Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as causas que levaram à queda na popularidade da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Lúcia Vânia (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre as causas que levaram à queda na popularidade da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2016 - Página 45
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, POPULARIDADE, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o segundo mandato da Presidente Dilma Rousseff teve início com um clima tenso no Congresso Nacional. A estratégia eleitoral equivocada do vale-tudo, que desqualificou adversários e os tratou como inimigos, deixou como sequela um ambiente de terra arrasada, em que o diálogo com a oposição tornou-se impossível.

    Na relação com o Congresso Nacional, o Governo preferiu fomentar a cisão de partidos de sua Base de sustentação, numa tentativa de dividir para governar. O ambiente de discórdia instaurado serviu apenas para unir contra o Governo os opositores antes divididos.

    Todo esse descompasso decorrente da estratégia eleitoral e da relação com a Base dividida, potencializado pelos escândalos das investigações no âmbito da Operação Lava Jato, somou-se à urgente necessidade de reverter os desequilíbrios crescentes no setor elétrico e na Petrobras bem como reduzir o elevado déficit fiscal por trás das pedaladas. A necessidade de uma forte ação corretiva nos preços da energia e dos combustíveis bem como a adaptação dos programas sociais à realidade orçamentária fizeram a popularidade da Presidente despencar junto com o nível de emprego e arrecadação.

    Todos esses acontecimentos levaram a uma situação de isolamento da Presidente, ampliado pela percepção da sociedade de que fora enganada sobre a real situação da economia durante o processo eleitoral. Assim, a população passou a reivindicar o cumprimento do programa ilusório que lhe fora vendido durante a campanha eleitoral. A partir daí, o programa de ajuste promovido pelo Ministro Levy e, posteriormente, pelo Ministro Barbosa tornou-se indefensável pela maioria do Congresso Nacional, assim como nas ruas. Diante de uma dívida pública que cresce explosivamente, o conflito político aprofundou a paralisia decisória que impede o País de enfrentar os seus problemas econômicos.

    O risco que corremos, agora, aqui é o de nada ser feito. O afastamento da Presidente abre caminhos para a retomada do diálogo entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional, indispensável para aprovar as medidas que permitirão a retomada do crescimento e, consequentemente, do emprego. No entanto, é ilusório pensar que o novo governo, ao assumir no atual contexto político, terá respaldo para amplas mudanças no ambiente econômico.

    Os erros na condução da política econômica, o aparelhamento e o inchaço da máquina pública, a gestão temerária das finanças públicas, o individualismo decisório e as disseminadas práticas não republicanas mostram que há espaço para avanços, embora não no ritmo esperado pela sociedade. O novo governo terá de ser pragmático e mostrar logo resultados, escolhendo, entre as muitas reformas de que o País precisa, aquelas de maior chance de aprovação no Congresso e que possam estancar a trajetória perversa da economia.

    Encerro as minhas palavras reproduzindo aqui as palavras de Roberto Fendt, em O Estado de S. Paulo - abre aspas: "(...) o novo governante deve ser mais do que um gestor (...). O gestor, por mais competente que seja, decide apenas o que fazer; o líder motiva as pessoas a desejarem o que precisa ser feito". Sem liderança, não é possível promover a unidade nacional capaz de acelerar as mudanças que precisam acontecer para a retomada do crescimento e da paz social no País.

    Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Muito obrigada pela presença de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2016 - Página 45