Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre o primeiro ano de vigência da Lei do Feminicídio.

Elogio ao aceite do ex-Presidente Lula ao cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil.

Crítica ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Comentário sobre o primeiro ano de vigência da Lei do Feminicídio.
GOVERNO FEDERAL:
  • Elogio ao aceite do ex-Presidente Lula ao cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil.
GOVERNO FEDERAL:
  • Crítica ao processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Cristovam Buarque, João Capiberibe, Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2016 - Página 23
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, ANIVERSARIO, LEGISLAÇÃO, HOMICIDIO, MULHER.
  • ELOGIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACEITAÇÃO, CONVITE, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CASA CIVIL, CRITICA, ACUSAÇÃO, UTILIZAÇÃO, CARGO DE CONFIANÇA, OBJETIVO, FORO ESPECIAL.
  • CRITICA, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, CRIME DE RESPONSABILIDADE, CORRUPÇÃO, NECESSIDADE, DIALOGO, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Senador Jorge Viana.

    Srªs e Srs. Senadores, eu confesso que viria à tribuna no dia de hoje para falar sobre a Lei do Feminicídio, que acaba de completar um ano. É uma lei que já tem trazido resultados muito importantes no combate à violência contra as mulheres e que tem nos ajudado muito no enfrentamento desse que é um problema grave - mais que grave, gravíssimo - que atinge as mulheres e as famílias.

    Mas diante da notícia que tivemos hoje pela manhã, eu também não poderia deixar de vir ao plenário para tratar do aceite do Presidente Lula para ser Ministro do Governo da Presidenta Dilma Rousseff.

    Inicio, desde já, cumprimentando o Presidente Lula e desejando a ele muito sucesso na difícil empreitada que acaba de assumir. Desejo muito sucesso porque, de fato, como disseram os oradores que me antecederam, ele tem uma estrada longa e extremamente sinuosa a percorrer, em determinados trechos, uma estrada até desconhecida.

    Sr. Presidente, eu hoje assisti a alguns telejornais e tenho lido com muito cuidado os comentários. Aliás, venho à tribuna com a transcrição de muitas matérias que foram publicadas nos jornais de hoje. Mas hoje pela manhã vi vários juristas dando opiniões no sentido de que a nomeação do Presidente Lula para o Ministério não se caracteriza como obstrução de Justiça e tampouco tem como objetivo fugir da própria Justiça, fugir da coordenação da Operação Lava Jato. Em absoluto.

    Eu tenho sido muito cautelosa, sobretudo nos últimos dias, em decorrência da gravidade do momento que vivemos. Confesso que há sete ou oito dias eu não tinha muita convicção da correção de o Presidente Lula assumir um ministério, mas depois dos últimos acontecimentos, dos últimos dias, Senador Cristovam, eu me convenci de que o Brasil precisa de alguém não só com autoridade, com respeito, mas com experiência, de alguém que governou a Nação por oito anos.

    E não venham dizer que ele assumiu a Presidência em um momento de muita facilidade não. Quando ele assumiu, havia muita dificuldade. É fato que, até 2011 mais ou menos, a arrecadação cresceu mais do que o próprio PIB, dando condições de os governos - não apenas o governo central, mas os governos locais - desenvolverem boas administrações e criarem bons programas sociais. Mas, de lá para cá, a arrecadação começou a cair, equiparando-se ao PIB. Não é menor porque a produção do País decresceu no ano passado e tudo indica que decrescerá ainda este ano.

    Senador Cristovam, antes de conceder o aparte a V. Exª, com a benevolência do nosso Presidente, quero dizer que não fiquei assustada nem que foi uma surpresa, porque já sabemos qual é o pensamento do mercado e qual é o pensamento da mídia em relação ao Governo da Presidenta Dilma. Eles querem que ela saia do poder. O que eles querem é derrubar o poder, o que eles querem é alimentar o impeachment, a ponto de misturar o impeachment com questões éticas, ou seja, com a luta contra a corrupção, e uma coisa nada tem a ver com a outra, Senador Jorge Viana. O processo de impeachment que existe na Câmara dos Deputados não tem nada a ver com o combate à corrupção. Nada. Os argumentos utilizados são decretos assinados pela Presidente, são pedaladas, nada têm nada a ver com corrupção, mas eles chegam ao ponto de misturar, de modo que o povo pense que a Presidenta Dilma é culpada de tudo.

    No fundo, o grande problema político que vivemos - e num momento ruim, porque delicado para a economia - é uma disputa de projeto de nação, não tenho dúvida, como eu disse no meu pronunciamento de segunda-feira e hoje repito.

    Ontem, o dólar subiu, Senador Jorge Viana, e as bolsas caíram. A Bolsa de Valores de São Paulo despencou mais de 3,5%. O dólar subiu mais de 3%. Ações de empresas que têm ações na Bolsa de Nova York caíram abruptamente, Senador Cristovam Buarque. A CSN teve uma queda de mais de 16%; a Petrobras, de mais de 8%.

    Por quê? Porque o mercado não quer, porque o mercado enxerga - aqui está escrito, eu posso até ler - que a posse do Presidente faz com que o Governo ganhe fôlego. Ela atrapalha o processo de Impeachment. Quem diz isso são os representantes do próprio mercado. Eles dizem que a vinda do Presidente Lula retarda o processo de Impeachment. Eles não querem isso, o que eles querem é derrubar, para aplicar outras medidas que não as que o Presidente Lula tem citado.

    É óbvio que, dentro de uma responsabilidade fiscal, temos que entender que não dá para adotar medidas que aprofundem a recessão. Cortes vão apenas aprofundar a recessão. E a recessão aprofundada vai fazer com que cresça o desemprego.

    Quero dizer que o mercado ontem sinalizou: "Não queremos o Presidente Lula no Ministério porque isso é uma sobrevida ao Governo da Presidente Dilma". Assim, a Bolsa caiu e o mercado não tem confiança. Mas isso passou. Isso foi ontem. Na crise é assim: as coisas acontecem muito rápido.

    Ontem, a vinda do Presidente Lula para o Governo era só especulação; hoje é realidade. Agora, Senador Cristovam, não vamos mais trabalhar com especulação, e sim com a realidade. O mercado tem que se acalmar, tem que se sentar com o futuro Ministro da Casa Civil e com a Presidente Dilma, porque quem sofre não é a Presidente Dilma ou o ex-Presidente Lula, quem sofre com isso é o povo e são eles também.

    Nós vimos o quanto cresceu o nível de emprego, o quanto cresceram as empresas e quanto ganharam de dinheiro neste País. Vamos nos acalmar na política, para a economia seguir seu caminho. Eu não tenho dúvida.

    É óbvio o que o Presidente Lula fala e nós falamos: precisamos de mais incentivo à produção, precisamos de mais crédito para o povo, repito, dentro da responsabilidade fiscal.

    É óbvio que o Presidente Lula está chegando para conversar, não para fazer nenhuma revolução. Aliás, ficou oito anos no poder e não fez nenhuma revolução no País. Adotou medidas importantes.

    Ontem, o Senador Capiberibe me disse que pode estar em curso no Brasil um acordão, em que se tira a Presidente Dilma do poder, em que se interrompe a Operação Lava Jato, e tudo volta ao normal.

    E também li que uma senhora da elite paulista disse que abandonou o movimento pelo impeachment ao perceber que não havia qualquer obstrução em relação às investigações.

    De nossa parte, o que há são algumas críticas em relação a exageros, em relação a ações como a do sequestro do Presidente Lula. Não digam que aquilo foi uma condução coercitiva. Não foi, porque a lei define o que é condução coercitiva. Quem disse isso foi o Ministro Marco Aurélio Mello. A lei determina o que é, define o que é, e não foi o que aconteceu com o Presidente Lula.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - O que nós criticamos são os atos exagerados, que ocorrem à margem da legalidade, à margem da lei. Isso nós não podemos aceitar.

    Senador Cristovam, se o Presidente me permitir, concedo um aparte a V. Exª.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senadora, eu temo muito o que está acontecendo, porque, em geral, na política, coisas muito esquisitas não dão certo. E está parecendo esquisito o fato de o Presidente Lula voltar com essa força toda. Veja bem, a senhora é das que mais defendem nesta Casa o Governo, a Presidente Dilma, mas veja o ato falho, quando a senhora disse que o Brasil está precisando de uma pessoa com experiência, como se ela não tivesse; de uma pessoa com liderança, como se ela não tivesse. Ela foi eleita com 53 milhões de votos. Ela ocupou cargos importantíssimos antes. Mas a ideia hoje é a de que o Brasil precisa de uma pessoa com experiência e com liderança. Agora, o que é grave? Primeiro, é que vai chegar como uma espécie de bipresidencialismo. E tem tudo para não dar certo.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Ou ela se anula completamente diante do Presidente Lula - e digo isso não com ironia; digo "Presidente" com o mesmo respeito com que sempre digo "Governador", ao falar com o Senador Capiberibe, por exemplo. Ou ela se anula diante do Presidente. Isso vai ser ruim, porque houve vários discursos aqui contra golpe. Se a Presidente Dilma se anula, houve um golpe das mesmas forças, feito até por ela - um autogolpe, se quiser -, mas, se ela se anula, houve um golpe. E o que a gente está vendo, pelo noticiário de hoje, é que o Presidente Lula vai mudar o Ministério inteiro, inclusive o Presidente do Banco Central. Esse é o perigo que vejo na dupla presidência. O outro é o da legitimidade. O Presidente Lula, há alguns meses, teria toda a legitimidade, mas, quando surgem boatos - e eu não uso isso como a verdade -, e se fala que ele viria para se proteger com o fato de Ministro não poder ser julgado no Paraná, isso tira uma certa legitimidade. Agora, a parte que acho mais interessante é que não dá para saber o que vai acontecer - e talvez seja positivo, do ponto de vista da economia. Veja bem: quando o Presidente Lula assumiu, estava havendo esse mesmo movimento de bolsa caindo e dólar subindo pelo medo do espectro do Lula.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Ele assumiu e teve uma política séria, responsável. O Lula teve um governo financeiramente responsável, com o Palocci e o Meirelles. Isso pode acontecer. Eu não vou dizer que não vai acontecer. Se isso acontecer, ele vai perder o apoio, inclusive, da senhora, que brigou tanto contra essa seriedade, e do Lindbergh também. A não ser que a gente veja aqui, outra vez, o mesmo filme: o PSDB vai ficar contra o que dizia, e vocês a favor do contrário do que vocês diziam. Isso a gente já viu aqui. A gente já viu esse filme, que pode acontecer. Daqui a pouco, a gente vai ver o Lindbergh, meu querido amigo, e a senhora defendendo uma política de austeridade do Lula, e o PSDB ficar defendendo uma política desenvolvimentista, porque a de austeridade, vinda do Lula, o PSDB vai dizer que não serve. Esse é um risco. O outro risco é se ele não fizer essa política parecida com a que ele fez quando assumiu. Se ele, de fato, desfizer as reservas, isso é muito perigoso. Se ele começar a baixar os juros, politicamente, colocando ali um Presidente do Banco Central que siga as ordens do Presidente, isso vai ser ruim, a médio e longo prazo. Se vier uma política desenvolvimentista nas formas tradicionais dos anos cinquenta, não vai servir mais hoje. Mudou. O que havia, nos anos cinquenta, era antes da globalização. Podia-se fechar o País. Então, você podia tomar medidas protecionistas e se proteger. Hoje não há como se proteger...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... do mercado financeiro internacional. Não há como, acabou. Só se a gente proibir a internet, como na Coreia do Norte. E isso não é possível. Então, não sou daqueles que diz que sabe o que vai acontecer com o Presidente Lula. Volto a insistir que uso o "Presidente" em respeito ao "ex", e não por ironia de dizer que ele é Presidente. Eu não digo isso, mas tudo dá a entender que é uma cartada muito arriscada, com muita chance de não dar certo para o Brasil. Pode até adiar o impeachment, mas talvez a um custo muito alto para a economia brasileira, para a sociedade brasileira e também para o povo que estava nas ruas pedindo outra coisa para ele, que eu nem assino embaixo. Estavam pedindo outra coisa para o Presidente, outro destino diferente de Ministério. De repente, vem o Ministério. Eu temo que o povo tome isso como um certo tapa na cara e que a política dele venha não como a que ele fez, responsável, mas, sim, irresponsável. E, se vier responsável, eu temo que ele perca o apoio de vocês - do Lindbergh e da senhora -, mas V. Exªs podem manter o apoio mudando o discurso, e aí vai ser divertido e triste ver o PSDB mudando também e passando a defender o contrário, só porque está vindo agora do Presidente Lula. Essa perplexidade agrega-se à falta de credibilidade de todos nós, mas, como a senhora disse, agora ele já foi escolhido. Vamos ver o que vai acontecer.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Cristovam, e acolho suas dúvidas.

    Esse é o mérito que V. Exª tem: V. Exª não ousa dizer que vai dar tudo certo, ou não vai dar certo.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Acho que nem nós que até lutamos, de alguns dias para cá, e que estamos tentando ajudar a convencer o Presidente Lula temos a convicção de que vai dar certo, de fato, porque a crise é complexa - a crise é complexa!

    Alguém escreveu alguma coisa, publicada no dia de hoje, que diz o seguinte: parece que as ruas vão resolver o problema da economia. O que vai resolver o problema da economia não é o que move as ruas. Não é isso, não é isso.

    Eu tenho aqui, por exemplo, Senador Cristovam, uma análise, que também está publicada, de Ricardo Kim, da XP Investimentos, ou seja, uma pessoa que representa o mercado. Ele diz que, com Lula no Governo, fica mais difícil emplacar o processo de impeachment. Foi ele quem disse isso, um analista de mercado, que repete o que ouve dentro do mercado. Aliás, o mercado ficou muito nervoso apenas com a expectativa.

    Então, eu prefiro deixar o ontem para trás e começar a trabalhar a partir do hoje.

    Senador, passo às suas duas premissas. Em relação a fugir da Lava Jato, o Presidente Lula não precisa disso. Não sou eu a julgar, nem para absolver, tampouco, muito menos para condenar. Nós estamos em um momento em que estão condenando previamente o Presidente Lula por quê? Porque dizem que ele é o verdadeiro dono de um triplex de que ele diz não ser dono. E não há nada que prove que seja ele o dono. Por essas questões! Agora é tanto todo dia, todo dia, todo dia é só triplex e sítio, triplex e sítio, que parece que vira verdade. Aliás, há a velha máxima: uma mentira dita cem vezes vira verdade. Então, vamos tomar cuidado. Ninguém pode ser absolvido antecipadamente, mas muito menos condenado antecipadamente.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Então, isto eu digo, e vários aqui que me antecederam falaram: ele demorou mais para dizer o sim, porque ele não queria que a vinda dele ao Ministério fosse confundida com isso. Aliás, ele está se sacrificando, na minha opinião; ele está se sacrificando, na minha opinião. Agora, não é por um projeto de futuro, é por um projeto de Brasil. É para um projeto de Brasil, porque, se formos parar para pensar, isso é muito mais oneroso para toda a história do ex-Presidente Lula do que algo que lhe dê mais poder. Não, de jeito nenhum. Então, eu acho que o mais sacrificado nisso tudo é ele.

    Em relação a ser um golpe branco, se é ele que vai governar ou a Dilma. Não! Vamos deixar o maniqueísmo de lado. Não existe o certo ou o errado. Não existe só o dois ou o quatro. Existe o três entre o dois e o quatro. E o três são duas pessoas poderem dialogar; são pessoas dialogarem e levarem um governo ou um projeto comumente. Um Presidente não faz nada sozinho; faz com seus ministros, faz com sua equipe...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É claro que a última palavra é do chefe maior, e a Chefe maior é a Presidente Dilma, não tenho dúvida.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - V. Exª me concede um aparte?

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Vou conceder o aparte.

    É a Presidente Dilma, não é?

    Então, veja: eu acho, Senador Cristovam - e por isso fiz questão, mudei o meu pronunciamento e vim falar sobre isso -, que, por um lado, temos um mercado nervoso. Nervoso e eles mesmos dizem que veem mais difícil a aplicação daquela política de que tem que se passar um pente-fino nos programas sociais, que eles consideram uma "gastança". Nós consideramos "gastança" esses juros elevados, quando todo mundo tem prejuízo, e os bancos têm lucratividade. Isso que é a verdadeira "gastança". Isso tem que ser mexido. Agora, dentro de quê? De um diálogo, e não do rompimento. Não do rompimento.

    Concedo um aparte ao Senador Lindbergh e, depois, se a Mesa me permitir, ao Senador Capiberibe, para concluir.

    Senador Lindbergh.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senadora Vanessa, dialogando com V. Exª, que faz um importante pronunciamento, e dialogando também com o Senador Cristovam Buarque...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ... que está aqui ao meu lado. Primeiro, quero dizer que o Presidente Lula, como de fato falou o Senador Cristovam, sempre teve uma postura extremamente responsável na economia. Agora, Senador Cristovam, no momento da crise econômica de natureza recessiva que aconteceu em 2008/2009, o que fez o Presidente Lula? O Presidente do Banco Central era Henrique Meirelles. Ele baixou, em 2009, cinco pontos na taxa de juros: caiu de 13,75% para 8,75%. Quando você baixa cinco pontos, você tem espaço fiscal para poder investir mais. Temos que dizer: o déficit nominal no ano passado foi de mais de 10%, 8% foram de pagamento de juros. Bancos centrais do mundo inteiro estão com juros negativos, e o nosso não. Em 2009, ele baixou, o Banco Central, cinco pontos na taxa de juros. Outra coisa que ele fez: aumentou 10% o gasto social.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Só para concluir. Aumentou 10% o gasto social. Ele sempre fala a mesma coisa: bote dinheiro na mão de pobre, porque o pobre investe aquele recurso. E deu certo do ponto de vista macroeconômico, Senador Cristovam, porque a dívida, que era de 60% do PIB no governo Fernando Henrique, caiu para 36% do PIB. Temos que entender que só vai melhorar a situação fiscal, só vai diminuir a dívida no País quando se colocar essa economia para crescer. Eu acho que o Presidente Lula entra sabendo de uma coisa: o centro da estratégica econômica é recuperação da capacidade de crescimento, proteção e emprego. Não podemos ficar em um samba se uma nota só do ajuste fiscal. Então, eu acho que ele, com essa responsabilidade, mas pensando nessa retomada do crescimento, vai dar uma grande contribuição, porque nós não vamos resolver essa crise política se a economia também não melhorar, se as pessoas não voltarem a ter.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Nesse sentido, encerro dizendo o seguinte: o Presidente Lula é, talvez, o maior animador deste País. É outra capacidade que ele tem a de conversar com os trabalhadores, de conversar com os empresários. Eu acho que ele vai entrar no Governo, também, tentando, na área econômica, reanimar a sociedade, os empresários e os trabalhadores. Muito obrigado.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu agradeço e imediatamente, Senador Capiberibe, concedo o aparte a V. Exª.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Senadora Vanessa, obrigado pelo aparte e pela referência que V. Exª fez sobre o meu comentário.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Com o qual eu concordo.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Eu considero que um dos acontecimentos mais importantes da história do Brasil são as investigações em curso, e nós não podemos colocar isso em risco. Qualquer que seja a saída da crise, essas investigações têm que ser preservadas e aprofundadas. Eu estou preocupado. Se alguém me perguntar qual a saída, acho que poucos aqui entre nós a terão. Existem várias possibilidades, mas há de se reconhecer que o Governo da Presidente Dilma é um Governo que já não governa. É um Governo que está promovendo um alarmante índice de desemprego. Nós estamos retrocedendo não só no desemprego, mas também nas conquistas de alguns anos atrás. Outra questão que criticamos e da qual nós somos críticos ...

(Soa a campainha.)

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - ... são as taxas de juros e também o custo do capital financeiro - a metade do orçamento público vai para a mão dos rentistas deste País -, mas isso quem facilitou foi o Presidente Lula. O Lula fez um Governo para engordar mais os banqueiros, essa é que é a grande verdade, essa é a verdade. Ele vem para o Governo agora para quê? Ele vai reduzir a parcela dos banqueiros? Acho difícil, porque ele passou oito anos. Nós estamos no segundo Governo da Presidente Dilma com uma deterioração total dos indicadores sociais, nós estamos com crise em todo canto. Nós precisamos de uma solução, mas a solução, esse acordão não pode existir. Eu entendo, porque, se amanhã houvesse uma solução com o impeachment da Presidente Dilma, e assumisse o Presidente Temer, o que é que iria acontecer?

(Interrupção do som.)

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Este é o meu cenário: assume o Presidente Eduardo Cunha, do PMDB, Renan Calheiros, do PMDB, o PMDB assumiria o Governo inteiro. Haveria uma grande festa, a bolsa iria evidentemente disparar, o dólar iria cair, haveria uma festa nacional. Nesta festa nacional, entraria o acordão, e, quando a sociedade acordasse do devaneio, o Ministério Público estaria manietado, e essas investigações estariam por água abaixo. Então, eu estou falando isso, porque esse desenho que está aí de acordo me parece que é no sentido de resolver esse problema das investigações. A única coisa: pode sair a Presidente Dilma. Agora, o que não dá é trocar o PT pelo seu sócio da crise, que é o PMDB. Isso é inaceitável. Nós temos que ver uma outra...

(Soa a campainha.)

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - ... alternativa, uma outra solução, mas essa solução de tirar o sócio majoritário para colocar o seu sócio secundário no Governo me parece que é algo que vai complicar ainda mais o País. Pode haver uma grande festa durante três ou quatro meses, mas depois volta a crise de novo. Então, eu acho que a saída era a Presidente Dilma chamar e mostrar que a corrupção neste País não é um desvio de comportamento pessoal, é um sistema, e ela precisa explicar como é que funciona esse sistema, porque a Lava Jato está explicando. A Lava Jato está escancarando o sistema de corrupção instalado neste País ao longo de toda a história, e só há uma alternativa: ou ela denuncia isso para o País, abre claramente o jogo para todo mundo, ou então pede para sair. Porque está difícil uma saída que não seja essa.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Mas estamos tentando achar a saída, Senador, e as peças estão se mexendo.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu só gostaria, Senador Lindbergh, de um minuto da atenção de V. Exª e do Senador Cristovam, porque eu acho que podemos resumir o diálogo que nós travamos aqui em um evento que aconteceu ontem e que dialogou exatamente no mesmo nível que nós estamos aqui. Só que um lado diferente.

    Ontem, o Instituto Fernando Henrique promoveu um debate sobre o futuro, sobre a crise do País, e convidou para esse debate, lá no Instituto, os economistas Samuel Pessôa e Marcos Lisboa. Aí o que foi que Marcos Lisboa disse? Que a sociedade brasileira até achou razoável - veja - os empréstimos do Tesouro ao BNDES, que terão custos aos cofres públicos, até 2060, avaliados em R$320 bilhões, aproximadamente. Aí, diz-se que, da plateia, foi o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso quem se levantou e fez o seguinte comentário...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Amorim. Bloco União e Força/PSC - SE) - Eu peço à Senadora Vanessa que encerre.

    V. Exª percebe que fomos muito benevolentes.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Demais. E aqui eu agradeço muito.

    Então, disse o seguinte o ex-Presidente Fernando Henrique: "Não é tanto que a massa vota e vota errado" - de fato, elegeu-o e depois o reelegeu para presidente - "mas que a elite brasileira pensa errado". Segundo ele, há poucos anos, a elite toda era lulista, mesmo quando já se sabia o que era o lulismo.

    Veja, o Presidente Lula não governou com uma classe social, ele governou para todos. Ele mostrou que é possível, sim, o diálogo social. E o que nós temos que buscar agora é exatamente isto: o diálogo. Não adianta querer botar a elite para um lado e o pobre para o outro, não. Não é assim que nós vamos resolver o problema. Nós vamos resolver o problema conversando com a elite, mas garantindo todas as conquistas que já obtivemos até agora. Isso, sim, Senadores.

    Muito obrigada. Desculpe-me pelo tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2016 - Página 23