Discurso durante a 35ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à Presidente Dilma Rousseff pelas recentes manifestações contrárias à interceptação telefônica de conversas de S. Exª com o ex-Presidente Lula, e repúdio às declarações do novo Ministro da Justiça acerca da possibilidade de substituição da equipe policial da Operação Lava Jato em caso de vazamento de informações.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas à Presidente Dilma Rousseff pelas recentes manifestações contrárias à interceptação telefônica de conversas de S. Exª com o ex-Presidente Lula, e repúdio às declarações do novo Ministro da Justiça acerca da possibilidade de substituição da equipe policial da Operação Lava Jato em caso de vazamento de informações.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2016 - Página 34
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALSIDADE, DECLARAÇÃO, ASSUNTO, PUBLICAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, COMENTARIO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), REFERENCIA, POSSIBILIDADE, ALTERAÇÃO, GRUPO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), HIPOTESE, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÕES.

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco União e Força/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil que nos vê pela TV Senado, nas redes sociais, na rádio Senado, as pessoas nos rincões mais distantes deste País, eu sabia da grande audiência da TV Senado, mas nos últimos dias eu tenho constatado que a audiência da TV Senado é alguma coisa... O Ibope nunca mede, mas as respostas da TV Senado, Sr. Presidente, são algo muito forte de um povo que mostra o interesse, agora redobrado, no momento vigoroso que vive a Nação brasileira e o vigor com que temos que encarar esse momento, a adversidade desse momento, a inquietação desse momento e que deixa em estado de ebulição, em estado de turbulência todo um povo: os mais simples, os menos letrados e os mais letrados, os mais abastados e os menos abastados, os desempregados, os aposentados, aqueles que menos têm. Se você não tem quem gera emprego... Aliás, quem gera emprego gera honra, porque o trabalho é a honra de um homem. Um homem sem trabalho perde a honra. Aqueles que geram emprego perderam a capacidade de se manter de pé. O caminho tem sido a demissão, dado o momento cruel em que nos jogaram, a que nos empurraram, em um processo de destruição total da economia deste País, um processo de destruição daquilo que mais nós prezamos para nós. Neste momento, assistimos a um País, a uma Nação inteira virar chacota, virar piada do mundo.

    As manifestações que ocorreram, Sr. Presidente, no dia 13 e no dia 18, Senador Ricardo Ferraço, mostram que nós não somos a Venezuela. Infelizmente lá, quando dizem que o país está dividido, parece que sim - um pouco acima, um pouco para baixo -, mas no Brasil não é assim. O Brasil é uma maioria absoluta de cidadãos brasileiros, independentemente da classe social, até porque desempregado, agora, aqueles que não têm acesso a seguro desemprego - até porque agora as coisas mudaram -, o aposentado no Brasil, o motorista de ônibus, o ascensorista de elevador, o cobrador de ônibus, a doméstica, o aposentado que vai às ruas são chamados também de elite agora; agora todo mundo é elite. Vestiu verde e amarelo é elite.

    Senador Ricardo Ferraço, nós tivemos 200 mil pessoas nas ruas no nosso Estado do Espírito Santo. Se o Espírito Santo, daquele tamanhozinho, tivesse 200 mil pessoas que compõem a elite, seria um Estado só de elite, mas quem atravessou aquela ponte? Quem foi para a Praça do Papa, Senador Ricardo Ferraço?

    Desempregados, aposentados, pobres, letrados, iletrados, o povo da Praia da Costa, o povo da Praia de Itapuã e o povo de Terra Vermelha, as pessoas mais simples do nosso Estado, da Região 5, as pessoas mais simples de Cariacica, mais simples de Vitória, da Serra, foram para as ruas.

    Há um clamor da sociedade brasileira, perguntando à classe política e também ao Judiciário: "O que faremos nós, jogados no meio da rua, como que sem esperança, vendo digladiarem-se?" Eu quero dizer "digladiarem-se" porque eu não sou PSDB, não sou PT, não sou base de Governo; muito pelo contrário, e estou a cavalheiro para poder fazer esses comentários.

    O que se vê, neste momento, é uma Presidente viajando o País inteiro, fazendo inaugurações, juntando cargo comissionado em frente ao palanque, militantes do seu Partido. Neste momento, ela, como Presidente, faz discurso para militância; ela não faz discurso para a Nação porque ela não tem condição de falar com a Nação. Ela fala para militante e ela faz um discurso assim: "É um absurdo grampear uma Presidente da República! Em qualquer outro país, quem grampeia um presidente vai preso!" Aqui também vai, cara-pálida! Ninguém nunca grampeou a senhora, Srª Presidenta! Quem que grampeou a Presidente da República aqui? O grampo estava no telefone do Presidente Lula, do ex-Presidente Lula. Quem foi que grampeou a Dilma? E eu fico assistindo na televisão. Meu Deus, como pode a pessoa falando para a militância, zombando da inteligência alheia? Ela nunca foi grampeada. Quem grampeou a Dilma? Ela caiu no grampo do Lula, que não é Presidente, que não tem foro e estava grampeado. Ora, é de se arrepiar, é de ficar arrepiado diante dessas afirmações que a Presidente faz para a militância. E eu quero falar para as pessoas mais simples, que estão lá, nos rincões mais distantes deste País: ninguém grampeou vocês.

    Eu assisti porque gravei no meu telefone celular um trio elétrico, andando na minha frente, convocando as pessoas para irem para a rua e dizendo: "Vem, porque eles estão querendo acabar o Bolsa Família, acabar com o Pronatec, eles estão querendo acabar com o Minha Casa, Minha Vida." A mesma mentira que João Santana, o maior novelista do Brasil, João Santana... 

    Eu digo que João Santana é o maior escritor de roteiro de novela do Brasil, porque um cara que é obrigado a mudar o roteiro da novela dele todo dia é um cara muito capaz - não está escrevendo nada agora porque está preso. Mas é o mesmo roteiro que esse cidadão escreveu para o processo eleitoral para que a atriz Dilma Rousseff - que não é uma atriz muito boa, não - interpretasse: "Vão aumentar os juros; vão tirar a comida da mesa do pobre." A mesma conversa fiada agora com os panfletos no meio da rua. Eles não sabem sair disso! Não sabem fazer mea culpa!

    E, aí, não encontraram nada, e essa conversa toda vai para o colo e para a conta de Sérgio Moro, do juiz que nunca grampeou Dilma, que grampeou o Lula e que descobre - e todos nós sabemos - que, nos bastidores, a nomeação do ex-Presidente Lula, tão somente, era para protegê-lo. Mas eu não vejo ninguém que sobe nesta tribuna falar do fato, falar do mérito. Ninguém fala do problema em si, ficam buscando chicanas e rodando na periferia, porque eles não têm condição de entrar na ferida do problema: por que o Lula está sendo investigado? Por que o Lula foi grampeado? Nenhum deles entra nesse fato.

    No mesmo dia em que o Lula foi o Ministro que poderia ter sido - foi nomeado e, alguns minutos depois, "desnomeado", deixou de ser Ministro -, foi nomeado também o Ministro da Justiça. Senador Ricardo Ferraço, o Ministro da Justiça assume e faz uma entrevista infeliz. Um Procurador capaz, preparado - não tenho aproximação, não o conheço muito, mas o suficiente para respeitá-lo, respeitar o Ministro -, o Ministro então faz uma fala, dá uma entrevista - até porque, em um dos telefonemas do grampo de Lula, Lula já tinha se referido, dando um esporro: "É, porque esse aí que vai assumir o Ministério da Justiça se mostra muito amigo da gente, mas, quando a gente precisa dele, vem "nhenhenhem" e tal." Eu vi que ele estava constrangido na posse, estava de cabeça baixa. Mas ele tomou posse. Ele fez uma entrevista. Disse a repórter: "O senhor vai tirar os delegados da Lava Jato? O senhor vai desmontar a equipe?" Ele disse: "Não, não vou, não. Agora, qualquer cheiro de vazamento, eu não preciso nem ter prova." Ministro, tudo que o pessoal está falando aqui na tribuna e em todo lugar é pedir para aprovar. O senhor, Ministro da Justiça, que tem que zelar por isso, diz que, se houver qualquer cheiro de vazamento, destitui a equipe a inteira?

    Olha, Brasil, a equipe inteira é essa equipe que está junto com o Moro e com os procuradores, há dois anos, passando o País a limpo, passando o País a limpo! Ele disse: "Eu destituo a equipe inteira. Se eu sentir só um cheiro de vazamento, eu destituo a equipe inteira e nem preciso de prova". Ministro, a única coisa que a gente tem de mudar urgentemente quando sente cheiro de vazamento é fralda de criança. Quando a fralda está cheia - e cheiro de leite podre sobe -, é uma miséria, você sente o cheiro e pode ir trocar a fralda porque está cheia. Esta é a única coisa, meu Presidente, que tem de trocar rapidamente só pelo cheiro: fralda de criança. Mas o resto, não.

    E dizia aqui o Senador Cássio - e é verdade -, se o Ministro tem o faro tão apurado para cheiro, será que ele não sentiu o cheiro da podridão deste Governo do qual ele agora é Ministro? Em nenhum momento não sentiu o cheiro de tanta coisa podre?

    Sr. Ministro, me poupe! Pelo amor de Deus, mamãe, me acuda! Sr. Ministro, só fralda de criança quando vaza é que tem de trocar rapidamente quando a gente sente o cheiro, mas o resto, não. Essa palavra parece ser uma palavra de intimidação, de ameaça. E a Polícia Federal, os delegados da Polícia Federal, é claro, precisam reagir. Dr. Sobral, Presidente da Associação dos Delegados, precisa reagir. E o povo do País não vai permitir, Sr. Ministro. São dois anos de bons serviços prestados ao País na Operação Lava Jato. Sem fazer pantomimas, mas fazem um circo... Claro, você pega um milionário desses que vai preso, o Brasil tem de saber. O Vaccari, tesoureiro do PT, o homem da Bancoop, aquela cooperativa, o negócio do triplex - ele tem o dele também lá -, se esse homem vai preso, tem de saber.

    Sr. Presidente, o nosso momento é lamentável e triste. Eu tenho plena consciência disso. Dois dias antes de o ex-Presidente Lula vir, quando se cogitou que, de fato, ele ia ser Ministro, eu fiz um discurso ali, de pé, na terceira fila. Eu disse: ela vai trazer um barril de gasolina para dentro de um Governo que já está em chamas. E trouxe, Sr. Presidente, um barril de gasolina para dentro de um Governo que está em chamas. E aí nós somos obrigados a ouvir os áudios do Lula, os palavrões, os desrespeitos, o desrespeito ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, à Polícia Federal, ao Ministério Público, até às mulheres, Sr. Presidente, até às mulheres...

    Existe um áudio do Lula que eu poderia até colocar aqui agora, está no meu telefone. Estou com uma vontade de colocar aqui no microfone... Dá para ouvir se eu colocar, não dá? Ele mesmo dizendo que os Ministros do Supremo não têm saco e falando com Jaques Wagner: "Fala aí com Dilma, aproveita que ela está aí, para falar com essa Rosa Weber, porque, se os homens não têm saco, vamos ver se essa mulher tem."

    Se fosse Bolsonaro que tivesse falado isso, eles já tinham feito mil processos contra ele, mas Lula pode falar que ninguém reverbera, ninguém fala nada, ninguém reage a isso! A Ministra Rosa Weber deve estar muito ofendida a essa hora, a família dela deve estar muito ofendida, os amigos dela devem estar muito ofendidos a essa hora.

    Queria ter tempo porque gostaria de pegar meu telefone e colocar os áudios do Lula aqui. Até compreendo que um cara vivendo no aperto fale palavrão, mas ele fala demais. Entre você falar palavrão e chamar ministro do Supremo de covarde, a distância é muito grande.

    Mas, Sr. Presidente, nós temos oradores que vão falar. Encerro meu pronunciamento dizendo ao Sr. Ministro da Justiça: Ministro da Justiça, no Brasil inteiro, do mais simples ao mais preparados, dos letrados aos iletrados, há um consenso na sociedade que a entrevista do senhor nada mais foi - a sua afirmativa com relação ao grupo da Polícia Federal - do que um desastre, um desastre! E, se V. Exª cometer o erro de efetivar isso, V. Exª realmente estará dizendo que foi para o Ministério para poder cumprir uma missão deste Governo, que quer colocar na conta da Polícia Federal e do Juiz Sergio Moro uma conta que não lhes pertence. Muito pelo contrário. Ministério Público, Polícia Federal e Juiz Moro prestam os serviços mais significativos e importantes para a Nação brasileira.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2016 - Página 34