Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de manifestações de cidadãos contrários ao Governo Federal.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Registro de manifestações de cidadãos contrários ao Governo Federal.
Aparteantes
Hélio José, José Medeiros, Raimundo Lira, Randolfe Rodrigues.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2016 - Página 52
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • DEFESA, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, AUSENCIA, QUALIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PAIS, COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO, POPULAÇÃO, OBJETO, CRITICA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente, Senador Elmano Férrer; caros colegas Senadores, nossos telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, estou impressionada com o aumento, a avalanche e a sintonia da população brasileira com o momento que nós estamos vivendo, Senador Raimundo Lira.

    Fazia muito tempo, Senador Elmano Férrer, que eu não recebia no gabinete tantos pedidos de emprego - tantos pedidos de emprego. Não cabe a um Senador arrumar emprego para as pessoas - lamentavelmente, eu até gostaria de fazê-lo -, não é essa a nossa missão, nós somos legisladores. E de tantas pessoas ao nosso redor, como a filha, a sobrinha ou a irmã de um servidor da Casa, que perdeu o emprego em uma empresa terceirizada aqui de Brasília, na área da faxina, da limpeza, de serviços domésticos, e em todas as áreas, no comércio, na indústria. Isso é resultado da situação econômica, em que não vemos nada no horizonte.

    E aqui há uma pregação que eu diria repetitiva. Eu penso até que ela, em vez de convencer, acaba incomodando mais os ouvidos das pessoas, porque é sempre a repetição da mesma história, como se quem ocupa a tribuna ou combate os equívocos da política econômica em vigor provocasse uma perversa consequência. E a perversa consequência é o desemprego. Esse é o pior resultado do equívoco de uma política que não tem horizonte, que não tem norte, que não sabe para onde vai.

    Nós vemos as instituições oficiais de crédito concentradas em operações que também não sabemos se amanhã ou depois terão problemas. Será que o uso do Fundo de Garantia para muitas coisas amanhã não ficará comprometido, quando o desempregado for sacá-lo? Assim como os próprios fundos de pensão? Nós temos que nos preocupar com isso.

    Eu trago aqui um dado relevante e revelador. Prestem atenção. O Ibope fez uma pesquisa, encomendada pela CNI, para avaliação do Governo, com quem ganha um salário mínimo - um salário mínimo -, não se trata da elite branca, de salário alto, de ricos, mas de quem ganha apenas um salário mínimo.

    Pois bem, para essa categoria de trabalhadores de um salário mínimo, que avaliou o Governo atual, 62% dos entrevistados consideram o Governo ruim ou péssimo. Um salário mínimo! Não é a elite, é um salário mínimo.

    E aqui, a sucessão de pronunciamentos. É um direito legítimo, também, que a Base do Governo coloque aqui seus defensores, mas nós não podemos tapar o sol com a peneira. O desemprego bate à porta de forma acelerada. A situação dos fundos de pensão é preocupante. Nós já tivemos o caso Aerus, da Varig, que continua pendente. Agora podemos ter outros problemas, porque essa é uma questão muito relevante.

    Há projetos que visam dar mais transparência nesta Casa, inclusive um do Deputado Ricardo Berzoini, que acolhi na Comissão de Assuntos Sociais. Vamos ter neste plenário o debate sobre uma transparência maior para que os próprios trabalhadores tenham acesso à gestão dos fundos, que não seja o poder em nome do presidente para ter o voto de Minerva em uma decisão dos fundos de pensão, que é uma aposentadoria complementar para o qual o trabalhador de empresa estatal, ao longo do tempo, contribui. E agora, em alguns casos, como no dos Correios, o trabalhador vai ter que trabalhar mais tempo para não perder a poupança que fez para complementar o que vai receber do INSS.

    Então, são essas questões graves e agudas que levam a população a estar atenta ao que está acontecendo no Congresso Nacional. Por isso a audiência tem aumentado na TV Senado. E eu posso medir isso, Srªs e Srs. Senadores, pelo número de pessoas que enviam mensagens para cá.

    Somente nos últimos dias, recebi mensagens de várias pessoas extremamente preocupadas. Vou citar algumas.

    "Trata-se da instituição Presidência da República e de seu Governo corrupto, antidemocrático, que se firma no poder para proteger seu time, quando deveria renunciar em benefício da nação ." Marcelo Franklin Amorim de Mendonça, Olinda (PE).

    "Dentro da atual conjuntura política, crise moral e econômica dilacera nosso País." Moisés R. Machado, Foz do Iguaçu (PR).

    "Por um Brasil melhor para os nossos filhos e netos!" Valentim Júnior e Enilde Valentim, São Paulo (SP).

    "O povo, na verdade, está com esperança que a troca do Governo, juntamente com o combate firme e sistêmico da corrupção, sim, vai resolver o problema do Brasil." Reinaldo S. Cruz, Americana (SP).

    "Não sei se haverá dinheiro para pagar os salários do funcionalismo, o que afetará a remuneração de minha esposa, aposentada como professora." Emilson Paschoal Lopes, São Gonçalo (RJ).

    "Não aguentamos mais a cantilena do golpe. Tem é que dar um basta!" Ana. Adhara, Florianópolis (SC).

    "Por causa da crise econômica, são muitos técnicos e operários da construção civil e pesada que estão sem saber o que fazer!" Jorge Henrique Ribeiro, Niterói (RJ).

    Roberto Souza, de São Paulo, diz que aqui estamos falando exatamente o que o povo gostaria de ouvir e o que o povo pensa. Talvez esse seja o significado da sensibilidade, da sintonia que temos, da obrigação de estarmos ouvindo as pessoas nas ruas e respeitando a opinião da população.

    Iolanda Oliveira, de Vitória (ES), também acredita que são demasiadas as posições e não confiáveis as críticas que o PT faz e sua forma de agir.

    Paulo Roberto Santos, natural do Rio de Janeiro, mora em Santa Catarina. Ele pede que se questione - pena que não está aqui - o Senador Lindbergh Farias se ele está sabendo da situação crítica dos hospitais do Rio de Janeiro, que estão jogados às traças, e se sabe quantas mil demissões aconteceram na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) neste mês.

    Cláudio César dos Santos, de Belém (PA), lembra dos últimos indiciamentos que foram recentemente anunciados.

    Gracita Menezes Salerno, de Franca (SP), faz parte da ONG Secos, e não Molhados. Todos da ONG acham que é preciso dizer à população e a alguns Senadores que os brasileiros não são burros, os brasileiros sabem o que são pedaladas fiscais.

    Obrigada, Gracita Menezes Salerno, de Franca, por dizer e reafirmar essa realidade.

    Cleide, de Itápolis (SP), quer que continuemos firmes na defesa dos brasileiros pobres, exatamente dos desempregados.

    Maurício Ramos Costa, também de São Paulo, nos parabeniza e fala do panfleto que mostramos hoje e ontem, distribuído na rodoviária de Brasília. Ele até ligou para o escritório em Porto Alegre.

    Francisco dos Santos, de Penedo (AL), diz que o PT tem que parar de criticar a oposição, porque a realidade é muito grave, da crise que está sendo provocada pela política econômica do Governo.

    Luiz Alberto, de Vitória (ES), critica os Senadores que têm sistematicamente atacado a oposição.

    Luiz Carlos Paranaguá, de Criciúma (SC), diz para continuarmos lutando em favor do povo.

    Renato d'Ângelo, de Balneário Camboriú (SC), também fala do combate à corrupção e que devemos continuar nessa linha de atuação.

    Gisele Monteiro, de Campo Grande (MS); Francisco Alípio, de Divinópolis (MG); Cristiane Albert, de Santa Catarina, mas mora em Belém do Pará; Maurício Martinez, de Praia Grande (SP); Denis Antunes, de Itupeva (SP).

    Estou citando essas pessoas porque elas se deram ao trabalho de dar um telefonema ou de enviar uma mensagem para manifestar a sua vigilância neste momento grave da vida nacional.

    Temos, como disse há pouco o Senador Cássio Cunha Lima, de uma vez por todas, que tomar uma decisão. O País não pode mais ficar nesta incerteza, nesta dúvida sobre o amanhã. O País é grande demais, maior, é claro, do que a sua própria crise. Nós não podemos compactuar com tal indefinição. É uma irresponsabilidade para com o povo brasileiro. Nós, aqui no Senado, e os Deputados, na Câmara Federal, temos que assumir a responsabilidade de, com equilíbrio, com senso de compromisso com os interesses nacionais, olhar mais para a Nação e menos para o interesse de determinado partido político, pensar exatamente no que a população brasileira espera de nós. Nós não podemos ser avestruzes, enfiar a cabeça na terra, ignorar o que está acontecendo nas ruas ou as pessoas que estão perdendo seus empregos.

    Nós precisamos cuidar dessas pessoas, desses 62% que ganham até um salário mínimo, dessas pessoas. E essas pessoas estão sentindo na pele, porque quem ganha um salário mínimo, Senador, quando vai à feirinha ou ao mercado comprar as mercadorias do dia a dia, da sua ração alimentar, essas pessoas sabem que o poder aquisitivo desse salário está sendo corroído por outra perversidade que é a inflação alta.

    E aí essas pessoas demonstram a sua insatisfação em relação ao Governo, com esse percentual. E será que essa população, como eu perguntei ao Senador Lindbergh hoje: "O que o senhor diz para esse desempregado?" "Acredite no Governo." Mas será que o desempregado hoje vai acreditar que amanhã ele vai recuperar o seu emprego? Eu desejaria que assim acontecesse, mas não dá para acreditar. Não dá, porque a falta de credibilidade e de confiança no comando da política econômica é exatamente o que está levando a esse descrédito em relação ao Governo e à capacidade em reagir.

    E não adianta compararmos o Brasil com outras nações. Nós temos um grande potencial, o Brasil tem recursos naturais fantásticos, tem gente espetacular, capacitada em tecnologia e inovação, mas os programas para inovação e tecnologia também foram cortados.

    E o ajuste fiscal que veio agora para cá, com todo o respeito ao esforço que o Ministro Nelson Barbosa está fazendo, afeta basicamente e é um arrocho duro sobre os Estados e Municípios. O Estado do Rio de Janeiro, do combativo Senador Lindbergh que aqui vem defender o Governo, não tem condições de pagar o salário dos servidores. No meu Estado é a mesma coisa. São dois Estados que estão vivendo o drama de uma situação insustentável, e o arrocho que vem é para deixar a situação ainda pior para os Estados e Municípios.

    Com muita alegria, concedo aparte ao Senador José Medeiros, do Mato Grosso.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senadora Ana Amélia, V. Exª, com a experiência que tem, com a presença de vídeo, transmite com muita clareza esse cenário. Essa pergunta fica latejando na cabeça de quem ouve: como confiar? A resposta do Senador Lindbergh realmente não traz alento ao brasileiro. A resposta que a Senadora Gleisi Hoffmann trouxe também não justifica, não traz lastro para que possamos confiar, para que o brasileiro possa confiar. Eu me lembro de que, na campanha de 2014, pregava-se que, se o Senador Aécio vencesse as eleições, adeus programas sociais, adeus Minha Casa, Minha Vida, adeus Bolsa Família, que ia ser tudo um retrocesso, que o desemprego aumentaria, que os juros disparariam, que a inflação iria para a estratosfera. Se a ex-Senadora Marina ganhasse, então, não ia ter bife no prato de ninguém. Essa era mais ou menos a ideia e aquilo eles chamavam de retrocesso. Eu vi hoje aqui simplesmente um enlatado. Eu me lembro, quando alguns marqueteiros ficaram famosos no País, eles pegavam campanhas em vários Estados e mudavam só o nome do candidato. Eu noto que pegaram o discurso de campanha de 2014, em que demonizavam os adversários, e simplesmente transplantaram para este momento de agora. O discurso hoje aqui foi isso, louvando todas as conquistas, trazendo esse discurso do golpe - agora só com outro nome, porque antes eles chamavam de retrocesso -, demonizando e colocando como se ninguém mais tivesse capacidade de fazer este País andar. É assim, aquela onipotência. Essa soberba é que está levando o PT a perder o Governo. Parece que a verdade é de um partido só. Esse tipo de coisa, os brasileiros estão percebendo. Ninguém aguenta mais essa cantilena. Eu estou aqui vendo V. Exª e recebendo twitters do Brasil inteiro de pessoas elogiando o seu discurso e dizendo: "Isso é verdade". Ninguém aguenta mais aquele discurso, aquela mesma mentira batida. Alguém diz que uma mentira dita mil vezes vira verdade. Não, uma mentira dita mil vezes vira mentira. Esses discursos que estão sendo colocados aqui, de golpe, de que nós, eu, V. Exª, essa elite branca, esses burgueses... Eu vim da roça. V. Exª já me contou a sua origem também, uma pessoa da roça. E a maioria de nós, brasileiros, temos a origem na roça, pessoas simples que vieram... O Brasil é um país de brancos, de negros, de índios. Então, essa história de dividir o Brasil em cores, dividir o Brasil em raças, isso é um discurso ruim. Eu já disse: esse discurso de divisionista, esse discurso de medo não cola e não vai colar. Podem até conseguir votos para não ser "impitimada" a Presidente da República, mas sobra, como V. Exª disse há poucos dias aqui - tentaram contestá-la, mas V. Exª disse com muita propriedade -, sobra base jurídica para esse impeachment, sobra apoio popular e esperamos que sobre apoio político também. Esse tipo de ajuntamento que está aqui em frente à Casa agora, em frente ao Congresso Nacional, notadamente um ajuntamento de pessoas pagas, dá para ver pelos materiais, isso aqui não é apoio popular a esse Governo que está aí. Essa democracia que o Partido dos Trabalhadores tem trazido é uma democracia assim: eu defendo a democracia enquanto estiverem concordando comigo. A partir do momento em que a Senadora Ana Amélia Lemos não concorda comigo, ela é um antidemocrata e golpista. Isso não é modelo de democracia. Isso é modelo desse bolivarianismo que, graças a Deus, está findando os seus dias na América do Sul. Meus parabéns, Senadora Ana Amélia, porque, mais uma vez, V. Exª faz o contraponto com qualidade, altivez, mas, acima de tudo, com muito respeito, sem destilar ódio e com muita serenidade.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Agradeço muito o estímulo do seu aparte, Senador José Medeiros, mas eu me preocupo, porque o Brasil vai pagar um custo. Nós já tivemos o custo do mensalão, um custo grave, agora...

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Senadora Ana Amélia, depois eu gostaria de um aparte também.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... o custo grave do petrolão, e quanto custará impedir o impeachment? Será o "impichão", uma palavra horrorosa? Mensalão, petrolão, quanto custará para o trabalhador? Quando o Governo gasta mais do que pode, do que arrecada, como está acontecendo agora, é que tem que fazer a tal pedalada. A pedalada é isto, gasta mais do que arrecada e fica esse buraco, aí acontece toda essa tragédia de inflação alta e de desemprego.

    Então, quero agradecer a V. Exª, deixando essa questão "quanto custará impedir o impeachment?", mas eu quero também saber de que maneira...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... os eleitores do impeachment vão enfrentar a sociedade, porque lá, felizmente, lá e aqui, o voto é aberto, cada um vai dizer o seu nome e como está votando.

    Então, eu agradeço a V. Exª e aceito o aparte, com gentileza, do Senador Hélio José, aqui do Distrito Federal.

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Nobre Senadora Ana Amélia, quero cumprimentar V. Exª, cumprimentar também nosso Presidente, Senador Elmano Férrer, nosso antecessor do aparte, Senador José Medeiros, e dizer que V. Exª tem muita razão em vários pontos colocados. Eu acho que essa crise do desemprego, esse desalento em grande parte da classe trabalhadora brasileira e da população em geral tem acentuado a nossa dificuldade hoje de viver o dia a dia, a necessidade de o Brasil retomar o crescimento, a necessidade do investimento tecnológico, a necessidade de uma gestão ética e transparente. É pedalada fiscal nos Municípios, é pedalada fiscal nos Estados e pedalada fiscal também no Governo Federal para cobrir rombo das contas. Então, essa repactuação em nível federativo, por exemplo, é importante e fundamental para que o País não continue nessa iminência de pedalada todo o tempo. Eu realmente concordo com V. Exª que a crise é muito mais econômica até do que política, mas a crise política também ajuda a crise econômica a se acentuar bastante. Então, precisamos ter a reflexão momentânea e a necessidade de ver como vamos contribuir para a retomada do crescimento e para o desenvolvimento deste País. Acho que cada Senador desta Casa - está aqui também o Senador Raimundo Lira, do nosso querido Estado da Paraíba - tem o compromisso de fazer com que o País retome os eixos do desenvolvimento, da tecnologia, do emprego. Nenhum de nós está aqui pensando no "quanto pior, melhor", e tenho certeza de que V. Exª também não é. V. Exª está colocando o seu ponto de vista bem mais crítico com relação a algumas questões, pelas experiências já vividas, inclusive no seu Estado, que hoje passa por muitas dificuldades para fechamento de contas públicas, as dificuldades que o Rio Grande do Sul está vivendo, e vários outros Estados do País, não só o Rio Grande do Sul, que chegam de cheio ao nosso País quando há uma crise na política econômica. Então, o meu aparte é muito mais para concordar com V. Exª. Independente de qualquer coisa, a mudança da política econômica tem que ser feita. Temos que investir no desenvolvimento tecnológico, na geração de emprego e na segurança para que essa inflação não dispare. Portanto, é necessário que a equação se resolva nos próximos dias e que venha no sentido de exterminar com a crise que estamos vivendo hoje. Agradeço a V. Exª pelo aparte. Quero dizer que tenho certeza de que todos os Senadores desta Casa, inclusive V. Exª, torcem para que a decisão a que se chegue seja a melhor para o nosso País.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eu agradeço muito, Senador Hélio José.

    V. Exª tem compromisso com várias questões de infraestrutura, logística, com a questão da energia renovável, a energia eólica, energia solar e tantas outras iniciativas realmente relevantes para o nosso País - como servidor público, pois V. Exª é um servidor público do setor estratégico para o nosso País - também essas preocupações relacionadas com os fundos de pensão das estatais. Esse é um problema muito sério que lamento. Quem vai pagar essa conta? São os próprios trabalhadores.

    Temos que ver às claras todo o conjunto de problemas que estamos vivendo, para que não se pense que estamos de um lado só, defendendo alguns setores privilegiados da sociedade. Não! Quando falamos da inflação, estamos defendendo a camada que mais precisa, que são os trabalhadores. Mas quem está bem, quem tem empresa, também está sofrendo, porque não está conseguindo mais trabalhar, os juros estão nas nuvens. Não há perspectiva, e é esse o grande dilema que nós temos hoje.

    Por isso, temos que apressar essa deliberação a respeito de impeachment, porque pelo menos vai se saber, bem ou mal, vai se dar um ponto final a esse processo. O Brasil não vai mudar de uma hora para outra. Mas, pelo menos nessa questão...

    Hoje é a movimentação. No dia 13, as pessoas escolheram domingo, porque as pessoas trabalham e foram no domingo. Então, quase 4 milhões de pessoas foram se manifestar.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Então, eu penso que a sociedade está se mostrando. Quando trouxe aqui os nomes das pessoas, as pessoas se manifestam opinando, elas não dizem que são necessariamente a favor do que eu digo. Não. Elas dizem o que pensam. Elas dizem o que pensam quando cobram de um Senador como está a demissão na Companhia Siderúrgica Nacional ou como está a situação dos hospitais. É isso que elas cobram. É o dia a dia das pessoas. Não adianta... Se eu falar em pedalada fiscal, em swap ou não sei o quê, essas palavras as pessoas não entendem. As pessoas vão entender de inflação e da perda do seu emprego. Essa é a linguagem. Do salário mínimo, quanto é, como é que vai ficar, o que é que vai ser amanhã do seu emprego.

    Antes de terminar, com muito prazer, eu queria ouvir o Senador Raimundo Lira, a quem eu respeito muito, como a todos os outros Senadores aqui nesta Casa.

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) - Senadora Ana Amélia, às vezes a gente escuta conceitos ou lê em algum lugar, num jornal, num panfleto, conceitos que estão totalmente em desacordo com a realidade da economia, seja do Brasil ou de qualquer país. O que é que move a atividade econômica de um país? São os consumidores. Imagine uma fábrica sem consumidor. Ela não funciona, ela fecha. Então, o sonho do setor empresarial como um todo, grande, médio ou pequeno, é que exista no país o maior número de consumidores possível. Às vezes eu escuto, eu leio que alguém diz...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - ... "A elite empresarial do País é contra o Bolsa Família, a elite empresarial do País é contra salários altos do setor público". É exatamente o contrário. O que o empresário quer, o que o setor produtivo quer é que as pessoas tenham renda, da mesma forma que o sonho de todo político é ter eleitor. O maior número de eleitores possível é que elege um senador, um governador, um presidente, um prefeito. Não existe político de sucesso sem eleitor. Não existe setor produtivo ou empresa sem consumidor. Então, ninguém mais do que o setor produtivo deseja que exista o Bolsa Família, que exista a maior distribuição de renda possível no País, que os funcionários públicos ganhem bem. Só existe uma rede bancária, um sistema financeiro sólido, se existir um sistema econômico sólido. Esse sistema econômico começa lá no pequeno Município, num Município de 5 mil habitantes lá na Paraíba. Então, os consumidores que recebem o Bolsa Família, a aposentadoria rural, a aposentadoria pela Previdência Social ou de qualquer outro tipo têm renda para comprar nos mercadinhos da cidade, têm renda para que os produtores rurais daquele pequeno Município possam fornecer seus produtos, pois sabem que vão ser vendidos; os donos dos pequenos supermercados daquelas pequenas cidades vão para as cidades maiores comprar mercadorias nos mercadões, nos chamados atacadões, para poder suprir seus pequenos negócios; os atacadões vão comprar os seus produtos nos fabricantes. Então, é uma cadeia totalmente interligada em que um depende do outro. O maior empresário do País depende do menor consumidor. É nisso que consiste o sucesso dos Estados Unidos, que possuem na composição do seu Produto Interno Bruto dois terços do consumo de produtos. Então, é o consumo que dá vida econômica ao País. Por que está havendo uma queda na venda de veículos, na venda de eletrodomésticos, na venda de alimentos, na prestação de serviços? Por conta do desemprego. Então, é uma equação econômica que funciona positivamente, no ciclo virtuoso, ou negativamente, no ciclo negativo, em qualquer parte do mundo. O Brasil não é diferente de ninguém. Então, não acredito que exista, neste País, no nosso querido Brasil, uma só pessoa que tenha um mercadinho, que tenha um salão de beleza, que tenha um táxi, que tenha uma grande empresa que não queira a manutenção, a permanência e a defesa do Bolsa Família, que não queira que os funcionários públicos tenham boa remuneração. Isso é o que dá vida à economia. Eu não entendo porque alguém escreve ou fala que o setor produtivo, que a elite produtiva do País é contra a renda das pessoas, porque, se ele for contra a renda das pessoas, é contra o seu próprio negócio. É uma atitude desinteligente, e ninguém pensa dessa forma, porque ninguém é contra o seu próprio negócio. Então, Senadora Ana Amélia, que é tão respeitada nesta Casa pela sua competência, inteligência, nível intelectual e nível de representatividade do nosso querido Estado do Rio Grande do Sul, essa é uma equação mundial, essa é uma equação imutável. Ninguém consegue mexer nas leis da economia. Se você fizer tudo certo, pode dar certo; se fizer errado, sempre vai dar errado. É importante, portanto, que acabe no nosso País o dizer que a elite empresarial...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) - ... do Brasil é contra o Bolsa Família, que os empresários são contra o Bolsa Família. Nem o microempresário, nem o pequeno empresário, nem o médio, nem o grande empresário são contra a renda dos consumidores. É a renda que sustenta as empresas. É o poder de compra que dá o sangue ao setor produtivo do País. Portanto, tenho a certeza absoluta e a convicção de que todos neste País são a favor de que todas as pessoas tenham a melhor renda possível. Muito obrigado, Senadora.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eu agradeço imensamente, porque essa fala é de um líder empresarial bem-sucedido, e o sucesso decorreu exclusivamente do seu talento, da sua competência e do seu compromisso.

    É exatamente essa a visão. Se estamos em um sistema de livre mercado - como é no regime democrático -, as regras do jogo são essas. E não adianta, é a Economia: dois mais dois são quatro. E nós temos de entender esse raciocínio lógico das coisas, não dá para querer tapar o sol com peneira, como eu disse, Senador Raimundo Lira.

    É exatamente essa a compreensão. E as pessoas que ligam para a gente, que manifestam estão acompanhando e têm essa mesma que V. Exª tem. Todo mundo quer estar bem: o empresário vende, tem um emprego, o outro compra, o bem-estar de todos está nesse sucesso e nesse êxito.

    Senão, a gente muda o sistema econômico para ser um sistema estatizante ou socializado, como queiram. E aí a gente sabe que não dá certo isso, porque não dá para se tratar de maneira igual situações diferentes ou pessoas, as pessoas não são iguais.

    Então, isso, Senador, enriquece o discurso. E eu quero agradecer muito essa manifestação de V. Exª, porque é exatamente esse o ponto de vista, não dá para mentir, não dá para enganar porque as pessoas sabem.

    Para terminar, Presidente, queria dizer que acabo de receber aqui, à medida que vou falando, o Sr. Hélio Adão Wailer, 65 anos, morador de Novo Hamburgo, que ligou para informar que se inscreveu no Bolsa Família, desde 2007, mas nunca recebeu nem o benefício e nem o cartão de inscrição. Foi à Prefeitura de Novo Hamburgo para tentar resolver, mas a atendente lhe disse que teria de fazer a renovação da inscrição, porque já havia mais de dois anos que tinha feito.

    Ele disse que nunca tinha recebido o benefício, porque ele tinha de renovar uma coisa que nunca recebeu. O pessoal da Comusa, companhia de água, lhe recomendou que fizesse a inscrição para que pudesse receber o desconto na conta da água e luz. Ele disse que já tem inscrição, mas nunca recebeu Bolsa Família. Então, esse é o Sr. Hélio Adão Wailer, de Novo Hamburgo.

    Também Cristóvão Machado Lopes, de Cabo Frio, ligou para falar sobre essas questões e que está indignado com o que está acontecendo no País.

    D. Zeni Costa, 75 anos, de Porto Alegre, gaúcha, da nossa capital, ligou para dizer que está revoltada e cansada de tanta mentira, que isso não é golpe, que as pessoas não aguentam mais as mentiras ditas, pelo o que se repete aqui.

    Lurdes Rigoti, gaúcha, moradora, hoje, de Curitiba, está também acompanhando o trabalho dos Senadores aqui, especialmente o meu discurso, pois o está ouvindo e acompanhado neste momento.

    Emídio Mucke, aposentado, 71 anos, de Uruguaiana, ligou para falar também da manifestação e disse que os medicamentos aumentaram hoje 12%, autorizados pelo Governo. A população não aguenta mais tanto descaso.

    Por fim, quero dizer que acabei de assinar uma iniciativa do Senador Randolfe Rodrigues, que pede uma CPI para fazer uma investigação sobre a promíscua relação entre empreiteiras, partidos políticos e a questão relativa à doação de campanha.

    Senador, enquanto a lei existiu, eu também recebi doação, está tudo contabilizado, dei uma nota oficial a respeito disso, porque acho que a transparência, nesta hora, é a coisa mais importante que a gente tem de responsabilidade com o eleitor e com a sociedade. Item por item, centavo por centavo, tudo o que foi recebido está lá.

    Então, eu quis ser uma das primeiras apoiadoras da iniciativa de V. Exª, nessa questão, que está muito ligada ao combate à corrupção. Esse, aliás, foi um dos temas mais citados, hoje, numa cerimônia de posse muito concorrida da nossa baiana corajosa Norma Cardoso Cavalcanti na Presidência da Conamp.

    Estava lá o Procurador da República Deltan Dallagnol, uma das pessoas mais citadas lá, que, junto ao tema da operação lava jato, evidentemente, naquele público, mereciam ser o personagem e o fato mais citados.

    Concedo o aparte a V. Exª, dizendo que estou do seu lado.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Agradeço-lhe, Senadora Ana Amélia. De V. Exª não esperava iniciativa diferente.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Essa iniciativa dessa Comissão Parlamentar de Inquérito está sendo minha, como teria toda legitimidade sendo de V. Exª pelo seu perfil. Aliás, qualifica o requerimento da Comissão Parlamentar de Inquérito uma das primeiras assinaturas, eu destaco isso, ter sido a de V. Exª. Demonstra a ideia desta CPI, pois considero indispensável que o Congresso Nacional tenha a coragem de instalá-la principalmente porque o Congresso Nacional foi, há uma semana, duas semanas, vítima da chamada lista da Empreiteira Odebrecht, com uma relação, com um conjunto de...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Duzentos parlamentares.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - ... mais de duzentos parlamentares e políticos, sejam do Congresso Nacional ou não. Primeiro deve-se investigar essa lista e como ela foi veiculada, divulgada sem a autorização do Juiz Sérgio Moura e sem a autorização do Ministério Público Federal, que estava cuidando da Operação Lava Jato. Segundo, o próprio Congresso tem que tomar esta iniciativa de determinar uma autoinvestigação, porque também há algo de muito estranho quando se divulga uma lista em que pode constar propina, mas também pode constar, como V. Exª mesma disse, doações legais...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Misturam alhos com bugalhos.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - ... e até alguns que não receberam doação. Então, é estranha, tenho que destacar isso, a divulgação dessa lista, mas a máxima tem que ser sempre como V. Exª está dizendo, falando, destacando agora na tribuna: não devo, não temo. O que o Congresso Nacional tem que dar como resposta a um fato como este tem que ser e deve ser: "Olha, façamos aqui um procedimento investigatório,...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - ... passemos a limpo a partir daqui." Nunca é demais destacar, Senadora Ana Amélia, falo isso para concluir, que quem sempre falou dessa CPI e que aqui esteve outrora é um amigo particular meu e de V. Exª, o Senador Pedro Simon.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Querido amigo, faz muita falta hoje, enorme; o Simon faz muita falta.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Faz uma falta enorme para o Brasil aqui neste plenário, nesta tribuna. Ainda bem que o Rio Grande tem pessoas à altura de Pedro Simon, como V. Exª, que agora a ocupa.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Está ali o Senador Paim também, o Senador Lasier.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Então, ainda bem que o Rio Grande tem uma envergadura de Bancada que muito dignifica esse belíssimo Estado. Mas o Simon realmente faz uma falta enorme. E ele sempre falava aqui da necessidade de uma CPI com essas características. Eu fico muito animado com a sua assinatura. Espero que isso galvanize e mobilize os demais colegas a subscreverem a CPI para que nós tenhamos a disposição de instalá-la. Cumprimento V. Exª. E de V. Exª, já lhe disse, não esperava atitude diferente pela postura que tem tido neste plenário que inspira todos nós.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador, encerro a semana aqui no Senado com a alma lavada com essa manifestação. É preciso, de fato, passar o Brasil a limpo, é preciso separar o joio do trigo, e quem não deve não teme - é o que se diz lá na minha terra, Lagoa Vermelha. E eu acho que é exatamente isso, Senador. Nós temos que ter transparência para que o Congresso seja respeitado pela sociedade brasileira.

    Para terminar, quero agradecer, Senador Paulo Paim, a sua generosidade porque o Presidente deveria chamá-lo, e me chamou. Mas, como o Piauí e o Rio Grande têm uma relação afetiva, eu acho que o Senador Elmano ficou com pena de mim, porque eu estou desde às 14h esperando a minha vez.

    Então, eu queria agradecer ao Presidente, mas, sobretudo, ao Senador Paim, que deve ser o próximo orador.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2016 - Página 52