Discurso durante a 73ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Insatisfação pela aprovação da admissibilidade do processo de impedimento da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Insatisfação pela aprovação da admissibilidade do processo de impedimento da Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2016 - Página 26
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, REFERENCIA, EXISTENCIA, PLURALIDADE, EXERCICIO, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ENFASE, AUSENCIA, ESTABILIDADE, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, DESAPROVAÇÃO, ENTREVISTA, MICHEL TEMER, GOVERNO PROVISORIO, RESULTADO, BAIXA, POPULARIDADE, CITAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, ESTRANGEIRO, OBJETO, POLEMICA, TRATAMENTO, AFASTAMENTO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), DEFESA, NECESSIDADE, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, OBJETIVO, REFORMA POLITICA, ELEIÇÃO DIRETA.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Caro Presidente Humberto Costa, eu queria cumprimentar todos que nos acompanham pela Rádio e pela TV Senado, Senador Alvaro Dias, aqui presente, Senador Telmário Mota, Senadora Angela.

    Eu venho à tribuna, neste começo de semana, e obviamente não poderia tratar de outro assunto, já que tomamos uma decisão na última semana, no plenário do Senado, que mudou a história da democracia brasileira, mudou a história do Legislativo e do Executivo brasileiro. E lamento, volto a reafirmar, não foi para melhor.

    Sei que faz algum tempo há um descontentamento real, verdadeiro, de uma grande parte da sociedade brasileira com os políticos, com a política, com o governo, inclusive o Governo do PT, meu Partido, com a própria Presidenta Dilma, um descontentamento enorme com o Congresso Nacional, seja Câmara, seja Senado, e um sentimento absolutamente legítimo de querer que o Brasil enfrente muitos desses problemas, como o da corrupção e desse impasse político, que levou a uma piora da nossa economia, gerando desemprego, pondo em risco a estabilidade econômica e política do País.

    De quinta-feira para cá o Brasil mudou. A história está registrando nas suas páginas esse evento que, no meu ponto de vista, com todo o respeito àqueles que divergem, mudou para pior. Tiramos um governo, foi tirado. Eu falo tiramos porque não tivemos força, com a nossa ação aqui, de preservar a soberania dos 54 milhões de votos que a Presidenta Dilma recebeu nas eleições. Trocamos, foi trocado aqui no plenário do Senado. Em vez de 54 milhões de votos respaldando um governo, agora temos 55 votos respaldando o novo Governo.

    Pela primeira vez na história, em uma mesma avenida de Brasília, temos dois Presidentes: um em um palácio; outro em outro. Mas também não é só no Executivo. Na Câmara, também há dois: um em casa, o Presidente da Câmara Eduardo Cunha; outro em uma corda bamba, Waldir Maranhão. Além deles, há um tal de colegiado de Líderes da Câmara, como se fosse uma espécie de junta autoritária, dizendo que eles é que mandam na Câmara dos Deputados. Essa é a situação que estamos vivendo. Estou me referindo a dois dos três Poderes: o Executivo e o Legislativo. E alguns ainda se arvoram a dizer que estamos vivendo a plenitude da normalidade democrática. Estamos vivendo, e volto a repetir, como falei no meu discurso aqui, uma anarquia institucional neste País. Isso é péssimo!

    Senador Humberto Costa, fiz questão de pegar e vou me referir daqui a pouco à entrevista que, como ele mesmo se denomina, o Presidente interino Michel Temer deu à Jornalista Sônia Bridi do Fantástico. Primeiro, eu queria cumprimentá-la. Fazia tempo que eu não via um jornalista ou uma jornalista que tivesse a oportunidade de ficar frente a frente com o então Vice-Presidente Michel Temer fazer as perguntas que os brasileiros precisam ver sendo feitas para ouvir as respostas. Parabenizo-a. Ela, que não é do mundo da política, talvez tenha deixado uma grande lição para muitos jornalistas que se dizem os grandes porta-vozes dessa atividade que respeito muito, que é o jornalismo na política. A Sônia Bridi fez com serenidade, com competência uma grande entrevista.

    A repercussão desse Governo interino é péssima para o Brasil, dentro e fora. Uma entrevista em que, em uma situação de normalidade, o Brasil inteiro, diante da crise econômica, do embate político, ficaria ligado na televisão, para tentar compreender as ideias do Presidente interino, foi recepcionada com apitaço, com panelaço, com repulsa nas ruas. Vi lá um Presidente dizendo que não tem popularidade nenhuma. O Brasil aguenta um presidente que não tem nem voto e que assume que não tem popularidade nenhuma?

    Talvez, Senador e Presidente Humberto Costa, isso explique o sumiço das pesquisas. Porque esta situação que estamos vivendo não é à toa. Não é obra de 300 Deputados e de 55 Senadores o afastamento da Presidenta Dilma. É claro que ela vem dentro de um envelope mais amplo, de cumplicidade, que passa por setores do Judiciário e vem se esconder também em setores da grande imprensa. Cadê as pesquisas? Ouvi o hoje Ministro do Planejamento do Governo interino, Senador Romero Jucá, dizer aqui - e eu estava ali e fiz um aparte a ele - que a Presidenta não poderia ficar porque não tinha popularidade, não tinha mais apoio popular. E este Governo interino tem? A Presidenta estava com baixa popularidade, é verdade, a Presidente que está afastada, mas ela tinha a legitimidade do voto.

    A repercussão mundo afora é péssima. Posso ver aqui no jornal The New York Times: "Dilma está a pagar um preço desproporcionalmente grande por irregularidades administrativas enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados de crimes mais escandalosos". Esse é o The New York Times.

    Los Angeles Times: "No Brasil pós-impeachment, o novo Ministério conservador é composto 100% de homens".

    Forbes: "Novo Presidente do Brasil, Michel Temer, preenche Ministério apenas com homens."

    E alguns se arvoram a dizer que isso não tem importância nenhuma. E por que a repercussão no mundo inteiro?

    The Guardian: "O sistema político é que tem de estar em julgamento, não uma mulher". The Guardian vai mais à frente - são manchetes: "A suspensão da Presidente é o último golpe num País que ainda luta para afastar sua história de autoritarismo e desigualdade social".

    Le Monde: "A queda da Presidente Dilma deixa o Brasil atordoado". E aí faz uma longa matéria sobre os embaraços judiciais do Presidente interino Michel Temer.

    El País: "Um Processo Irregular. O caos institucional em que o Brasil está afundado, cuja máxima expressão é o irregular processo de impeachment contra sua Presidente, está colocando o País, nas últimas horas, em uma incerteza inconcebível na maior democracia sul-americana. Quem faz essa análise de caos institucional é o El Pais.

    Eu falo isso porque o editorial do The New York Times de hoje, que nós vimos, traz um posicionamento sobre o qual eu queria ler pelo menos alguns trechos:

A Presidente Dilma tem todo o direito de questionar [isso no editorial do The New York Times] os motivos e autoridade moral dos políticos que buscam [e que buscaram] derrubá-la. [...] [E diz mais.] Não existe nenhuma evidência de que ela abusou do poder para obter ganhos pessoais, enquanto que muitos dos políticos que estão nessa orquestração da sua queda foram atrelados a um grande esquema de propina e outros escândalos.

A Presidente Dilma [diz o editorial do The New York Times] é acusada de usar dinheiro dos bancos nacionais para encobrir temporariamente furos orçamentários, uma tática que todos os governos e outros governos anteriormente a ela utilizavam sem que eles tenham sofrido qualquer penalidade.

[Segue o editorial do The New York Times] O Brasil está se recuperando de sua pior recessão econômica desde 1930, e agora essa crise política está a minar a fé na saúde da sua jovem democracia [diz o editorial do The New York Times].

    Eu podia citar muitos outros exemplos, mas eu queria me referir à repercussão terrível de um arranjo feito, porque esse processo nem tinha chegado ao Senado - de admissibilidade, é bom que se diga, porque o julgamento do impeachment nem começou -, e esse tal Governo interino...

    Eu queria cumprimentar o Vice-Presidente que agora responde pelo Governo, Michel Temer, porque ele colocou algo que eu só vi agora: um Governo interino. Com um jeito manso de falar, ele disse: "Temos de aguardar cautelosamente o final do julgamento". Mas não estamos vendo isso não. Um açodamento, ministro sendo nomeado, ministro sendo demitido, e o processo nem sequer tinha chegado aqui ao Senado. Um jogo de cartas marcadas! Um jogo de cartas marcadas!

    E o que se viu no primeiro dia? Um escândalo! Fechar, acabar com o Ministério da Cultura é levar o Brasil para 200 anos atrás. Nós estamos no século XXI. É um absurdo!

    Sem falar no fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Como um País que tem a expectativa, a possibilidade de diminuir a fome no mundo, um País que, graças à ação do Presidente Lula, saiu do mapa da fome, reconhecido pelas Nações Unidas, mexe exatamente na área que pode, sim, ser a grande contribuição que o nosso País pode dar à humanidade? Aliás, são duas contribuições, pelo menos: uma é na área do meio ambiente, ajudando a evitar que mude a temperatura no Planeta, a mudança climática - o Brasil tem essa proposta; a outra é alimentando os que têm fome no mundo. Mas está lá.

    Ciência e Tecnologia, Ministério para o qual fizemos um marco regulatório, agora não é mais Ministério: está numa fusão com Comunicação.

    O que eu acho lamentável de tudo isso é que, quando se pergunta o porquê, não se tem as respostas. Quando se questiona alguma coisa... Eu ouvi coordenadores do Governo interino dizerem que foram os partidos que indicaram, por isso que só tem homem. Não! Por trás disso, há uma ação preconceituosa! Está-se tirando ilegitimamente, ilegalmente uma mulher que foi eleita com 54 milhões de votos, pondo um Presidente com 55 votos!

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, permite-me um aparte?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Sem dúvida, Senador, já, já, com muita honra.

    Ontem, nas perguntas, a Sônia perguntava ao Presidente Michel Temer, que dizia: "Não, mas eu estava na urna, eu estava do lado na foto". Aí, quando ela perguntou sobre o processo do TSE, ele disse: "Não, não. O processo do TSE sobre chapa? Não é chapa: tem a Presidente e tem eu". Quer dizer, na hora de querer compartilhar...

    É óbvio, uma aliança tem voto de todas as partes. A Presidente Dilma recebeu 54 milhões de votos, mas, obviamente, teve uma contribuição importante do PMDB. Por que não vou colocar isso? Mas o Presidente Michel Temer nunca foi candidato a Presidente. Aliás, é a segunda vez que o PMDB chega ao Governo sem voto. É um partido importante, tem uma história importante. Não custa nada: querem ganhar a Presidência? Candidatem-se. Apresentem candidato.

    O PMDB passou esses anos todos sem disputar a Presidência. Ele só disputava o poder - e o tinha, na época do PSDB; e o teve, na época nossa; e, agora, chega ao Palácio sem votos.

    Isso faz mal à democracia. Isso cassa a soberania do voto. E eu lamento, porque não há outra explicação para não haver uma única mulher nesse Governo provisório, como o próprio Vice-Presidente hoje interino na Presidência, Michel Temer, diz, ou como dizem os seus mais importantes aliados: "Os partidos não indicaram".

    Muito dos pecados que o PT está pagando, e não é sem razão, e a Presidenta Dilma está pagando, e não é sem razão, é porque deixaram que alguns partidos fisiológicos, os que têm uma verdadeira fascinação pelo poder, indicassem ministros. Talvez, se tivéssemos convidado, talvez, se tivéssemos feito outras composições, certamente não viveríamos esse drama que estamos vivendo.

    Eu não estou falando isso para querer mascarar as nossas falhas e erros, mas, sinceramente, se estão tirando a Presidenta Dilma por conta das alianças que foram feitas, dos erros que foram cometidos - eu não sei -, certamente o remédio não é esse.

    Hoje eu vejo empoderado, nesse Governo interino, o fisiologismo, o que há de pior na política brasileira! O que há de pior! Este País não aguenta um Governo como esse que o Sr. Michel Temer montou! Não aguenta! Mas, entre o País não aguentar o Governo, e os brasileiros, que certamente vão reagir a esse Governo, e já estão reagindo, aguentarem, eu duvido - não tenho autorização - que o PSDB aceite ser o PMDB do PMDB. Duvido!

    Na primeira oportunidade, eu li com atenção a entrevista do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele disse: "Nós vamos entrar dando apoio, mas já saindo", porque não confia. Vai confiar nos homens de Michel Temer? É esse tipo de Governo que é solução para a crise política e econômica que nós estamos vivendo!?

    Esse é o Governo da contradição. Esse é o Governo que tenta empoderar aquilo que nos desmoralizou, que é o fisiologismo, que é a troca de favores, de cargos. Dizem que está uma verdadeira carnificina nas madrugadas pela briga dos cargos comissionados.

    Eu ouço o Senador e colega Garibaldi, com muita satisfação.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, eu tenho o maior respeito e apreço por V. Exª, mas eu acho que, no mínimo, V. Exª está sendo precipitado, porque o Governo mal nasceu, o Governo não tem ainda uma semana, e V. Exª já faz um julgamento peremptório, um julgamento precipitado. V. Exª é um Senador sereno aqui. Eu costumo ouvi-lo e apreciar sobretudo a sua sinceridade.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Obrigado, Senador.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas hoje eu não estou acreditando que seja o Senador Jorge Viana que eu já ouvi muitas vezes.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu só queria fazer um comentário, agradecendo os conselhos, porque V. Exª tem uma vivência aqui capaz de nos deixar sempre boas recomendações.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Mas V. Exª acha normal uma composição de governo sem uma única mulher?

    Por fim, no Ministério da Cultura. São fatos. Eu estou comentando fatos. Não estou supondo.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Não. O que V. Exª está dizendo é que este Governo não tem condições de governar o País, que é um governo desarticulado, fisiológico, que é um governo perdido, em apenas... Acho que não faz 72 horas que este Governo se implantou. Eu vou dizer uma coisa: nunca vi uma coisa tão apressada, tão ansiosa como essa apreciação que V. Exª está fazendo. Olha, eu não faria, por maiores que fossem as razões para avaliar o Governo, porque, no mínimo - é da tradição até parlamentar -, se espera que um governo... Às vezes, até dão um crédito de 90 dias para um governo. O Governo ainda não tomou medida nenhuma. V. Exª está criticando o Governo, e o Governo não pôde ainda anunciar, porque não houve tempo de anunciar. Não houve tempo hábil para o Governo anunciar as medidas. V. Exª já está prejulgando. Claro, eu só entendo isso - V. Exª vai me permitir - como um desabafo de V. Exª diante do que aconteceu aqui no Senado, que terminou no afastamento da Senhora Presidenta Dilma Rousseff. Mas isso não seria motivo para V. Exª perder essa serenidade e não deixar que o Governo transcorra, com as medidas econômicas que vai tomar, sobretudo as econômicas, já que o País - desculpe-me se estou demorando...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Por gentileza. É um prazer.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ... já que o País tem todo o direito de esperar que o novo Governo possa tomar medidas que visem a amenizar esse problema do desemprego, que é alarmante; que o Governo possa tomar medidas que venham a colocar de novo, no centro da meta, a inflação; que o Governo possa tomar medidas que venham levar a um certo desafogo com relação à situação econômica. A não ser que V. Exª ache que a situação econômica do País é de tal normalidade que o Governo não se veja compelido a tomar as medidas necessárias. Senador Jorge Viana, V. Exª me conhece, como eu conheço V. Exª, e sabe que estou pedindo este aparte só para pedir uma coisa que me pareceu que V. Exª não tem agora: uma certa paciência, uma certa calma. Espere, porque V. Exª não pode falar da expectativa que hoje reina, no País, por uma mudança econômica. V. Exª não pode, de maneira nenhuma, precipitar-se e dizer: "Não, a situação não vai melhorar." E eu não quero, em absoluto... Já vou terminar. Eu não quero, em absoluto, colocá-lo na situação daqueles que pregam que quanto pior, melhor. E eu sei que essa não é a intenção de V. Exª. Eu sei que V. Exª não está inserido nesse time. V. Exª é um Senador voltado para as melhores causas deste País e pode até cobrar. E eu vou agora dar o direito a V. Exª de cobrar. Deixe passar um certo tempo e V. Exª vai me trazer aqui, através do microfone de aparte ou se estiver na tribuna...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - V. Exª vai cobrar e dizer: (Fora do microfone.) "Olhe, V. Exª não tinha razão. O Governo tomou determinadas medidas no campo econômico que não prevaleceram, que não vingaram, que não se constituíram em nenhum acerto." Aí V. Exª pode me cobrar, mas dê um tempo, porque, assim, o menino não nasceu ainda. V. Exª há de compreender que eu não estou sendo, em absoluto, impertinente. Eu estou querendo fazer justiça ao perfil de V. Exª, que é um perfil de um homem moderado e que, tomado por um sentimento que eu considero até respeitável, um sentimento de solidariedade...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ... um sentimento de apoio ao governo que foi afastado, vem à tribuna fazer esse libelo, porque isso é um verdadeiro libelo. Eu nunca ouvi um libelo tão contundente a um governo de dois dias, um governo de 48 horas. Eu agradeço a V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu agradeço, Senador Garibaldi.

    Eu carrego algo comigo. Vou responder a V. Exª dizendo que eu prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma. Eu não estou fazendo juízo, não. Eu estou me reportando às medidas tomadas por este Governo. Agora, como é que eu vou dar cem dias para um governo ilegítimo? Eu daria seis meses, porque eu sou ponderado e moderado, se ele tivesse passado pelas urnas. Eu daria seis meses, porque seria justo, principalmente se o PT tivesse saído do governo e assumido, por vontade popular, um governo que precisaria, para começar, para fazer as mudanças, de seis meses. Mas para um governo ilegítimo, resultado de uma ação combinada? Eu tenho que cobrar.

    Ontem, na mesma imprensa, havia uma entrevista do Ministro da Justiça. Como não vou me posicionar, Presidente? Eu li. O novo Ministro da Justiça, ex-Secretário de Segurança Pública de São Paulo, disse: "Não, a escolha do Chefe do Ministério Público Federal [PGR, como chamamos] não se dará mais pelo mais votado da lista." Aí hoje, Michel Temer diz: "Não, o Ministro está desautorizado a falar isso. Vou escolher o primeiro."

    Eu não vou comentar isso? Não fui eu que dei uma entrevista e não fui eu que dei a outra. O País não aguenta isso. Isso é instabilidade. Sabe o que faz o Chefe do Ministério Público? V. Exª sabe muito bem: conduz a Lava Jato. Isso tem efeito ou não tem? V. Exª não acha estranho que eu tenha que ler, no Diário Oficial, a nomeação para Subchefe da Casa Civil do advogado de Eduardo Cunha? Ah, calado, diante disso, não vou ficar. Nunca joguei no quanto pior, melhor, mas tenho amor pelo meu País.

    Este Governo... Todo governo... V. Exª já ocupou cargos da maior importância, inclusive a Presidência. Em todos eles, V. Exª entrou bem e de todos saiu bem. É muito difícil, porque, quando ocupamos uma função, entramos cheios de boa vontade, mas, às vezes, as circunstâncias não permitem que façamos... Então, sabemos como começa todo governo, mas não sabemos como termina. Esse não sabemos como começa, porque ele não tem legitimidade. Ele não tem a legitimidade que os governos de democracia têm que ter, que é passar pelas urnas. Não dá para esperar um mês nem cem dias...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... nem 180 dias. Não vou esperar. Vou estar aqui vigilante.

    Há sentido botar dentro do Palácio o advogado de Eduardo Cunha, para cuidar de todo o processo jurídico da Presidência da República? Eu estou me referindo ao advogado Gustavo do Vale Rocha.

    Quero ver a oposição raivosa, intolerante contra o PT, contra V. Exª quando estava no governo, no Ministério do nosso governo... Foram intolerantes aqui com o nosso governo e, como V. Exª fazia parte, foram também com V. Exª. Quero ver agora se eles acham normal.

    Quando ele veio para a sabatina aqui... Ele é do Conselho Nacional do Ministério Público. Quando ele veio para a sabatina, assumiu, na comissão, que era advogado de Eduardo Cunha e foi para o Conselho Nacional do Ministério Público. Hoje foi nomeado para ser a pessoa que vai fazer a triagem de todo o processo legal da Casa Civil.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, ele foi advogado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu só estou dando a minha opinião, Senador.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Advogado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Isso é parte da democracia.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Qualquer um pode ser advogado, Senador Jorge Viana.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Pois é, para V. Exª é absolutamente normal. Para este País, que foi intolerante com o nosso governo, que tirou uma Presidenta sem tipificação de crime, é normal botar o advogado do Eduardo Cunha para cuidar do processo jurídico na Presidência da República.

    Vou mais ainda: colocaram agora também Fabiano Silveira, conhecido aqui da Casa, funcionário. Eu não tenho nenhum problema, Senador. Estou defendendo o meu País. Quero o melhor para o meu País, não quero o pior. Fabiano anda aqui, pelos corredores. Extinguiram o que tínhamos de Controladoria-Geral. E ele agora virou Ministro de Fiscalização, Transparência e Controle. Sabe o que vai fazer esse novo Ministro? Vai cuidar do acordo de leniência das empreiteiras com a Justiça e com o Governo.

    Nós vamos ter que fazer muitas coisas aqui, Senador. Eu não estou fazendo prejulgamento, só estou alertando. Nós vamos ter que apresentar muitos requerimentos. O Sr. Ministro da Justiça vai ter que vir aqui explicar se é ele que está querendo tirar algo que nós colocamos - nossos governos - como prática aqui, de o primeiro da lista do Ministério Público ser indicado para a PGR. É uma pergunta simples: se ele é contra e porque é contra. Nós vamos ter que pedir para esse senhor que está lá agora cuidando dos assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, vir aqui, na Comissão de Fiscalização, prestar contas.

    E eu só lamento. Eu não estou inventando. Tenho certeza de que vou manter o mesmo tom, mas agora me puseram do outro lado do balcão. Eu nunca briguei por cargo, eu nunca saí pedindo cargo para ninguém. Durante esses anos todos aqui, como Senador, entrei com as costas para botarem a cangalha. Aguentei calado ali, na minha bancadinha de sempre, todo tipo de desaforo, todo tipo de injustiça e inverdades. Eu só estou querendo agora ter o direito de defender o meu País.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas V. Exª não me coloque nessa bancada.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - De jeito algum. V. Exª está sempre num nível...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Eu acho que V. Exª...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Só um pouco, Senador. V. Exª sabe o respeito e o carinho e vai seguir com todos os colegas.

    Eu não vou ficar aqui é passivo diante desse assalto em que o Brasil está se metendo. Estão assaltando o poder, sem voto. E vão ter que ouvir, todos os dias, aqueles que ficaram. Uns ficaram pelo sentimento de amor pelo Brasil. Falaram: "Não, eu quero mudar a economia, vou tirar a Presidenta." Eu respeito. Mas quem tomou o poder de assalto, quem está lá agora nomeado não são aqueles que aqui democraticamente tomaram uma posição. E nós esperamos que possa haver uma revisão dessas posições no final desse julgamento. Mas eu não posso deixar de vir, poucos dias, não importam quantas horas, se a sessão...

(Interrupção do som.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... fosse ontem, eu viria para dizer que sinto muito. (Fora do microfone.) Nós não temos uma única mulher dirigindo os tantos ministérios deste País. Não há como explicar.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - V. Exª me permite?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Já acabou o meu tempo, mas eu ouço V. Exª. Já estou abusando do Presidente.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - O Presidente vai ser compreensivo.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Claro.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Serei muito breve para dizer que concordo com V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu agradeço.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - O Governo precisava ter uma participação das mulheres.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Só isso.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Agora o que eu acho é que V. Exª trouxe para essa tribuna alguma coisa que não corresponde à expectativa do País. O que o País está querendo, graças à compreensão do nosso Presidente, é que a situação econômica do País melhore, Senador Jorge Viana.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - E os trabalhadores desempregados, não vai ser da noite para o dia... Porque do jeito que V. Exª está querendo... V. Exª está querendo que, da noite para o dia, o Governo crie milhares de empregos.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, Senador. Eu não estou cobrando nada disso.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - V. Exª está cobrando o quê? Porque é isso o que o País quer. Se V. Exª sintonizar, se V. Exª der guarida ao que o País está dizendo, se V. Exª quiser ouvir, o País está querendo exatamente isso.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Quer o Governo Michel Temer. É isso o que V. Exª está dizendo? É isso o que o País quer?

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Não.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não é não, Senador. Não vá se enganar.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Quer que a situação do País melhore.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Ah, com isso todos estamos de acordo.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas não pode melhorar no prazo dado por V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Quem não teve paciência, Senador, foram os golpistas, que não esperaram a próxima eleição, que poderiam seguir cobrando...

(Interrupção do som.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... querendo paciência? Não. Eu respeito muito V. Exª e vou seguir respeitando, como faço, porque V. Exª tem uma história de vida, que, por si só, já nos impõe isso. Mas não é por isso, pelo que é imposto. É pelo que V. Exª conquistou de respeito, por sua vida.

    Agora, estou diferenciando. Eu não posso me calar diante do fechamento do Ministério da Cultura, de não haver mulheres na Presidência da República, mesmo que interinamente, Senador. Isso é um retrocesso! É tão somente isso.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas não da maneira como V. Exª está colocando, Senador.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Bem, aí é só um jeito. O Parlamento...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Parece até que o Governo veio só para isso.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu não sei a que veio este Governo! Talvez tenha vindo para nos ajudar a entender definitivamente... Olha, essa política fisiológica tem que ter fim. Sabe como será a solução deste Governo provavelmente, Senador - e será muito bom se eu não estiver errado: vamos ter de tirar este Governo ilegítimo...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... a sociedade e o povo, chamar uma Constituinte para fazer uma reforma política e trazer de novo eleição direta.

    Queira Deus que eu esteja certo, porque aí o Brasil vai ter, sim, enfrentado o problema do desemprego, o problema da corrupção, mas feito da maneira certa.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - E se o Governo ficar? E se o Governo amenizar esse problema?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Olhe...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Se o Governo tiver sucesso? V. Exª vai dizer o quê?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu não trabalho com o quanto pior, melhor. Não tenho nunca problema em reconhecer erros cometidos e, muito menos, em elogiar medidas que são necessárias para o País. Não há nenhum sentido para mim isso. Não há nenhum problema. Agora, o que estou afirmando aqui é que, em poucos dias, em poucas horas, já vimos um rateio. Eu não posso acreditar num Governo que pegou dez ministérios e fez um loteamento de Deputados Federais para ir para lá. Eu não posso acreditar.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas o Governo, Senador Jorge Viana...

(Soa a campainha.)

(Interrupção do som.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... querendo pôr um pastor na Ciência e Tecnologia.

    O SR. PRESIDENTE (Humberto Costa. Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Excelências, vamos concluir para que não se faça aqui um debate paralelo. Há outros inscritos.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Fora do microfone.) - Essa é a minha opinião, Senador. Eu respeito a sua, mas essa é a minha opinião.

    O Sr. Michel Temer deveria pedir desculpas ao Brasil por ter nomeado...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... dois ou três daqueles marmanjos fisiológicos e ter colocado mulheres para governar este País, porque é assim que fazemos nas nossas famílias. É assim que fazemos em todos os espaços deste País.

    E agora estão querendo enfiar goela a baixo que é homem branco - nenhum tem representação social - que pode tirar o Brasil da crise e gerar emprego. Que história é essa? Não precisa de futurologia. É apenas uma constatação.

    Sr. Michel Temer, retire pelo menos cinco ou seis daqueles que estão respondendo processo, que comprovadamente são políticos fisiológicos, porque têm uma ficha corrida, e ponha muitas das mulheres valorosas para ajudar a tirar o Brasil da crise.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas eles não são réus, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Humberto Costa. Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Conclua, Senador, por favor.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu já concluo.

    O Senador Garibaldi é o primeiro brasileiro que eu estou vendo fazer a defesa do Governo Michel Temer.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2016 - Página 26