Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao áudio em que o Vice-Presidente Michel Temer tece considerações acerca do resultado da votação do "impeachment" da Presidente da República na Câmara dos Deputados antes da finalização da apreciação, e apreensão com o aumento do número de ameaças recebidas pela oradora e outros parlamentares.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao áudio em que o Vice-Presidente Michel Temer tece considerações acerca do resultado da votação do "impeachment" da Presidente da República na Câmara dos Deputados antes da finalização da apreciação, e apreensão com o aumento do número de ameaças recebidas pela oradora e outros parlamentares.
Publicação
Publicação no DSF de 13/04/2016 - Página 17
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, DOCUMENTO, AUDIOVISUAL, DIVULGAÇÃO, AUTORIA, MICHEL TEMER, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, RESULTADO, VOTAÇÃO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LOCAL, CAMARA DOS DEPUTADOS, ANTERIORIDADE, CONCLUSÃO, APRECIAÇÃO, COMENTARIO, PROPOSTA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, APREENSÃO, AUMENTO, NUMERO, OCORRENCIA, AMEAÇA, CONGRESSISTA, AUTOR, POPULAÇÃO.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada a V. Exª, Senador Jorge Viana, e agradeço a compreensão do Senador Caiado e de V. Ex também. De fato, eu já estava aqui no plenário, entretanto conversando com uma pessoa que me procurou logo ali, na porta.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, creio que a intervenção que V. Exª acaba de fazer aqui, desta tribuna, me contemplaria em absolutamente tudo quanto ao seu conteúdo, mas, diante da gravidade do fato divulgado e que chegou ao conhecimento de toda a Nação brasileira no dia de ontem, não posso, vindo a esta tribuna, deixar de falar também sobre esse assunto que considero extremamente grave. É o assunto a que V. Exª se referiu: a atitude tomada no dia de ontem pelo Vice-Presidente da República, ex-Presidente da Câmara dos Deputados por duas vezes, com quem eu tive a alegria até de conviver na Câmara dos Deputados.

    Quero dizer que o fato de o Presidente ter divulgado o conteúdo de uma fala sua ontem em todas as redes sociais, Sr. Presidente, fez com que eu deixasse de ter toda aquela admiração pessoal que eu tinha pelo Vice-Presidente Michel Temer - e vou expor o porquê disso. Primeiro, acho que o Presidente começou muito mal, o Michel Temer; muito mal porque disse ao Brasil e à imprensa que o áudio foi publicizado por engano. Ora, a quem ele acha que engana dizendo que foi um engano que ele cometeu, diante de um momento de tanta gravidade, de tantas inseguranças, de tantas incertezas políticas?

    O Vice-Presidente acha que alguém vai acreditar que ele passou aquele Whatsapp por engano? Não, Senador Jorge Viana, aí não houve engano nenhum. Então, é o primeiro ponto que destaco. Ele devia ter tido mais coragem e ter assumido: eu gravei e divulguei o vídeo que aí está.

    Em segundo lugar, Sr. Presidente, o Vice-Presidente Michel Temer, na sua fala, disse o seguinte:

Quero, neste momento, me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que, penso, devam ser por mim agora enfrentadas. E eu o faço, naturalmente, com muita cautela [ora, veja, muita cautela], porque, na verdade, sabem todos que há mais de um mês eu me recolhi, exata e precisamente, para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da Senhora Presidente da República.

    Mais uma vez, ele falta com a verdade; mais uma vez, porque recolhido ele não está. Ele pode até estar recolhido, mas está trabalhando muito, chamando e recebendo Parlamentares todos os dias e todas as horas. E para quê? Para tramar a queda da Presidente Dilma. Quem não sabe disso? Isso está escrito, isso está dito. Eu não vi ninguém até agora que tivesse o nome citado em relação a reuniões, a conversas que tiveram com o Vice-Presidente Michel Temer, vir a público e negar esse fato. Então, não está recolhido.

    Mas, enfim, ele segue dizendo o seguinte: "Agora, quando a Câmara dos Deputados decide, por uma votação significativa, declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento contra a Senhora Presidente..."

    A Câmara, a Câmara dos Deputados já decidiu, Srs. Senadores? Já decidiu, Senador Lindbergh? A Câmara já tomou essa decisão? É claro que não. Ontem, o que tivemos foi uma votação prévia na comissão, que, aliás, se todos fizerem as contas, é uma votação que mostra que o projeto do golpe não passará, porque, para o projeto do golpe passar, tem de ter dois terços, o que significa dizer em torno de 67% dos Deputados e Deputadas Federais, votando a favor. E, lá, a votação registrada no dia de ontem chegou em torno de 58% dos votos, o que significa dizer: o projeto do golpe está longe. E não tenho dúvida nenhuma, se está longe hoje, amanhã ficará mais distante. Por quê? Porque a população brasileira começa a acordar.

    Olhe o ato, Senador Lindbergh! Por isso V. Exª não estava aqui ontem, porque certamente estava lá no ato, no Rio de Janeiro. Que coisa linda aquele ato, mais de 50 mil pessoas na rua, 50 mil pessoas a defender a democracia, muitas delas críticas ao Governo da Presidenta Dilma. Aliás, alguns votos, ontem, na Comissão, também partiram de críticas feitas à forma como o Governo vem conduzindo a política econômica e a polícia social no País, mas foram votos conscientes, votos seguros em defesa da democracia e contra o golpe. E eu não preciso repetir por que o que está acontecendo no País é um golpe - porque não há crime de responsabilidade.

    Senadora Sandra Braga, eu não assisti à sessão de debates da comissão na Câmara dos Deputados. Mas com a colaboração da minha assessoria nós fizemos um levantamento. Foram 38 Deputados que se manifestaram a favor do relatório do Deputado Jovair Arantes. Sabem quantos entraram no mérito do processo? Somente 6 dos 38. E entraram de forma superficial. Os outros só analisaram questões políticas, dizendo que a Presidente não reunia mais condições para governar o País.

    Mas não é isso o que diz a Constituição. A Constituição brasileira é clara: um presidente só pode sofrer impedimento em caso de crimes caracterizados na Constituição. E não há crime caracterizado pela Constituição.

    Mas vamos lá, o Vice-Presidente da República, de forma cínica - infelizmente eu não gostaria de estar aqui nesta tribuna usando até alguns adjetivos em relação ao Vice-Presidente, mas não me resta outra saída -, disse: "Não quero avançar sinal."

    Ora, não quer avançar sinal? Ele já avançou o sinal. Primeiro, porque demonstra o total desrespeito com a Câmara dos Deputados. Ou ele tem alguma informação que nós não temos, de que os Deputados já decidiram pelo impeachment da Presidente? Então ele desrespeita.

    Segundo, ele avança o sinal porque fala dos seus compromissos, sendo que o processo de impeachment ainda está no seu início. Ele propõe um governo de salvação nacional, um governo de unidade nacional. Por que nunca contribuiu na busca dessa unidade nacional no assento da Vice-Presidência da República? Cargo para o qual ele foi eleito utilizando os votos dados à Presidenta Dilma Rousseff, que tão somente foi votada. Porque, quando vamos à urna, lá estão as fotografias e os nomes dos candidatos à Presidência, e não à Vice-Presidência.

    Mas, lá diante, ele não tem como escapar. Ele fala dos sacrifícios que é preciso que a população... E fala já como Presidente. Vejam, um vice-presidente da República grava um texto, divulga o texto, falando como se já tivesse assumido a cadeira da Presidência da República. E diz dos sacrifícios que a Nação brasileira terá que fazer. Mas que sacrifícios são esses?

    Aí ele faz um esforço - no meu entendimento um esforço vazio - dizendo que o objetivo maior é gerar, criar novos empregos. É garantir certas conquistas em matérias sociais - não diz quais. E diz que nesse sacrifício terão que ser debatidas matérias importantes, polêmicas, como a reforma previdenciária...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... E a legislação trabalhista.

    Ora, eu aqui quero chamar atenção da população brasileira. O golpe que está sendo armado pretende tirar uma Presidente que não cometeu nenhum crime, não está denunciada em nenhuma das ações da Lava Jato, em nenhuma outra ação qualquer desenvolvida pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pelo Poder Judiciário, nenhuma delas envolve o nome da Presidenta Dilma. Mas querem tirá-la do poder para quê? Para aplicar o seu projeto político. E o projeto político dele, Senador Lindbergh, V. Exª já, há muito tempo, tem vindo à tribuna e tem mostrado qual é o projeto deles, que é Uma Ponte para o Futuro. E que a ex-senadora Emília classificou como "túnel do passado", túnel de volta ao passado, porque aqui fala em flexibilizar o direito dos trabalhadores, colocar o negociado sobre o legislado, fala em desvincular recursos vinculados hoje, como, por exemplo, da...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... saúde e da educação. Fala, Senador Requião, daquilo que tem de pior em relação aos trabalhadores.

    Parcerias com a iniciativa privada todos nós defendemos. Nós não somos a favor é do enfraquecimento e da entrega da riqueza do petróleo para as grandes empresas multinacionais. E é para isso que eles querem o poder. É para isso que eles querem assaltar o poder, ocupar a cadeira da Presidenta Dilma e aplicar todo o projeto que, segundo eles, ficou inacabado quando o PSDB perdeu as eleições para o Presidente Lula no ano de 2002.

    E a partir daí nós começamos a ver um Brasil diferente. A construção de um País que olha para as pessoas, que olha para aqueles que mais precisam, para aqueles que precisam da mão do Estado. Começamos a construir um País que, pela primeira vez, valoriza um projeto de educação, quando nós aprovamos aqui a mudança do marco do petróleo da concessão para a partilha e o direcionamento dos recursos - todos eles - para a educação.

    Então, Sr. Presidente, o movimento que nós vivemos no Brasil é para acabar com isso, é para retroceder, é para voltar ao passado.

    E, mais uma vez, eu concluo, se V. Exª me permite, Senador Jorge Viana, falando da intolerância. Aí vem o Vice-Presidente, - ele, sim, de forma cínica - dizer que assiste com muita preocupação a pessoas se digladiando não apenas por ideias, mas também fisicamente. Ora, se ele está preocupado com isso, ele devia ficar recolhido e não falar à Nação. Fique lá no seu canto. Ele tem que ficar lá e não ficar tramando um golpe - repito - contra a Presidenta Dilma. Mas, infelizmente, a intolerância tem chegado ao seu limite máximo.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu tenho ouvido muita gente reclamar que teve seus telefones, Senadora Sandra, "hackeados". Pois, desde hoje cedo, eu não aguento mais apagar as mensagens que recebo não pedindo votos, mas mensagens ameaçadoras, mensagens graves, que não sei de onde vêm. Eu acho que é lícito, é justo que as pessoas procurem os Parlamentares, expressem suas opiniões e peçam votos. O que não é lícito, o que não é justo, o que não é aceitável é a violência que muitos estão sofrendo.

    Ontem, mesmo, nós falamos muito sobre a Deputada Zenaide e sobre a Senadora Gleisi Hoffmann. A Senadora não apenas foi agredida no aeroporto de Curitiba - e já caminho para a conclusão, Senador Jorge Viana -, mas foi perseguida, foi violentada, do ponto de vista moral, com palavras.

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A Senadora Gleisi Hoffmann, Senador Jorge Viana, foi perseguida desde a área do embarque até o estacionamento do aeroporto. Isso tudo está gravado, palavras grosseiras, ofensivas, que dirigiam contra ela. E era um grupo de sete pessoas. Pelo jeito, elas estão reproduzindo o exemplo que vem de cima, tal qual esse triste exemplo dado ontem pelo Vice-Presidente Michel Temer, em uma demonstração de que não apenas está ansiando por ocupar a cadeira da Presidenta, mas está tramando. É um dos artífices do golpe que está em curso no Brasil. Mas é um golpe, Sr. Presidente, que não passará, porque o povo brasileiro se mobiliza, o povo brasileiro não permitirá que isso aconteça.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/04/2016 - Página 17