Fala da Presidência durante a 62ª Sessão Especial, no Senado Federal

Encerramento da sessão especial destinada a comemorar o Dia Mundial do Trabalhador, celebrado em 1º de maio.

Manifestação contrária ao processo de impeachment da Presidente da República e críticas ao plano de governo de Michel Temer.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Encerramento da sessão especial destinada a comemorar o Dia Mundial do Trabalhador, celebrado em 1º de maio.
GOVERNO FEDERAL:
  • Manifestação contrária ao processo de impeachment da Presidente da República e críticas ao plano de governo de Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2016 - Página 27
Assuntos
Outros > TRABALHO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • ENCERRAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, TRABALHO.
  • DEFESA, REJEIÇÃO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, INEXISTENCIA, CRIME DE RESPONSABILIDADE, CRITICA, PLANO DE GOVERNO, GOVERNO FEDERAL, AUTORIA, MICHEL TEMER, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, CORTE, DIREITOS SOCIAIS, REGULAMENTAÇÃO, TERCEIRIZAÇÃO, PREJUIZO, BRASIL.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Meus amigos e minhas amigas, eu queria fazer o encerramento desta nossa sessão de homenagem trabalhadores, dizendo que tive o cuidado de assistir a fala de mais de 400 Deputados.

    De fato, me deu uma tristeza muito grande pela forma como foi conduzido o debate, primeiro, pelo Presidente daquela Casa, o Sr. Eduardo Cunha. Segundo, pela forma como fizeram o debate do afastamento da Presidenta. Dos 400 que vi, algo em torno de 17, somente 17 falaram do mérito. Os outros, falaram de tudo, mas não falavam do mérito.

    Confesso que fiquei triste, muito triste ao perceber que aqueles que lideram esse ataque à democracia, se pegar a ficha corrida deles, vão ver que é da maior gravidade.

    Fiquei triste porque percebi também que aqui no Senado - e eu tenho que falar a realidade para vocês -, quanto à admissibilidade, que será provavelmente já na semana que vem, provavelmente, e isso é fato, é real, os números estão aí, vai passar a admissibilidade.

    Mas há algo que eu quero dizer para vocês, ninguém nesta Casa hoje tem 54 votos, como nós não temos 28. E na última votação, para afastar de fato a Presidenta, em definitivo, são precisos 54 votos, e 54 votos eles não têm. (Palmas.)

    Nós faremos o bom debate. Mas se a Presidenta ficar licenciada eu diria por obra deles, por até seis meses, com certeza, neste País todo haverá debates, caminhadas, passeatas.

    Os filhos dos trabalhadores e das trabalhadoras serão chamados a participar dessa mobilização; será uma grande mobilização. Eu acredito que vá, ainda, prevalecer o bom senso e, no dia em que votarmos aqui para quem tem dois terços ou não, eles não terão os 54. Faremos essa jornada.

    E quero alertar aqueles que têm dúvida. Todos conhecem a minha trajetória: trinta anos nesta Casa. Tenho o maior orgulho de ter vindo do Rio Grande. Na última eleição, de seis milhões de votos eu recebi quatro milhões. De cada três gaúchos, dois me mandaram de volta pra cá.

    Eu fico muito triste quando vêm alguns Parlamentares dizer o seguinte: "Não, eu até acho que a Presidenta, de fato, não cometeu crime, que não roubou. Mas eu vou votar porque lá na base eu posso perder voto ou não perder voto." Isso, pelo amor de Deus, não é motivo de votar! Tem de votar pela consciência, pela responsabilidade, pela verdade e pela justiça, independentemente de se vai ganhar ou perder voto! (Palmas.)

    Eu nunca perdi uma eleição, e nunca tive medo de votar com a minha consciência. O povo brasileiro não é bobo. O povo brasileiro não é burro. O povo brasileiro é competente, é inteligente, está acompanhando esse debate. Ele sabe quem fala a verdade. Ele fala com aquele que... Na fala daqueles que querem dourar a pílula em cima de um fato que não aconteceu.

    Vejam a imprensa internacional. Vejam. O New York Times diz: no Brasil, uma gangue está julgando a Presidenta - referindo-se ao que aconteceu na Câmara dos Deputados. El País... Enfim, o mundo. Todos eles vão estar aqui.

    Sabem por que não vai haver aquele evento aqui no Auditório Petrônio Portela? Havíamos programado uma grande plenária para discutir a Previdência. Vocês todos estavam lá, a Contag estava lá, todos estavam lá. Porque vai haver mais de 900 jornalistas do mundo todo, que estão incrédulos, ainda não acreditando que o Brasil, que é uma referência para o continente, está atravessando uma situação como esta.

    Por isso, meus amigos, podem crer: por baixo dessa ponte muita água vai rolar ainda. Muita água vai rolar. E o povo brasileiro sabe muito bem... Vocês gostariam... Me digam francamente. Eu faço essa pergunta ao povo brasileiro que está assistindo pela televisão neste momento e vai assistir, porque isso aqui vai ao ar outra vez. Não tem censura aqui no Senado!

    Aqui é diferente, aqui não é Eduardo Cunha que manda. Por isso vai ser diferente. (Palmas.)

    Aqui Eduardo Cunha não manda. Não manda em nenhum Senador.

(Manifestação da plateia.)

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Eu quero falar neste momento pegando só a última pesquisa que saiu. E eu botei no meu WhatsApp. Diz que 62% querem eleição já, mas não querem esse time que está querendo assaltar o poder; 25% preferem a Presidenta Dilma com uma nova composição... (Palmas.)

    E sabem quantos querem o Michel? Está lá na pesquisa, não fui eu que fiz, não foram as centrais que fizeram, não foi o Dieese, não foi nenhuma confederação. Quem fez foi o Ibope - 8%, somente 8%; 92% estão dizendo: "não queremos esse Vice-Presidente que está aí". Cunha que vai ser o vice. Para mim é 0%. Mas vamos dar 1% ou 2%. Vocês querem no mês de maio, se acontecer o pior, ter na Presidência da República o Sr. Eduardo Cunha?

    Eu duvido que o povo brasileiro queira isso.

    E ontem quando vi a indicação de alguns ministros, eu vi lá, nas principais emissoras do País, gostando ou não gostando, não vou entrar na questão da mídia, mas estava lá, Lava Jato, Ministro; Lava Jato, Ministro; e alguns outros que conheço ali que têm meia dúzia de processo nas costas.

    São esses que vão dirigir o País? É aquela turma que lá na Câmara votou daquela forma que vai dirigir o País?

    Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não merece isso. O povo brasileiro não merece isso.

    Por isso, meus amigos e minhas amigas, nós faremos sim a caminhada.

    No meu currículo não vai entrar, no meu currículo, depois de 30 anos no Parlamento, cinco, seis anos no movimento sindical, dirigi uma central unitária que reunia todos os trabalhadores do Rio Grande, todos; depois fui eleito vice-presidente, secretário-geral da CUT. E tenho uma relação muito boa com todas as centrais, e tenho o maior orgulho disso. Como é que no fim da vida, a bem dizer, já estou com 66, e faço essa pergunta a alguns colegas: vamos macular a nossa história? Como a gente vai olhar para os nossos netos, para os nossos filhos, dizendo: olha, eu, por um oportunismo político de um certo momento de minha vida, votei contra uma presidenta eleita pelo voto direto? Que eu sei que não roubou, que eu duvido, que tenha uma única pessoa neste País, que ateste com segurança que ela roubou. Alguns podem ter dúvida, mas 90% sabe que ela não roubou um centavo deste País. (Palmas.)

    Será que é isso que nós queremos? E falo isso com tranquilidade. Quantas vezes fui chamado de rebelde, porque questionei, sim, seja Fernando Henrique, seja Itamar, seja o Presidente Lula, seja a Presidenta Dilma, sobre esse ou aquele ponto da conjuntura, que eu entendia que podia ser diferente. Mas a democracia me permite isso. Agora, existe uma diferença pontual.

    Por exemplo, sobre o 257. Dou como exemplo o 257. Sobre o 257 eu tenho sérias dúvidas. Eu faço um apelo a Presidenta: retire a urgência do PL 257; retire a urgência do PL 257. O 257 não ajuda neste momento e nem ajudará no futuro. (Palmas.)

    Eu quero muito que retire a urgência, como eu pedi que não mandasse a reforma da previdência. E ela não mandou; mas o Sr. Eduardo Cunha montou lá uma comissão especial para preparar a reforma de previdência, que já vocês sabem muito bem - está aí nos jornais, não sou eu que estou dizendo -, que diz que a mulher que hoje se aposenta com 55 anos, desde que tenha 30 de contribuição, vai ter que trabalhar agora mais dez anos, até os 65.

    É isso a ponte para o futuro? É diminuir o vínculo aos benefícios sociais com o salário mínimo? É isso que nós queremos? É um negociado sobre o legislado? Porque não adianta dizer que não. Eu já derrubei duas vezes aqui, no Congresso, o negociado sobre o legislado. E, é claro, lá não vale mais a CLT, só vale a negociação entre o que manda e o trabalhador. É isso que nós queremos?

    Claro que não, se viajei o Brasil todo, fui a 27 Estados contra a terceirização. Consegui pegar a relatoria e estou com ela na minha mão, porque tive o apoio da maioria aqui. É isso que nós queremos?

    A PEC do trabalho escravo: estavam prontos para aprovar. O que fizemos? Trouxemos aqui o Prêmio Nobel da Paz da Índia. Ele veio aqui e deu um depoimento contundente, e, no outro dia, eu assumi a relatoria da PEC do trabalho escravo.

    Meus amigos, é disto que nós estamos tratando: terceirização da atividade fim, regulamentar o trabalho escravo - nós temos é que proibir negociado sobre o legislado. É disto que nós estamos tratando: estamos tratando, aqui, dos interesses da nossa gente, do nosso povo.

    Eu amo o povo brasileiro, por isso digo: não ao impeachment. Quero, sim, a liberdade; quero a Justiça; quero políticas de igualdade; quero direitos humanos. E isso só existe com democracia.

    Eu enfrentei a ditadura, eu estive no combate à ditadura. Fui preso, sim. Não fui torturado, porque não vou mentir, mas fui preso quando eu ia para o exterior levar um dossiê construído pelos trabalhadores sobre o que estava acontecendo no Brasil. Ficaram com o dossiê, mas não ficaram com a minha alma, não ficaram com o meu coração, não ficaram com a minha mente. E eu fui para o exterior e falei em diversos países o que estava acontecendo aqui.

    Eu não quero essa volta, porque eu sei como tudo isso começa e como termina, quando eles atacam a democracia.

    Por isso, meus amigos, quanto ao 1º de maio, ontem, é claro que para mim foi bonito ver o povo na rua, mas foi de tristeza: nós não estávamos lá discutindo as 40 horas, a garantia do emprego, o aumento do salário mínimo, o benefício do aposentado. Nós estávamos lá porque estavam atacando covardemente a democracia, e nós tínhamos que defendê-la. E os trabalhadores abriram mão das suas bandeiras, para dizer "não queremos retrocesso".

    Força, viva, caminhada firme, contínua, todos juntos, defendendo o quê? Democracia. A democracia não pode ser atacada. Com a democracia, tudo; sem a democracia, nada. O combate mostrará isso. (Palmas.)

    Um abraço a todos vocês. É uma alegria estar aqui, nesse momento da história, com a participação de cada um de vocês.

    Quero só dizer, ainda, meus amigos, que o meu Senador Telmário Mota... (Pausa.)

    ... o Telmário fará uma saudação de cinco minutos ainda, antes de vocês saírem. Eu faço esse apelo a cada um.

    E nós vamos fazer uma foto coletiva, antes de encerrar aqui.

    Ele vai falar rápido, pessoal, e nós vamos fazer uma grande foto, com todos aqui, em nome da democracia.

    Telmário Mota, com a palavra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2016 - Página 27