Discurso durante a 29ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca das manifestações populares ocorridas ontem em diversas cidades do País.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Reflexões acerca das manifestações populares ocorridas ontem em diversas cidades do País.
Aparteantes
Ataídes Oliveira, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2016 - Página 6
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, MOVIMENTO SOCIAL, LOCAL, DIVERSIDADE, CIDADE, PAIS, MOTIVO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, REPUDIO, ALEGAÇÕES, AUTORIA, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, OCORRENCIA, GOLPE DE ESTADO, CRITICA, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL, EMPRESA PRIVADA, ENFASE, LOCALIDADE, RIO GRANDE DO SUL (RS), ANALISE, POSSIBILIDADE, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela Rádio e pela TV Senado, pelas redes sociais e também aqui na Casa, no Senado Federal, ontem nós tivemos no Brasil a maior manifestação, segundo o Instituto Datafolha, desde as Diretas Já. Aliás, o instituto diz que foi até maior do que a manifestação das Diretas Já. Segundo eles contabilizaram, houve em torno de 500 mil pessoas só na Avenida Paulista, e, em todas as capitais deste País, as pessoas foram para as ruas para se manifestar.

    E a indagação que vem... Eu sei que as pessoas nos partidos estão tentando entender esse fenômeno, e todos os partidos, desde aquela manifestação de junho de 2013, já não conseguiam saber o que estava acontecendo. Foram pegos meio de surpresa, os acontecimentos foram sendo atropelados, e esta Casa e também a Casa coirmã foram pegas de surpresa. O certo é que alguns projetos que estavam indo por certo rumo, de repente, tomaram outro, atropelados pelas ruas. Essa foi a história.

    De lá para cá, houve outras manifestações, e o que se sente é que o Governo passou a tratá-las como se fossem manifestações estimuladas por partidos de oposição. Tanto que apelidaram os manifestantes de "coxinhas", meio que desdenhando, ora chamando esses manifestantes de reacionários, ora tratando com desdém essas pessoas.

    Desta vez, não. Conversava agora há pouco com a Senadora Ana Amélia, dizendo que achei sensata a posição do Governo de respeitar e falar respeitosamente das manifestações, porque, definitivamente, está muito claro, a não ser que não se queira ver, que essa foi uma manifestação do povo brasileiro, da Nação brasileira, que foi às ruas demonstrar seu descontentamento - e eu dizia, já na outra, que não era o descontentamento com um, mas com todos, com toda a classe política.

    Essa foi uma manifestação em que as pessoas foram à rua protestar, por exemplo, contra o PIB brasileiro de -3,8%. Protestar pelo fato de nós sermos o único país dos BRICS que estamos nessa posição. Até a Rússia, que está em tremenda dificuldade, teve uma queda só de 1%. Mas a Índia cresceu 7,5%, a China, 6,3%, e nós estamos aqui.

    As pessoas, na verdade, foram às ruas para protestar, por exemplo, contra o fechamento de 100 mil lojas no Brasil e com o desemprego, com o fechamento de mais de 400 mil vagas nesse setor.

    As pessoas foram protestar, por exemplo, contra o fechamento de mais de 70 empresas do setor sucroalcooleiro, mais de 70 usinas.

    Foram protestar contra os mais de 400 mil imóveis fechados só em São Paulo.

    Foram protestar contra as mais de mil agências de automóveis fechadas.

    Foi contra isso que as pessoas foram protestar.

    Agora, não há que se dizer... Eu vi várias pessoas, em que pese a nota do Governo, ligadas ao Partido dos Trabalhadores, dizendo que essa manifestação é uma manifestação golpista. E lamento muito que o novo Líder do Governo aqui no Senado, ontem, no exterior, deu uma declaração numa entrevista dizendo que há um golpe em curso e que era uma manifestação golpista. Não é verdade! Não há golpe. A população não está querendo dar golpe. A população está querendo menos corrupção, um rumo para a economia.

    Nós víamos nas faixas de ontem os mais variados tons de protestos, e dava para tirar dali o que as pessoas estão querendo. Elas estão querendo que o Brasil tome um rumo. Nós sentimos que não tem golpe, em que pese existirem alguns, pelo meio das manifestações, pedindo até a volta da ditadura. No meio de 7 milhões de pessoas que foram para as ruas protestar, há todo tipo de manifestação, mas o que se via ontem era uma manifestação linda, uma coisa de encher os olhos de qualquer democrata, a democracia em ebulição, o povo nas ruas, ordeiro, sem nenhum incidente, uma coisa realmente de deixar qualquer brasileiro muito feliz com o comportamento do seu povo.

    Agora, o que se pergunta é: por que este Governo conseguiu entrar para a história como o governo que conseguiu a maior manifestação? Nunca, na história do Brasil, um governo tinha conseguido uma unanimidade dessas. Essa é uma pergunta que tem que ser feita. Esta, com certeza, tem que ser a reflexão que o Governo tem de fazer: por que se chegou a isso? O Partido dos Trabalhadores tem que fazer esta reflexão: por que se chegou a esse ponto?

    E não tem mais como dizer que é o PSDB, ou qualquer outro partido, ou o PPS, ou a oposição que insuflaram essas pessoas a irem para a rua. É verdade, até as convidamos. A oposição convidou as pessoas para irem para a rua, mas quem se meteu a subir em palanque não teve boa acolhida pelas pessoas, porque elas foram para a rua para fazer valer a sua vontade. Ali só cabia povo. Até mesmo pessoas de boa representatividade, pessoas que têm uma grande imagem no País, quando foram falar em um dos palanques, foram vaiadas. É o povo na sua essência nas ruas.

    E o Governo do PT conseguiu entrar para a História como aquele que conseguiu juntar a Nação brasileira contra si mesmo.

    Não dá para dizer, como vi um dos Líderes do Partido dos Trabalhadores, que aquela foi uma manifestação dos derrotados. Não! Pode até ter sido, mas não dos derrotados da eleição passada; foi uma manifestação dos derrotados e dos que estão sendo derrotados por essa economia que está arrebentando com o povo brasileiro. Não vi nenhum revanchismo político ali. As pessoas não estavam protestando, não estavam gritando "Aécio", "Marina" ou qualquer outro nome; as pessoas estavam querendo mudança, estavam com aquele sentimento de pedir por mudança.

    Agora, por que as pessoas foram às ruas? Essa é a grande pergunta. Eu tenho dito aqui: elas foram às ruas por causa da expectativa frustrada, por causa do produto que compraram e não receberam; e esse produto foi muito bem vendido; foi vendido pelos dois melhores marqueteiros deste País: primeiro, pelo Duda Mendonça; segundo, pelo João Santana. Eles pintaram uma realidade. E se há algo que o Presidente Lula sabe fazer é vender o seu produto. Mesmo agora, em dificuldade, ele consegue, com a sua retórica, arrastar multidões com o seu discurso. E ele vendeu isto para o Brasil: vendeu o eldorado. As pessoas se acostumaram com aquela ideia de que a coisa ia bem, e, de repente, não foi bem aquilo que aconteceu. Foi vendida a realidade de que se poderia acabar com a corrupção e melhorar a vida da gente.

    Eu tenho dito aqui: eu não tenho vocação para apedrejador. Não tenho vocação para apontar o dedo, mas o que o ex-Presidente Lula fez, durante a vida inteira, foi dividir este País num discurso de "nós" e "eles", do pobre contra o rico, do negro contra o branco, do pobre contra as elites. E as pessoas acreditavam que ele tinha uma péssima relação com as elites mesmo, mas não era verdade! Não era verdade! Em público, ele, o PT sempre enxotou as elites, mas ficou comprovado que, no privado, chamou-as para a alcova. Essa foi a grande realidade.

    E aqui faço justiça a alguns petistas. Não é por estar na frente dele, mas eis aqui, na Presidência da Casa neste momento, um petista que nunca saiu do programa do PT. Mesmo agora, no ajuste fiscal, quando o Governo precisava aprovar algumas emendas, o Senador Paulo Paim subiu naquela tribuna ali e disse: "Eu não posso ir contra a minha história. Eu não vou contra o que eu sempre preguei." Manteve a coerência. E não tenho dúvida de que, se ele passasse em qualquer manifestação daquela de domingo, não seria vaiado. Aliás, seria até muito bem recebido. Sabem por quê? Por causa do respeito, por causa da coerência. Respeito que ele tem, inclusive, pelos adversários. Ele faz o bom debate aqui, sem desrespeitar ninguém.

    Agora, eu tenho que pontuar isto aqui, porque todas essas mazelas têm sido... Eu não sei quem planeja isso lá no Planalto, mas acontece uma coisa aqui e tentam jogar para cima da oposição. Essa oposição é tão pequena que ela, além da tribuna, não tem muito o que fazer. Se ela pudesse arrastar aquelas multidões que foram para as ruas no domingo e mais os que estão mobilizados na internet, com certeza estaria no poder há muito tempo, porque o poder de levar essa força espontânea que foi para as ruas nenhum partido no Brasil tem, até porque os partidos estão todos enfraquecidos.

    Então, é uma reflexão para o Partido dos Trabalhadores e para o Governo fazerem: será que, ao marcar, por exemplo, uma manifestação de apoio, uma manifestação de desagravo, não está acirrando mais ainda o povo? Porque aquilo ali não são "coxinhas", aquilo ali não é PSDB, aquilo ali não é oposição. Aquilo é o povo brasileiro! Então, não seria, talvez, o fato de o Governo, em vez de contrapor, dobrar-se, chamar e dizer: "Onde estou errando?" Será que não é o fato de engrossar o coro também com essa multidão?

    Faz-me lembrar de uma passagem bíblica. Certa vez, havia os discípulos e mais não sei quem, em uma manifestação, e falaram para um dos romanos que comandava o povo de Israel na época: "Há umas pessoas protestando aí, dizendo que são representantes do Deus vivo." Aí o comandante romano disse: "Faça o seguinte: se eles estão dizendo que estão em nome de Deus, não mexa com eles, porque, se não forem representantes de Deus, isso aí vai se acabar rapidinho; e, se for, nós vamos brigar contra Deus?"

    Então, talvez seja a reflexão para o PT fazer: se isso for uma coisa de coxinha, se isso aí for um bando de reacionários, isso vai acabar logo. Mas e se for o povo? E se for o Brasil? E se não for só essa gentalha que está pensando que é?

    Essa é a grande reflexão que se deve fazer, porque, na verdade, essas pessoas estavam ali dando recados: "Eu não sou situação nem oposição; eu sou contra a corrupção". Eu vi em uma placa: "Não sou oposição nem situação; eu sou contra a corrupção". Eles estavam passando recados os mais variados. Uns contra a corrupção, mas todos num grande sentido, e talvez no mesmo rumo que o Governo quer e que nós todos queremos. Todas aquelas pessoas estavam lutando ali por um Brasil melhor, pessoas com seus filhos, pessoas empurrando cadeira de rodas foram para as ruas espontaneamente.

    Partido nenhum - repito - tem aquela força. Eram pessoas nas estações de metrô, nos ônibus, à pé, de bicicleta. Parecia o hino do Grêmio, Senadora Ana Amélia: até à pé nós iremos. Essa foi a característica da manifestação, algo maravilhoso de se ver.

    Pelo menos desta vez eu senti que o Governo mandou uma nota respeitosa. Mas sabemos que é uma nota gestada por marqueteiros, uma nota de quem se assusta com a manifestação, uma nota de quem se assusta, mas de quem não se convence. Essa é a grande preocupação, porque, mesmo diante disso, parece que há uma venda nos olhos do Governo.

    Eu não tenho dúvida de que todos os discursos hoje serão no sentido de justificar isso ou aquilo, de dizer que fulano ou beltrano foi vaiado. Mas a saída não é essa. A saída não é essa. A saída é buscarmos um grande entendimento. E eu não sei se isso é mais possível com a Presidente Dilma. Eu não sei se é. Penso que já temos que pensar num governo de coalizão, numa outra saída, porque nós já tivemos n oportunidades. As pessoas já deram n oportunidades.

    Da última vez, os números foram menores, e vieram comemorar aqui que perderam só de seis a um. Houve n oportunidades para mudar de rumo. Mas não, continuam na mesma direção e com os mesmos argumentos. E não adianta negar o óbvio, porque o que nós temos aqui é uma grande quebra de confiança.

    Ontem ouvi alguém dizendo: "Olha, mas o partido do fulano também roubou". E aí vinham os cartazes: "Eu não tenho bandidos de estimação". São recados duros, como se dissessem: "Olha, para mim, tudo bem, vocês podem prender quem for; eu não tenho bandidos de estimação; eu quero é um outro Brasil".

    O recado das ruas, ontem, foi duro. Ninguém capitalizou com a manifestação. Agora, todos têm que prestar atenção no recado. Todos têm que prestar atenção ao que eles estavam dizendo. Quando vejo que os heróis brasileiros passam a ser a Polícia Federal, os juízes e os promotores, é sinal vermelho e sonoro, para toda a classe política. É preocupante o recado que veio das ruas ontem. Preocupo-me se esta Casa e a Casa coirmã não entenderem esse recado.

    Penso que chegou a hora de o ex-Presidente, que é uma liderança grande ainda neste País, sair do confronto e começar a ouvir a voz rouca das ruas.

    Ontem, diversas fazendas, no Rio Grande do Sul, foram invadidas. No meu Estado, uma grande empresa, na semana passada, foi invadida e houve quebradeira. Uma empresa de televisão, em Goiás, foi invadida. E, pasmem! A Presidente Dilma foi para os meios de comunicação dizer que era um absurdo ter sido pichada a sede da ONU. Precisamos separar, urgentemente, governo de partido, porque as ações da Presidente não podem ser, em que pese o emocional estar presente, neste momento, as de usar os instrumentos do Estado para tentar salvar o Partido dos Trabalhadores. É preciso separar! 

    Chegamos a sugerir aqui que a Dilma fosse o Itamar dela mesma, que fizesse uma coalizão aqui e deixasse o PT para lá, que deixasse o PT resolver seus problemas e fizesse aqui uma grande coalizão. Não, não teve conversa. E não há. Sentimos que não há essa vontade de começar.

    Então, temo dizer que chegou ao fim. É como se fosse nos jogos de computador: game over. Findou-se! Acabou! Precisamos, neste momento, construir uma saída e pensar. É o Temer que vai assumir? Que seja o Temer, mas precisamos começar diferente, começar de outra forma que não seja a dualidade: brasileiros contra brasileiros.

    Cedo a palavra à Senadora Vanessa Grazziotin.

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada. Penso, Senador Medeiros, que democracia é isto: dentro de um clima amistoso e respeitoso, principalmente, debatermos ideias e opiniões diferenciadas. Entretanto, acho que agora estamos diante de um fato que vai muito além das ideias. Estou aqui prestando muita atenção ao pronunciamento de V. Exª e me preparando para falar, na sequência, sobre o mesmo assunto. E me preparando por quê? Porque concordo com V. Exª quando diz que o momento é delicado. Então, as palavras, mais do que nunca, têm que ser medidas, e muito bem medidas. Mas vejo V. Exª, da tribuna, repetir o que nós ouvimos o dia inteiro ontem pelos meios de comunicação, que foi um verdadeiro Big Brother ao vivo. Ou seja, ouvi muito ontem e estou ouvindo V. Exª dizer hoje que a Presidente não teve capacidade de dirigir o País, não foi capaz de unir a Nação, não está sendo capaz de enfrentar a crise econômica e que, portanto, tem que sair. Quem fica em seu lugar? O Vice-Presidente? Teremos um parlamentarismo? Mas não ouvi - e olhe que prestei atenção, Senador -, em momento nenhum, V. Exª apontar as verdadeiras razões, se é que elas existem, e tanto não existem que não estão apontadas em lugar nenhum, capazes de tirar uma Presidente eleita democrática e livremente pela população brasileira. Antes de qualquer coisa, Senador, temos uma Constituição a zelar, um Estado de direito que temos de prezar. Falar que um Presidente tem que sair porque está sendo incapaz, na minha opinião, nada mais é do que expressar uma tendência a golpe. V. Exª poderia usar uma parte do seu pronunciamento para citar os crimes cometidos pela Presidente Dilma. As representações tiveram o primeiro aditivo, o segundo aditivo, a terceira mudança, a quarta mudança, Senador Paim, todas as representações que tramitam na Câmara, e, afinal de contas, as questões apontadas, se fossem aplicadas, atingiriam os governadores de todos os Estados brasileiros, uma prova cabal de que não há razão jurídica legal para afastar a Presidente. Então, Senador, quero dizer que me preocupa muito, mas me preocupa muito alguns, mesmo sabendo que estão descumprindo a Lei Maior do País, já apontarem a saída. Na última vez que isso aconteceu no País, passamos 21 anos sob ditadura militar. Concordo com V. Exª, nós precisamos dialogar e encontrar juntos a saída, mas, em momento nenhum, vejo que a saída passa pelo rompimento com o Estado democrático de direito. Preocupa-me o fato de que isso parece que vem crescendo muito, não no seio da população, mas em alguns meios importantes deste País. Obrigada, Senador Medeiros.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Eu que agradeço o aparte, Senadora Vanessa Grazziotin.

    Na verdade, todo impeachment, em todo lugar, precisa de um tripé: base legal, apoio político e apoio das ruas. O da Presidente Dilma já está até sobejando, porque, no Brasil, digo que precisamos de quatro: da base legal, do apoio político, das ruas e da Globo. A Presidente Dilma já conseguiu isso também.

    Com relação à base legal para o impeachment - é óbvio que V. Exª tem toda razão em defender, porque é da Base e tem sido um dos baluartes na defesa da Presidente nesta tribuna, não era de se esperar outra defesa -, temos que ter o seguinte entendimento: ou fechamos o Tribunal de Contas da União ou temos que começar a prestar atenção nas suas decisões.

    Por unanimidade, o Tribunal de Contas da União chegou à conclusão de que houve crime de responsabilidade. E não dá para dizer que essa decisão foi derrotada em três folhas no relatório do Senador Acir Gurgacz.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - V. Exª sabe que não costumo pedir vários apartes na sequência, mas V. Exª sabia que, quando a Comissão Mista de Orçamento foi debater o assunto, lá estavam o Advogado-Geral da União e o Relator da matéria, Ministro do Tribunal de Contas, que se retirou, não ficou para o debate? O Tribunal de Contas é um órgão de assessoramento do Parlamento brasileiro, que é quem efetivamente julga. Pois então, nobre Senador, a Presidente da Comissão é a Senadora Rose de Freitas, que abriu a sessão com a presença dos dois para apresentar a sua defesa.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu estava lá, Senadora Vanessa. Fez um discurso político e se retirou,...

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Pois então. E se retirou.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... deixando o assessor para debater com os Parlamentares, o que foi um desrespeito imenso.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Peço desculpas e acho que a Senadora pode seguir.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Também peço desculpas, mas é que a discussão aqui...

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Quem vota não são eles, somos nós, Senador.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Exatamente.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Com a palavra o Senador Lindbergh, esse quase potiguar, que muito me honra com o aparte.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Muito obrigado, Senador Medeiros. Primeiro, nós temos que entender de forma mais ampla o que aconteceu no dia de ontem. Sem dúvida, foram grandes manifestações. Agora, eu acho, Senador Medeiros, que ficou claro ali o repúdio ao sistema político como um todo. Nós sabemos que houve um ataque a nós, ao Governo da Presidenta Dilma, mas como justificar o Senador Aécio Neves e o Governador Geraldo Alckmin serem vaiados nessa manifestação? Nós temos que ir mais a fundo na análise do processo. Quanto à questão jurídica, V. Exª falou da decisão do TCU. V. Exª sabe que a decisão do TCU é sobre 2014, sobre pedaladas em 2014. O que está no pedido do impeachment é 2015. O Tribunal de Contas da União nem examinou ainda. Então, a base é muito frágil. Concretamente, a base do pedido do impeachment não se sustenta. É muito claro o art. 86 da Constituição, que diz o seguinte: "O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções". Na vigência de seu mandato. O Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quando acolheu, disse: "Olha, 2014 não pode entrar". Então, nós estamos tratando de pedaladas de 2015. O TCU nem analisou, o Congresso não analisou, e V. Exªs querem sustentar o afastamento da Presidente com essas bases frágeis. É por isso que dizemos que é golpe, porque tem que ser respeitada a nossa Constituição. Infelizmente, V. Exªs não estão levando isso à frente. Por fim, há uma contradição. Eu vejo crescer, aqui no Parlamento, o movimento pelo impeachment, mas vejo que é por muita gente que quer justamente abafar as investigações e interromper a Lava Jato. Nós sabemos da relação de proximidade, sim, do Vice-Presidente Michel Temer com o Presidente da Câmara, Deputado Eduardo Cunha. Temer assumir a Presidência é esse grupo assumir a Presidência da República. É esse PMDB. E vale dizer: para mim, o programa Uma Ponte para o Futuro é o programa do golpe - vou falar sobre isso mais tarde -, um programa extremamente antipovo, com retirada de direitos. Eu quero chamar a atenção do povo brasileiro para o que significa a tentativa de afastar a Presidenta Dilma e assumir Michel Temer e o PMDB, com esse programa antipovo.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Cedo um aparte ao Senador Ataídes.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Senador José Medeiros, cheguei aqui para fazer o meu registro e comecei a ouvir V. Exª. Quero parabenizá-lo pelo seu discurso, como sempre muito proativo, com muitas informações. E aqui, agora, percebo um aparte dos Senadores, das Senadoras e do Senador Lindbergh, em que tentam rebater tudo que V. Exª colocou nesta tribuna até então. Senador Medeiros, entendo perfeitamente os Senadores e as Senadoras que ainda estão aqui neste Parlamento a defender a abelha rainha chamada Lula, são verdadeiros zangões. São verdadeiros zangões! Não sei como, Senador Medeiros, alguém ainda tem a coragem e a petulância de falar em golpe; que a oposição está montando um golpe! Golpe é o que esse punhado de ladrão fez com o País! Roubou o País! Destruiu a nossa economia; destruiu a moral do nosso povo; fez com que o nosso povo perdesse a esperança! Isso, sim, é golpe. Isso, sim, é golpe! Seis milhões de brasileiros, ontem, de crianças a senhores e senhoras de 80 anos de idade, com cara pintada, deixaram seus lares e foram às ruas. Será que isso é golpe, Senador Medeiros, Presidente Paim? Será que esses seis milhões de brasileiros que estiveram, ontem, nas ruas foram para dar golpe? Não. Não. Foram pedir, pelo amor de Deus, que alguém faça alguma coisa neste País! Que alguém salve esta Nação! Foi isso que eles foram fazer. E esses seis milhões que foram às ruas ontem foram exatamente para tirar esse bando de ladrões do poder e colocá-lo nas ruas ou na cadeia. Então, alguém ter coragem, como o Senador Lindbergh, que, nessas últimas semanas, tem culpado a oposição, tem instigado a oposição, de vir aqui hoje, e, no seu aparte, referir-se ao Senador Aécio Neves e ao Alckmin... É a única coisa que eles podem pegar. O Senador Lindbergh está desequilibrado...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Eu já disse: ele está desequilibrado; ele está dando os últimos suspiros, porque sabe que, se a abelha rainha for presa...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Desequilibrado é V. Exª.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Desequilibrado.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Desequilibrado é V. Exª.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Se a abelha rainha for presa, ele também vai. Ele também vai! Não sei como ainda não foi. E está aqui batendo de frente com a oposição. Ele, pelo menos, teria de respeitar. Nas duas semanas passadas, Senador Lindbergh, permaneci aqui calado, ouvindo V. Exª falar barbaridades ali na frente - eu estou com a palavra, me permita -, vendo V. Exª falar barbaridades. Eu concordo que V. Exª tem de proteger a abelha rainha. Eu não discordo de V. Exª, mas peço que V. Exª respeite a oposição, respeite as pessoas, principalmente o Senador Aécio, por quem V. Exª tinha muita admiração há poucos dias. O Governador Alckmin, que é um cidadão...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - ... belíssima história. Então, só para encerrar, Senador Medeiros, quero parabenizá-lo mais uma vez e dizer o seguinte: V. Exª não se intimida, sei disso. V. Exª, aqui, nesta Casa, foi um acontecimento extraordinário. Então, vamos ouvir os zangões. Vamos ouvir os zangões, mas não vamos baixar a cabeça, porque nós estamos corretos, nós estamos com a verdade. E a verdade é soberana. A honestidade é soberana e vai vencer. Muito obrigado.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Ataídes, V. Exª é desqualificado demais para eu debater com V. Exª nesses termos aqui. Quero dizer que simplesmente vou ignorar o posicionamento do senhor.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Não ignore, não, venha para o debate. Venha para o debate qualificado.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - V. Exª é fraco, desequilibrado, desqualificado. Não vou polemizar com V. Exª. Vou esperar aqui, para debater com Aloysio e com outros.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Eu sou empresário e acabei de chegar à política.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - V. Exª é um trambiqueiro, isso sim.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Olha, o debate não...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Agora, V. Exª era um cara-pintada, que hoje passou a ser um cara lavada.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Só para avisar, pessoal, o debate paralelo não ajuda.

    Senador Ataídes...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - E eu tenho qualificação. Eu tenho história. Sou um empresário bem-sucedido e dou milhões de empregos, companheiro.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Medeiros com a palavra.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Só para finalizar, Sr. Presidente - e agradeço a sua paciência -, eu falava sobre o TCU e concedi o aparte à Senadora Vanessa Grazziotin.

    Mas, sobre a base legal, Senadora Vanessa, não tenho dúvida de que ela sobeja, porque eu falava do TCU, mas há toda essa parte da Petrobras, que não temos como negar, porque não dá para dizer simplesmente: "Olha, a Presidente Dilma é honesta, por isso seu Governo não cometeu crime". Aí se tem de diferenciar o CPF do CNPJ. São duas coisas distintas.

    O grande beneficiário de tudo o que a Operação Lava Jato está apurando é o Governo da Presidente Dilma e, em tese, em última instância, ela, que é a Presidente da República.

    Então, tudo isso que aconteceu está sobejamente provado, foi para a sua campanha. Está aí o João Santana, que era o seu marqueteiro; tem a delação do Senador Delcídio; já está carreando para os autos a do Marcelo Odebrecht e a de tantos outros. Então, essa base legal, Senadora Vanessa Grazziotin, com certeza, já está sobejando. E não temos como dizer que esse dinheiro todo foi para enriquecer esse ou aquele do Partido dos Trabalhadores. Não tenho dúvida de que o Vaccari fazia aquelas arrecadações não para ele; era para o Partido e para o projeto do Partido.

    Lembro-me quando o Luiz Antonio Pagot estava saindo do DNIT e, mesmo depois, na CPI, deu uma entrevista; ele disse que era procurado pelo Vaccari justamente para ver a relação de empresas que prestavam serviço ao governo para que essas empresas fossem visitadas. Agora, nós estamos sabendo, pois todos esses empreiteiros estão vindo dizer, que, na verdade, era um achaque, uma espécie de extorsão.

    Então, a base legal tem de sobra; a base das ruas e a base política também. Agora falta o quarto tripé, que, no caso do Brasil, é um adendo que sempre tem de ter em mente; precisa ter o apoio da Globo, que agora está tendo também.

    Agora, o que pedimos e esperamos é que este debate possa ser democrático, que seja uma discussão jurídica e política e não uma discussão usando o exército de Stédile, usando essas pessoas que nem sempre têm uma avaliação mais apurada, para fazer quebradeira e causar distúrbio no Brasil. Espero que o PT possa sair - sabemos e o próprio PT, com certeza, sabe que o ciclo terminou - pela porta da frente e não pela parte...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - ...detrás da história deste País.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2016 - Página 6