Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Retrospectiva da trajetória política do Partido dos Trabalhadores e elogio à gestão do ex-Presidente Lula à frente da Presidência da República.

Autor
Fátima Bezerra (PT - Partido dos Trabalhadores/RN)
Nome completo: Maria de Fátima Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Retrospectiva da trajetória política do Partido dos Trabalhadores e elogio à gestão do ex-Presidente Lula à frente da Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2016 - Página 104
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELOGIO, GESTÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ENFASE, MELHORIA, EDUCAÇÃO, COMBATE, FOME.

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senador Raimundo Lira, nosso amigo que preside os trabalhos nesta sessão de hoje - claro, uma sessão muito importante em função da conjuntura que nós estamos vivendo.

    Eu quero parabenizar o Senador Lindbergh por mais esse belo pronunciamento que acaba de fazer.

    Senador Raimundo Lira, eu quero me dirigir neste momento aos brasileiros e brasileiras. Vou fazer aqui uma retrospectiva mais voltada ao papel, à trajetória e à história do meu partido, o Partido dos Trabalhadores. Mas essa fala que vou fazer agora também é dirigida, Senador Raimundo Lira, de forma muito especial, à Nação petista em todo o País, aos milhares de militantes do nosso Partido. O Partido só é o que é exatamente pela força da sua militância, pela dedicação, pela combatividade dessa militância.

    E a militância em todo o País, claro, apreensiva, acompanha o desenrolar dos fatos, mas com certeza está com um espírito cada vez mais combativo no que diz respeito a defender o legado, a defender a história do Partido dos Trabalhadores.

    Portanto, Senador Raimundo, começo dizendo que a grave crise política que estamos atravessando reclama um breve retrospecto histórico para que possamos traduzir para a população o que de fato está acontecendo em nosso País.

    Em primeiro lugar, é preciso afirmar e reafirmar, quantas vezes forem necessárias, que esta crise não nasceu hoje, nem no dia seguinte à vitória da primeira mulher eleita e reeleita Presidenta deste País, a Presidenta Dilma Rousseff, quando teve início uma nova etapa de campanha que namora perigosamente com o golpe, com a ruptura da ordem democrática, que duramente o Brasil conquistou ao derrubar a ditadura militar.

    Portanto, Sr. Presidente, o que eu quero colocar é que, na verdade, a crise não nasceu hoje nem no dia seguinte à vitória dela, quando - quero aqui mais uma vez reafirmar - tem início um movimento golpista que, infelizmente, vem na direção de ferir a democracia, romper a ordem constitucional, na medida em que querem, enfim, consolidar o afastamento da Presidenta Dilma pela via de um impeachment que, embora esteja na Constituição, não se sustenta do ponto de vista de base e fundamento legal, porque não há absolutamente nada que possa ser imputado à Presidenta da República, do ponto de vista da sua conduta pessoal de ética e de seriedade.

    Mas quero dizer, Sr. Presidente, que o PT resistiu e resistirá a esses ataques porque enfrenta a mesma intolerância desde que foi fundado, em 1980, quando nasceu para servir de instrumento político para a imensa maioria de brasileiros e brasileiras que não tinham vez nem voz.

    E eu quero aqui, Sr. Presidente, Senador Raimundo Lira, dar um exemplo da minha própria história. O senhor me conhece, eu nasci lá no Curimataú, Seridó paraibano, lá na cidadezinha de Nova Palmeira, menina de família de origem humilde.

    Trago na minha história, nos tempos de criança, na fase da adolescência, as marcas da exclusão, seja no que diz respeito ao direito ao saber, à escola, seja no que diz respeito à questão da sobrevivência, do enfrentamento contra a fome. Falo isso, Senador Raimundo Lira, porque lembro-me muito bem que uma das cenas mais dolorosas que vivi quando criança, lá na Paraíba, foi, de repente, entrando já na minha adolescência, não poder continuar os estudos porque meus pais não tinham condições de arcar com os custos para que eu fosse para a cidade seguinte, a cidade de Picuí. Isso me levou a ficar dois anos sem estudar. Lembro-me também dos períodos da seca impiedosa e do quanto nós sofríamos naquele período. Não cheguei a passar fome, mas, muitas vezes, vi a comida sendo racionada dentro da minha própria casa, dada a precariedade das nossas condições de vida.

    Pois bem, esse passado ficou para trás. É claro que nós temos muito o que conquistar ainda do ponto de vista da cidadania, mas é inegável que as escolas técnicas povoam e reacendem a esperança da juventude lá no meu Rio Grande do Norte, é inegável que as escolas técnicas povoam e reacenderam a esperança da juventude na Paraíba, inclusive lá em Picuí, vizinho a Nova Palmeira.

    Quero dizer muito rapidamente, Senador Raimundo Lira, que vim para o Rio Grande do Norte, e o povo do Rio Grande do Norte, da forma mais generosa possível, adotou-me, fez-me Deputada Estadual, Deputada Federal por três mandatos, e também me fez a primeira Senadora de origem popular. E olhe que disputando uma eleição em um Estado cujo processo eleitoral é marcado ainda por uma forte tradição oligárquica e pelo abuso do poder econômico. Mas aqui estou.

    E eu faço essa retrospectiva para dizer o seguinte: se não fosse o PT, certamente eu e muitos outros por aí e pelo Brasil afora não teríamos adentrado a política e tendo o direito, portanto, de representar o nosso Estado, representar a nossa cidade e defender as causas do nosso povo.

    Pois bem, Senador Raimundo Lira, não foram poucas as lutas que o PT travou, a começar pela briga pelas liberdades que haviam sido suprimidas pelo golpe de 1964. Fomos os primeiros a ir para as ruas enfrentar a ditadura.

    Fomos os primeiros a enfrentar a repressão contra a classe trabalhadora e dizer não aos salários de fome, não às jornadas exaustivas no campo e nas fábricas, não aos abusos cometidos contra as trabalhadoras, não a qualquer tipo de preconceito, violência ou opressão.

    Alcançamos importantes conquistas nos nossos primeiros anos de vida, mas faltava ainda a principal: a democracia plena. E, por ela, o PT e sua militância e outros parceiros foram novamente às ruas para conquistar o direito de eleger o Presidente da República nas memoráveis jornadas das Diretas Já.

    Mais uma vez, a nossa participação, a participação do PT foi fundamental para tirar do poder a elite que havia se pendurado no poder militar para tentar manter seus privilégios seculares.

    Mais uma vez, cumprindo nossa missão de organizar aqueles que não tinham vez nem voto, o PT foi decisivo para recolocar o Brasil em plena normalidade democrática.

    E foi dessa forma, sempre respeitando a democracia, que acatamos três derrotas consecutivas do nosso candidato à Presidência da República. As lágrimas banharam muito as nossas bandeiras naquela época, mas acatamos, Sr. Presidente, três derrotas consecutivas do nosso candidato à Presidência da República. Até que, finalmente, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1º de janeiro de 2003, recebeu a faixa presidencial para governar o Brasil. Finalmente, pela primeira vez na história, um representante autêntico do povo brasileiro havia sido eleito para resgatar direitos e intervir nos destinos do País.

    Apesar do intenso descrédito que a mesma elite ultrapassada e ultraconservadora disseminou pela mídia, os dois mandatos do ex-Presidente Lula figuram hoje na história como o período em que se registraram as maiores conquistas da cidadania e os maiores avanços sociais de todos os tempos.

    O salário mínimo teve aumento real de 72%; o investimento público em educação passou de 4,8% para 6,4% do PIB; o Prouni abriu as portas das universidades a jovens de famílias pobres, não para eles serem apenas serventes, mas para terem o direito de estudar; mais de 40 milhões de brasileiros saíram da linha da miséria; o Brasil passou a ser referência mundial no combate à miséria e à fome extrema pelo Banco Mundial e pela ONU.

    A lista de conquistas é muito maior, mas sua base é uma só. Sua diretriz está no discurso de posse do primeiro mandato do nosso Presidente Lula.

    Ele disse - abre aspas: "Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivos de sobra para nos cobrir de vergonha" - fecha aspas.

    E nós mudamos o País em uma revolução silenciosa, tornando-o mais justo, mais igualitário, mais humano.

    Temos erros? Temos, sim. Acertos? Sim. Mas, com certeza, Sr. Presidente, temos um legado de muito mais acertos. E um desses maiores acertos é o fato de que nunca mudamos de lado; portanto, não traímos nossos princípios, nunca traímos os interesses do nosso povo, os interesses da classe trabalhadora.

    Sim, tivemos companheiros que se perderam pelo caminho, mas não somos organização criminosa, nem somos um ajuntamento de corruptos, muito menos bandidos reunidos. Somos o Partido do povo, o Partido das trabalhadoras e trabalhadores do Brasil. Somos o Partido da democracia, das mudanças profundas que já tiveram início e que haveremos de aprofundar, mantendo e aprofundando as mudanças que hoje não mais permitem que o Brasil seja dividido entre abastados e privilegiados no andar de cima e o resto da população no andar de baixo.

    Resistiremos para manter e garantir os avanços que conquistamos. Não vamos assistir sem reagir às tentativas das forças ultraconservadoras, que agora se manifestam com o apoio maciço da mídia, com suas bandeiras de retrocesso social, de perda de direitos, de volta da ditadura militar. Não permitiremos que essas forças retrógradas transformem o Estado novamente em sua propriedade particular.

    E é por essa razão que, daqui do plenário, Sr. Presidente, desta tribuna do Senado, honrosamente represento o povo potiguar e conclamo todos os brasileiros e brasileiras, em especial os natalenses, os potiguares, para que ocupemos as ruas e praças do Brasil nesta sexta- feira.

    O SR. PRESIDENTE (Raimundo Lira. PMDB - PB) - Senadora Fátima Bezerra, minha estimada amiga, paraibana, representante do Rio Grande do Norte, eu gostaria de pedir estes 30 segundos a V. Exª para encerrar a sessão, porque, logo em seguida, terá início o Programa Eleitoral, e a TV Senado vai transmitir o programa eleitoral. V. Exª permite?

    A SRª FÁTIMA BEZERRA (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Com certeza, Senador, e agradeço a V. Exª.

    Permita-me só, rapidamente, renovar o convite para Natal, a todos aqueles que amam e acreditam no Brasil, a todos aqueles e aquelas que amam e defendem a democracia.

    Portanto, nosso ato começa amanhã, às 15 horas, no Midway. Todos à rua, no dia 18, Midway, às 15 horas, em Natal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2016 - Página 104