Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo à tolerância religiosa e à convivência pacífica que deve existir entre os diferentes credos.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Apelo à tolerância religiosa e à convivência pacífica que deve existir entre os diferentes credos.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2016 - Página 32
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, SOCIEDADE, TOLERANCIA, DIVERSIDADE, CRENÇA RELIGIOSA, OBJETIVO, OBTENÇÃO, PAZ, VIDA HUMANA, COMENTARIO, ATENTADO, VITIMA, GRUPO RELIGIOSO, LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, PAQUISTÃO, FRANÇA, INCLUSÃO, SITUAÇÃO, BRASIL.

    O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado, senhores ouvintes da Rádio Senado, público que se encontra nestas dependências, no último domingo, dia 27, um homem bomba assassinou no Paquistão 65 pessoas, em sua maioria mulheres e crianças. Mais de 300 ficaram feridas.

    O local escolhido pelo suicida para esse ato foi o estacionamento de um parque localizado em Punjab, popular entre a comunidade cristã, que se encontrava lotado de famílias celebrando a Páscoa.

    A Jamaat-ut-Ahrar, uma facção vinculada ao grupo radical islâmico Taliban, reivindicou a autoria do ataque, desencadeado próximo à área onde ficava um parque para crianças. O porta-voz do movimento afirmou que o governo não poderá detê-los e que os seus homens-bombas continuarão com essa saga funesta.

    O Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), do meu Estado do Rio de Janeiro, registrou, entre julho de 2012 e dezembro de 2014, 948 queixas relacionadas à intolerância religiosa.

    O Disque 100 do Governo Federal recebeu, em 2014, 149 denúncias de violações de direitos motivadas por intolerância religiosa. Esses dados ainda dizem muito pouco sobre a realidade brasileira. É preciso um esforço de todos os âmbitos federativos - federal, estadual e municipal - para a sistematização das ocorrências de intolerância religiosa.

    Os ataques ao jornal satírico Charlie Hebdo, no ano passado, e a um mercado de produtos judaicos, no início do ano, refletiram no Brasil com casos de agressão a muçulmanos e aumento da preocupação com a discriminação religiosa.

    Pela primeira vez, atos de violência foram cometidos em série contra fiéis, de acordo com a Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro.

    Em São Paulo, a Mesquita Brasil, a maior do País, foi alvo de pichações, enquanto o carro de um islamita sofreu ação de vândalos. Em ação mais agressiva, uma mulher foi apedrejada e outra, chamada de "muçulmana maldita", recebeu uma cusparada no rosto.

    Essas reações me trazem a preocupação com a visão do público brasileiro sobre a convivência pacífica entre as religiões e sobre o Islã, cujos representantes, claro, tentam desvincular o islamismo da ação dos radicais e ressaltam a boa convivência entre fiéis de diferentes crenças.

    É urgente que adotemos medidas corajosas para não sermos vítimas do radicalismo das religiões.

    Na história da humanidade, em nenhum momento, qualquer praga, qualquer acidente natural - terremotos, tsunamis, vulcões em erupção - ou mesmo a ambição desvairada de líderes, nada matou mais do que guerras religiosas.

    Quando ocupo esta tribuna hoje para prestar reverente e solene homenagem aos cristãos do Paquistão que foram vítimas de um homem-bomba, faço um apelo, um apelo à tolerância cristã, à tolerância religiosa, à convivência pacífica que deve existir entre os diferentes credos. No Brasil, nós temos tido essa tradição, vez ou outra ferida por alguns radicais, que, adotando um discurso demagógico e contrário ao que Cristo ensinou, atacam ou outros cristãos ou outras religiões.

    Eu gostaria de lembrar que a única guerra, o único combate legitimado por Cristo é o combate contra si mesmo, é a luta contra o medo, contra as hesitações, contra as tentações, contra as fraquezas. Essa é a única luta que se prevê no âmbito da fé. Qualquer outra é motivada pelo orgulho, pela prepotência. E digo mais: o pior pecador é o acusador. Repito: o pior pecado é o pecado do acusador.

    Dessa maneira, Sr. Presidente, ao mesmo tempo que tenho meu coração estraçalhado de dor e de tristeza por imaginar aquelas crianças celebrando a Páscoa, celebrando a ressurreição de Cristo no domingo, eu não poderia deixar de vir à tribuna do Senado Federal para clamar pela tolerância religiosa, pelo respeito que deve haver pela diferença das crenças, pelo respeito que deve haver por sermos todos criaturas de Deus. Se desejamos ser respeitados, então temos a obrigação de respeitar.

    Também não quero estigmatizar o mundo islâmico devido aos homens-bomba. Em todos os países islâmicos, os partidos radicais têm perdido eleições sistematicamente, têm perdido espaço. Desgraçadamente, os fanáticos, sobretudo os mais jovens, contaminados pela ira insana, pelo ódio, por um puritanismo sectário e pela ignorância, acabam matando a si mesmos, achando que vão encontrar, dessa maneira, na imolação, o caminho para o céu. Encontram o caminho para a desgraça, para a morte de famílias, de crianças, para derramar sangue.

    Eu espero mesmo que, em cada Parlamento do mundo, seja do mundo islâmico, seja do mundo hindu, seja do mundo cristão, haja pronunciamentos em nome da paz, haja pronunciamentos que promovam a tolerância religiosa e o respeito que se deve ter às convicções de foro íntimo e às maneiras como as pessoas se relacionam com Deus, com as suas crenças.

    Eram essas, Sr. Presidente, as palavras, pobres palavras, do meu pronunciamento que expressam a minha dor. Talvez não haja palavras para expressar uma dor tão grande por, em um domingo de Páscoa, presenciarmos um derramamento de sangue de crianças inocentes. Mais de 300 pessoas foram feridas, e 63, na maioria mulheres e crianças, morreram degoladas por um fanático.

    Também não devemos descansar, porque essas coisas podem acontecer no Brasil. É preciso que haja vigilância dos homens de bem, vigilância dos religiosos e dos que não são religiosos, de todos os democratas, de todos os partidos, para que, no nosso País, esses atos sejam, todos eles, veementemente recriminados e possamos caminhar o caminho da paz e da convivência pacífica entre todas as religiões.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador Crivella, permita-me apenas endossar as suas palavras e a sua exortação à paz. Quero dizer também, como V. Exª lembrou, que, embora o Brasil seja um país pacífico e o brasileiro seja um povo cordial...

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... não estamos livres de acontecerem essas atrocidades e essas covardias e selvagerias. Bem lembrado. Penso que a crise interna que estamos vivendo no Brasil, de certa forma, acabou deixando de lado a gravidade do que aconteceu nessas regiões, com esse grau de atrocidade revelado por V. Exª: degola de crianças, de mulheres, pessoas indefesas. É de uma violência inexplicável, e não há nada - nem religião, nem política, nem ideologia - que justifique esse grau de violência no século XXI. Acho que está faltando Deus na mente de muita gente, mas um Deus bom, um Deus que não prega esse tipo de violência. Parabéns, Senador Marcelo Crivella, pela abordagem desse tema nesta tarde.

    O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ) - Muito obrigado. Agradeço à senhora o aparte, que peço que seja incorporado ao meu discurso.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2016 - Página 32