Discurso durante a 33ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de carta aberta do ex-Presidente Lula acerca da atuação do Poder Judiciário na Operação Lava Jato.

Critica à imprensa nacional por uma suposta seletividade na divulgação de informações relacionadas à Operação Lava Jato e ao cenário político atual, a fim de criar conflitos entre Judiciário e o Executivo e entre o povo e o Governo Federal.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODER JUDICIARIO:
  • Registro de carta aberta do ex-Presidente Lula acerca da atuação do Poder Judiciário na Operação Lava Jato.
IMPRENSA:
  • Critica à imprensa nacional por uma suposta seletividade na divulgação de informações relacionadas à Operação Lava Jato e ao cenário político atual, a fim de criar conflitos entre Judiciário e o Executivo e entre o povo e o Governo Federal.
Aparteantes
Hélio José, Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2016 - Página 31
Assuntos
Outros > PODER JUDICIARIO
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • REGISTRO, CARTA ABERTA, AUTORIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, DECLARAÇÃO, RESPEITO, ATUAÇÃO, JUDICIARIO, CRITICA, DIVULGAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, INFORMAÇÃO SIGILOSA, REFERENCIA, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA.
  • CRITICA, IMPRENSA, MOTIVO, AUSENCIA, IMPARCIALIDADE, MANIPULAÇÃO, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÃO, REFERENCIA, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), OBJETIVO, CRIAÇÃO, CONFLITO, JUDICIARIO, EXECUTIVO, POVO, GOVERNO FEDERAL.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Srs. Senadores.

    Sr. Presidente, iniciando aqui esta minha breve participação, acho que poderíamos ir abreviando o tempo, para que todos possam usar da palavra, eu gostaria de dizer que tomei conhecimento pela imprensa e acabei de ler a nota, a carta, que, na realidade, não é uma nota, é uma carta aberta e escrita pelo Presidente Lula. Eu peço, Presidente Wellington, V. Exª que passa a dirigir os trabalhos a partir de agora, que essa carta seja inserida nos Anais. Acho que é uma carta muito serena e profunda ao mesmo tempo - serena, curta, mas muito profunda, Presidente.

    Eu não vou ler na sua integralidade, mas apenas algumas partes. O Presidente Lula e, obviamente, ele escreveu essa carta, Senador Hélio José, já que ontem houve várias reações em relação a uma fala do Presidente em que ele se refere ao Poder Judiciário, refere-se ao Parlamento e tudo mais. É bom deixar claro que isso foi uma opinião, não há nenhum crime, não há nenhuma ilegalidade; o Presidente Lula não cometeu nenhum crime, nenhuma legalidade, a não ser que expressar opiniões pessoais, falar palavrões, no privado, tenha passado a ser crime.

    A própria lei diz, porque não estamos tratando aqui de questões... Se a gente olhar as falas do ex-Presidente Lula, a maior parte delas são falas em que ele expressa opiniões, tanto é, repito o que eu disse insistentemente ontem, que não há nenhuma ilegalidade, não há nada, porque, se houvesse, é óbvio que o Juiz Moro, que é quem acompanhava o processo, já teria punido ele, no mínimo, com a supressão da sua liberdade - no mínimo! Mas não o fez, porque não havia elemento nenhum.

    Mas, enfim, algumas manifestações aconteceram ontem, algumas respostas àqueles áudios que foram divulgados, e o Presidente escreveu a carta, dizendo que: "Dos membros do Poder Judiciário espero, como todos os brasileiros, isenção e firmeza para distribuir a Justiça e garantir o cumprimento da lei e o respeito inarredável ao estado de direito." E ele fala também dos critérios da impessoalidade, da imparcialidade. E lembra que, nos 8 anos em que esteve à frente da Presidência, ele sempre teve a oportunidade de demonstrar o apreço que nutre e que tem, e o respeito pelo Poder Judiciário.

    E aí diz: "Não o fiz apenas por palavras, mas mantendo uma relação cotidiana de respeito, diálogo e cooperação; na prática, que é o critério mais justo da verdade". E aí ele vem, em seguida, dizendo que, nas últimas semanas, como todos sabem, a sua intimidade, a intimidade dele e da sua família está sendo exposta ilegalmente, informações que deveriam estar sob a guarda da Justiça têm sido publicizadas. E, diz ele - abro aspas: "Sob o manto de processos conhecidos primeiro pela imprensa e só depois pelos diretamente e legalmente interessados [...]".

    E, aí, há algumas partes que eu vou ler na íntegra, porque considerei muito importantes. E acho que o Presidente foi muito sincero, ao divulgar essa carta. Aí ele diz o seguinte:

Nesta situação extrema [a situação extrema em que ele se encontra], em que me foram subtraídos direitos fundamentais por agentes do estado, externei minha inconformidade em conversas pessoais, que jamais teriam ultrapassado os limites da confidencialidade, se não fossem expostas publicamente por uma decisão judicial que ofende a lei e o direito.

    Veja, Senador Lindbergh, na intimidade dele, ele expressou uma opinião. Ele diz aqui que jamais teriam ultrapassado o limite da confidencialidade. Quem de nós não faz isso no nosso íntimo? Aqui mesmo, comentamos um com o outro, damos as nossas opiniões.

    Aí ele diz o seguinte:

Mas não me conformo que, neste episódio, palavras extraídas ilegalmente de conversas pessoais, protegidas pelo Artigo 5º da Constituição, tornem-se objeto de juízos derrogatórios sobre meu caráter. Não me conformo que se palavras ditas em particular sejam tratadas como ofensa pública, antes de se proceder a um exame imparcial, isento e corajoso do levantamento ilegal do sigilo das informações.

    E segue:

Não me conformo que o juízo personalíssimo de valores se sobreponha ao direito.

    Seguindo:

Não tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto.

Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário. Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de Ministros e Ministras da Suprema Corte [...].

    Ou seja, Sr. Presidente, de uma forma muito correta, o Presidente apresenta esta carta para primeiro mostrar o respeito que tem ao Poder Judiciário. E creio que esse não é o respeito só ao Poder Judiciário, mas ao Poder Legislativo, a todos aqueles que podem ter se sentido ofendidos nas palavras do Presidente.

    Ontem, Senador Lindbergh, nós vimos o Prefeito da cidade do Rio de Janeiro também vir a público e pedir desculpas pelas comparações e pelos termos utilizados. E também disse ele que foi em uma conversa informal, em uma conversa particular. E olhe só onde nós estamos metidos, Sr. Presidente.

    Mas quero começar aqui, dizendo que volto à tribuna para tratar deste que é o principal assunto do Brasil hoje, não só do Parlamento, pois ele está em todas as rodas, em todos os segmentos da sociedade, que é o problema político que nós estamos vivendo: a abertura do processo de impeachment contra a Presidente Dilma. Mais uma vez, digo que nós não podemos apenas analisar fatos isolados. Nós precisamos utilizar o fato como um todo; nós precisamos enxergar todo o processo que o Brasil está vivendo.

    É óbvio que esse grande processo é formado de pequenos atos. Os pequenos atos, as pequenas iniciativas é que formam o processo todo. Mas, para que possamos chegar a algumas conclusões importantes e necessárias, é preciso nós analisarmos o processo como um todo.

    E aí eu tenho insistido em dizer: a crise não começou agora. O que nós estamos vivendo agora está sendo preparado desde outubro de 2014, desde o momento em que a oposição perdeu as eleições. A oposição perdeu as eleições, mas saiu do pleito imbuída do seguinte propósito: "Nós não vamos deixar a Presidenta Dilma governar neste seu segundo mandato!", Senador Wellington.

    Vem de lá. A crise, que hoje se transformou numa crise aguda, é uma crise crônica, que vem desde lá, porque eles não admitem ter perdido as eleições. Não admitem! Então, de lá para cá, é tudo isso que nós estamos vivendo.

    E não é uma ação isolada de um conjunto de pessoas, não. Há elos importantes que fazem parte disso tudo. Partidos políticos que perderam a eleição não querem mais ver Dilma no poder - não por Dilma; não por Dilma! - e querem destruir a imagem do ex-Presidente Lula, porque têm medo de que o Presidente Lula volte em 2018, não é pela pessoa do Presidente Lula, mas pela liderança política que exerce o ex-Presidente Lula. Então, o que eles querem destruir não são pessoas; querem destruir projetos, a possibilidade de continuarmos aplicando essa política.

    Então, é isso. Nós temos hoje uma importante operação em curso que é a Operação Lava Jato. Eu sempre destaquei isso em todos os meus pronunciamentos, porque considero importante a luta e o combate à corrupção - sempre destaquei!

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - É isso aí, Senadora Vanessa.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Vou conceder-lhe um aparte. Deixe-me apenas concluir esse meu...

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Raciocínio.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Essa minha linha de raciocínio.

    Então, considero fundamental a Operação Lava Jato. Agora, nós não podemos permitir, primeiro, que haja tendenciosidade, que haja seletividade e, principalmente, que haja desrespeito à ordem constitucional do nosso País, desrespeitos à própria lei. Se nós formos analisar esses pequenos fatos que aqui o Senador Cristovam nominou de pecados menores, vamos perceber que aí mora o grande problema, porque é, através de uma medida que poderia até ser caracterizada como um pequeno pecado - um pequeno pecado! -, que o problema se avoluma significativamente. Eu acabei de dar um exemplo aqui: a carta do Presidente Lula, a carta aberta.

    Por que a carta aberta, Senador Lindbergh? Por que a carta aberta? Porque publicizaram, de forma ilegal, conversas do ex-Presidente Lula, que faz críticas ao Parlamento, à instituição, aos membros, expressando uma opinião. Mas qual é o objetivo disso? Qual é o objetivo? O confronto. Por que publicam? Porque querem gerar o confronto.

    O confronto entre o Poder Legislativo, a Presidente, o ex-Presidente. Porque querem criar intriga. Porque querem piorar a situação já instável do nosso País, e eu vou falar sobre isso também.

    Então, nós temos isso. Temos uma operação que, em que pese toda a sua importância, há necessidade da investigação, ela toma um rumo que parece que vai ficando claro, espero que para um número bem maior de pessoas, que o objetivo central, fundamental, é atingir o centro do Poder. É atingir o centro do Poder; enfraquecer, repito, a liderança do ex-Presidente Lula; acabar com a Presidente Dilma. E eu me preocupo, Senador Wellington, quando ouço pessoas dizerem... O impeachment está aí, está aberto.

    É claro, nós temos que formar o nosso juízo de valor, porque quem vai votar somos nós. Eu repito aqui: tenho a esperança de que o processo sequer chegue ao Senado. Tenho essa esperança, e nós trabalharemos muito por isso.

    Agora, dizerem: "Vou formar minha convicção, olhando para as ruas"? As ruas, Senador Wellington, pedem o "Fora, Dilma!" porque não aguentam mais a corrupção; porque acham que a Dilma é culpada de toda a corrupção na Petrobras; porque acham que a Presidente Dilma é culpada por toda a crise política que o País está vivendo.

    A população não sabe que não é disso que trata o processo de impeachment aberto no dia de hoje, na Câmara dos Deputados. Lá nós temos créditos suplementares, lá nós temos pedaladas fiscais, coisas que todos os governadores no Brasil praticam. Então, temos que ter a serenidade neste momento; temos que ter a cautela neste momento; e entender, efetivamente, dominar o que está acontecendo no País.

    Senador Hélio, antes de passar a palavra a V. Exª, quero dizer que hoje acordei muito cedo. Acordei muito cedo, liguei a televisão, abri logo meus e-mails, li as mensagens que recebemos e os jornais. Aí, comecei a olhar com calma.

    E eu trouxe este monte de jornal para cá. A capa dos jornais... A capa dos jornais do dia de hoje - do dia de hoje, do dia de ontem; poderia trazer jornais de um mês atrás -, olhem aqui: em um jornal aqui de Brasília, o Correio Braziliense: "País revive guerra do impeachment". Guerra do impeachment!

    Vamos pegar O Globo - olhem aqui a intriga de que eu falava: "Judiciário repudia ofensas e suspende manobra de Lula". Olha a intriga. Vamos lá. A capa do jornal de ontem: "Diálogo ameaça Dilma". A capa toda branca transcreve o diálogo e embaixo mostra a manifestação aqui em Brasília.

    Vejam, Senador Wellington, Senador Lindbergh, Senador Hélio, que nós estamos já há muito tempo debatendo, mas, nesta Casa, como na Câmara - apesar, às vezes, da perda momentânea de equilíbrio que acomete muitos de nós -, nós travamos um debate em que um lado manifesta uma opinião e, na sequência, se manifesta outra opinião. Nós estamos desde cedo aqui debatendo, fazendo apartes. Passamos o dia fazendo isso. Então, aqui a democracia é exercida, porque as partes que pensam diferentemente têm a oportunidade de se manifestar; mas aqui, Senador Lindbergh, isso não acontece. Quando ligamos a televisão, não é isso que vemos. Até vemos as opiniões diferentes serem publicadas, mas de uma forma tão desproporcional que ninguém nem presta atenção naqueles que pensam diferentemente dos que querem a saída da Presidente Dilma do poder. Nem se percebe. São os meios de comunicação que assim agem.

    E, chegando aqui, lendo algumas matérias, eu percebi que vários juristas já têm escrito muita coisa sobre esse assunto. O Celso Bandeira de Mello é Professor da Universidade Católica de São Paulo, PUC São Paulo, uma pessoa respeitada, um jurista respeitado no Brasil inteiro. No ato da PUC, a principal fala dele foi exatamente esta: ele disse da preocupação que estava tendo com os rumos que o nosso País poderia tomar e disse que não tinha dúvida alguma em nomear a imprensa como uma imprensa golpista. Não são minhas palavras, são as palavras do jurista Celso Bandeira de Mello: a imprensa como golpista, como principal inimigo do povo brasileiro. Aí ele destacou o papel das publicações que têm o objetivo - e aí, repito, palavras dele - de intoxicar a população com informações distorcidas.

    E aí eu acho que falhamos mesmo, Senador Lindbergh, quando falamos: "Fora os golpistas". Quando falamos assim, nós não estamos falando da maior parte das muitas pessoas que estão indo para as ruas, mas de quem está dirigindo este ato, que está lá na Fies. O centro das manifestações do "Fora, Dilma" é a Fiesp. Lá, sim, é que está isso. E é um absurdo que aconteça, porque dizem que é o lado da Presidente Dilma, o lado do PT, o lado do PCdoB que divide a população. O que é isso? Hoje, temos que tomar cuidado, porque não estamos conseguindo nem andar nas ruas. Na sequência, depois do aparte de V. Exª, eu vou falar sobre essa preocupação, porque é isso que está acontecendo, é isso que leva a população ao radicalismo, baseado em informações distorcidas, publicadas, republicadas, faladas e ditas todos os dias.

    Eu acho que está na hora, Srs. Senadores, neste momento em que o processo já foi aberto, de fazer um pacto com os meios de comunicação. Quando falamos de serenidade e de responsabilidade, não é só do Poder Legislativo do País; a serenidade, a responsabilidade e a imparcialidade têm que vir também dos meios de comunicação. O processo está aberto, e não podemos induzir - induzir de forma falsa, de forma distorcida - a opinião pública em relação a esse processo.

    Concedo o aparte a V. Exª, Senador Hélio José.

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Nobre Senadora Vanessa Grazziotin, eu quero congratular-me com V. Exª pela serenidade das palavras aqui colocadas, pelas ponderações importantes que traz à tona neste debate. Eu quero dizer que V. Exª é feliz, quando coloca sobre a necessidade de não ter dois pesos e duas medidas e de se fazer uma análise no todo e não na parte. É muito triste ver algumas pessoas rasgarem a história, a história recente deste País, por uma posição de ódio ou por uma posição preconcebida, sem querer analisar o todo como V. Exª aqui coloca e pondera. Então, é necessário, como ontem foi muito debatido aqui, nesta Casa, que a nossa Carta Magna, a nossa Constituição cidadã, seja respeitada na sua plenitude. Afinal, nós, Parlamentares, estamos aqui para nos certificarmos de que a Carta Magna seja garantida e para apoiar o Supremo Tribunal Federal (STF)...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - ... nas ações isentas, respeitando todos, cada um no seu quadrado. Aqui, ninguém tem posição contra quem está nas ruas promovendo o seu legítimo direito de protestar, mas desde que façam esse protesto sem serem utilizados como massa de manobra de alguns setores que querem apostar no quanto pior melhor. Acho que todos nós aqui estamos empenhados em achar uma solução, uma solução para que volte o País a crescer, a gerar emprego, a dar oportunidade para os milhares de pais de família que estão aí passando necessidade e a investir na infraestrutura nacional, dando condição para que o nosso povo - vamos dizer uma palavra muito dita anteriormente - volte a ser feliz. O Senador Wellington Fagundes acabou de citar, há pouco tempo ali, que existem muitos querendo pôr palavras ou posições na boca das pessoas, sem as pessoas terem tido essa posição A ou B. Há rede social que fala que eu sou contra o impeachment. Eu não sou nem contra nem a favor, pois ele não chegou nem aqui para eu analisar e conhecer qual é a posição correta, qual é a juridicidade, se está correta ou não, se existem elementos para que se faça isso ou aquilo. Nunca fiz essa declaração em lugar nenhum. Então, é esse tipo de posição que é inadmissível. E eu congratulo-me com V. Exª quando coloca que acha que esse processo nem deve chegar aqui ao Senado Federal, mas, se chegar, nós faremos uma análise isenta do processo, como o nosso Senador Cristovam aqui colocou, baseado em fatos, em autos processuais.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - A Justiça é fria. Há uma estátua ali na frente do Supremo Tribunal Federal com uma venda nos olhos, porque a Justiça tem que se basear nos autos processuais, na legislação, na Constituição. Então, ontem, aqui, nós falávamos, com vários Senadores aqui presentes, que não é possível um Juiz de primeira instância querer passar todos os canais e querer definir se fulano A ou B pode ou não pode assumir isso ou aquilo, o que não é da alçada desse juiz. Nós nos espantamos quando vêm meios de comunicação querer falar que isso é a verdade absoluta, incitando o povo à violência. Então, eu acho que deve haver uma reflexão. Para concluir, eu acho que V. Exª tem razão quando coloca que deve haver um pacto com os meios de comunicação, já que ontem foi instalada a comissão, foi eleito o Presidente, o Relator e todo mundo, e agora o processo vai seguir seu rumo. Eu, por exemplo, vou viajar ao Japão a serviço amanhã, a convite da Embaixada japonesa, representando o Senado Federal - eu, o único Senador, e mais dez Deputados brasileiros vamos ao Japão discutir tecnologia, discutir relações políticas. Então, eu ficarei esses dez dias fora do Congresso Nacional e espero que, quando voltar, as coisas estejam mais serenas, mais calmas, as coisas estejam sendo analisadas dentro da frieza necessária à análise, para que possamos ter um caminho definido. Eu vim aqui falar sobre o PMDB. O PMDB, que é o meu Partido, não tem posição definida. Não houve uma deliberação do PMDB, nem assim, nem assado. O PMDB tem o Vice-Presidente da República, que tem responsabilidade com o Governo.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Ele foi eleito na chapa conjunta. Eu sou Vice-Líder do Governo, do Governo em que o Vice-Presidente da República é do meu Partido. Então, eu não tenho posição de defender nenhum tipo de coisa inadequada. Estou aqui para defender que todas as corrupções sejam apuradas, como V. Exª colocou - apoiamos todas as ações adequadas e corretas da Lava Jato -, mas só não podemos concordar nem com quebrar sigilo telefônico que não é da alçada de fulano quebrar nem com a seletividade de abrir o sigilo de uma ação em detrimento das outras 23 ações que não tiveram o sigilo aberto. Então, com esse tipo de seletividade nós não podemos concordar. O Juiz Moro faz muitas coisas certas, tem o nosso apoio, mas, nessa questão aí, houve uma exorbitância, e deve ser recolocado no seu devido lugar. Então, eu congratulo-me com V. Exª.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Interceptação, Senador Hélio, interceptação telefônica até de advogados.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Pois é. Então, eu agradeço a V. Exª, concordo com a serenidade com que V. Exª aqui coloca e com a necessidade de todos nós termos compromisso com um País que se chama Brasil, com a retomada de empregos e com a retomada do desenvolvimento social. Muito obrigado.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu agradeço o aparte.

    Eu penso, Srs. Senadores, que nós deveríamos repetir muito aqui o que está acontecendo, porque, se não dissermos aqui, a imprensa não diz. Quando o Presidente Lula foi nomeado Ministro, o Juiz Moro suspende as interceptações. Por quê? Para remetê-las ao Supremo Tribunal Federal. Mas, antes de remetê-las ao Supremo Tribunal Federal, o que fez? Abriu o sigilo, levantou o sigilo e divulgou falas, conteúdos que, repito, não têm nada de ilegal e criminoso. É óbvio que há lá um monte de opiniões expressas não só pelo ex-Presidente Lula, mas por vários com quem ele falava, inclusive o Senador Lindbergh e o Senador Jorge Viana, que estava conversando com um advogado. Nenhuma fala dali pode ser caracterizada como crime. Tanto não o foi que repito.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eles não podiam ter vazado. Eles tinham que ter mandado para o Supremo Tribunal Federal.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Para o Supremo Tribunal Federal. E isso não é um pecado menor. Isso é um pecado capital. Não é um pecado menor.

    E para que serve isso? É para isto aqui: o diálogo ser publicado assim, nas primeiras páginas de jornais, em todos os telejornais do País, para falar que o Judiciário repudia ofensas e suspende manobra de Lula, para criar intriga, para colocar o povo contra o Governo, para colocar um contra o outro, o Judiciário contra o Executivo. É isso que está em curso no País. É isso que temos que enxergar. Por quê? Repito: não é por causa do Lula ou da Dilma. É por causa do projeto que eles representam.

    Eu não sou do PT. O meu Partido apoia, faz parte do Governo, porque concordamos com esse projeto, porque não queremos ver de volta o neoliberalismo no País. E aqui não vou repetir, mesmo porque falei que seria breve hoje para que V. Exªs também possam falar aqui, o que o Senador Lindbergh falou: os avanços que nós tivemos e o que eles estão planejando fazer no Brasil. E, Senador Lindbergh, não é só esse problema do projeto, que é um projeto ruim para os trabalhadores. É um projeto para reverter tudo o que nós conquistamos, como no novo marco do pré-sal, dirigindo todos os recursos para a educação...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Não é só isso. É retirada de direitos dos trabalhadores, é privatizar a Caixa Econômica, enfraquecendo o Minha Casa, Minha Vida, é um monte de retrocesso que querem promover. É isso tudo.

    Fora isso, há algo sobre o que dialoguei muito, esta semana, com o Senador João Capiberibe, do Amapá.

    Peguei aqui uma matéria escrita pelo professor do Departamento de Filosofia da USP, da Universidade de São Paulo, Wladimir Safatle. Ele fez um belo artigo. Vamos lá, prestar bem atenção, porque eu concordo, é aquilo que eu e o Senador Capiberibe falamos durante a semana inteira. Ele fala a respeito das ilegalidades cometidas, dessa articulação, dessas ações articuladas que existem entre meios de comunicação - não todos, não quero generalizar...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Mas ele diz o seguinte:

Por isso é muito provável que, derrubado o governo e posto Lula na cadeia, a Lava Jato sumirá paulatinamente do noticiário. A imprensa será só sorrisos para os dias vindouros, o dólar cairá, a bolsa subirá. E voltarão ao comando os mesmos corruptos de sempre, já que eles foram poupados de maneira sistemática durante toda a fase quente da operação.

    Olhem a profundidade disso. Olhem a profundidade. É fato. É fato, porque a Lava Jato vem sendo muito alimentada nessas partes pela imprensa. Aí, digamos, conseguem tirar a Presidente Dilma. Na minha opinião, isso será um golpe, porque, mesmo o impeachment sendo constitucional, a figura, a instituição do impeachment estando prevista na Lei Maior do País, que é a Constituição, se nele não estão contidos os elementos jurídicos necessários, aí é golpe. Aí é golpe.

    Então, digamos que consigam isso, que enfraqueçam a popularidade e a liderança do Presidente Lula. Voltarão. E, aí, Lava Jato, para a imprensa, não tem mais problema nenhum. Não divulgam nada, os telejornais, as rádios, os jornais. Aí vai acabando, e continua tudo como está.

    Então, eu acho que nós precisamos dialogar. Mais do que nunca, eu vejo: se não for isso que está acontecendo, a imprensa, neste momento, não tem que botar fogo. Mas, infelizmente, a imprensa está botando fogo. Foi assim em 1964! Exatamente assim. Eu até tinha aqui um jornal, que não está mais aqui comigo, a cópia de um jornal de março de 1964. Não tem muita diferença dos jornais de hoje, Srªs e Srs. Senadores.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Está aqui: "PM usa jato de água para tirar manifestantes anti-Dilma da Paulista". Aconteceu sabe quando? Agorinha, de manhã, porque eles estão lá na frente da Fiesp e não queriam sair. Tiveram que usar - olhem a fotografia - jatos de água, com caminhões de bombeiro. Agora. E não estava o nosso pessoal lá, não. Eram só eles.

    Aí, o que eles fizeram com o Secretário de Segurança? Xingaram o Secretário de Segurança de São Paulo, que é do PSDB, expulsaram o Secretário de Segurança de lá, chutaram o carro do Secretário de Segurança de São Paulo, o Sr. Alexandre de Moraes, do Governo do PSDB, do Governo de Alckmin. Xingaram ele de ladrão e tudo o que foi de pior.

    Ontem, os protestos, no Brasil inteiro, terminaram em pancadaria. O que está acontecendo?

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A sede do nosso Partido, em vários locais, tem sido invadida. Olha aqui! Eles ameaçaram atear fogo na sede do PT em Curitiba. Em Goiás, parece que botaram fogo do lado de fora, Senador Lindbergh. Botaram fogo do lado de fora! O ex-Governador, ex-Deputado Ciro Gomes publicou uma nota a respeito de um vídeo que foi muito visto pela internet. Ele teve que publicar uma nota porque foi avisado de que o irmão dele, ex-Governador do Ceará, estava sendo cercado e xingado por manifestantes, de reacionário, disso e daquilo. Ele foi lá para defender. O Deputado Pepe Vargas, ex-Prefeito de Caxias do Sul, ontem nos dizia que havia 200 pessoas na frente da casa dele. Ele estava em Brasília, e lá, só a sua esposa e sua filha.

    Então, olha aonde nós estamos chegando. Eu não quero dizer que do nosso lado também não haja reação.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Claro, para toda ação tem reação, mas o que a imprensa - que eu acho que tem até uma responsabilidade maior do que nós hoje - tem que fazer é, no mínimo, dar um espaço igual para que os lados possam se manifestar. O lado daqueles que querem o impedimento da Presidente e o lado daqueles que entendem que não há razão para isso. É, no mínimo, o que nós temos que pedir. Eu acho que merecíamos, Senador Lindbergh, ir ao Conselho Nacional de Justiça. Precisaríamos ir ao Ministério Público, ao Conselho Nacional do Ministério Público, levar a nossa preocupação e dizer "não é possível!". Porque aqui é isto: nós falamos, o outro lado fala; mas na imprensa não é assim, nas televisões não é assim.

    Então, esta é a hora da cautela. Esta é a hora de tomarmos muito cuidado não só com o que falamos, mas não só nós, porque muito mais poder perante a população do que nós, têm os meios de comunicação deste País.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu não gostaria de ver a Globo, daqui a algum tempo, fazer o que fez em relação a 1964: pedir desculpas, reconhecer que estava equivocada quando apoiou as manifestações e o golpe daquela época.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELA SRª SENADORA VANESSA GRAZZIOTIN EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Carta divulgada pelo ex-Presidente.

    (Durante o discurso da Srª Vanessa Grazziotin, o Sr. Hélio José a deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Wellington Fagundes.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2016 - Página 31