Comunicação inadiável durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à Revista IstoÉ pela publicação de matéria de conteúdo machista em relação à Presidente da República Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
IMPRENSA:
  • Críticas à Revista IstoÉ pela publicação de matéria de conteúdo machista em relação à Presidente da República Dilma Rousseff.
Aparteantes
Fátima Bezerra.
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/2016 - Página 10
Assunto
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ASSUNTO, DISCRIMINAÇÃO, MULHER, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Senador Jorge Viana, Srªs Senadoras, Srs. Senadores.

    Sr. Presidente, sei que, ontem, na segunda-feira, já ocuparam esta tribuna várias Parlamentares, entre elas a Senadora Fátima Bezerra, que já abordou o tema que me traz à tribuna neste momento.

    Assim como V. Exª, Senadora Fátima, e como a Senadora Angela Portela, eu, muito mais do que na condição de Senadora, mas na condição de mulher, não poderia deixar de vir à tribuna para fazer alguns comentários em relação à capa e a matéria principal da revista Istoé desta semana. É uma matéria que desrespeita não só a maior autoridade deste País, a Presidente Dilma, é uma matéria que desrespeita todas as mulheres brasileiras, absolutamente todas as mulheres brasileiras, porque, no poder, sobretudo no poder político, a visão machista é a que prevalece. Portanto, a benevolência e a explicação para ações mais contundentes quando partem de homens são perfeitamente apresentadas, imediatamente apresentadas. Entretanto, ao analisar a Presidente Dilma, a revista Istoé, no meu entendimento, extrapola a análise de uma pessoa, que é, repito, a maior autoridade deste País, a Presidente Dilma.

    Então, em primeiro lugar, quero falar da necessidade de no País haver uma imprensa de respeito, uma imprensa que se dê ao respeito, uma imprensa que procure divulgar apenas fatos dos quais ela detém provas. A matéria, Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, é baseada no diz que diz que. Ela procura analisar a Presidente da República em situações privadas, dentro do Palácio do Planalto. E aí, no meu entendimento, extrapola absolutamente todo o princípio da razão, da razoabilidade.

    Vejam o que diz a capa: "As explosões nervosas da Presidente". E segue: "Em surtos de descontrole [...]." Abaixo diz que a Presidente quebra móveis dentro do Palácio e perde também as condições emocionais para governar. Isso é o mais grave! Isso é exatamente o mais grave.

    A matéria começa dizendo que, não bastasse a crise por que passa o País - crise econômica, crise política -, a Presidente agora perde as condições morais de continuar dirigindo o País. Pergunto: baseada em que a revista Istoé divulga uma matéria de tão baixo nível, uma matéria, posso até dizer, de tão baixa qualidade jornalística? Não apresenta uma fonte sequer. Apresenta fontes palacianas, assessores do Palácio do Planalto. Vejam a gravidade! Diz que a Presidente está, inclusive, sendo medicada com dois medicamentos. E, mais adiante, segue numa comparação, dizendo que é comum, na história de vários países, presidentes ou autoridades, geralmente mulheres - geralmente mulheres! -, que se acometem do desequilíbrio mental. Cita aqui o exemplo das diabruras cometidas por Maria, a Louca, ou seja, Maria Francisca Isabel Josefa Antônia, e lá se vão os nomes.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Compara a Presidente à Maria, a Louca. Ou seja, a revista procura construir isso no imaginário das pessoas também. Além de tudo que tem divulgado, além de todas as manipulações que faz com as informações, vendendo para a população a ideia de que a Presidente tem de sofrer impeachment por conta da crise econômica e por conta de todas as denúncias de corrupção, nas quais em nenhum momento ela é citada, além de procurar induzir de forma desonesta a opinião pública, agora a revista me aparece com essa, atacando a condição de gênero da Presidente, atacando a sua condição de mulher.

    Senadora Fátima, nós todas nos sentimos agredidas. A Advocacia-Geral da União, de pronto, ao ler a matéria da revista, soltou uma nota, dizendo que vai interpelar a revista e que vai entrar com uma ação contra a revista no que se refere à figura da Presidente da República.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A Presidente Dilma, como mulher, como cidadã, também deverá interpelar a revista.

    Isso é inaceitável! Tenho discutido muito com minhas colegas, com minhas companheiras Senadoras. O que a Presidente Dilma está sofrendo pela sua condição de mulher é algo que nós não podemos aceitar, independentemente da posição política que cada uma de nós tenha.

    Nós não podemos aceitar, por exemplo, Senador Jorge Viana, que um editorial de um grande jornal, o Jornal de Campinas, de uma grande cidade de São Paulo, apresente uma manchete dizendo que o que a Presidente Dilma precisa é de um namorado.

    Nós não podemos aceitar que, na internet, espalhem-se frases como as que, infelizmente, estão sendo espalhadas. E peço desculpas, Senador Jorge Viana, por ter que dizer o que vou dizer desta tribuna, mas vou dizer, porque tenho visto isso se reproduzir aos milhares pela internet. Disseram que o Presidente Lula perdeu o dedo na... (expressão vedada pelo art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal) da Dilma.

    Os senhores me desculpem. Eu peço desculpa a quem está nos ouvindo, mas isso é o que está sendo espalhado aos milhares pela internet.

    Portanto, não é apenas uma disputa política; é uma tentativa de diminuir, é uma tentativa de denegrir a imagem política de uma pessoa honesta, séria, correta, como a Presidente Dilma. Não podemos nós aceitar isso de forma calada.

    Quero dizer que imediatamente eu vi não só mulheres, mas homens também, Senador Humberto, manifestarem-se contrariamente a esse tipo de matéria, que desrespeita a figura humana, que desrespeita os mínimos princípios, os mais elementares princípios dos direitos humanos.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Ela é uma cidadã e não pode ter a sua imagem vendida como a imagem de uma pessoa desequilibrada, como a imagem de uma pessoa louca, de uma pessoa que não tem capacidade mental para dirigir este País.

    A que ponto nós chegamos! A que ponto de desespero chegou a imprensa brasileira para fazer uma matéria, repito, sem nenhuma fonte, baseada em ilações, em relação a uma Presidente da República! Ora, talvez, para quem escreveu essa matéria ou para quem foi obrigado a escrever essa matéria, quando um homem fala alto é sinal de fortaleza, é sinal de poder; quando se trata da mulher, é sinal de desequilíbrio, é sinal de esteria.

    Senadora Fátima.

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senadora Vanessa, como V. Exª já (Fora do microfone.) mencionou, ontem eu ocupei esta tribuna me somando a milhares de vozes das mulheres, não só do Brasil, mas pelo mundo afora, que repudiam com toda veemência a edição da IstoÉ desse final de semana. E volto a fazê-lo agora, através do aparte a V. Exª. A revista foi longe demais, Senadora! Foi longe demais! Ela rompeu com todo e qualquer limite do ponto de vista de respeito à questão dos direitos humanos. A revista, no afã, enquanto aliada de setores da direita conservadora, que quer apear do poder a Presidenta Dilma pela via de um suposto processo de impeachment, sobre o qual não há fundamento legal de maneira nenhuma, parte exatamente para atitudes irresponsáveis e levianas como essa.

(Soa a campainha.)

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - É vergonhoso que nós tenhamos no Brasil, infelizmente, imprensa que se preste a um papel desses, a fazer um papel de imprensa de esgoto. Por isso eu concluo me somando a V. Exª e dizendo que o mínimo que essa revista já deveria ter feito era um pedido de desculpas público não só a Presidenta Dilma, mas a todas as mulheres do Brasil.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu incorporo o aparte de V. Exª e concluo, Senador Jorge Viana, apenas dizendo que a Advocacia-Geral da União imediatamente tomou uma posição no sentido de provocar o Ministério da Justiça para que abra um inquérito para apurar todas essas matérias ofensivas da imprensa, sobretudo da revista IstoÉ. Repito: a base de fundamento é nenhuma. São ilações que a revista faz.

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A revista tenta induzir a população a imaginar que a Presidente Dilma perdeu a capacidade de governar o País. Eu duvido que um homem fosse tratado dessa forma, Senadora Fátima. Eu duvido que, em nosso País, qualquer meio de comunicação, qualquer jornal, qualquer revista tivesse condições ou a coragem de tratar um homem da forma como a Presidente Dilma está sendo tratada.

    Mas é isto: vão sofrer inquérito e vão ter que abrir, no mínimo, se não pedirem desculpas, o mesmo espaço - capa e várias páginas - para que a Presidente da República possa exercer o direito de resposta, que é o direito mínimo.

    Por isso, quando falamos de luta pela democracia nos meios de comunicação, eles vêm dizendo que nós queremos controlá-los. Não. Nós só queremos o mínimo de respeito por parte dos meios de comunicação.

    Minha solidariedade...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Fora do microfone.) - ... a Presidenta.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/04/2016 - Página 10