Discurso durante a 73ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o novo governo, chefiado por Michel Temer.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre o novo governo, chefiado por Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2016 - Página 23
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, PROCESSO, IMPEACHMENT, MOTIVO, AUSENCIA, CRIME DE RESPONSABILIDADE, PERIODO, GOVERNO, DILMA ROUSSEFF, COMENTARIO, INICIO, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXERCICIO, EXPECTATIVA, PROPOSTA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, REGISTRO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OPOSIÇÃO, GOVERNO PROVISORIO, REDUÇÃO, POPULARIDADE, REFERENCIA, NOMEAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, INVESTIGAÇÃO POLICIAL, POLICIA FEDERAL, CORRUPÇÃO, DEFESA, PAIS, ECONOMIA, MANIFESTAÇÃO, APOIO, POVO, GOVERNO ESTADUAL, RORAIMA (RR).

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Jorge Viana, Srªs e Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, hoje damos início à primeira semana após a admissibilidade do processo de impeachment da Presidente Dilma. O meu Partido, o PDT, posicionou-se contrariamente ao processo de impeachment porque entendeu, e assim também entendi, que esse processo não tinha amparo legal. Estavam retirando uma Presidente que não havia roubado, não havia desviado dinheiro e não havia cometido nenhum crime de responsabilidade fiscal. Isso está muito claro nos discursos da própria oposição e pela forma como o processo aconteceu, pelo ódio, pelo revanchismo, pela vingança.

    Claro que não foi um processo fundamentado na manifestação voluntária de alguém, até porque dois dos que assinaram o documento que deu entrada ao processo de impeachment são filiados ao PSDB - um é filiado e outro é coordenador dos advogados do PSDB. E uma outra pessoa declarou que recebeu R$45 mil para fazer essa manifestação.

    Por isso, o PDT, o meu Partido, posicionou-se contrariamente ao processo. Consequentemente, obedeci ao meu Partido, mas também à minha consciência.

    Hoje é o primeiro dia. Começamos uma nova semana. O meu maior partido é o Brasil, eu tenho que torcer pelo meu País, quero que as coisas deem muito certo. O povo brasileiro é um povo honesto, um povo ordeiro, um povo pacífico, sobretudo um povo que sonha, que tem esperança. É isso que espera o Brasil de hoje.

    Apesar do Governo interino que aí se encontra, dos golpistas, eu não vou aqui fazer uma oposição radical, porque já disse que o meu partido é o Brasil, e quero que o Brasil dê certo. Se os golpistas encaminharem para cá propostas que acalentem o povo, que sejam favoráveis ao povo brasileiro, terão o meu apoio. Esses projetos terão, sim, o meu apoio. O que for bom para o povo brasileiro é bom para mim, é bom para o povo do Estado de Roraima. Agora, aquilo que possa contrariar os interesses do povo brasileiro, pedindo mais sacrifícios, aí não. Nós vamos debater item a item.

    A insatisfação da população brasileira já começou a acontecer, Sr. Presidente, neste domingo. Foram várias as capitais brasileiras que registraram apitaços e panelaços contra o Governo golpista que se instalou no Brasil.

    Por quê? Por que já começaram os apitaços e os panelaços? Porque o povo não é tão bobo como eles pensam. Não adianta a direita reacionária, não adianta os aglomerados financeiros, a mídia ambiciosa, nem os políticos golpistas, oportunistas e traidores tentarem enganar o povo brasileiro. O povo está atento.

    As redes sociais democratizaram o processo de comunicação, e todos estão sabendo o que está se passando. Embora alguns jornais ou a televisão não levem a verdade para a população, as redes sociais a estão levando, e imediatamente a população começou a reagir, Senadora Angela Portela. Começou a reagir.

    Com o que a população não está concordando? Primeiro, em relação às conquistas sociais na área de educação, na área de moradia, na área de eletrificação e de infraestrutura. O povo reconhece aquilo que não tinha e que passou a ter, com um governo mais socialista.

    E o que estamos vendo hoje? Qual é o motivo desse panelaço? Temos que começar a analisar. Primeiro, nós estamos com um Presidente interino, golpista e que está inelegível. Observem: o Presidente interino, golpista, é inelegível. Foi condenado, pelo TRE de São Paulo, inelegível por oito anos. Observem como iniciou bem.

    Muito bem. O Presidente inelegível, golpista, está dizendo que não se importa de governar com baixa popularidade.

    Presidente, Senador Jorge Viana, começamos a ver nessa fala dois pesos e duas medidas - dois pesos e duas medidas. O mesmo Presidente interino que aí está disse, quando já estava na conspiração, que era muito difícil a Presidente concluir seu mandato com uma popularidade baixa, de 12%, 10%. Isso porque ela foi eleita democraticamente pelas urnas, pelo voto popular.

    Ora, Senadora Angela Portela, o Presidente interino golpista que está aí, inelegível, disse que seria difícil a Presidente concluir seu mandato - já com a conspiração em alto grau. Ele disse que era muito difícil governar sem popularidade. Isso com a Presidente eleita nas urnas. Agora vem ele aqui e declara, Senador Jorge Viana, que não se importa de governar com baixa popularidade, sem ter voto.

    A Presidente, que não está inelegível, que foi eleita com o voto popular, que o povo escolheu democraticamente nas urnas, não poderia governar com baixa popularidade. O interino, inelegível, golpista, pode governar com baixa popularidade. Agora entenda uma coisa dessa.

    Mais do que isso: a população foi às ruas, e a coqueluche, o carro-chefe dessa movimentação era a transparência, era a ética, era combater a malversação da coisa pública, mas o Presidente interino, inelegível, já nomeou, de cara, sete ministros denunciados em corrupção. Aí dizem: "Não, mas o Ministro da Educação, que foi recebido com vaias, pela unificação..."

    Quero aqui parabenizar o cantor Carlinhos Brown, da Bahia, um grande talento, pela manifestação que fez contra a unificação do Ministério da Cultura e da Educação. Houve uma vaia monstra contra o Presidente interino, inelegível. O Ministro que assumiu aquela pasta traz no currículo o voto a favor da menoridade. Outra parte de seu currículo - e deve ser essa a razão de o Temer o haver escolhido - diz que ele fez parte da 23ª fase da Operação Lava Jato. O Ministro da Educação está envolvido em corrupção, recebimento de propinas. Que exemplo de cidadania esse Ministro tem a dar para as crianças brasileiras?

    Isso é fato. Como um Presidente que não foi eleito pela vontade popular quer buscar apoio da população com um ministério nesse sentido?

    Mais grave ainda é a fala dos ministros. O Ministro do Planejamento, que está envolvido em corrupção até o bigode - passou do pescoço, os outros ficam no pescoço, esse vai até o bigode - é o mais envolvido em corrupção. São seis inquéritos, além de R$30 milhões que ele deve ao Basa. Tomou dinheiro no Basa depois de apresentar algumas empresas, um patrimônio que não tinha. Depois o dinheiro sumiu. Ele deve R$30 milhões ao Basa. O Ministro do Planejamento deve R$30 milhões ao Basa e responde a seis inquéritos. Do Planejamento!

    Observem o que ele diz - ele está na Operação Lava Jato e na Operação Zelotes -: "Não há demérito em ser alvo do Lava Jato". Meu Deus do céu! Fosse no Japão... A pessoa está envolvida em seis inquéritos, está na Lava Jato e está na Zelotes e diz que não é demérito. Isso é mérito para o Governo Temer.

    Aí o povo brasileiro vai entender. Ora, para ter mérito, para ser ministro do Temer, tem de estar na Lava Jato, na Zelotes ou em outras denúncias de corrupção, porque o Ministro do Planejamento disse que não é demérito; mérito é estar nessa relação.

    Povo brasileiro, eu quero aqui apoiar, dar sustentação para tirar o Brasil dessa crise. Agora, com uma quadrilha dessas, é muito complicado, é muito difícil com esse conceito, com esse sentimento.

    Olhem o que traz aqui O Globo: os jaburus de Temer ou os "temerários" de Temer. São quatro, foca aqui. Aqui, dá um close aqui. Aqui? Onde é? Aquela, aquela lá? Foca aqui. Aqui, olha. Os "temerários" de Temer. Aqui, foque. São os "temerários". Olha a cara deles aí, dos quatro ministros "temerários". Ali tem três envolvidos em corrupção até o pescoço e um até o bigode. Aí fica difícil.

    Eu fico pensando no Senador Alvaro Dias. Senador Alvaro Dias é um Senador por quem nós temos aqui o maior carinho e o maior respeito. Uma pessoa que, de longo tempo, vem - ele era do PSDB -, vinha ali, uma andorinha só, fazendo verão, combatendo aquilo que ele vislumbrava ou visualizava como irregular. Eu ainda não era nem Senador, mas sempre tive pelo Senador Alvaro Dias um grande respeito, uma grande admiração. Insisti muito para ele não ser verde, mas ser PDT - ele não quis. Senador Alvaro Dias, V. Exª vai já, já passar para este lado de cá, porque V. Exª não quer estar do lado da corrupção, do imoral, do ilegal, da falta de ética. V. Exª, sem nenhuma dúvida, representa o Paraná no espírito de um país que esteja no trilho da dignidade, da honestidade, sobretudo respondendo à população, à Nação brasileira, com políticas públicas corretas.

    E hoje, como eu disse no início, eu não vou fazer uma oposição doentia, radical. Eu vou aqui defender o País, defender o Brasil, defender as conquistas do povo brasileiro, defender um projeto que faça o resgate da nossa economia - esse é o meu propósito - para gerar renda, gerar emprego, para o País voltar a crescer e se desenvolver. Então, o que vier do novo Presidente interino, que está inelegível, que for bom para o povo brasileiro, eu vou apoiar.

    Agora, é muito difícil, é extremamente difícil começar uma caminhada pelas vias tortas, porque o atual Presidente não chegou ao poder pelo voto direto. Ele chegou pelas vias tortas. E, por essas vias tortas, ele se acha na obrigação de encher o seu ministério daquilo que já está na lista do Procurador Janot, na lista da Lava Jato. Ele só foi buscar ali a maioria dos nomes - sete nomes - e colocou nos ministérios. Eu vejo isso como um desrespeito ao cidadão brasileiro. Eu vejo isso como uma afronta à cidadania, à ética, à moral do povo brasileiro. Quem errar tem de pagar. Não sou o dono da verdade. Na hora em que eu errar, eu tenho de pagar, mas todos que errarem têm também de pagar.

    Eu sempre digo que, se um político ficar rico com a política, ele está roubando, porque o dinheiro não dá para enricar ninguém aqui não. Para enricar, ele tem de ser empresário, porque empresário visa ao lucro. Você aqui é pago para prestar um serviço social, para contribuir socialmente com o povo. Salário de político não enrica. Se o político ficar rico, ele está roubando. Pode apurar. Não dá para enricar.

    Portanto, eu queria estar aqui hoje já aplaudindo, mesmo pelas vias tortas que este Presidente interino, que está inelegível, chegou. Eu queria estar, como a maioria do povo brasileiro, já aplaudindo medidas que fossem positivas, mas eu vejo com muito pesar, com muita tristeza, o quadro de ministros. Aliás, extremamente conservador e machista, não é? Não colocaram nenhuma mulher lá. Ficaram com tanta raiva da Presidente Dilma, tiraram-na com tanto ódio! A demonstração de que eles usaram tanto ódio, revanchismo, rancor contra a Presidente Dilma, porque ela fez uma política para os pobres... Ora, se mataram Getúlio Vargas, depuseram João Goulart, tiraram a Dilma na marra. E aí levaram isso para dentro do Planalto: não colocaram nenhuma mulher. Sabe por quê? Porque esse Presidente interino chegou aí por um conchavo político, por acordos políticos. Então, quem está indicando são os partidos, e a maioria dos partidos...

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - ... é conservadora e toca sua política com um sentimento muito machista.

    Eu estarei aqui cumprindo o meu papel como Senador, olhando pelo meu Estado. E quero mais. Quero aqui dizer que não vou permitir, enquanto Senador for, que haja nenhuma retaliação ao povo de Roraima, ao Governo de Roraima. Eu estou sabendo que, assim como eles derrubaram a Presidente Dilma, querem tirar também a Governadora, de cuja Base nem faço parte. Mas seria uma injustiça que uma quadrilha que rouba o meu Estado há mais de 20 anos se reúna na Assembleia Legislativa mais cara do País, comandada por um deputado que está com uma liminar...

    Por falar em liminar, eu queria concluir a minha fala e dizer para o Ministro Gilmar Mendes...

(Interrupção do som.)

    Ministro Gilmar Mendes, eu aplaudi quando V. Exª disse que ninguém mais poderia governar este País ou estar em um cargo neste País com liminar. Ministro, o meu Estado está cheio de liminar. O Tribunal de Contas está com liminar; a Assembleia Legislativa está com liminar, tudo ligado ao Senador do mal. Vamos embora, Ministro, tirar?

    Meu muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2016 - Página 23