investir, mas, em 2002, a taxa Selic estava em 23%. Iniciamos 2003 por aí.

    Portanto, as condições econômicas, sociais e políticas da própria sociedade, a compreensão política do povo brasileiro... Eu sou daqueles que não subestimam o povo. Eu acho que o povo é sábio. Às vezes, ele pode ser enganado e errar, mas o povo tem sabedoria, porque ele sabe onde o sapato aperta, onde dói.

    Penso que, hoje, nós temos uma situação econômica, política e, inclusive, de gestão melhor do que antes. Ocorre que nós entramos em uma crise política parecida com aquela de 45, depois do Getúlio, aquela que não queria deixar o Juscelino tomar posse, a que derrubou o Jango, o João Goulart; e o discurso, a retórica, os atores são muito identificados com o momento. Acho que esse é um dos problemas.

    E penso que essa coisa de querer separar a gestão da política - que eu sinto que a Presidenta Dilma quis fazer no primeiro mandato - é o principal erro do Governo da Presidenta Dilma. A política é uma ferramenta extraordinária que temos para administrar os conflitos e encontrar o eixo, no meu ponto de vista. No primeiro Governo da Presidenta Dilma, sentíamos que era o discurso da gestão contra o discurso da política. Não funciona! Ao se escolher um gestor, ele não pode ser apenas técnico, ele tem que ter visão política. Portanto, penso que V. Exª tem razão em muitos aspectos, mas eu discordo do fato de que a situação hoje é melhor do que antes. No entanto, nós não temos as condições políticas que nós tínhamos nos mandatos do Presidente Lula. Nós poderíamos ter aprofundado as reformas, e não o fizemos. Obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Primeiro, eu quero dizer que, quando eu falo "estarmos melhores", eu não estou necessariamente dizendo que é o Governo o culpado. Eu estou dizendo que nós estamos melhores ou piores hoje nesses aspectos.

    Segundo, eu comecei falando de coisas boas, mas eu disse que essas coisas tinham mais um caráter de bondade, de melhoria, do que de transformação, e, por isso, não se sustentam por muito tempo. E que tinham um caráter positivo. O senhor falou: "Nós somos cristãos.", e a generosidade é uma coisa importante. Mas, na política, eu quero transformação também.

    Vou mostrar qual é a diferença entre generosidade e transformação. Por exemplo, quando, na propaganda da Presidente Dilma, se dizia que um filho de trabalhador, aliás, de pedreiro, já consegue entrar na universidade, aí é uma generosidade. No entanto, quando se diz que todos os filhos de pedreiros vão disputar o vestibular em mesmas condições que os filhos dos empreiteiros, aí é transformador. Viu a diferença?

    Quando a gente diz - uma coisa positiva - que hoje existem cotas para negros - e eu sou dos primeiros a defender isso e continuo defendendo -, isso é uma generosidade com o povo que foi sofrido durante toda a história do Brasil. Entretanto, quando a gente diz: "No Brasil, os negros...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Um minuto, Sr. Presidente, para concluir.

    Quando a gente diz: "No Brasil, os negros têm as mesmas condições de disputar um vestibular com os brancos", aí, é transformador, lá na base, lá na educação de base, como eu costumo dizer: o filho do trabalhador, o filho do pobre na mesma escola do filho do patrão, do filho do rico. Isso é transformador. As cotas são positivas, como toda generosidade é positiva. Eu defendo generosidade, mas não basta: eu quero transformar. Do ponto de vista transformador, fomos pobres nesses anos.

    Vou pegar um exemplo: empoderamento da mulher graças ao Bolsa Família. Isso já estava na concepção do Bolsa Escola. Todos os meus textos sobre o Bolsa Escola que criei aqui diziam que era a mulher que recebia e falavam desse empoderamento. Com quantas mulheres conversei aqui, no DF, que se separaram graças ao Bolsa Escola? Eu não defendo separação, tanto que tenho 45 anos de casamento com a mesma mulher, mas elas viviam mal e se aguentavam, e, com o Bolsa Escola, ficaram independentes.

    Então, isso não foi transformação. O crescimento pela base que o Bolsa Escola trazia o Bolsa Família trouxe. O que houve foi melhoria no tamanho. Eu até diria que houve melhoria na eficiência do programa, ao misturar o Bolsa Escola com os outros, mas essa eficiência foi negativa politicamente, porque, ao não fazer diferença entre uma família velha que recebe o Bolsa Família e uma família com criança na escola que recebe, permitiu-se que se liberasse a exigência da frequência à escola. Está lá escrito, mas não funciona. Isso fez com que o meu projeto, que dizia que, para receber Bolsa Família, é preciso que o pai ou a mãe compareça à escola uma vez por ano, fosse barrado na Câmara por pressão da Ministra Tereza Campello. E digo isso, porque cheguei a ir lá, para falar com ela. Ela disse: "Não, isso vai sacrificar os pobres. Por que os pobres vão ter de ir à escola dos filhos, e os ricos, não?". Foi aí que apresentei o meu projeto. E nós o discutimos até muito, e o senhor deu uma melhorada na maneira de ver, pela sua crítica.

    Pois bem, melhorias tivemos.

    Agora vamos falar na Selic. Eu sou dos que não criticam necessariamente a taxa de juros, porque acho que não devemos politizar a taxa de juros. Nós temos é que dar credibilidade tão grande ao funcionamento da sociedade, da economia, das finanças, que a taxa de juros cai naturalmente. Por isso, a transformação seria... Podem me chamar de conservador. Aliás, eu sou, em matéria financeira. Eu acredito na aritmética. Pode ser um defeito. Eu acredito em lei da gravidade e que dois mais dois é igual a quatro. Logo, não se pode gastar cinco, quando se arrecada quatro.

    Acho que o Banco Central precisa ter autonomia. Essa é uma transformação que alguns podem dizer que é conservadora. E é, do ponto de vista fiscal, mas é revolucionária, ao dar força para que a moeda fique estável. E não há roubo maior, corrupção pior do que a inflação. Não há. Essa é uma corrupção.

    E aí eu vou passar para o senhor, porque eu mesmo disse no começo que o debate seria bom nisso.

    Nós melhoramos, mas em pequenas coisas e sem fazer as transformações que a gente esperava, e aí ficamos pior.

    Eu acho que na eficiência do funcionamento, a Petrobras não está melhor, o sistema elétrico não está melhor. E aí vem uma coisa que o senhor falou: temos de ter política nos cargos dirigentes. Mas a melhor política, no caso de empresas técnicas, é um bom técnico. Por exemplo, a politização que se usou, em 2014, de baixar o preço do combustível não foi boa. Foi uma politização, aliás, eleitoral, que terminou ameaçando a saúde da empresa.

    Seria melhor que houvesse uma autonomia para que a empresa fosse sólida, porque a empresa sendo sólida, o Brasil ganha. A empresa ficando frágil, pode até ser que o brasileiro daquele momento ganhe - ele que vai dirigir o seu carro -, mas no longo prazo ele termina perdendo.

    Eu acho que, em 13 anos, tivemos avanços, mas a situação não está boa, e a avaliação dos governos Lula e Dilma, do ponto de vista dos resultados para a consolidação de uma Nação que construa uma sociedade sem pobreza - e aqui vem novamente generosidade e transformação -, e sociedade sem pobreza é aquela que não precisa de bolsa.

    Por isso eu digo que se parar o Bolsa Família hoje haverá uma tragédia social. Eu estarei na frente, lutando para que não acabe e que se reajuste até, porque a Presidente vetou o reajuste. Agora, se daqui a 20 anos ainda a tivermos, foi um fracasso.

    E nós caminhamos, nesses 13 anos, para fazer o Bolsa Família mais necessário ainda. Não demos um passo para nos livrarmos da necessidade. A generosidade, a melhoria é dar a bolsa. Eu fui um dos criadores e talvez possa dizer isso. Mas a grande revolução é ela não ser necessária. E como se faz isso? Escola boa, de qualidade, para o filho do pobre. O filho que estudar não vai precisar de bolsa. Ele pode até ficar desempregado um tempo, mas de bolsa não precisa.

    E nós não demos esse salto. A escola não deu a escola o salto de qualidade.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Melhorou? Melhorou. Não está hoje pior do que antes, mas melhorou ficando para trás, quando se compara com os outros países, quando se compara a educação dos pobres com os ricos.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam, há alguns aspectos a serem observados. Lembra do Garrincha? Quando o técnico o mandou ir lá fazer isso e aquilo, ele perguntou: "Você combinou com os russos?".

    V. Exª mencionou a taxa Selic. Em um sistema como o nosso, de usura, da vontade de ganhar dinheiro fácil, a taxa Selic alta estimula a retirada do recurso da produção e favorece a aplicação, a especulação. São necessárias iniciativas governamentais articuladas, no sentido de que, ao baixar a taxa, passa a não ser atrativa a aplicação e a especulação e ser atrativa a produção. É uma questão a ser observada. Quer dizer, no caso Garrincha, os russos querem ganhar o jogo, e ganhar o jogo é ganhar mais dinheiro, porque nós estamos em um País capitalista.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador, primeiro, no caso da política e do País, os russos também usam camisa amarela, é um só País. Agora, eles querem furar gol contra os outros.

    Veja bem, a taxa de juros alta, o que é lamentável, tem que ser baixa, não é porque alguém faz ou não, é por falta de credibilidade nas instituições, de credibilidade nas finanças, de credibilidade nas decisões do Governo. Quer coisa mais alavancadora da taxa de juros do que mudar ministro a cada tantos meses?

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Isso gera uma incerteza.

    Suponha que um amigo ou irmão seu peça dinheiro emprestado. Você empresta. Suponha que venha um desconhecido, você não empresta. Agora, suponha que venha um conhecido. Não é amigo, não é irmão. Você empresta ou não? Você empresta, mas vai cobrar um jurozinho, que será maior ou menor conforme o seu conhecimento. Essa pessoa já pagou muitas contas? Está gastando em casa mais do que deveria?

    O Brasil gasta mais do que deveria, do que poderia. Aí a taxa de juros sobe.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Essa é a lógica, Senador Cristovam. Se a pessoa não é muito favorável para pagar e eu não o conheço bem, se eu cobro mais caro dele, eu estou induzindo ele a não pagar, ele não vai ter condições de pagar. Talvez o meu amigo, de quem eu não vou cobrar juros, ou meu irmão...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Sabe o que vai acontecer então? V. Exª não empresta. Mas não vai emprestar com taxa de juros baixa, se não confia. Hoje não se confia mais no Brasil.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - No meu pequeno aparte aqui, Senador Cristovam, desculpe, eu falei da taxa Selic, mas queria falar das transformações. Eu viajo muito, e concordo em parte com o que é generosidade. Para mim, cota não é generosidade. A cota é a medida, a ação política reconhecedora de um direito e que começa um processo de transformação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não, não começa. Ela é necessária e é reconhecimento. Eu até aceito dizer: não é generosidade - é outra maneira de dizer -, é reconhecimento de uma dívida. Sim, reconhecimento de uma dívida. Mas transformação é na hora em que a escola do branco, do negro, do amarelo, do pobre, do rico, de quem mora lá em Axixá ou de quem mora em uma cidade rica, como Foz do Iguaçu, é a mesma escola.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Cristovam, é o seguinte: uma casa começa com o alicerce, discutimos isso esses dias. A transformação não é um passe de mágica.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não. Mas não é por esse caminho, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Não, Senador. Pegando pelas cotas, é o começo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não, é outra coisa, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - A busca da emancipação das pessoas é o começo da transformação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Mas isso não emancipa, Senador. Isso é necessário, é pagar dívida. Mas são coisas diferentes. Uma coisa...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Está bem. Não temos como colocar 100% dos filhos dos trabalhadores ou todos os negros na escola...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Temos, sim. Em 20 anos, mas temos.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Mas começamos...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não. Não começa por aí. Começa pela qualidade da escola.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Começamos...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - E há que se reconhecer que a qualidade da escola avançou. Eu estava aqui e acompanhei o seu Programa Bolsa Família, que tinha outro componente de que eu gosto. Havia o Bolsa Escola e a Poupança Escola, que reservava um dinheirinho para o menino quando concluía o curso. Mas há uma autora, uma jornalista, que escreveu um livro sobre o Bolsa Família, em que revela que, se não me engano, 94% das crianças do Bolsa Escola têm frequência regular superior à dos que não estão no Bolsa Família; e que elas têm alcançado um rendimento acima da média nacional. Ou seja, tem acontecido, no Programa Bolsa Família, um processo de transformação, que não é um passe de mágica, é um processo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Esses meninos que o senhor ajudou a colocar na escola com a Bolsa Escola e essas mães que foram se empoderando vão produzir um resultado, de médio para longo prazo, que é transformação. Essa é a minha divergência.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador, com essas escolas que estão aí, não vai. Elas têm que ter qualidade.

    Eu não sei se V. Exª viu hoje o Bom Dia Brasil. Apareceu um menino de nove anos, falando na televisão para criticar a escola dele, no Maranhão. Depois, apareceu a escola.

    E o locutor perguntou: "Dá para chamar de escola essa instituição aí?" Não dá.

    O Brasil é um dos raros países em que a gente classifica escola boa ou ruim. Não existe escola boa ou ruim; existe escola ou não escola. É como oxigênio. Eu nunca ouvi dizer que aquele hospital tem oxigênio bom, aquele hospital tem oxigênio ruim. Não existe. Escola tem que ser boa. Agora, levam-se 20 anos para chegar em todo o Brasil. Mas não estamos fazendo o planejamento para isso, porque o planejamento para isso - e aí volto - é a ideia de que o Governo Federal deveria adotar as escolas cujos prefeitos não têm condições de fazê-las boas, porque senão não há escola.

    Então, estou longe de ser crítico ao Bolsa Família; sou favorável ao Bolsa Família. É difícil dizer isso, mas foi na Universidade de Brasília que eu formulei o conceito de pagar às famílias pobres se estudassem. E nem era chamado de Bolsa Escola. No livro que escrevi sugerindo isso, de 1986, publicado depois mesmo em 1994, eu chamo de Renda Mínima vinculada à educação. Bolsa Escola foi na campanha para governador. Mas não foi transformador, o Bolsa Família foi um elemento que se ampliou. Isso foi uma grande positividade - veja que não chamei mais de generosidade, positividade -, mas não foi transformador.

    Eu volto a insistir nas cotas. As cotas transformam, sim, uma coisa: a quebra do preconceito racial na medida em que vamos ter médicos negros, engenheiros negros...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - A cor da universidade hoje é outra.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Mudou a cor da cara da elite brasileira, está mudando. Isso é um detalhe, agora, a grande transformação é não precisar de cotas. A grande transformação é não precisar de bolsa. Aí se pode até chamar de revolução.

    Ontem estive na cidade de Planaltina, em encontros que faço, e eu estava discutindo que a gente sempre fala sobre o que o Brasil não tem, quando se compara a outros países. A gente se esquece de comparar o que o Brasil tem e que não deveria ter. Eu até citei o quebra-mola, que é uma coisa que não deveria existir num país em que todo mundo respeita as leis de trânsito. Eu fiz uma lista. Porém eu digo que se precisa de quebra- mola. Eu defendo quebra-mola...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Na minha avaliação, Senador, quebra-mola revela uma coisa nítida: falta de educação, de conscientização do cidadão, porque senão não precisaria. Aquela faixa de pedestre que o senhor instituiu aqui no governo do PT deveria bastar, não precisava de quebra-mola. A placa de 40km deveria bastar, não precisava de barreira.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Nós temos uma porção de coisas que são necessárias, mas que a gente precisa trabalhar para não precisar delas, como cotas, como bolsas. Temos que trabalhar para não precisar delas.

    E eu esperava a gente fazer esse gesto, um gesto transformador que fizesse com que isso não fosse necessário. No lugar, o que a gente fez, felizmente, foi aumentar o número dos que recebem. É como se, consciente de que ninguém respeita as regras no trânsito, a gente começasse a aumentar quebra-molas. Eu gostaria de ver mais transformação.

    Mas vamos voltar: insegurança.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu gostaria, com um governo pelo qual eu lutei para existir, em 13 anos, já houvesse cidades mais pacíficas. Nossas cidades não estão hoje mais pacíficas do que antigamente.

    Elogiei o Mais Médicos, mas se vamos falar com franqueza: a saúde hoje está melhor? Porque deixamos mosquitos, não fizemos o dever de casa como deveríamos no saneamento.

    As contas públicas hoje não estão melhores. Era preciso que, nesses 13 anos, nós tivéssemos construído uma sociedade com governo com estabilidade financeira.

    O caos urbano diminuiu? Não diminuiu. Hoje nós temos "monstrópoles" espalhadas por todo canto. Em 13 anos, dava para a gente ter tido, inclusive, uma política de desmigração. Aliás, o Bolsa Família ajuda um pouco: tem gente indo do sul para o norte. Mas podia ser numa dimensão maior para as cidades de porte médio. Uma liderança pode conseguir isso, beneficiando primeiro as cidades de porte médio, não as grandes.

    Aqui vem um, Senador, para o qual eu gostaria de ver sua opinião, eu gostaria de ter um debate: aumentou ou diminuiu a consciência política da população brasileira? Eu acho que diminuiu. Eu acho que a consciência política diminuiu pelo fracasso dos partidos e dos políticos.

    E aí eu vou dizer: o Partido - o Partido - era o nosso PT. E hoje nós temos um partido igual aos outros, em algumas coisas até pior, em outras melhor. Nós não aumentamos a consciência; nós aumentamos a polarização, quase como se fossem seitas.

    Um dia desses aqui, um Senador disse: "Eu posso usar isso?" Eu digo que hoje está difícil convencer as pessoas na política, Senador Garibaldi, porque a gente tem de convertê-las. Hoje nós estamos deixando de ser políticos que convencem e temos que ser padres que convertem. Isso é um fracasso, porque a religião é uma coisa, a política é outra. Nós não apenas judicializamos a política, nós "religiosizamos" a política como o que se chama de Fla-Flu.

    Eu temo que - e o Sarney que me chamou atenção em uma visita que fiz a ele. Ele disse: "Não temo essa crise, temo a crise daqui a 15, 20 anos". Ele até disse: "Eu já não vou estar aqui" - a gente desagregue socialmente o Brasil. Nós não construímos instrumentos de agregação. Nossa Constituição mesmo, a meu ver, é corporativa, é desagregadora.

    Os partidos não estão agregando, a juventude não tem utopias pelas quais lutar. Nós hoje somos uma sociedade menos agregada, apesar de que não temos fome, o que é uma coisa maravilhosa. Dependendo da inflação, voltará a fome também.

    Então, acho que nós tivemos grandes retrocessos e alguns pequenos avanços.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Quero dialogar com o senhor sobre a questão dos partidos, a questão da política. Eu fico perguntando: "Mas o que mesmo que a Presidenta Dilma fez de tão errado para ter a popularidade tão baixa, aos níveis que o Presidente Fernando Henrique teve em determinado momento?"

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Depois vou lhe responder isso.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Ela fez algumas coisas da responsabilidade dela, que também levam a isso. Mas o principal não é isso, Senador Cristovam. O principal é que, na tentativa de desconstruir um modelo de governança, na tentativa de desconstruir um partido, que também ajudou em alguns aspectos, desconstruiu-se a política. Essa desconstrução da política faz com que o povo brasileiro não se sinta mais representado por nós, lideranças, governantes. O desgaste da Presidente é concentrado nela, como é concentrado no Congresso. O desgaste que tem a Presidente é um desgaste parecido com o que tem o Congresso, porque, na voracidade de combater um partido, um governo, os principais meios de comunicação desconstituíram a política.

    Agora, esse modelo de política representativa não está só em desgaste no Brasil; ele está em desgaste no mundo. Do meu ponto de vista, até penso que o povo brasileiro vai revelar para nós, em curto espaço de tempo, que avançou na consciência política. Agora, nós não temos ajudado.

    Essa reforma eleitoral que nós fizemos aqui no Senado, no Congresso, para encurtar o tempo da eleição, o tempo de TV e mudar o conteúdo para o debate, para o que é publicidade, isso não ajuda. Isso favorece a manutenção do status quo atual, em que aqueles que são mais conhecidos vão ser votados e os que não são conhecidos não terão nenhuma oportunidade de ficar conhecidos, porque eu estou tirando o instrumento que poderia ajudá-los. Dez dias de programa de televisão, Senador Cristovam, numa eleição, fazem uma diferença muito grande. Trinta dias a mais de campanha, do meu ponto de vista, fazem uma diferença muito grande.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Fora do microfone.) - Total.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Quando nós fizemos essa redução de tempo de TV e de tempo da eleição, nós estamos favorecendo quem? Em tese, nós que estamos aqui...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Exatamente.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - ... que aparecemos nos jornais, na TV, que viajamos às custas da sociedade, trabalhando, obviamente. Então, isso favorece quem está aqui.

    Em junho de 2013, quando a Presidente propôs um plebiscito para que o eleitorado decidisse sobre a convocação de um processo constituinte exclusivo, se o Congresso tivesse avançado... Eu estou isso porque a sociedade quer.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Quer.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - A sociedade quer.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - E o País precisa.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - E o País precisa. A sociedade quer isso. Então, isso revela para mim que a sociedade avançou no que diz respeito à consciência política.

    Mas o senhor colocou aspectos fundamentais. Por exemplo, a questão da religião na política. A política, na religião, é essa que a CNBB e o Conic estão fazendo, ou seja, discutindo os temas de interesse da sociedade. Mas não é vir para o Parlamento disputar credo, isso está errado, do meu ponto de vista. Posso estar enganado, mas vir para a política, para o Parlamento, para os espaços de governança disputar os credos religiosos, do meu ponto de vista, é errado. Fazer o debate sobre o saneamento, pressionar os governos para aplicarem as políticas públicas, eu acho que está certo.

    Penso que nós estamos vivendo um momento - aí é que eu disse que o povo é sábio - em que, em curto espaço de tempo, se nós tivermos a sabedoria de dar a resposta que o povo quer, o povo vai nos dizer que cresceu a consciência política.

    Obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu acho que não cresceu a consciência; o que cresceu foi a indignação. A consciência cresceria se essa indignação estivesse caminhando para algum lado, mas não está: a oposição não está ganhando com a indignação, porque não representa o outro lado.

    Creio que em vez de discurso e convencimento, nós estamos fazendo rezas e blasfêmias. A gente reza para o nosso partido - só para concluir. O PT hoje reza para o PT. O PSDB reza para o seu Líder do PSDB. O PT blasfema contra o PSDB, e o PSDB blasfema. Não há convencimento, abertura de espíritos para você chegar e dizer: "Esse cara talvez tenha razão". E o outro dizer também: "Esse cara talvez tenha razão".

    E, sobretudo, talvez eu esteja errado! Em religião, a gente não fala isso; em religião, a gente peca, mas não diz "Será que esse mandamento está errado?" Ninguém vai dizer que um dos Dez Mandamentos está errado. Em política, os mandamentos, que o senhor chamou de credo, podem estar errados, até porque o mundo muda. Na verdade, os credos, praticamente todos, da política, hoje estão errados, porque estão baseados no passado ou na raiva do outro. Nisso não avançamos. Avançamos em indignação.

    Creio porque o Governo Lula...

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Para responder junto...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Sim. Diga.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - O PT e o PSDB aqui são minoria absoluta, se juntarmos os dois partidos, não chega, acho, a 30% do Congresso...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É uma ilusão sua. Eu chamo de PT todos que estão no Governo e chamo de PSDB todos que estão na oposição. Eles funcionam como blocos que atraem. Então, na verdade, estamos divididos nessa religião, hoje. Por isso, tenho chamado aqui de Fla-Flu, porque não merece nem o nome de partido. São times de futebol, Senador Garibaldi, para não falar em religião.

    Por que isso? Porque o partido mais bem estruturado, salvo os bem pequenininhos, os radicais de esquerda - e, às vezes, eu até acho que os democratas até tinham uma certa identidade, mas já tenho minhas dúvidas - era o PT, mas o PT levou ao paroxismo, ao excesso, ao exagero, por exemplo, o uso do marketing, que é uma invenção da direita. O PT radicalizou de maneira terrível. Esse Santana está preso porque tem conta no exterior. Ele deveria estar preso pelas mentiras que construiu na campanha. Até disse aqui, o Al Capone foi preso porque não pagou imposto, não porque matava gente. O Santana está preso porque tem conta no exterior, não porque formulou mentiras. Claro, a candidata Dilma tem culpa disso, mas ele fez isso. É um paroxismo.

    Acho que a grande tragédia hoje é que sempre tivemos um partido de reserva. Quando nenhum partido estava no banco de reserva do poder, os militares estavam aí. Hoje, nem temos os militares, felizmente, e já não temos mais nenhum partido que de fato tenha condições de ganhar uma eleição no banco de reservas. Era o PT. E o PT entrou em campo e terminou, a meu ver, desconstruindo. A Dilma quebrou a esperança quando prometeu coisas que sabia que não ia fazer. Eu disse aqui que choquei todos os meus amigos quando, no segundo turno, votei em Aécio. Choquei! Porque, religiosamente, eu teria que voltar na Dilma, mas, racionalmente, era melhor ir para a oposição, ao Aécio, do que estar na situação com a Dilma, sendo uma pessoa de esquerda. 

    Ele ia chegar com a lua de mel de começar o Governo ali. A Dilma estava num casamento cansado de 12 anos. Ele ia dizer que a culpa das coisas era da Dilma. A Dilma não poderia dizer "a culpa é minha" - embora eu tenha recomendado que ela viesse reconhecer os erros.

    Terceiro, é na oposição que a gente constrói utopias. Era preciso pegar partidos como o PDT, PCdoB, PT, tirar dos leitos dos palácios e colocá-los de volta aqui, para disputar.

    Acho que, se a Dilma sai do Governo sob forma de impeachment...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... o grande beneficiado vai ser o PT, o grande beneficiado vai ser o Lula na oposição, podendo criticar, esbravejar, lembrar o salário mínimo de US$300,00 no tempo dele.

    Pois bem, eu acho que houve uma desconstrução da consciência. Este foi um dos itens, a meu ver, que estes 13 anos não conseguiram trazer. Lembro que - sou velho, não é? - a gente falava tanto em conscientização, graças a Paulo Freire, mas não fizemos a conscientização do povo brasileiro. E aí aproveito para dizer: nem erradicar o analfabetismo, como eu queria como Ministro, não conseguimos. Reduzimos pouquíssimo o número absoluto, e quase nada na percentagem.

    Por tudo isso... E aí eu concluo e agradeço-lhe muito por este debate; seria bom que a gente fizesse isso com umas dez pessoas em torno de uma mesa, dizendo...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Senador Cristovam Buarque.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador Garibaldi, eu ia concluir. Então...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Não...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não, não: passo para o senhor.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Eu quero apenas fazer um... Primeiro, quero lamentar, como V. Exª acaba de fazer, pois este debate merece, claro, um envolvimento maior dos Senadores e que tivéssemos aqui Senadores do Governo e da oposição, mas sem o radicalismo que ultimamente se está verificando aqui nos debates, uma coisa até lamentável, porque os debates, se não me engano da última quarta-feira, ou terça-feira mesmo, ganharam até um tom pessoal. Mas V. Exª hoje, na companhia do Senador Donizeti, está proporcionando a quem está nos assistindo um debate muito verdadeiro a respeito da situação política do País. Eu até confesso a minha falta, porque cheguei atrasado para isso; mas gostaria de... Claro, o senhor, sempre que ocupa a tribuna, nos dá uma aula. O senhor não deixa de ser o professor que sempre foi e que sempre será. E eu só lamento, só estou fazendo este aparte para lamentar que esse debate não possa ser impulsionado, ter o seu lugar nas sessões em que nós temos, claro, o comparecimento de um maior número de Senadores. E eu creio que o Parlamento só teria a ganhar, e acredito que o País também. Nós estamos, infelizmente, vivendo de lamentos, mas não há como não lamentar nesta hora um debate com uma proposta dessa...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - ... como V. Exª nos propõe hoje. Muito obrigado, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado.

    Eu estava dizendo que vou encerrar, mas antes disso eu me lembrei de uma coisa em relação a essa ideia da conscientização.

    Um ex-ministro do Presidente Lula, cujo nome não vou dizer, porque ele não me autorizou a falar isto aqui, um dia desses falou, num encontro com poucas pessoas amigas - sou amigo dele -, que o maior desconstrutor da consciência política no Brasil foi aquela foto do Presidente Lula com Maluf, na mansão do Maluf. Vejam bem, aquele encontro poderia ser, seria a construção de um novo tempo, se ele tivesse ido ali, Senador Donizeti, para pedir ao Deputado Maluf: "Apoie a federalização da educação. Apoie o salário mínimo crescer acima da inflação. Apoie a gente dar licença a todo trabalhador para que ele estude, e não apenas para que ele tenha férias. Férias uma vez por ano e mais uma licença de formação." Por um programa! Não foi. Foi puramente para viabilizar a eleição de um candidato - aliás, que eu digo muito bom, que é o Fernando Haddad; é um candidato que não vou dizer para a próxima eleição, porque aí eu estaria me comprometendo, mas é uma figura respeitável. Então, naquele momento, eu acho que talvez ele estivesse certo, mas não poderia fazer uma desconstrução de consciência por aquela aliança, naquele lugar, apenas por razões eleitorais.

    Senador Garibaldi, eu até gosto de radicalismo; eu não gosto é de sectarismo. O que a gente viu naquele dia foi sectarismo, não foi apenas radicalismo.

    Mas, como eu dizia que estava concluindo, eu concluo, dizendo o seguinte, Senador: nós estamos concentrados no debate da corrupção durante o Governo Lula. Eu quero é trazer para aqui o debate da avaliação do Governo Lula.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Mas não por suas coisas apenas negativas ou positivas, circunstanciais. A corrupção é uma circunstância. Fez naquele momento. Pode parar de fazer. A ampliação do Bolsa Família é circunstância. Fez ali. Eu falo, sim, da avaliação do poder transformador, das consequências transformadoras da sociedade brasileira na política, na sociedade, na economia durante os 13 anos do Governo do PT.

    E aí a minha avaliação não é muito positiva. Não houve a transformação de que o Brasil tanto precisa. Houve alguns avanços. Houve algumas generosidades que eu admiro, respeito e gosto que tenham acontecido. E felizmente aconteceram. Mas transformação, dizer "hoje é um outro Brasil" não dá para dizer depois de 13% de um século inteiro, de 12% da República inteira.

    Estão nos devendo isso ainda as forças...

(Interrupção do som.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Com isso, eu termino lhe agradecendo muito. Este não foi um discurso. Este foi um dueto.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Donizeti Nogueira. Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Obrigado, Senador Cristovam.

    Para mim, é motivo de muita honra estar sentado aqui e poder dialogar com o senhor, com a consciência e com a compreensão que o senhor tem. Nós dois temos debatido muito, sobretudo na Comissão de Educação. Eu escolhi a Comissão de Educação como uma das prioritárias para mim. Eu também tinha de discutir a agricultura, em função da reforma agrária, da agricultura familiar.

    Mas é muito sadio. E a minha admiração e o meu respeito pelo senhor é sempre grande.

    Estive aqui trabalhando na Câmara Legislativa do Distrito Federal durante o seu Governo. Trabalhava lá na Liderança com o Miquéias e, depois, com o Pedro Celso. Uma coisa boa do seu Governo com que eu vibrava eram aquelas reuniões que o senhor fazia com a militância. E eu lembro-me daquele companheiro nosso, um baixinho lá de São Sebastião. Você estava sentado aqui, ele chegou e botou o braço: "Cristovam, você está errado nisso, nisso, nisso". E, depois, o Senador Cristovam, com toda a paciência, Governador à época, respondia a todos. Dava cada cacetada no pessoal do MR-8 e em outros...

    Mas uma coisa me marcou. Lá no Cruzeiro, o senhor perguntou para alguém: "O que é o socialismo para você"? Ele falou: "Socialismo, para mim, é o dia em que todo mundo tiver carro". O senhor disse a ele: "Não. Não é. É o dia em que existir transporte público de qualidade, porque o carro ocupa uma garagem em que pode haver até uma família morando".

    Então, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu devia terminar, mas, primeiro, a gente chama esse baixinho de glóbulo vermelho, de tão firme que ele é, petista. Na semana passada, veio me visitar. A gente conversa. E essas rodas eu continuo fazendo. Ainda ontem, fiz uma em Planaltina. E me alegrou muito.

    Mas concluo, dizendo o seguinte, Senadora Vanessa: há diferença entre transformar e melhorar. Ao nomear a Senadora Kátia Abreu para Ministra, eu não acho que a Presidente Dilma fez qualquer transformação social no Brasil, mas melhorou o Senado, trazendo o senhor para aqui. (Risos.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2016 - Página 22