Discurso durante a 51ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Preocupação com atos de violência que possam ocorrer nos próximos dias durante a apreciação, pela Câmara dos Deputados, do impeachment da Presidente da República Dilma Rousseff.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Preocupação com atos de violência que possam ocorrer nos próximos dias durante a apreciação, pela Câmara dos Deputados, do impeachment da Presidente da República Dilma Rousseff.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Simone Tebet, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2016 - Página 26
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • APREENSÃO, OCORRENCIA, VIOLENCIA, PERIODO, VOTAÇÃO, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu não sei se as câmaras estão funcionando hoje, porque eu não vejo sinalização de luz vermelha naquela câmara ou na outra.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Está tudo funcionando.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Mas está tudo funcionando, é apenas...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Só temos um pequeno problema na tribuna da direita, mas também está sendo providenciado o reparo.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Então, eu agradeço os que nos acompanham.

    Senador nosso Presidente, desde ontem, o meu celular está sobrecarregado de mensagens de todo o Brasil, mas, especialmente, da Região Nordeste. Há mensagens dos prefixos 77, 71, 40 e 67 também, que é do Centro-Oeste.

    Muitas dessas mensagens virtuais são mensagens ameaçadoras. E eu temo, sinceramente, que da ameaça virtual, que é inofensiva, mas ofensiva apenas pelo sentimento que a gente tem quando recebe, mas inofensiva do ponto de vista do impacto físico eventualmente... Sr. Presidente, se essa ameaça, que é virtual aqui no celular, se transformar numa ameaça física, por exemplo, no domingo, quando nós teremos, eu diria, quase que uma torcida organizada - de um lado, os contrários ao impeachment e, de outro lado, os favoráveis ao afastamento da Presidente -, se isso sair do virtual e vir para o mundo real, se isso acontecer, nós teremos um gravíssimo risco, talvez até de sangue na Esplanada dos Ministérios.

    Não é isso que o Brasil espera da cidadania, não é isso que eu, democraticamente, desejo, com a responsabilidade de uma Senadora que nunca quis e nunca torceu pelo quanto pior, melhor. Nunca! Eu tenho a responsabilidade, aqui nesta Casa, quando as matérias são importantes, necessárias e prioritárias para o País, propostas pelo Governo, de apoiá-las. Meu Líder, Benedito de Lira, é testemunha disso. E quando penso que não convém ao interesse nacional, voto contra, apesar da orientação partidária. Assim, eu tenho que agradecer a compreensão e a democrática atitude do Líder Benedito de Lira.

    É da mesma forma, em todas as ações, quando sou chamada para uma relatoria, quando aprovei, por exemplos, os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, questão que foi tão debatida. Apoiei porque se trata de uma obra relevante neste momento de crise econômica que o País está vivendo. Temos dez milhões de desempregados! Isso não pode ser desprezado por ninguém, seja oposição, seja situação. Nós estamos precisando, urgentemente, de resolver esse impasse grave que o País está vivendo.

    Então, o apelo que eu faço, com toda a sinceridade, é que as lideranças dos movimentos que vão trazer a Brasília os manifestantes para defender e apoiar a Presidente da República e aqueles que estão defendendo o afastamento da Presidente jamais cometam o desatino de um derramamento de sangue, porque nós não podemos manchar a democracia brasileira dessa forma. Nós podemos conviver, sim, e a própria Presidente chegou a anunciar, dependendo do resultado, um acordo, um entendimento. Lamento que a política seja... A política é inexorável, a política tem o seu timing, o seu tempo, e as decisões e medidas não tomadas no seu tempo perdem a sua eficácia.

    Queria fazer esse apelo, um apelo sincero, Senador Jorge Viana, para que não haja nenhuma violência nessas manifestações de domingo. Acredito na capacidade da Polícia Militar do Distrito Federal, da Força de Segurança Nacional, que, eventualmente, seja convocada para realizar um trabalho sério, mas o controle disso vai depender basicamente das lideranças dos dois lados.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senadora.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - É muito difícil e complicado, mas penso que será necessário que se imponham a racionalidade, a responsabilidade de todos nós, no domingo, quando a Câmara começa a decidir no Plenário sobre essa matéria tão relevante.

    Com a palavra a Senadora Vanessa Grazziotin.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senadora, o que V. Exª fala, nesse início de pronunciamento, foi exatamente o que falei no dia de ontem, porque, da mesma forma que V. Exª, meu telefone também - não sei de que forma, mas tiveram acesso aos números - tem recebido inúmeras mensagens. Não me incomoda nenhuma daquelas que pedem de forma - nem diria elegante - educada e respeitosa. O problema, Senadora Ana Amélia é que, como com V. Exª, a quantidade de mensagens agressivas, desrespeitosas, é algo inacreditável. Fiz um apelo ontem, muito maior do que o que V. Exª faz hoje: "Continuem mandando mensagem. Quando o episódio acabar, vou responder uma a uma, porque agora não tenho tempo". Mas vou responder àquelas mensagens respeitosas. O que não podemos admitir é o desrespeito, o que não podemos permitir é a violência, seja psicológica ou física. Ontem no plenário, estava o Senador Cássio, que também manifestou solidariedade, como faço a V. Exª. Senadora, a Senadora Gleisi sofreu na pele. Vi o filme que a senhora deve ter visto: ela foi perseguida do desembarque até o estacionamento do aeroporto, sendo agredida, violentada psicologicamente. Então, acho que temos que fazer esse apelo à sociedade brasileira. Lamento muito! Lamento muito! Tenho ouvido vários pronunciamentos de vários governadores, dizendo que, se estivessem aqui, se fossem do DF, pediriam para o Presidente da Câmara não marcar a votação para um domingo, porque o risco da violência cresce significativamente. Senadora, a senhora também receba, de nossa parte, a solidariedade. Isso tem que acabar, porque o respeito e a convivência são a base da democracia. Podemos divergir, mas jamais chegar a esse ponto que estão chegando hoje. Meus cumprimentos e minha solidariedade também, Senadora.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Agradeço enormemente, Senadora Vanessa, porque, da mesma forma que a senhora, muitas mensagens são educadas, mas, nas agressivas, chegam ameaças assim: "Toda sua família será culpada, responsabilizada." O que é que tem que ver a família com o meu mandato? Eu é que tenho que responder por ele aos meus eleitores e à sociedade, que eu represento aqui com muito orgulho, do Rio Grande do Sul. Então, como a Senhora, da mesma forma, também. E eu não sei como, é um telefone particular meu que entrou na rede e está sendo usado. Não me importa isso, eu não tenho nenhum problema em responder. Mas não aceito essa agressividade e apenas bloqueio e deleto essa informação, porque eu acho que não cabe uma resposta. Qualquer resposta que eu der vai contrariar o interesse de quem está me agredindo. Aliás, chamam-me em todas elas de Deputada. Não há nenhum mal nisso, mas dá para ver o grau de desinformação.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Todos nós viramos Deputados.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Deputados, exatamente! Também o Senador Jorge Viana está recebendo. Então, é para ver o grau - eu diria - de excitação que está a sociedade brasileira neste momento.

    Antes de passar a palavra à Senadora Simone Tebet, eu queria agradecer aqui da tribuna a cedência do seu espaço como oradora porque eu não poderia - por estar no art. 17 -, porque falei dois dias. É bom que as pessoas que nos acompanham entendam. O Regimento Interno permite que um Senador fale como orador inscrito duas vezes na semana. Fora disso, ele pode falar para comunicação inadiável por cinco minutos. Como eu não tinha conseguido essa questão, a Senadora Simone Tebet, com muita gentileza e generosidade, me concedeu o seu tempo para que eu pudesse falar.

    Com muita alegria concedo o aparte a V. Exª.

    A Srª Simone Tebet (PMDB - MS) - Fico muito feliz, Senadora Ana Amélia. Não sabia qual era o assunto do seu pronunciamento, mas fico feliz porque acho que a Nação brasileira está precisando ouvir desta Casa boas novas. Precisamos falar de esperança, de fé, de união, de fraternidade. Eu ainda ontem tive a oportunidade, na tribuna do Senado, de fazer uma prece.

(Soa a campainha.)

    A Srª Simone Tebet (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Eu fiz uma prece ontem que veio do mais fundo do meu coração ao ver esse muro, que eu chamo de "Muro da Vergonha", que é o muro que simboliza tudo o que está se passando nesta Nação, a fragmentação, a divisão, a segregação do nosso povo, e concluí dizendo que esse muro é o muro da divisão que já chegou à mente do povo brasileiro, mas - eu tenho certeza - não chegou ao coração das pessoas. O nosso povo ainda é um povo pacífico, ordeiro e que se entende, se enxerga como uma única Nação, um único povo. Eu gostaria de parabenizar V. Exª por esse pronunciamento e neste momento - eu fiz uma prece ontem - eu gostaria de fazer um apelo, e o apelo eu dirijo à Mesa Diretora. Ontem eu recebi um vídeo, e nesse vídeo uma pessoa mostrava o muro, e, junto a ele, barras de ferro espalhadas por todo o campo da avenida chamada Esplanada dos Ministérios, acredito que dos dois lados. As barras são, só de ver, impressionantes, no sentido do perigo que elas representam num momento de tumulto. Eu gostaria, nosso Presidente em exercício, Senador Jorge Viana, quem sabe se pudéssemos acionar a Polícia Legislativa, e, se ela não puder recolher, que pudéssemos ligar ou acionar a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para que essas barras - e não é uma, não são duas, são várias, dezenas - pudessem ser imediatamente retiradas, porque sabemos que, a partir de amanhã, já teremos gente acampada, aguardando os acontecimentos. Parabéns a V. Exª! Comungo da mesma opinião e acho que nós, mulheres Senadoras, que somos sensíveis, podemos levantar, a partir de agora, essa bandeira, independentemente do que vá acontecer a partir de segunda-feira neste País. Parabéns, Senadora Ana Amélia.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Muito obrigada, Senadora Simone Tebet.

    Aproveito a sua manifestação para me dirigir à Senadora Gleisi Hoffmann. Eu vi também, Senadora, e lamento profundamente. Nós temos posições divergentes do ponto de vista político e das decisões que vamos tomar, mas é inadmissível, é inaceitável, do ponto de vista democrático, do ponto de vista do respeito humano, dos direitos humanos. É uma relação respeitosa. Há um limite para tudo. Eu vi e queria dizer a senhora que não é assim que a gente faz democracia. Você pode contestar, você pode cobrar, mas não pode, de nenhuma maneira, agredir dessa forma - eu diria até de forma covarde.

    A sua reação foi de absoluta serenidade. Eu até me surpreendi. Eu me coloquei no mesmo lugar e não sei como reagiria naquela circunstância.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - E V. Exª, com uma serenidade surpreendente, diante daqueles gestos agressivos, porque não há necessidade; bastava um cartaz, bastava uma bandeira com o que quisessem dizer, mas não da forma como foi feito.

    Eu quero também lembrar que, ontem, o Senador Cássio, que deveria estar aqui para, da mesma forma, manifestar exatamente isso. É este o medo que tenho de que, no domingo, aconteça essa radicalização, que é inaceitável, Senadora Gleisi Hoffmann.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senadora Ana Amélia. Agradeço e vou, inclusive, falar, hoje, sobre isso e já me somar também às palavras de V. Exª. Acho que nós temos que chamar todos à razão para que tenhamos equilíbrio e disputas políticas na sociedade, não de enfrentamento físico ou de desrespeito ao próximo.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Já que a senhora é do Paraná, Senadora Gleisi Hoffmann - e aqui estavam, há pouco, o Senador Roberto Requião e o Senador Alvaro Dias, que representam a Bancada do Paraná no Senado -, eu encontrei, há pouco, uma senhora paranaense de Londrina, a Joace Alves. Ela me encontrou e para minha surpresa, deu-me um abraço muito afetuoso. E ela me disse que a mãe dela, Laura Alves de Carvalho... D. Laura Alves de Carvalho, já sei que a senhora tem 86 anos, mora em Londrina, no Paraná e está doente. Com muita dificuldade em 2014, foi às urnas para votar, carregada pelos filhos, a uma urna que não tinha acesso para as pessoas desabilitadas e a senhora acompanha a TV Senado diariamente. Inclusive, nos sábados, quando não há atividade aqui no Congresso Nacional, ela assiste as reproduções e as reprises da TV Senado e que isso para ela é não só um entretenimento, mas um aprendizado.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Aqui ela aprendeu a identificar pessoas que ela gosta, vários Senadores e Senadoras que ela admira.

    Então, D. Laura eu quero lhe agradecer, em nome de todos os Senadores, porque a senhora, com essa idade, 86 anos... Eu quero que a senhora tenha uma vida mais longa ainda, para poder continuar acompanhando. Quando essas pessoas fazem isso é uma gratificação enorme para a gente - saber que, lá em Londrina, a D. Laura Alves de Carvalho, de 86 anos, que está dispensada de votar pela legislação, faz questão de exercer a sua cidadania. Então, muito obrigada, fiquei muito honrada com o depoimento da Joace.

    Quero, para terminar, Sr. Presidente, reforçar esse apelo, essa exortação, a serenidade dos ânimos. Mesmo que tenhamos posições muito divergentes, não há como você praticar democracia na base da selvageria, na base da violência, na base do confronto físico, na base do derramamento de sangue.

    Nós precisamos que esta praça, a Esplanada dos Ministérios, se transforme em uma praça verde, pelo seu gramado, desse azul, desse céu maravilhoso que temos em Brasília. Se Deus é brasileiro, que ilumine as mentes dos nossos Líderes, dos Líderes dos movimentos pró-impeachment e contra impeachment, que sejam iluminados para orientar as suas bases para que haja uma manifestação pacífica e ordeira, porque é disso que a sociedade brasileira mais precisa. Precisamos mostrar ao mundo que somos capazes, sim, de fazer isso de maneira absolutamente em ordem e em paz.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2016 - Página 26