Discurso durante a 29ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Provocação da classe política pela adoção de medidas, dada a magnitude das manifestações populares recentes.

Autor
Alvaro Dias (PV - Partido Verde/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Provocação da classe política pela adoção de medidas, dada a magnitude das manifestações populares recentes.
Aparteantes
José Medeiros.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2016 - Página 29
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • COBRANÇA, BANCADA, CONGRESSO NACIONAL, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, RESPOSTA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOVIMENTO SOCIAL, POPULAÇÃO, LOCAL, DIVERSIDADE, CIDADE, PAIS, MOTIVO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, DELIBERAÇÃO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Oposição/PV - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois que a população brasileira na histórica manifestação de ontem falou, fica difícil a qualquer um de nós falar, agora, desta tribuna. Mas creio ser necessário, evidentemente com humildade, fazer a leitura correta, se possível, dos acontecimentos de ontem.

    É evidente que só uma causa histórica embalaria multidões às ruas do País. O que se viu ontem é inédito. Segundo a Folha de S.Paulo, a maior manifestação popular da nossa história, superando, inclusive, a mobilização em favor de eleições Diretas Já.

    É evidente que isso deve nos convocar à responsabilidade, afinal manifestação gigantesca como essa não pode ser ignorada por aqueles que representam parcela da população do País.

    O que resulta da manifestação de ontem? A meu ver, no primeiro plano, uma forte pressão sobre o Congresso Nacional para superar o impasse do impeachment da Presidente da República, deliberando sobre ele.

    A maioria esmagadora dos presentes na Avenida Paulista, em pesquisa Datafolha, revelou a sua preferência: 78,4% desejando eleições já, ou seja, preferindo que o Tribunal Superior Eleitoral promova a cassação da Presidente e do Vice-Presidente da República.

    Portanto, há uma convocação à agilidade, feita pelo povo do Brasil, ao Tribunal Eleitoral. É inevitável que essa leitura seja feita. O importante é verificar que o povo brasileiro discute política, vai às ruas protestar, leva seus sonhos e suas esperanças e exige mudança de um modelo político corrupto e incompetente que fracassou.

    As homenagens a Sergio Moro, como símbolo da nova Justiça no País; as homenagens ao Ministério Público, como instituição independente, que, com ousadia, contribui para retirar debaixo do tapete toda a sujeira da corrupção acumulada nos últimos anos; as homenagens à Polícia Federal; instituições reconstruídas agora sob os escombros provocados pelos escândalos de corrupção que atormentaram o Brasil nestes anos, com a banalização dela e, sobretudo, com a prevalência da impunidade.

    É este Brasil que aqueles que foram às ruas desejam mudar para um Brasil novo, onde as instituições, agora reabilitadas pela ação de combate duro à corrupção, oferecem a perspectiva de mudança real, a esperança de que podemos ter, sim, um País melhor.

    Obviamente o foco foi a corrupção.

    Eu estive, Senador Paulo Paim, na Esplanada dos Ministérios, como, da mesma forma, a Senadora Ana Amélia esteve e o Senador Reguffe também, e pude constatar que a expectativa da população é de que se construa uma Nação onde corrupção e impunidade não sejam a regra, porque hoje, lastimavelmente, corrupção é regra. Tornou-se suprapartidária. Alcançou a alma dos partidos políticos, que, no dizer de investigadores, procuradores, transformaram-se, alguns, em lavanderia do dinheiro sujo; transformaram-se em organizações criminosas que devem ser dizimadas na mudança, que é exigência da sociedade brasileira. Isso significa uma mudança de comportamento do cidadão.

    Nós assistimos aqui, durante muitos anos, à passividade do cidadão brasileiro diante dos escândalos e corrupção e dizíamos que a banalização da corrupção era o maior desserviço prestado ao País pelo Governo do PT. Hoje verificamos que a população escapa deste cenário e tem a percepção exata dos danos causados pela corrupção.

    O cidadão brasileiro, hoje desempregado, tem a percepção de que a causa maior do desemprego que o aflige é a corrupção. Ele imagina que, se os recursos públicos fossem aplicados com decência, com honestidade, o País estaria crescendo, e ele não perderia o seu emprego. Da mesma forma, tem a percepção de que a corrupção é assassina, porque há pessoas amontoadas nos corredores dos hospitais, especialmente no interior deste País, que esperam pelo atendimento que não chega, porque antes chega a morte. Esses cidadãos são vítimas do assassinato que é praticado por aqueles que roubam o dinheiro público no País.

    Essa percepção é visível hoje, na sociedade brasileira.

    Eu poderia continuar enumerando outros setores da atividade humana, como a educação, essencial para o País. Quantos são os brasileiros proibidos de conquistar o diploma superior, porque não há recursos públicos suficientes para atender à demanda da nossa juventude?

    Enfim, quando se fala no vírus que ataca e mata, o vírus provocado pelo mosquito, fala-se, sim, em saneamento básico. Nós temos apenas 48% da nossa população beneficiada com o saneamento básico.

    Por que não há saneamento básico para todo o povo brasileiro? Exatamente porque os recursos estão sendo desviados por entre os dedos das mãos sujas de corrupção daqueles que assaltaram o País nos últimos anos.

    Ou não foi um assalto? Se não foi um assalto, o que ocorreu com a Petrobras? Se não foi assalto, o que ocorreu com o setor elétrico? Se não foi assalto, o que ocorreu com o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, ou com o Maracanã, ou com os outros estádios construídos para a Copa do Mundo? Que nome se dá ao que ocorreu? Assaltaram, sim, o Brasil. Aqueles que nos desgovernaram nos últimos anos julgaram-se proprietários desta Nação e a assaltaram criminosamente.

    O povo, que foi para as ruas, para as praças e para as avenidas deste País, no dia de ontem, foi com o desejo de arrancar o Brasil das mãos daqueles que o assaltaram nos últimos anos. E deseja arrancar democraticamente, através do voto em eleições. Por isso, 78,4%, Senador Aloysio, dos que foram à Avenida Paulista ontem desejam a realização de eleições novamente ou já, porque não querem esperar 2018. O povo está angustiado, perdeu a paciência, não entende como se pode esperar mais, além do que já esperou.

    Eu concedo um aparte ao nosso querido Senador Líder do PPS neste Senado.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Senador Alvaro Dias, muito obrigado pelo aparte. V. Exª é muito feliz neste pronunciamento. Aqui eu vi, há pouco, Senadores falando sobre a ética. Eu concordo. A ética não é um fim em si mesma; ela é um meio. Ser honesto, ser ético é obrigação. Agora, tudo tem limite, Senador Alvaro Dias. E V. Exª coloca muito bem. Este País foi assaltado, porque está saindo aí a ponta do iceberg só da Petrobras, da Eletronuclear, de algumas, mas não falamos ainda de DNIT, por exemplo. A Lava Jato não chegou ao DNIT.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Oposição/PV - PR) - Ao BNDES, aos fundos de pensão, etc.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - E não chegou ao São Francisco. Cito aqui. Ontem me abordaram para trazer documentos sobre o lote 1, o lote 2 e o lote 6 do São Francisco. Então, o Ministério Público tem isso também. Antigamente nos indignávamos, em São Paulo, com o Maluf, porque votavam no Maluf e diziam, era o mantra: "Rouba, mas faz." Então, o PT acusava o Maluf disso e dizia: "Isso é um absurdo, é um descalabro votar em uma pessoa porque rouba, mas faz." Eu passei, há poucos dias, no Túnel Ayrton Senna e fiquei com inveja. Falei: "Bons tempos, hein? Porque hoje rouba e não faz." Boa parte dessas obras do PAC não foram feitas. Em Mato Grosso, a nossa capital, Cuiabá, está sangrada de um ponto a outro, dividida pelo trilho de um VLT que nunca chegou, e os vagões - são mais de R$200 milhões - estão apodrecendo lá. Então, esse é o grande problema. V. Exª fala com português claro, com oratória e com a retórica que tem clara para todo o Brasil ver. Então, essa indignação ontem é justamente contra isso, porque é uma desfaçatez sem tamanho. Eu vi os discursos, e ninguém do Governo enfrenta o mérito. Não enfrenta o mérito. Fazem manobras de dissuasão, um sofisma atrás do outro, mas simplesmente querem combater tudo o que está havendo com o seguinte argumento: somos todos iguais. E isso não funciona. É por isso que as pessoas estão revoltadas. Eu vi agora: no mesmo momento em que sai uma nota do Governo dizendo que respeita a manifestação, o Ministro Jaques Wagner já começou a falar demonstrando que não é bem assim, e a sua base veio aqui para a tribuna para começar a descaracterizar. Fiquei pasmo ao ouvir aqui que foi uma manifestação de gente branca. Pelo amor de Deus! A que ponto chegamos? Então, não vou nem responder. Muito obrigado, Senador.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Oposição/PV - PR) - Obrigado, Senador José Medeiros.

    O meu tempo se esgota, não o daqui, mas o lá de fora, Senador Paim - V. Exª tem sido condescendente -, mas eu tenho lá fora um tempo que se esgota agora.

    Vou concluir dizendo que, depois da Operação Lava Jato, dessas investigações e do julgamento que esperamos seja o mais célere possível para o Brasil mudar rapidamente, a responsabilidade da classe política se eleva. Caberá à classe política definir novos rumos para o País. Caberá às instituições responsáveis pela legislação, pela organização política da Nação preparar um novo modelo, porque, repito, esse modelo faliu e tem que ser sepultado definitivamente.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2016 - Página 29