Discurso durante a 40ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política do País.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre a crise política do País.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2016 - Página 35
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, POLITICA NACIONAL, ECONOMIA NACIONAL, CRITICA, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, AUSENCIA, CRIME DE RESPONSABILIDADE, REPUDIO, SERGIO MORO, JUIZ FEDERAL, DIVULGAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Apoio Governo/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sra Presidenta, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, desde a semana passada que eu queria falar sobre a água. Falamos sobre tanta crise, tanta crise, como foi dito aqui agora - e eu ainda vou rebater isso -, mas deixamos passar meio que esquecido o Dia Mundial da Água. A crise da água é grande e é de todo mundo, mas, pelo aquecimento da crise política que vivemos, deixamos passar o dia pensarmos sobre o uso consciente da água. Então, eu vou deixar meu discurso da água para outro dia. E vou só fazer alguns comentários do que eu ouvi aqui.

    Dizer que a crise moral e política acaba com o impeachment é confessar que há um acordão, sobre o qual todo mundo já fala aí, de que, depois do impeachment - se passar -, parará tudo, todas as investigações.

    É fato que a Operação Lava Jato chegou onde queria, o Lula, mas agora está chegando onde ela não queria, e ela não sabe o que fazer. As listas que estão aparecendo por aí pegam gregos e troianos. E ninguém explica, todo mundo só fica indignado, mas ninguém explica. Ninguém diz: "Eu prestei conta".

    Queremos ver assim, se recebeu, prestou conta? O partido prestou conta ou a pessoa prestou conta? Não adianta só dizer: "Estou indignado." E todo dia aparecem listas e mais listas. Listas de 1980, o que prova que a corrupção não nasceu em 2003 neste País.

    Aí, a pessoa vir aqui fazer a afirmação de que acabará a crise moral se aprovado o impeachment eu acho até meio leviano porque está dizendo que, daí para frente, tudo vai ser esquecido. Mas não vai.

    Primeiro, queria aproveitar para louvar o projeto de iniciativa popular sobre a questão da corrupção. Muitas das coisas que estão aqui foram mandadas pela Presidente da República, ano passado, para cá, por um pacote também, e até hoje não foi nem lido, eu acho. Ela mandou, e muitas das propostas que estão aqui estavam naquele pacote, estão naquele pacote.

    Quando dizemos que é golpe... "Ah, não é golpe porque o impeachment está previsto na Constituição". Está previsto na Constituição o impeachment, desde que haja o crime de responsabilidade. Aí, se o crime de responsabilidade que vão imputar à Presidenta for pedalada fiscal, segurem-se para depois cassarem um bocado de governador, porque também fizeram pedaladas, alguns até já confessaram. Então, se vai ser esse o crime, depois vai haver muito governador cassado.

    Dizer que a crise moral se acaba com o impeachment conduzido pelo Eduardo Cunha... Certamente já há um acordo para salvá-lo: ele sai da Presidência da Câmara, está acabando mesmo o mandato, mas não perde o mandato. Certamente, já há esse acordo, e tudo indica que sim. Estão fazendo uma resolução lá para mudar a composição das comissões naquela Casa.

    Agora, ser governado pelo Eduardo Cunha é moralmente bom? Dizer que a crise moral acaba e ter como Presidente da República Eduardo Cunha? Porque, no dia em que o Temer viajar, nosso Presidente da República será ele, se isso passar? Dizemos que é golpe por isto: porque, se não há crime, impeachment é golpe.

    Moro pediu desculpas e admitiu que errou. Numa crise de humildade, ele pediu desculpas, admitiu que errou na questão dos grampos, mas o estrago está feito. Pedir desculpas só ao STF? Publicar conversas íntimas... Tem de pedir desculpas também à família Lula da Silva, porque publicar conversas íntimas, familiares, é crime também; é contra a lei. E a lei é muito clara: aquilo que não serve para a investigação tem de ser descartado sem dar conhecimento a ninguém. Ele expôs toda uma família, e é mais estarrecedor descobrir que ele é que é o vazador. Achávamos que era o tal do japonês, mas ele é quem entrega as notícias para a Rede Globo.

    Então, está devendo desculpas também, e precisa de punição, porque, se ele admitiu que errou, infringiu a lei, tem de ser punido.

    A lista das empreiteiras, até onde vai? E só vale para alguns? Porque tudo que sai que for contra o PT vale, já é criminoso, mas, nas mesmas listas estão, lá, todos os partidos, à exceção de alguns poucos. Parece que há 18 partidos aí numa lista.

    Então, não vale só dizer "não fiz". "Não fiz, mas o PT fez.", é essa a resposta.

    O Brasil está dividido: amanhã nós vamos ter uma grande manifestação aqui em Brasília e em alguns Estados. E vemos o desdém de algumas pessoas ao falarem do pessoal do "pão com mortadela". É "pão com mortadela" quando há, porque é gente pobre, é gente de assentamento, é trabalhador rural. Ninguém fala do filé-mignon que a Fiesp serve lá na sua sede na Avenida Paulista para os manifestantes nas suas manifestações. Lá no Piauí, montaram um bar debaixo de uma ponte, e o brinde era com champanhe. Isso é para quem pode. No entanto, os manifestantes a favor do Governo é gente pobre mesmo, porque são as pessoas das organizações sociais, do movimento popular, que estão vindo aí e que estão se manifestando. Mas também são válidas, são manifestações de povo organizado.

    Falar que o Brasil perdeu o grau de investimento: perdeu. Todavia, no governo anterior nunca nem existiu. Então, não se pode dizer que está pior do que antes, não. Quantas vezes, no governo Fernando Henrique, o Brasil foi "de joelhos" ao FMI pedir dinheiro para fechar as contas? Quantas? O Proer está sendo ressuscitado aí, muita gente pensava que estava enterrado, mas parece que estão desarquivando aí umas questões. Aliás, existe um discurso do Senador Alvaro Dias - espero que ele não peça o art. 14 -, mas existe um discurso dele de 1991 que é um primor, falando do Proer, da questão do Bamerindus. Então, não é de agora a crise moral, não é? Convenhamos, deixem de vaidades!

    É preciso que olhemos para isso, pois nesse processo dificilmente existe um vencedor. Ainda bem que o Senador que me antecedeu falou isto: "Não vai ser fácil! Estão pensando que será como em 1992, quando saiu um presidente e assumiu um vice, e ficou tudo em paz. É porque, ali, o País estava unido, e agora não: existem dois lados; um País dividido. Então não se pode achar que, passado o impeachment, fica tudo bem neste País, fica tudo ótimo, tudo vai se ajeitar. Pode até ser que existam os ajeitamentos nos processos da Lava Jato - tudo está caminhando, está indicando isso -, porque quem faz um processo de impeachment, que sequer é legítimo, presidido por Eduardo Cunha, que é o único réu da Lava Jato produzido até agora no meio político, convenhamos que não pode dizer que está defendendo a moral.

    Então, era isso o que eu queria falar, Srª Presidenta.

    Quero agradecer a antecipação da minha fala, pois achava que iria falar às 9h da noite, mas, como o pessoal não está no plenário, foi bom.

    Obrigada por ter me dado a palavra agora. Eu deixo para fazer o meu discurso sobre a água na próxima semana, quando os ânimos estiverem menos exaltados. Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2016 - Página 35