Discurso durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de declaração da Professora Marilena Chauí e crítica ao Partido dos Trabalhadores pelo incentivo ao discurso de ódio e de divisão de classes existente na sociedade brasileira.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Leitura de declaração da Professora Marilena Chauí e crítica ao Partido dos Trabalhadores pelo incentivo ao discurso de ódio e de divisão de classes existente na sociedade brasileira.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, José Medeiros.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2016 - Página 31
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • LEITURA, DECLARAÇÃO, MARILENA CHAUI, PROFESSOR, FILOSOFIA, ASSUNTO, CLASSE MEDIA, CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, INCENTIVO, DISCURSO, COMBATE, INIMIGO, DIVISÃO, CLASSE SOCIAL.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Senador Paulo Paim, que preside esta sessão como faz com bastante frequência, revelando sua dedicação ao mandato; Srªs e Srs. Senadores; nossos telespectadores da TV Senado; ouvintes da Rádio Senado, tenho prestado atenção, Senador Paim, em que ultimamente tem se repetido, como se fosse um mantra, que não dá para entender, de vozes das mais fulgurantes lideranças do Partido dos Trabalhadores, o clima de ódio que se estabeleceu no País.

    Fala-se isso como se as pessoas achassem que isso aconteceu de uma hora para a outra. Nada, Senador Paim, nada - ouvi essa palavra também, porque estava em um compromisso fora ouvindo o pronunciamento de V. Exª, lembrando-se de Getúlio, de seu pai, getulista - na vida, na natureza, na política, nada acontece por acaso. Nada, nada, nada! Toda ação gera uma reação.

    Exatamente por nada acontecer por acaso que é preciso refrescar a memória dessas lideranças de quem semeou ódio. Quem semeia vento, colhe tempestade; o que se planta, se colhe: se se coloca uma boa semente na terra, a planta vai nascer saudável e se vai colher um bom fruto, mas, se se planta uma má semente, ela ou não vai nascer ou vai morrer ou vai nascer uma erva daninha. É assim! A natureza, a política e a nossa vida são assim!

    Então, Senador, a palavra ódio... E eu estava recapitulando um documento muito interessante, uma palestra de uma das vozes mais autorizadas, porque é uma intelectual muito respeitada dentro do PT, a Professora e Filósofa Marilena Chaui. Ninguém discute a relevância que ela tem como ideóloga do Partido dos Trabalhadores.

    Na comemoração dos dez anos de Governo do Partido dos Trabalhadores, ela fez uma palestra, que está disponível no Youtube para quem quiser ouvir. E eu estou ouvindo todas as palavras da Prof. Marilena. Eu achei que era necessário, Senador Paim, trazer isto aqui:

(Procede-se à exibição de vídeo com palestra da professora Marilena Chaui)

[...] Não é só por razões teóricas e políticas, é porque eu odeio a classe média! [É o que ela diz.] A classe média é o atraso de vida. A classe média é a estupidez, é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma coisa fora do comum a classe média! Então, eu me recuso a admitir que os trabalhadores brasileiros, porque eles galgaram direitos, conquistaram direitos... Esses direitos foram conquistados por vinte anos de luta, vinte anos de luta! Fora os quinhentos anteriores de luta e desespero. E dizer que essas lutas e essas conquistas fizeram a gente virar classe média? De jeito nenhum! De jeito nenhum! A classe média é uma abominação política porque ela é fascista. Ela é uma abominação ética porque ela é violenta. E ela é uma abominação cognitiva porque ela é ignorante. Sim. [Aplausos.]

    Precisa dizer mais, Senador Paim? Não, não precisa dizer mais. É a voz, é a voz de uma das ideólogas do Partido dos Trabalhadores.

    Então, você ouve isso e é você, eu, classe média, Senadora do Rio Grande do Sul, que estou espalhando ódio? Que clima é esse que foi criado no Brasil? Por quem? Convenhamos! É preciso rever a história, ouvir esses discursos. Quem é que está semeando ódio?

    Agora há pouco, aqui, se estabeleceu um debate e veja só a classe média. Eu recebi mais um folheto da Frente Brasil Popular. Então, a classe média, dependendo da situação, interessa. Mas, dependendo, não, como no pronunciamento da professora Marilena Chaui. A classe média é abominável, é odiosa, é ignorante - é isso que está dito aqui por ela. Ela mesma disse, com a sua voz. "Ela é arrogante, a classe média", palavras da Prof. Marilena Chaui.

    Mas neste folheto aqui há uma historinha para dizer que o impeachment é golpe. Conta um pouco essa história de retirada de direitos. Em um desses quadrinhos, está escrito: "aqui tem negro, branco, índio, pobre, classe média, artista, ateu, religioso, aqui tem toda a mistura do povo brasileiro".

    Então, a professora fala tudo isso contra a classe média, mas aqui no folheto, do mesmo grupo da professora Marilena, serve a classe média para engrossar as fileiras, como se toda a sociedade brasileira agora... Especialmente falo da classe média, porque é a classe média que sustenta o País, trabalhando junto com todos os trabalhadores. E grande é o País que faz emergir uma classe baixa de salários baixos, classe C e D para a classe média, para poder viajar de avião, para poder desfrutar de uma vida melhor, para comprar um carro, para ter uma geladeira nova.

    Quem é a pessoa que, de sã consciência, negaria esses valores? Qual é a pessoa que, de sã consciência, por mais má que fosse, negaria esses direitos? E também há a relevância de um estadista trazer para a classe média essas pessoas lá da classe C e D, da classe D para a classe média.

    Esse clima teve uma razão, teve uma origem. A origem está aqui nessas falas, que dizem todos os impropérios. É inaceitável.

    Da mesma forma como o que disse também há pouco no Palácio do Planalto o Sr. Aristides Santos. Eu tenho aqui a gravação, eu poderia repetir, mas todo mundo ouviu claramente a letra do que ele diz: "vamos invadir os gabinetes, mas também as fazendas deles, porque se eles são capazes de incomodar o Ministro do Supremo Tribunal Federal, nós vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles. Vai ter reforma agrária, vai ter luta e não vai ter golpe".

    Eu quero dizer que, embora o Sr. Aristides Santos tivesse, agora em abril, falado em nome da Contag, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag) cujo Presidente é Carlos Joel da Silva, é uma das entidades mais respeitadas no Rio Grande do Sul, pela responsabilidade que tem. E sabe o que eu falei com ele? Se ele concordava com isso. Ele me disse: "Senadora, nós, na Fetag, no Rio Grande do Sul, e também na Fetaesc, de Santa Catarina, e também na federação do Paraná, dos trabalhadores rurais do Paraná, nós queremos reforma agrária na lei." Com a lei, com a cobertura da legalidade. Não é na marra, não é com violência, não é matando, fazendo exatamente aquilo que contraria o dispositivo legal, que é exatamente o Estado de direito.

    Então, eu quero agradecer o consolo que o Carlos Joel da Silva, o Presidente da Fetag, falou claramente: "A posição da Fetag não é esta." E também vão cobrar a Contag por esse discurso explosivo e inflamado - eu diria até incendiário -, de intimidação, de levar medo à área do campo, já tão conflagrada quanto está. Disse ele: "Nós defendemos a reforma agrária dentro da lei, e as palavras dele criaram um grande constrangimento em nós".

    Essa entidade é tão importante que os últimos dois Presidentes da Fetag... Elton Weber é um destacado Deputado Estadual eleito, porque os trabalhadores e a sociedade gaúcha o respeitam; e Heitor Schuch elegeu-se Deputado Federal de destacada atuação aqui. Essa entidade tem uma prestação de serviço com os trabalhadores rurais do Rio Grande do Sul inestimável e respeitada enormemente. Mas essa entidade, a Fetag, sentiu-se constrangida com as palavras ditas pelo Aristides Santos dentro do Palácio do Planalto e sem nenhuma admoestação.

    Não é com violência. O que ele está fazendo é exatamente provocar a violência, e a violência é provocada também por ódio, por conflito. Não é disso que nós precisamos.

    Eu não sou uma Senadora do "quanto pior melhor". Aqui, no Senado, me conhecem, sabem da minha disposição, mas nós não podemos tapar o sol com a peneira. Estamos levando para uma situação em que é impossível você ter hoje condição sequer, porque você faz um discurso na direção, como faz o Paim, por um entendimento, por uma conversa. Dali a pouco, sobe outro aqui, na tribuna, e é uma xingação danada, como se aqui ninguém prestasse, a não ser esse grupo.

    Eu penso, Senador Paim, que ou nós temos coerência nas nossas posições, ou nós temos que mudar uma série de coisas.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Permite-me um aparte, Senadora Ana Amélia?

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Com muito prazer, Senadora Gleisi.

    Então, nós precisamos colocar e separar o joio do trigo. Nós precisamos ter um jogo claro de palavras, de coerência nas atitudes, na pregação e nos atos que fazemos. Não adianta vir com essa conversa. Nós temos que mostrar quem espalhou, quem semeou o ódio na sociedade brasileira. Aqui, está claro: a classe média é tudo isso na visão da Professora Marilena Chaui - claro.

    Eu também vou dizer que não é isso que os petistas todos pensam, Senadora Gleisi. Tenho certeza, porque conheço muitos petistas, como a senhora por exemplo. Eu duvido que V. Exª concorde com o que está dito por ela que odeia a classe média e que diz que a classe média é ignorante, que ela é fascista, que ela é conservadora, que ela é tudo isso que ela falou. Eu tenho certeza. Conheço o Senador Paim, conheço vários - Walter Pinheiro, que deixou o Partido; Jorge Viana; muitos Senadores; muitos políticos do seu Partido; no Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, uma pessoa respeitadíssima - e eu sei que não endossam essa agressiva - essa agressiva! - definição da classe média. Agressiva e com um tom odioso de divisão de classes. Mas quem semeia vento colhe tempestade.

    Concedo o aparte, com muito prazer, à Senadora Gleisi Hoffmann.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senadora Ana Amélia. A professora Marilena Chaui é uma filósofa, e filósofos têm livre pensar. Eu não sei qual foi o contexto e qual foi o evento em que ela estava quando falou isso. Então, não me cabe aqui fazer nem a sua defesa nem a sua acusação. A filosofia é isto: é o livre pensar. Se nós formos pegar filósofos que têm outras origens, nós vamos também ver manifestações violentas. Podemos pegar, na história, vários que se manifestaram assim. Aliás, se a gente for pegar, Senadora Ana Amélia, as manifestações de violência que nós temos hoje na política, nós temos de parte a parte. Então, sobram exemplos para a esquerda, sobram exemplos para a centro-direita. Eu lembro aqui, por exemplo, um episódio que me deixou muito chocada, que foi o velório do nosso ex-Senador José Eduardo Dutra. José Eduardo Dutra morreu, foi feito o velório dele, e o velório foi invadido com um monte de panfletos contra o PT, com o pessoal dizendo que petista bom era petista morto, quer dizer, não respeitando a dor naquele momento. Assim como eu também vejo as expressões, por exemplo, do Deputado Bolsonaro incitando o ódio, a misoginia, a questão de raça, a questão de orientação sexual; e as do Pastor Silas Malafaia, que fica pregando na televisão o tempo inteiro, e que faz isso em nome de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo, um ser que pregou a paz, o amor ao próximo e a tolerância. O que eu quero dizer para V. Exª é que, se nós formos procurar, nós vamos ver, de parte a parte, as manifestações como são. Então, eu acho que cabe a nós que estamos aqui tentar acalmar essa situação. Defender as nossas ideias, sim, porque cada um tem ideias aqui e eu acho que isso é legítimo e é importante, defender por que nós chegamos aqui, defender o que nós achamos de um governo, defender o que pensamos da democracia. Isso faz parte do nosso trabalho. Agora, não dar ênfase, não dar voz aos excessos ou às situações que possam levar a conflitos e confrontos. Eu lembro que, no ato do dia 13 de março, que era o grande ato do pessoal que queria o impeachment, do pró-impeachment, nós fizemos uma verdadeira desmobilização de pessoas da nossa Base que queriam ir para as ruas e queriam fazer o enfrentamento. Quando os ânimos estão muito acirrados, as coisas acabam indo para esse lado. Então, cabe a nós acalmar, cabe a nós buscar serenidade nesse processo, sem abrir mão das nossas convicções, sem concordar necessariamente com o que o outro está falando, tendo firmeza sempre em defender. Eu sempre vou subir aí e com certeza vai haver muitas coisas que eu defendo ao contrário de V. Exª, mas jamais vou me colocar contra o seu direito de defender as suas ideias. Então, eu acho que não colabora, não ajuda nesse momento a gente trazer para dentro dessa Casa a questão das manifestações de ódio sejam de qualquer parte que forem. Eu recebo no meu e-mail diversas manifestações dessas, diversas. A senhora não tem ideia. Esses dias me mandaram um e-mail dizendo o seguinte: "Eu sei onde seus filhos estudam, eu sei onde a senhora mora". Eu até pedi para a Polícia do Senado fazer uma representação - e ela a fez -, porque eu não posso colocar a vida dos meus filhos, da minha família em risco, porque as pessoas divergem de mim na política. Mas eu sempre tento, Senadora Ana Amélia, quando me vêm com isso, quando é muito grave, ou recorrer às questões de direito, à Polícia, à Justiça, enfim, ou, então, eu sempre tento levar uma palavra branda, porque eu acredito que a palavra branda acalma o coração raivoso. Procuro mostrar para a pessoa que não é uma luta de ódio. É uma disputa, com certeza, de ideias. Temos que ser firmes. Muitas vezes vamos ser muito firmes, muito determinados, mas jamais é uma luta para destruir o outro. É, sim, para ganhar sobre a ideia do outro. Então, eu queria dizer isso a V. Exª e eu acho que o nosso papel aqui vai ser muito de acalmar essa situação e não de trazer aqui para dentro situações que possam deixar ainda as motivações e a situação da população, ou de alguns setores dela, ou de algumas pessoas, ou de alguns grupos ainda mais acirradas. Obrigada.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eu agradeço muito, Senadora Gleisi Hoffmann. Eu só espero que V. Exª não esteja, nesse seu aparte, dizendo: "Senadora, não devia ter trazido esse depoimento da Marilena Chauí". Eu acho que a senhora é uma democrata e não estabeleceria uma censura. Por que é que eu trouxe isto aqui hoje? Não é para alimentar o ódio. É para mostrar a origem dele, como começou isso, onde começou, quem começou. Isso porque do jeito que está sendo dito, parece que isso foi agora, ou seja, é neste momento que a Dilma está sofrendo esse processo. Mas não é, Senadora.

    Outra coisa, não concordo com nenhum ato que viola direito humano, que desrespeita um cadáver, Senadora. Essa não é uma atitude correta nem digna. É desumana. Então, não estou desse lado. Não estou.

    Não concordo com as posições do Deputado Jair Bolsonaro. Não concordo. Não é esse o meu modo de pensar, meu modo de agir, meu modo de ver a política, de entender o nosso País.

    Segundo, vou lhe dizer: Silas Malafaia - estava eu aqui, na frente do Congresso Nacional, no domingo, dia 13 - subiu em um caminhão de som e sofreu uma grande e sonora vaia, uma sonora vaia. Ou seja, aquela movimentação não tinha líder, não tinha voz. Era uma manifestação, ocorrida no dia 13 de março, no domingo, aqui em Brasília, e em 250 cidades brasileiras, de absoluta tranquilidade. Fizeram muito bem as lideranças do Partido dos Trabalhadores ao orientar para que não houvesse uma confrontação. Isso foi muito bom, foi elogiado. Nós aqui destacamos isso. Parabéns! Os governadores já haviam dito: "Vamos assegurar a tranquilidade dessa realização". Foi uma das mais pacíficas e mais bonitas demonstrações da democracia da história recente do nosso País.

    Eu estou trazendo isso porque estou muito triste, porque estou convivendo na política, como Parlamentar, desde 2011, e vejo esse enfrentamento, que eu não acho justo, não acho correto, porque só um lado está agindo certo e o outro lado não presta. É isso que foi jogado aqui. Então, eu estou aqui agindo de maneira a resgatar a história, os fatos e os personagens para que a gente compreenda devida e adequadamente como nasceu este clima que estamos vivendo em nosso País.

    Eu concedo o aparte ao Senador José Medeiros, com muito prazer.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senadora Ana Amélia, meus parabéns pela sua fala, principalmente porque V. Exª a traz à tribuna do Senado, pela TV Senado, uma TV que vai do Oiapoque ao Chuí, que está em todos os rincões do nosso País. É muito importante a sua fala porque ela é uma fala esclarecedora. E V. Exª trazer o depoimento da filósofa Marilena Chaui esclarece muito mais ainda, porque robustece a sua fala, dá fundamentos. Não é só a Senadora, que, eventualmente, está na oposição, que está falando, mas está aí a própria fala dela.

(Soa a campainha.)

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Eu tenho dito: se este Governo não fosse do Partido dos Trabalhadores, com a competência que o Partido dos Trabalhadores tem para fazer factoide e para fazer oposição, este Governo já teria caído faz tempo, porque boa parte das teses do Partido dos Trabalhadores e das estratégias vem de há muito, são velhas conhecidas. Este argumento mesmo, por exemplo, de imputar ao outro o discurso de ódio vem das teses de Lenin, na qual uma delas era: acuse os seus adversários do que você mesmo faz. Você faz alguma coisa de errado e acusa os outros. E V. Exª fundamenta muito bem; desde o intelectual a outros desfiam esse rosário de ódio, com as exceções que temos de fazer aqui. Por exemplo, esse democrata que está aqui, presidindo a Mesa neste momento, vai para qualquer debate. Ele debate com agronegócio; ele debate com o empresariado; debate com todos.

(Interrupção do som.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Tem de deixar falar, porque ele está elogiando V. Exª, Senador Paim.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Vai falar o tempo que a senhora quiser aqui; não só ele, V. Exª também.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Aliás, talvez seja o Senador que mais enfrenta o debate aqui. Toda segunda está ali, na Comissão de Direitos Humanos, enfrentando temas dificílimos, mas, acima de tudo, dando uma aula do que é respeitar o contraditório. Muita gente no Partido dos Trabalhadores, muita mesmo, não tem esse mesmo comportamento, aliás, tem isso mesmo como uma fundamentação para nos dividir - nós e eles. Diria que petistas de alta plumagem gostam desse discurso porque cria monstros imaginários que passam a ser combatidos e aí divide o Brasil. E há aquela velha máxima também: dividir para governar. Então, o que V. Exª traz é muito importante para que nós da oposição façamos. E eu quero fazer um chamamento para a oposição aqui, o Partido dos Trabalhadores está com o pé fincado nessa trincheira aqui e tem feito o debate, colocado argumentos que, a meu ver, não são verdadeiros, mas que correm o risco de pegar por falta de contraponto. V. Exª é uma das está aqui, mas precisa de a oposição se posicionar. No momento, está em ebulição a discussão democrática neste País e precisa haver os dois lados se contrapondo, não se violentando, não se agredindo, mas fazendo o contraponto. Então, queria parabenizá-la, porque não é à toa que V. Exª recebe elogios do Brasil inteiro, inclusive do meu Estado, porque faz um debate, acima de tudo, um debate com honestidade e propósito, um debate sem desonestidade intelectual, um debate sem cinismo, o bom debate da política. V. Exª engrandece a política brasileira. Muito obrigado.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, Senador José Medeiros, pelo aparte e, sobretudo, pelo estímulo dessa referência ao trabalho.

    Penso que nós todos, aqui, temos igual compromisso e responsabilidade de honrar aquilo com que nós nos comprometemos com os nossos eleitores, representando os nossos Estados, que nos acompanham e nos cobram algumas atitudes. Nós precisamos corresponder à confiança da sociedade para que a política, como foi falado tanto aqui antes por vários Senadores que me antecederam, continue sendo uma atividade fundamental numa democracia; e ela precisa ser cada vez mais honesta.

    Agora mesmo, estava falando isso. O Sr. Aloísio Furman, de Curitiba, Estado do Paraná, solicita que nós defendamos, aqui, no plenário, o fim do foro privilegiado e contradita os Senadores da situação exatamente sobre essa questão relacionada ao foro privilegiado, porque nós precisamos, de uma vez por todas, acabar com essa condição - a que também sou favorável. A Srª Clara Carvalho também ligou, falando sobre o trabalho daqui. O Sr. Eiron Gonçalves de Miranda, da cidade de Reserva, também do Paraná, que é pastor da Igreja Batista, cumprimenta pelo trabalho que vem sendo realizado e pede um minuto de silêncio no plenário, em razão da crise que o País está vivendo - vejam só como eles têm uma forma de ver a situação. O Sr. Jucélio da Silva, de Brasília, Distrito Federal, também fala sobre isso. A Srª Iracema Queiroz, também de Brasília. Agora há pouco, recebemos, de Barbacena, Minas Gerais, mensagem da Srª Nilza Maria de Freitas Dias, falando sobre toda a crise política que o Brasil está vivendo. E recebi a visita, pessoalmente, do casal, Srª Sônia Suely de Jesus e Sr. Valdir de Jesus, da Bahia, que vieram acompanhar a TV Senado.

    Lembrando apenas, nesse contexto de que estava falando sobre o clima de estabelecer a cizânia, a divisão, o confronto entre as pessoas, a declaração do Presidente da CUT, que disse: "Nós vamos acabar com o Juiz Sérgio Moro." Eu acho que...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... são declarações que não ajudam na construção de uma saída para a crise; ao contrário, apenas a agravam. E é por isso que é preciso que a gente lembre aqui essa responsabilidade que todas as lideranças do País - não apenas Senadores e Deputados, mas todas as lideranças de entidades de classes e movimentos sociais - têm neste momento delicado que nós estamos vivendo.

    Muito obrigada, Presidente Paulo Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2016 - Página 31