Comunicação inadiável durante a 69ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, sobre divergência envolvendo as Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Registro de nota publicada na internet pelo Governador do Estado do Maranhão Flávio Dino, sobre divergência envolvendo as Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Defesa da inconstitucionalidade do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
PODER LEGISLATIVO:
  • Registro de artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, sobre divergência envolvendo as Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
PODER LEGISLATIVO:
  • Registro de nota publicada na internet pelo Governador do Estado do Maranhão Flávio Dino, sobre divergência envolvendo as Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
GOVERNO FEDERAL:
  • Defesa da inconstitucionalidade do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2016 - Página 14
Assuntos
Outros > PODER LEGISLATIVO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, O ESTADO DE S.PAULO, ASSUNTO, DIVERGENCIA, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, PRESIDENTE, SENADO, PARTE, PROCEDIMENTO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • REGISTRO, NOTA OFICIAL, PUBLICAÇÃO, INTERNET, AUTORIA, GOVERNADOR, MARANHÃO (MA), ASSUNTO, DIVERGENCIA, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, PRESIDENTE, SENADO, PARTE, PROCEDIMENTO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, INCONSTITUCIONALIDADE, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, em primeiro lugar, quero fazer algumas poucas observações e, ao mesmo tempo, lamentar os acontecimentos do dia de ontem.

    Primeiro, fomos surpreendidos, já no final da manhã, com a decisão do Presidente em exercício da Câmara dos Deputados de anular a sessão da Câmara que decidiu sobre a admissibilidade do processo de impeachment.

    Logo que essa decisão chegou ao nosso conhecimento, Sr. Presidente, nos dirigimos, assim como vários outros Senadores, à casa do Presidente Renan Calheiros para com ele debater e discutir acerca da conduta que deveria tomar. E digo com muita segurança, Sr. Presidente - e assim nos conduzimos no dia de ontem -, que tínhamos, como continuo a ter, o entendimento de que, uma vez proferida a decisão pelo Presidente da Câmara dos Deputados, não caberia a esta Casa - portanto, ao Senado Federal - qualquer questionamento para além do cumprimento da decisão.

    E hoje, vejam V. Exªs, eu vejo publicada no jornal O Estado de S.Paulo uma análise feita por Eloísa Machado e Rubens Glezer, em que analisam essa questão e dão sua opinião jurídica. Vejam o que está escrito aqui na análise feita por esses professores, publicada hoje no jornal O Estado de S.Paulo:

(...) Em meio a tantas questões ainda sem resposta, a reação do Senado em dar prosseguimento à análise de admissibilidade do processo, a qualquer custo, é problemática e parece ser um equívoco. Afinal, a regra geral é de que a anulação de um ato acarreta também a invalidade dos atos subsequentes. Por essa regra, enquanto perdurar a decisão de Waldir Maranhão, tanto a votação pelo plenário da Câmara dos Deputados como os atos praticados no Senado seriam nulos e precisariam ser refeitos (...).

    Então, vejam: eu sustentei aquela opinião, no dia de ontem, baseada nessa avaliação, Sr. Presidente, baseada no princípio da autonomia dos Poderes. Nós somos e fazemos parte do Poder Legislativo, que tem dois Presidentes, porque somos duas Casas - a Casa Alta e a Casa Baixa, o Senado e a Câmara dos Deputados. É óbvio que, quando há uma decisão de um Presidente de qualquer dessas casas, cabe ao outro fazer cumprir a decisão, e não questionar.

    Eu dizia ontem ao Presidente Renan: "Presidente Renan, somente o Plenário da Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal Federal poderá refazer a decisão do Presidente Waldir Maranhão. Mas, infelizmente, não fomos ouvidos e o relatório aprovado na Comissão Especial do Impeachment foi lido no dia de ontem.

    Logo ao final da noite, fomos mais uma vez surpreendidos pelo fato de que o Presidente da Câmara, Deputado Waldir Maranhão, voltou atrás na sua própria decisão. E o fez - não tenho dúvida alguma - não porque havia qualquer impropriedade numa decisão embasada técnica e juridicamente, Sr. Presidente, e que não era intempestiva, porque intempestivas foram a análise e a conduta, durante todo o momento em que exerceu a Presidência da Câmara dos Deputados, do Sr. Eduardo Cunha.

    Uma das razões que levaram ao seu afastamento, por uma decisão unânime...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... do Supremo Tribunal Federal, foi exatamente o exercício do desvio de poder. Para quê? Para se autoproteger.

    Então, veja, a Presidente da República apresentou a petição com a sua defesa e o seu recurso em tempo hábil, que foi desconsiderada pelo ex-Presidente Eduardo Cunha.

    Quando tomou conhecimento da peça, o Sr. Deputado Waldir Maranhão, Presidente em exercício da Câmara dos Deputados, proferiu uma decisão. E o que vimos aqui, ontem? Vimos um desfile de pronunciamentos desrespeitosos ao Deputado Waldir Maranhão, um desfile de pessoas, Parlamentares que falavam desrespeitando-o e dando a autoria da peça não a ele, mas ao Advogado-Geral da União e ao Governador do Estado do Maranhão.

    Quero, Sr. Presidente, dizer que fiz questão de fazer uma cópia do que postou...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... na internet o Governador Flávio Dino, um companheiro muito querido de vários Parlamentares brasileiros, porque, além de ser Governador do Estado do Maranhão, foi também Deputado Federal e Juiz Federal. E faço questão de ler a nota que foi postada pelo Governador Flávio Dino a respeito do noticiado. Diz ele:

Em face da decisão do Senado, o Deputado Waldir Maranhão revogou sua decisão sobre o recurso da Advocacia Geral da União. Discordo, mas respeito. O Deputado Waldir Maranhão teve a coragem que poucos tiveram, votou não ao golpe e tentou conter a marcha da insensatez. Tem o meu respeito. Muito difícil discordar e se manter firme diante dessa onda avassaladora e "consensual" [entre aspas]. Foi assim em 1964 e está sendo assim novamente. Orgulho-me de defender a Constituição, a democracia e o Estado de direito, princípios que estão muito acima das conjunturas difíceis. Lembro-me sempre do Deputado Tancredo Neves se opondo a Áureo Moura Andrade, em noite tenebrosa e "consensual" [entre aspas], no Congresso, em abril de 1964.

Parabenizo o grande Jurista José Eduardo Cardoso, irreparável na defesa competente e séria do mandato constitucional da Presidente Dilma. E segue a luta em defesa do mais longo ciclo democrático da vida institucional brasileira. Estamos diante de um absurdo político e jurídico.

    Quero dizer aqui, agora, como Senadora e companheira de partido que sou do Governador Flávio Dino, que não apenas ele, não apenas eu, como Senadora, ou nossa Bancada de Deputados Federais - e aqui vejo o nosso querido ex-Deputado Aldo Arantes, Constituinte, que também milita na causa...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... em defesa da democracia, das liberdades e do Estado de direito ao lado de tantos e importantes juristas deste País -, mas nós estamos nesta luta porque não só defendemos um projeto de País, um projeto que favoreça os menos favorecidos, mas porque defendemos, como diz Flávio Dino, em primeiro lugar, o Estado de direito, a Constituição, porque as crises vêm e vão, as regras da democracia não; elas vêm e têm que ser duradouras.

    O que está acontecendo, neste momento, é um precedente muito grave, um precedente muito sério contra a ordem institucional, contra as leis estabelecidas no País. E quero aqui lembrar que a conquista da redemocratização do País foi algo muito doloroso para muitos partidos, para muitas famílias e para muitos militantes. Portanto, não podemos permitir que de uma hora para outra, Sr. Presidente...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Fora do microfone.) - Sr. Presidente, um minuto.

    Obrigada, Presidente.

    Então, não podemos permitir que uma crise conjuntural, econômica, política, ética, momentânea seja razão para que nossa Carta Maior, a Constituição brasileira, continue a ser rasgada desta forma.

    Sr. Presidente, por falar nisso, eu quero, neste minuto que V. Exª me concede, dizer que voltarei à tribuna para falar a respeito de outro artigo importante também publicado, recentemente, nos meios de comunicação, pelos Srs. Lenio Luiz Streck, Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia. São três juristas que estudam a questão do impeachment. Três juristas citados pelo Senador Anastasia em seu relatório. E eles acabam de divulgar uma análise extensa dizendo que houve equívoco...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... por parte do Senador Anastasia em citá-los, porque houve desvio. Eles mesmos analisam que a forma como eles foram citados é fragorosamente o inverso do que eles pensam. E concluem dizendo o seguinte, analisando o relatório e o processo que falam de impeachment, que nós caracterizamos como golpe. Dizem esses estudiosos citados erroneamente no relatório do Senador Anastasia: "Trata-se de uma flagrante inconstitucionalidade que sacrifica o caráter jurídico-político, portanto, constitucional, do instituto do impeachment para reduzi-lo apenas à vontade de uma maioria tardiamente formada."

    Então, com as palavras desses juristas, eu encerro o meu pronunciamento, Sr. Presidente, dizendo que, mais uma vez, lamento esses dias difíceis pelos quais está passando o nosso País.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2016 - Página 14