Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Repúdio à manifestação violenta em frente ao domicílio do Ministro Teori Zavascki e apreensão com a possibilidade de guerra sectária após o resultado do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Repúdio à manifestação violenta em frente ao domicílio do Ministro Teori Zavascki e apreensão com a possibilidade de guerra sectária após o resultado do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 24/03/2016 - Página 31
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REPUDIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, DOMICILIO, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), APREENSÃO, AUMENTO, DESAPROVAÇÃO, POPULAÇÃO, RESULTADO, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, POSSIBILIDADE, REALIZAÇÃO, ELEIÇÕES.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Sem revisão do orador.) - Senador Renan, eu quero me somar, Senador Lindbergh, à sua manifestação de protesto contra o que aconteceu ontem, na frente da casa do Ministro Teori. Não vou dizer que são fascistas, porque nem sei se eles têm alguma coisa na cabeça. Devem ser uns desmiolados que estão fazendo isso, mas é preciso ir além e perceber que esse tipo de coisa vai se generalizar no Brasil: contra quem faz um gesto que parece favorável ao Presidente, como ele fez; ou contra quem fizer gestos pelo outro lado. Há desmiolados em todos os grupos políticos do Brasil.

    O Senador Reguffe me dizia, há pouco, que este não é um bom tempo para gente de bom senso. Não temos espaço, se tentamos pensar as coisas com bom senso. Estamos caminhando para um processo de sectarismo; e diria mais: de uma guerra sectária. Este já é um País profundamente violento, de uma guerra civil de criminosos. Podemos estar caminhando para uma guerra civil sectária, seja ganhando o impeachment, seja ganhando a Presidente Dilma, e o impeachment sendo barrado. Em qualquer dos dois casos, Senador Renan - e sua responsabilidade é grande nisso, como Presidente desta Casa -, vamos ter descontentamentos generalizados que podem levar a coisas como essa na casa de cada um de nós, por um lado ou por outro; na casa de cada ministro, de cada juiz. Aos poucos, isso começa a ter um vulto, que, depois, não para.

    O ideal era que nós nos debruçássemos não entre ser a favor ou contra o impeachment apenas, mas também em como superar este momento. É claro que é foro íntimo. Se a Presidente Dilma renunciasse, resolveríamos essa guerra sectária. Outros Presidentes, na história de outros países, insistiram em não renunciar, e a guerra sectária aconteceu; depois, não se consegue parar. Mas essa é uma questão pessoal que não vale a pena nem sugerir.

    Uma outra coisa, Senador Lindbergh, sobre a qual temos conversado aqui diz respeito ao processo de acordo geral, inclusive com a Presidente Dilma e com o Vice-Presidente Temer, no sentido de que pudéssemos ultrapassar este momento fazendo uma eleição para Presidente e Vice-Presidente da República antes de 2018.

    Parece absurdo, mas o Presidente Sarney aceitou reduzir o mandato dele, e uma forma constitucional reduziu de seis para cinco anos. Não venham dizer que ele foi eleito indiretamente, porque a legalidade era a mesma; a legitimidade podia ser diferente. Na verdade, deveria ser para todos nós, porque estamos todos sob suspeição. Cada vez que sai uma lista de contribuições, vinda de empreiteiras, os nomes que aparecem põem todos nós sob suspeita, mas isso não vai acontecer. São 2/3. Não vai acontecer de Parlamentares e Deputados abrir mão.

    Eu acho que está na hora de sentarmos com as lideranças todas deste País e tentarmos algum gesto que case a legalidade do mandato com a legitimidade da vontade que hoje está na rua - eu nem disse "popular" de propósito.

    A Senadora Gleisi leu um belo manifesto, muito benfeito, mas há uma frase que não está dita corretamente, quando diz que "é uma tentativa de golpe daqueles que perderam as eleições". Não. Hoje, na rua, tem muita gente que votou na Presidente Dilma e que está descontente. Está descontente porque votou com a tarifa elétrica que ela baixou, e ela aumentou; com o crescimento que não veio; com o desemprego crescente; com a inflação que veio; com a descoberta de que o marqueteiro dela está preso e que foi quem inventou todas essas mentiras, inclusive do Pátria Educadora. Não são apenas os que perderam a eleição que estão indo para rua.

    Além disso, há uma dúvida, se houve ou não crime, se as pedaladas são ou não crime. Há uma dúvida. Há pessoas que acham que sim, há pessoas que acham que não. Não dá para a gente dizer que é crime. Eu não digo que é crime. Não digo ainda, mas não digo que não é crime. Isso exige análise, cuidado, reflexão.

    Temos que nos debruçar sobre uma saída que não seja aquela que levará a uma guerra sectária no Brasil, e eu acho que tanto a aprovação do impeachment quanto a derrubada do impeachment vai levar a isso, e, aí, ninguém controlará mais.

    Por favor, vamos nos debruçar! Tentemos alguma coisa. Pode ser até que se chegue à conclusão: "não tem jeito, essa guerra sectária é inevitável". Ou então eu estou errado. Não vai haver isso. Esse negócio na casa do Teori foi apenas algo solto. Pode ser que eu esteja enganado, que eu esteja vendo fantasmas onde não existem, e todos nós nos acalmamos, mas, se não, procuremos uma solução. Hoje, qualquer alternativa vai trazer problemas.

    A própria substituição pelo Vice-Presidente, que seria o Presidente Temer, há pessoas que vão dizer: "Mas ele foi escolhido pela Dilma!", "Mas ele é do mesmo grupo!", "Mas já se levantaram algumas hipóteses de ele estar envolvido em coisas". Qualquer um vai trazer essa suspeição, essa instabilidade e essa ilegitimidade.

    A única maneira de casar a legalidade da Constituição, dos mandatos, com a legitimidade da insatisfação geral é através de um diálogo que permita reduzir o mandato, sim, sem necessidade de atropelar; num acordo geral da Presidente e do Vice-Presidente com todas as lideranças no Congresso.

    É isso, Sr. Presidente. Não foi um fato isolado, ainda que tenha sido o primeiro. E não foi o primeiro. É que, como foi na casa de um ministro, todo mundo despertou. Mas estão começando a pipocar coisas assim. Inclusive houve vandalismo contra uma sede do PT. A gente tem que protestar também, não pode deixar que aconteçam coisas como aquela. Não sei em que Estado foi, mas foi contra uma sede do PT. Isso vai pipocar para todos os lados, e depois vai ser muito difícil controlar. É mais difícil controlar isso depois do que encontrarmos o que parece impossível hoje, que é uma solução negociada para essa grave crise.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/03/2016 - Página 31