Discurso durante a 34ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear o Dia Nacional do DeMolay e os 12 anos do Supremo Conselho da Ordem De-Molay para a República Federativa do Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear o Dia Nacional do DeMolay e os 12 anos do Supremo Conselho da Ordem De-Molay para a República Federativa do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2016 - Página 33
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, DIA NACIONAL, ORDEM, JUVENTUDE, MAÇONARIA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONSELHO SUPERIOR, ENTIDADE, BRASIL.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia, bom dia a cada uma e a cada um. Aliás, hoje, não temos "uma". Tem uma jovem lá atrás! Mas bom dia, de qualquer maneira, a cada uma e a cada um de vocês.

    Eu cumprimento, na pessoa do Senador Raupp, todos que aqui estão.

    Eu cheguei atrasado à sessão porque eu estava em uma audiência pública - o Senador Raupp, inclusive, visitou a gente - sobre o Dia Internacional da Discriminação Racial. E, lá, o que a gente debateu foi que, apesar dos 128 anos da abolição, a discriminação continua.

    Lá, eu lembrei todo o tempo de que a Maçonaria foi, das organizações, talvez a mais importante na luta pela abolição da escravatura. A OAB não existia ainda. Uma associação de advogados teve um papel, mas era uma coisa muito discreta, e a abolição ainda não foi completada, porque não fizemos o elemento fundamental da quebra da discriminação, que é a educação igual para todos no acesso. O conteúdo pode ser diferente; é até bom que seja diferente, se não cai no doutrinamento, mas a qualidade, a carreira do professor, a remuneração do professor, as exigências ao professor, a formação do professor tem que ser a mesma no Brasil inteiro. A qualidade do prédio; não precisa ser a mesma arquitetura, mas que tenha qualidade; os equipamentos a serem usados em um tempo em que as crianças já não aceitam mais quadro-negro. Elas nasceram vendo os programas de computador que mostram o sistema solar em movimento. Como é que vão acreditar em uma aula de Astronomia em que o sol é um pontinho branco?

    Então, nós precisamos completar a abolição, nós precisamos construir um País em que não haja discriminação. Além disso, na economia de hoje, o principal capital é o conhecimento. É o conhecimento que faz com que uma economia seja ou não dinâmica, tenha ou não demanda constantemente renovada. A nossa economia brasileira tem uma demanda fixa, porque nós exportamos comida, nós exportamos minério.

    Quando a China espirra, nós entramos em crise, porque nós não exportamos para a China computadores, nós não exportamos equipamentos médicos, remédios, o que há de alta tecnologia. Essa demanda continua crescendo, mesmo na crise.

    E, além disso, não vai haver emprego para quem não tiver conhecimento, para quem não tiver o mínimo de formação, de treinamento.

    Então eu venho aqui hoje, Senador Raupp, para repetir o que eu já fiz algumas vezes: um apelo aos jovens maçons, porque tenho a maior admiração pela DeMolay. Eu tenho uma grande admiração, e todos sabem disso, já fiz palestras. Acho que vocês são uma semente de líderes que podem ajudar a transformar o Brasil.

    Vou fazer um apelo: o de colocar a educação como eixo central da transformação brasileira. É importante infraestrutura, energia, estrada, porto. Isso é importante, mas o fundamental é a educação, até porque não há energia, nem porto, nem estrada sem engenheiro, que vem da educação.

    Por isso eu creio que no século XXI, no tempo da economia do conhecimento, em que o conhecimento é o vetor do progresso, a Maçonaria, que surgiu como elemento do progresso lá atrás, e que no Brasil foi elemento de progresso em todos os momentos - eu falei da abolição, mas também da República e da democratização -, vai se transformar num elemento central da luta para que no Brasil o filho do pobre estude em uma escola tão boa quanto a do filho do rico, para que a gente até tolere, que não haja problema com a desigualdade na roupa, com a desigualdade nas viagens, com a desigualdade no transporte; mas não pode haver desigualdade na saúde nem na educação. E a desigualdade na saúde vem da desigualdade na educação, que é a mãe de todas as desigualdades e é a mãe de todos os atrasos.

    O atraso da Nação como um todo vem do fato de que nós jogamos fora os talentos. Os talentos que são a formação. Nós jogamos fora os talentos. Somente 40% de alunos terminam o ensino médio. Metade, no máximo, com qualidade. Então, 20%. Significa que nós estamos jogando fora 80% de nossos cérebros, provavelmente. É como se a gente descobrisse 100 poços de petróleo e tapasse 80. A gente tem que explorar os talentos brasileiros, porque essa é a fonte da renda, da riqueza de um país.

    Do ponto de vista da Pátria, do patriotismo, a educação é importante e tem que ser igual para todos, porque cada um que ficar de fora da educação é um talento que o Brasil perde. E, ao mesmo tempo, para cada um individualmente. Ou seja, a gente está beneficiando a Pátria e os indivíduos, os brasileiros. É assegurar a educação igual, para que cada um possa construir o seu futuro.

    Alguns vão ser mais ou menos, não adianta a gente querer impor igualdade. Uns vão ser mais ou menos, mas pelo talento, pela persistência, pela vocação, e não pelo nascimento. Temos de apagar os dois carimbos que estão na testa de cada criança que nasce no Brasil, o carimbo que diz o CEP de onde mora e o carimbo que diz o CPF do pai e da mãe. Apaguemos esses dois carimbos e deixemos que cada um seja mais ou menos, conforme o seu talento. Vamos assegurar escola de qualidade para todos.

    Eu, pessoalmente, acho isso impossível sem que a Nação brasileira assuma a educação das suas crianças. Hoje não é assim, hoje a educação está nas mãos dos Municípios, que são desiguais e são pobres. É a Nação brasileira que tem de assumir. Tenho chamado de federalização, mas não é um bom nome. Esqueçamos o nome. A educação de uma criança brasileira tem de ser feita pela Nação brasileira. Ao nascer, uma criança tem de ser brasileira. Temos de "desmunicipalizar" as crianças, abrasileirar as crianças.

    Vocês fazem parte de um seleto grupo que está de acordo com isso. Vocês são daqueles que podem ajudar a mudar o Brasil. Eu conto com vocês nessa luta. Tenham certeza de que vocês podem contar comigo.

    Sou sobrinho, não sou irmão porque não sou maçom, mas sou filho de maçom, sou sobrinho de maçom. Então, eu me sinto em família com vocês. E espero que a nossa família seja, realmente, a Nação brasileira como um todo, que todos tenham acesso à educação de qualidade.

    Muito obrigado por existirem como entidade e a cada um de vocês. Tenho certeza de que esta é uma fala que, pelo público que está ouvindo, não cai no vazio e, não caindo, carrega um germe de transformação, porque os anteriores a vocês já demonstraram que foram transformadores. Agora chegou a vez de vocês.

    Um grande abraço a cada um e a cada uma de vocês.

    Parabéns, Senador Valdir Raupp, pela iniciativa. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2016 - Página 33