Pela Liderança durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre as manifestações a favor da democracia que estão ocorrendo em todo o País.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentário sobre as manifestações a favor da democracia que estão ocorrendo em todo o País.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2016 - Página 12
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, BRASILIA (DF), OBJETIVO, DEFESA, DEMOCRACIA, PAIS, CRITICA, TENTATIVA, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, FEDERAÇÃO NACIONAL, JORNALISTA, ASSUNTO, REPUDIO, POSSIBILIDADE, GOLPE DE ESTADO, BRASIL.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, companheiros e companheiras, eu quero primeiro registrar que, no dia de hoje, nós teremos em todas as capitais brasileiras, inclusive aqui no Distrito Federal, aqui em Brasília, manifestações públicas organizadas por várias entidades dos movimentos sociais - de juventude, dos trabalhadores, das mulheres, dos trabalhadores rurais. Essas manifestações têm como objetivo principal a defesa da democracia em nosso País.

    A população brasileira - eu tenho convicção absoluta - está acordando para compreender o que, de fato, vem acontecendo no Brasil. Essa não é tarefa fácil, porque, todos os dias, em todos os momentos, em todas as horas, o que vemos são os meios de comunicação divulgando denúncias de corrupção e procurando ligá-las ao Governo. Pari passu a isso, tramita no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados, um processo de impeachment contra a Presidente Dilma, cujo conteúdo não tem absolutamente nada a ver com a crise econômica do País, com a corrupção instalada no Brasil, porque o processo de impeachment trata somente de questões fiscais, de ações do Governo em relação à aplicação da política fiscal do Governo Federal. As questões envolvidas são as tais pedaladas, a abertura de créditos suplementares, que, por própria decisão do Tribunal de Contas da União, em anos anteriores, já foram consideradas legais.

    E aí, Sr. Presidente, abro um parêntese para repetir uma frase que ouvi hoje cedo na televisão de um dos que prescrevem o pedido de impeachment, um jurista brasileiro que assina o pedido de impeachment, quando esteve ontem na Comissão Especial da Câmara dos Deputados para defender a peça por eles apresentada e para expor aos Srs. Deputados e às Srªs Deputadas as razões daquela peça. Eu me assustei quando ouvi esse jurista dizer, referindo-se às pedaladas fiscais, que, se, por acaso, Deputada Jô Moraes, governos anteriores também adotaram a mesma prática - e ele reconhece, Senador Blairo, que governos anteriores adotaram a mesma prática -, eles o fizeram em pequena quantidade, diferentemente, segundo ele, do período da Presidente Dilma que usou muito o mecanismo das tais pedaladas. Ora, eu entendo - e acho que se aprende isto não no primeiro ano da faculdade de Direito, mas no primeiro ano do ensino médio ou quem sabe do ensino primário - que crime é crime. Crime ou é crime ou não é crime. A gravidade do crime, essa, sim, é medida, a penalidade é medida de acordo com a gravidade. Mas ele dizia que não, que a Presidente Dilma utilizou muito esse expediente.

    Enfim, Sr. Presidente, o que nós temos em curso no País é, primeiro, essa tentativa do que eu considero uma forma de enganar a população, um estelionato em relação à população brasileira. Repito: isto, sim, é que significa um estelionato, porque para a opinião pública tentam passar a ideia de que tudo o que de ruim acontece no País é culpa da Presidente Dilma e que ela estaria sendo julgada por conta disso e, principalmente, por ações relativas ao processo e à Operação Lava Jato, que, aliás, em momento nenhum, apresenta o nome da Presidenta. Em momento nenhum, em nenhuma peça, em nenhuma denúncia, em nenhuma lista, aparece o nome da Presidenta Dilma, mas isso é o que eles passam para a população. E, na realidade, o que tramita na Câmara dos Deputados não tem absolutamente nada a ver com isso. Então, o que tem em curso efetivamente no País é uma tentativa de golpe travestido de impeachment. E o que dizemos e repetimos - e não só nós os Parlamentares, mas o povo começa a perceber isto também - é que impeachment, obviamente, é legal, é constitucional, previsto na Constituição, salvo engano, no art. 85 da Constituição Federal brasileira, mas o que está acontecendo hoje no País é a tentativa de aplicar o impeachment sem que o crime fosse cometido. E impeachment sem crime é golpe.

    Hoje haverá essas grandes manifestações. Nós, a Deputada Jô Moraes, eu e vários dos nossos companheiros, como nós, Deputada Jô Moraes, que não tiveram a possibilidade de chegar aos nossos Estados a tempo por conta do trabalho aqui no Congresso Nacional, estaremos aqui no ato de Brasília. Eu estarei lá como cidadã, defendendo a democracia do meu País. Como V. Exª falou na sessão da manhã, um período de liberdade, a democracia, foi conquistado com muita luta. V. Exª mesma falava do seu exemplo, das prisões, dos dez anos que teve que viver com outro nome, porque vivia na clandestinidade.

    Veja: o golpe nem sempre se dá com armas, nem sempre se dá com deposição aberta de um governo, mas golpes podem se dar também de forma camuflada, com uma aparência institucional e de constitucionalidade. É preciso que a população preste bem atenção ao que está acontecendo.

    E eu me socorro a duas questões que considero importantes.

    Uma, Sr. Presidente, foi a manifestação expressa no dia de ontem, publicada em todos os meios de comunicação do País, do Ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio de Mello. E, antes de falar da manifestação do Ministro Marco Aurélio de Mello, quero referir-me às manifestações, por exemplo, do Ministro Dias Toffoli, do Ministro Celso de Mello e do próprio Ministro Lewandowski, Presidente do Supremo Tribunal Federal, em que, perguntados se impeachment é legal ou não, obviamente, disseram que impeachment é um instrumento, um instituto legal e constitucional. E as regras do processo de impeachment por eles foram estabelecidas, dando o caráter de legalidade. No entanto, nenhum desses Ministros entrou no mérito da questão. Nenhum desses Ministros, em momento nenhum, se referiu ao processo que está em tramitação na Câmara dos Deputados. E eles fizeram questão de dizer que estavam discutindo o impeachment como um instituto e não à luz da realidade do processo aberto na Câmara dos Deputados. E o Ministro Marco Aurélio ousou, com muita coragem, ir além, falando em tese também. Ele, primeiro, fez um questionamento, dizendo que o impeachment da Presidente Dilma não é capaz de resolver a crise vivida no País, e indicou que, se não houver fato jurídico para afastar a Presidente, o processo transparece como um golpe. Veja: "O processo transparece como golpe". E segue o Ministro Marco Aurélio de Mello: "É uma esperança vã, impossível de frutificar. Nós não teremos a solução e o afastamento das mazelas do Brasil apeando a Presidente da República", que foi legitimamente eleita nas últimas eleições. Em tese também, o Ministro Marco Aurélio de Mello diz que o impeachment, em que não se caracteriza de forma clara o crime de responsabilidade cometido, deixa de ser impeachment, transparecendo como um golpe. E ele disse que caberá, no caso, à Presidência da República recorrer da decisão, caso ela venha. Então, eu considero essa uma manifestação importante e uma manifestação ponderada, como foram as manifestações, repito, dos Ministros Celso de Mello, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Lewandowski. Quando disseram aos meios de comunicação, à imprensa brasileira, que impeachment é legal, eles apenas analisaram impeachment como algo previsto na Constituição Federal e não se referiram ao processo em curso na Câmara dos Deputados.

    Sr. Presidente, outro ponto que eu faço questão de salientar desta tribuna - ontem, eu não tive a oportunidade, apenas citei - é um manifesto. São vários os manifestos publicados nesses últimos dias, porque vários são os atos que vêm acontecendo Brasil afora, Sr. Presidente, em todas as cidades e em todos os Estados brasileiros. São manifestações de apoio e de defesa da democracia. Muitas delas não entram no mérito de defender o Governo da Presidente Dilma. Muitas delas apresentam críticas sérias e contundentes ao Governo da Presidenta Dilma, mas defendem com muita força o processo democrático. E, entre essas manifestações todas, Sr. Presidente, eu considero significativa a nota aprovada pela Fenaj. Fenaj é a Federação Nacional dos Jornalistas, a entidade representativa máxima dos jornalistas e das jornalistas brasileiras. E a Federação Nacional dos Jornalistas disse que se obriga a vir a público novamente manifestar suas opiniões diante da gravidade do momento político em que vivemos e, principalmente, diante da iminência de um golpe de Estado travestido de impeachment. Em decorrência disso, ela apresenta essa manifestação, que não vou ler na íntegra. Eu apenas solicito que V. Exª a inclua nos Anais do Senado Federal em sua íntegra. Eu lerei apenas algumas partes que considero muito importantes. Diz o seguinte a nota, o manifesto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas):

Não se fortalece a democracia desrespeitando-se as regras democráticas. Não se faz justiça com justiçamento. Não se avança em conquistas sociais com desrespeito às garantias individuais previstas no Estado de Direito. Não se supera crise econômica com o acirramento de uma crise política forjada pelos derrotados nas urnas. Não se constitui cidadania com manipulação das informações e linchamentos midiáticos.

A FENAJ reafirma sua posição de defesa das liberdades de expressão e de imprensa e, mais uma vez, condena os veículos de comunicação que, deixando de lado a importante missão de informar a sociedade brasileira, têm assumido claramente o papel de opositores do Governo Federal e de defensores do golpe.

Essa foi a mesma posição de parte da imprensa brasileira no golpe de 1964. Algumas empresas chegaram a pedir desculpas pelo erro cometido, mas voltam a cometê-lo. Certamente, terão de se explicar perante a história.

    No final:

A FENAJ lembra que um grupo de Parlamentares é ator central no golpe em andamento e que, se esse grupo tiver êxito, a democracia brasileira continuará corrompida. Não podemos entregar o país nas mãos de conspiradores ou de políticos denunciados por vários crimes. A sociedade brasileira não pode aceitar a injustiça da condenação da presidente da República por políticos que praticaram e praticam os atos que supostamente a presidente cometera. Não há nenhuma comprovação de crime por parte da Presidenta Dilma e impeachment sem base jurídica, motivado por razões oportunistas e revanchistas, é golpe.

    Sr. Presidente, esses são alguns trechos desse comunicado que leio.

    Quando a Fenaj fala que não procede esse processo, eu quero aqui lembrar alguns aspectos: cabe, unicamente, ao Presidente da Câmara dos Deputados o acolhimento ou não dos processos de impeachment. Não houve nenhum Presidente deste País que não tenha sofrido um pedido de impeachment sequer. Todos os Presidentes do País sofreram pedidos de impeachment. E cabe tão somente ao Presidente da Câmara dos Deputados a definição se o processo será ou não aceito. Se ele terá sequência ou não, essa é uma decisão que cabe ao Plenário da Câmara dos Deputados. Pois bem. Qual foi o Presidente, Senador Dário Berger, que aceitou o processo de impeachment contra a Presidente Dilma? Aliás, ele não só aceitou, mas ele próprio se comunicava com os autores do pedido para dizer: "Olha, essa peça está errada. Tem que corrigir". E não sou eu que estou dizendo isso. A imprensa divulgou isso de forma farta, no ano passado, no ano de 2015, tanto que essa peça que está sendo analisada hoje foi modificada por orientação do Presidente da Câmara dos Deputados.

    E quem é o Presidente da Câmara dos Deputados? Sr. Eduardo Cunha. E o que pesa contra o Sr. Eduardo Cunha? Não só denúncias gravíssimas, mas provas - provas - gravíssimas contra ele. Ele foi a uma comissão da Câmara dos Deputados e afirmou, categoricamente, não ser proprietário de nenhuma conta no exterior. Ele foi a uma comissão da Câmara dos Deputados e afirmou, categoricamente, não ser proprietário de nenhuma conta no exterior e hoje já foi desmoralizado, porque, de sua propriedade apareceram - não foi uma, não foram duas, não foram cinco - dezenas de contas no exterior, as quais ele diz ser apenas o usufrutuário. Usufrutuário, que tal? Esse é o Presidente Eduardo Cunha. Foi ele que abriu, aceitou o processo contra a Presidente Dilma, repito, contra alguém que não tem seu nome vinculado a nem uma peça sequer do processo da Operação Lava Jato.

    Ele, o Presidente da Câmara, segundo um aliado seu, o Deputado Paulo Pereira da Silva, conhecido como Paulinho da Força por ser o eterno presidente da Força Sindical, uma central sindical em nosso País, disse, quando reuniu seus correligionários, disse, em alto e bom som, que a oposição era muito fraca, que a oposição, na Câmara dos Deputados, dava muito trabalho, porque não conseguia levar adiante o processo de impeachment, que, aliás, só teve curso graças à ação do Presidente Eduardo Cunha.

    Fico impressionada com a falta de indignação, não da população, porque a população ainda não tem os elementos completos para chegar a um juízo justo de valor, mas fico impressionada com a falta de indignação de alguns companheiros meus, de alguns Deputados principalmente, que aceitam isso passivamente.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É alguém que não só está denunciado, mas contra quem pesam provas gravíssimas de atos de corrupção e de enriquecimento à base do desvio de recursos públicos. Essa pessoa dirige um processo de impeachment contra quem - repito - não é citado nenhuma vez.

    Por fim, Sr. Presidente, não querendo abusar da paciência de V. Exª, apenas quero repetir aqui o que já foi falado muito no dia de ontem. Foram as palavras do Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, quando afirmou, durante uma palestra na Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos, que reconheceu que o Governo da Presidente Dilma não interferiu na investigação sobre o esquema de propina na Petrobras. E acusou governos anteriores de terem essa prática. Ele disse - abro aspas: "Boa parte da independência atual do Ministério Público, da capacidade técnica da Polícia Federal, decorre de uma não intervenção do poder político, fato que tem que ser reconhecido. Os governos anteriores realmente mantinham o controle das instituições. Mas esperamos que isso esteja superado." Essas não são palavras minhas. São palavras do Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos procuradores que integram a força-tarefa.

    É importante que a população veja. O que nós estamos denunciando são os reais objetivos dessa tentativa de golpe. Primeiro, um Vice-Presidente, que nunca recebeu nenhum voto, tramando contra uma Presidente legitimamente eleita, tramando com total e integral apoio do Presidente da Câmara dos Deputados. E por que isso acontece? Para que isso? Para aplicar um outro projeto de governo, um projeto que facilite a privatização das empresas estatais, um projeto que retire os ganhos que os trabalhadores já tiveram até o presente momento, que retire os avanços na área social que nós obtivemos. Esse é o objetivo desse golpe.

    Mas hoje, assim como no dia 18, a população brasileira vai ganhar as ruas deste País. No meu Estado, lá na praça São Sebastião, na praça do Teatro Amazonas, na praça da Igreja São Sebastião, onde infelizmente não poderei estar porque aqui estou - mas irei ao ato logo mais -, fará um belíssimo, o maior ato cultural em defesa da democracia. Muitos dos que estarão lá - tenho certeza absoluta - nem concordam com muitas questões políticas encaminhadas pela Presidente Dilma. Mas estão lá porque são defensores da democracia, porque são defensores do Estado de direito.

    Eu concedo um aparte, se V. Exª me permite, para concluir, à Senadora Gleisi e ao Senador Lindbergh.

(Soa a campainha.)

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senadora Vanessa. Eu não podia deixar aqui de falar com V. Exª, que está fazendo um belo pronunciamento a favor da liberdade e da democracia e do Estado de direito, e relatar um encontro que nós tivemos agora, na sala do Presidente Renan, com um grupo de artistas que visitou a Presidenta Dilma e que veio aqui também visitar o Presidente Renan exatamente preocupado com a democracia no País. São artistas que viveram, inclusive, a década de 60, que viveram o golpe de 1964. Fizeram depoimentos maravilhosos para nós agora. O que significa o que está acontecendo no Brasil hoje? Ana Maria Magalhães falou o seguinte: parece que eu estou vendo as reportagens que nós tínhamos nos jornais pré-golpe de 1964. São as mesmas, falando de corrupção. São as mesmas, falando de exacerbação de direitos, chamando a sociedade para que apoiasse o golpe. Ela disse que nós não podemos abrir mão da democracia conquistada.

(Soa a campainha.)

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu quero fazer este registro para não parecer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que isso é um movimento de resistência apenas do Partido dos Trabalhadores, do Partido Comunista do Brasil, da base de apoio político da Presidenta Dilma. Não é. A sociedade está mobilizada. Tivemos os artistas aqui hoje. Ontem, participamos de um bonito ato de todas as religiões, um ato ecumênico - a liberdade religiosa tem a ver com a história da democracia do nosso País -, também se manifestando contra o golpe, contra o impeachment. Participei, hoje, de um movimento dos trabalhadores em que criamos a Frente Parlamentar Mista de Defesa da Classe Trabalhadora, com o Senador Paim à frente, na Comissão de Direitos Humanos. Também as entidades sindicais, os trabalhadores presentes dizendo que o direito conquistado só foi possível graças à democracia, porque, sem democracia, não há direito. É importante dizermos ao Brasil, à Nação, que esta não é uma resistência político-partidária. É uma resistência pela democracia, pelo Estado democrático de direito. Tenho certeza de que, hoje, vamos ter uma grande manifestação, aqui, em Brasília, com milhares de pessoas, e não são pessoas partidárias, são pessoas que viveram já a história desse País e querem que a democracia se firme no Brasil. Obrigada, Senadora.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incluo na íntegra ao meu pronunciamento, Senadora. Apenas reforçando, antes de passar o aparte ao Senador Lindbergh, o que V. Exª diz, acabei de ler aqui alguns trechos de uma manifestação aprovada e publicada pela Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil (Fenaj). Em determinado momento, essa manifestação diz o seguinte, quando critica a parcialidade da imprensa brasileira... E são jornalistas criticando. Não somos nós. Não é o seu Partido, não é o meu Partido, o PCdoB. São jornalistas criticando, Senador Lindbergh, a parcialidade da imprensa.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eles dizem que foi essa a mesma posição de parte da imprensa brasileira no golpe de 1964. Apenas para reforçar o que disseram os artistas. Algumas empresas inclusive chegaram a pedir desculpas pelo erro cometido. Depois de quantos anos? Depois de 40 anos, de 30 anos? Não queremos que a história se repita para o mal. Queremos, sim, que a história se repita sempre para o bem.

    Concedo o aparte, Senador Lindbergh.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senadora Vanessa, quero parabenizar V. Exª, que tem sido uma guerreira aqui, sempre, neste plenário do Senado Federal. Hoje, 31 de março, lembramos a ditadura militar. Lembramos que, naquele momento, falavam de revolução quando, na verdade, foi um golpe militar. Hoje, estão querendo dar outro golpe. Não é um golpe feito pelos militares, mas por uma aliança de setores da mídia com políticos oportunistas. Acho que o que está acontecendo no Brasil, e por isso queria fazer esse aparte, Senadora Vanessa... Este 31 de março é um dia diferente, porque considero que hoje é o dia da nossa virada, da virada da democracia no Parlamento. Não tenho dúvidas em afirmar que já temos maioria para barrar o impeachment na Câmara dos Deputados. Já existe maioria. E o que fez essa maioria? Foi centralmente, porque o movimento não é um movimento, como bem falou a Senadora Gleisi, só do PT ou do PCdoB: setores importantíssimos da sociedade aderiram a esse movimento contra o golpe. Nós vamos ter hoje manifestações gigantescas Brasil afora. Aqui em Brasília vai haver uma grande; no Rio, em São Paulo e em todas as capitais do nosso País. Então, eu quero, simplesmente, ao fazer este aparte a V. Exª, passar este meu otimismo. Eu estava muito preocupado com o placar do impeachment na Câmara dos Deputados, mas eu sinto que as coisas estão mudando, estão mudando nas ruas também, na sociedade.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu diria para as pessoas que estão nos assistindo aqui: hoje é dia de todo mundo ir para as ruas e praças do Brasil, porque eu acho que, hoje, se tivermos grandes manifestações, vai ser o dia em que nós vamos enterrar esse golpe fajuto que estão querendo dar na nossa democracia. São essas as minhas palavras. Acho que também ficou muito claro para setores que havia muita gente protestando contra o Governo da Presidenta Dilma, Senadora Vanessa, mas estão percebendo que existe gente se aproveitando de manifestações legítimas para tentar assaltar o Poder. Esse pessoal que está se manifestando não tem o menor entusiasmo por Michel Temer. O que a gente vê, sinceramente - eu encerro dizendo isto -, é que existe uma chapa do golpe, que é Michel Temer e Eduardo Cunha de vice, porque o Eduardo Cunha vai ser o segundo da linha sucessória. E as pessoas não querem isso.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu acho que isso também ajudou, a partir dos erros do Vice-Presidente Michel Temer, na reunião do Diretório Nacional de segunda-feira - aquela foto emblemática com o Eduardo Cunha lá na frente. Então, eu acho, sinceramente, que as ruas do Brasil não vão aplaudir uma chapa Michel Temer/Eduardo Cunha, não vão aplaudir essa tentativa de golpe parlamentar. Parabéns a V. Exª, Senadora Vanessa.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu agradeço o aparte, Senador.

    Digo a V. Exª - V. Exª sabe, porque convivemos todos os dias - que o otimismo nunca me abandonou, por uma simples razão: pela justeza daquilo que nós estamos defendendo. Nós estamos travando um debate muito intenso, não só neste plenário, mas o Brasil inteiro debate esse assunto. E cada vez que eu me pronuncio, cada vez que eu falo, Senador Lindbergh, eu tenho mais convicção de que nós estamos do lado certo.

    Ontem, V. Exª falou de tantos atos dos artistas de hoje, mas ontem eu fui para um ato simples, Senador.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Sabe onde? Na Cáritas. Nós fomos nos encontrar com trabalhadores rurais, com lideranças que atuam no movimento dos sem-terra ou que atuam em outros movimentos, como a Contag, dos trabalhadores rurais. E não foi apenas uma vez, mas foram várias vezes que os meus olhos encheram-se de lágrimas, porque eu vi gente simples, gente saindo da sua terra para lutar em defesa da democracia, Presidente.

    Então, isso nos anima muito. Anima-nos muito ver as entidades, ver o conjunto da sociedade, mesmo não tendo acesso à real informação, porque a mídia não dá a real informação.

    Ontem, eu ouvi de uma comentarista, Senador Lindbergh, que a Presidente Dilma cometeu um crime porque ela pegou um empréstimo de bancos oficiais, coisa que não pode ser feita. Que empréstimo ela pegou? O que existia em relação ao que se chama de pedaladas é um contrato de serviços previsto, e a conta ora ficaria superavitária, ora ficaria deficitária.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Isso não é empréstimo.

    Então, isso me entristece muito, mas eu me alegro, ao mesmo tempo, porque vejo a reação da população brasileira. Eu estive e estou sempre otimista. Muita gente me diz, Senador Dário: "Senadora, o povo está desaprovando a Presidente Dilma nas ruas". O povo está desaprovando a crise que nós temos. O povo está desaprovando a corrupção. E eu desaprovo também! Eu desaprovo! Nós queremos debelar a crise. Nós queremos debelar a corrupção. Mas o povo não tem ideia de que a Presidente não está sendo processada e não será julgada por isso, por outras coisas que em momento algum podem ser caracterizadas como crime.

    Então, eu concluo o meu pronunciamento, Sr. Presidente, agradecendo muito a V. Exª e também aos meus colegas, companheiros que aqui estão, pela paciência, e pedindo desculpas ao Senador Lasier e ao Senador Ferraço, que tão pacientemente esperam que eu acabe. Eu peço minhas sinceras desculpas.

    Muito obrigada a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2016 - Página 12