Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do Sr. Benedito Odilon Rocha.

Autor
Wilder Morais (PP - Progressistas/GO)
Nome completo: Wilder Pedro de Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do centenário de nascimento do Sr. Benedito Odilon Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 13/04/2016 - Página 88
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, POETA, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. WILDER MORAIS (Bloco Democracia Progressista/PP - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, a gente poderia expressar, seguido de interrogação e exclamação, "poesia numa hora dessas?!", como perguntou e se admirou o escritor Luis Fernando Verissimo.

    Sim, poesia em todas as horas, mesmo na turbulência.

    Quem merece impeachment é a tragédia em forma de governo, não a tragédia em forma de poesia.

    O que precisa ser afastado imediatamente é a comédia em que o povo usa nariz de palhaço - e que os artistas circenses me perdoem pela comparação, pois não se pode confundir picadeiro com poleiro.

    Poesia numa hora dessas, porque horas atrás se completou um século de nascimento de Benedito Odilon Rocha.

    Poesia para o pioneiro da multimídia: foi músico, professor, político, gestor público, contador, comerciante, restaurador de pintura sacra, cenógrafo, contista, memorialista, ator de teatro, compositor, advogado, servidor público, imortal de academia, jornalista, editor de jornal e, em todos os lugares e oportunidades, poeta.

    O Senado não pode deixar que passe em brancas nuvens a homenagem a quem as coloria de sonhos. Lembrar de Benedito Odilon Rocha é voar com as asas da imaginação, tendo como combustível a prosa facilmente inteligível, os versos bem elaborados, os registros de um cronista de seu tempo. E o tempo de poeta durou todos os seus 74 anos, de 7 de abril de 1916 a 2 de julho de 1990.

    Não é preciso ter sido seu amigo ou prezar a sua família, composta por admiráveis intelectuais, para avalizar a produção de Dito ou, como ele cita em um poema, Bem. Alguns dos melhores escritores da América Latina festejaram sua obra. Pablo Neruda e Graciliano Ramos premiaram respectivamente poema e conto de Benedito Odilon Rocha.

    O chileno vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1973 se encantou com as maravilhas do Cerrado, ao visitar Goiânia duas décadas antes para o Congresso Internacional de Intelectuais. Uma dessas belezas foi o poema "A caraíba", de Benedito Odilon Rocha, cujos versos são de beleza tão espetacular quanto o ipê-amarelo.

    O Velho Graça incluiu "A filha", de Benedito Odilon Rocha, na antologia de melhores contos, além de textos de outros dois excelentes escritores goianos, Hugo de Carvalho Ramos e Bernardo Élis. Além de amigos e conterrâneos de Corumbá (terra também de José J. Veiga), Benedito e Bernardo integraram a Academia Goiana de Letras, mas não estão imortalizados por terem pertencido à Casa de Altamiro Moura Pacheco. O que faz o nome e o prestigio transcenderem é a qualidade, característica que permeia a obra de Bernardo Élis e Benedito Odilon Rocha.

    Em comemoração à marcante data, a jornalista Ana Cláudia Rocha, sua filha, organizou no livro "Memórias de Rocha" os escritos do e sobre o pai. O resultado é admirável, conforme se pode comprovar no volume impresso e em documentário feito pela poeta Cássia Fernandes. Alguns dos melhores artistas plásticos ilustram a obra. Músicos e declamadores participam de saraus com textos de Benedito.

    Poesia é para essas horas, para todas as horas, pois não existe recurso mais eficiente para homenagear um personagem do alcance e da singularidade plural de Benedito Odilon Rocha. Um personagem pai de outros tantos. Neto de musicista, filho da primeira grande atriz de teatro de Goiás, Benedito teve prole tão numerosa quanto talentosa. Além de Maria Clara, protagonista do premiado "A filha", e dezenas de marcantes crias literárias, também são de sua lavra Hélio, Laíla, Reynaldo, Beatriz, Edgard, Eduardo, Maria das Graças, Paulo e Ana Cláudia. São frutos de um amor que rendeu belíssimos versos: Benedito foi casado por 51 anos com Ana Vale e por tempo ainda maior com a Corporação 13 de Maio, grupo musical de Corumbá. Entre letras e sons, quatro de seus meninos se tornaram jornalistas (Ana Cláudia, Eduardo, Hélio e Reynaldo, que o celebram em belos textos nas "Memórias de Rocha"), três professoras (Beatriz, Laíla e Maria), o médico Edgard e meu colega engenheiro civil Paulo.

    Perdi o meu pai recentemente e tenho ainda mais de duas décadas para fazer a Seu Natalino Alberto uma homenagem à altura do que ele merece, conforme conseguiram os filhos de Benedito Odilon. Parece muito tempo, mas talvez seja pouco, dada a perfeição e a dedicação da família Rocha no projeto.

    Benedito venceu duas eleições, para prefeito de Corumbá e para a cadeira 17 da Academia Goiana de Letras, cujo patrono é Machado de Assis. Para que este 2016 seja o ano em que o Brasil elegeu prefeitos que no futuro sejam corretamente idolatrados como Benedito Odilon Rocha, um primeiro passo é reconhecermos a importância da poesia. Principalmente, da boa poesia, como a de Benedito Odilon Rocha, para a qual sempre se deve fazer a hora, sem esperar acontecer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/04/2016 - Página 88