Discurso durante a 75ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Agrônomo Francisco Ozanan, falecido no último domingo.

Autor
Hélio José (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Hélio José da Silva Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem ao Agrônomo Francisco Ozanan, falecido no último domingo.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2016 - Página 84
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, ENGENHEIRO, AGRONOMO, DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ENFASE, ATUAÇÃO, COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL S/A (NOVACAP), RESPONSABILIDADE, JARDIM, ARBORIZAÇÃO, CIDADE, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA.

    O SR. HÉLIO JOSÉ (PMDB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, e nossos ouvintes da TV Senado e da Rádio Senado, é com muita satisfação que venho ao plenário. Também expresso minha tristeza, porque venho falar sobre um grande engenheiro do Distrito Federal, homenageando-o, que é o agrônomo Francisco Ozanan, que nos deixou no último domingo. Eu não poderia deixar de falar aqui sobre os trabalhos que Ozanan fez para o Distrito Federal. Por isso, estou aqui até esta hora.

    Quero agradecer a V. Exª por dirigir esta importante sessão.

    Quero cumprimentar o Senador Raupp, que nos antecedeu, pelas suas colocações.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, há pessoas que vieram ao mundo para torná-lo mais bonito e mais saudável. É o caso do engenheiro agrônomo Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar, nobre Sr. Presidente, ou simplesmente Francisco Ozanan, que ficou conhecido como o "jardineiro de Brasília" ou ainda como o "pai dos ipês", por ter espalhado essas árvores tão esplendorosas em nossa Capital.

    Francisco Ozanan deixou nosso convívio no domingo, dia 8 de maio, aos 72 anos de existência profícua, e foi repousar junto ao Criador do universo. Merece todas as homenagens dos moradores do Distrito Federal e o respeito de todos os brasileiros pela sua dedicação no afã de tornar a Capital do País mais agradável, saudável e bonita. Foram 40 anos de sua vida que ele dedicou às atividades no Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).

    Muito justa, portanto, a homenagem prestada pelo Governador Rodrigo Rollemberg, que, reconhecendo a sua importância, decretou luto oficial de três dias e emitiu nota de pesar em que destaca o trabalho de Ozanan, com a seguinte declaração:

Perdi um amigo que me inspirou a ser apaixonado pelas árvores e pela natureza. Todas as vezes que olharmos a beleza dos ipês, das sapucaias, das quaresmeiras, das bougainvilles, dos espartóides, dos guarapuvus e de tantas outras, vamos lembrar de Ozanan, que suavizou e embelezou os nossos olhares e fez de Brasília uma cidade linda e reconhecida mundialmente. Terá sempre a nossa eterna gratidão.

    Nobre Sr. Presidente Senador Paulo Paim, não sei se V. Exª conhecia Francisco Ozanan, que foi o grande idealizador e o grande jardineiro de Brasília, a pessoa que trabalhou para embelezar nossa cidade com os ipês e com todas essas árvores lindas que florescem de quando em quando. Aliás, vale destacar que Ozanan foi o responsável pelo plantio de mais da metade dos quatro milhões de árvores do Distrito Federal.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Francisco Ozanan era um cearense do Município de Barbalha e cursou Agronomia na Universidade Federal do Ceará. Chegou a Brasília em 1969, num tempo de muita terra batida, sem verde. Era tanta poeira, que os colarinhos ficavam avermelhados, e os olhos, irritados. Ficava emocionado ao saber que teve participação essencial na mudança da paisagem. O urbanista Lúcio Costa queria que os prédios residenciais parecessem brotar de dentro de um jardim, e o nosso agrônomo conseguiu esse desiderato a partir de uma paisagem aparentemente desértica do início dos anos 1970.

    O próprio jardineiro de Brasília lembra histórias de sua infância, de sua criação em uma fazenda do interior do Ceará. Quando criança, ia para a escola em lombo de jumento. Teve de tirar o primeiro lugar no concurso de admissão ao ginásio, que, antigamente, equivalia à atual segunda metade do ensino fundamental, que era uma espécie de vestibularzinho. Então, seu pai lhe deu um cavalo para ir à escola.

    Quanto a esse vestibularzinho, nobre Senador Paulo Paim, na minha época, também fiz a admissão, que era um curso para se poder adentrar o ginásio. Era uma espécie de resumo da 1ª série à 4ª série.

    Outra sua característica marcante era a revolta cada vez que o pai cortava uma árvore de ipê ou pau d'água para fazer lenha. Mais tarde, em vez de fazer o curso de Direito ou de Medicina, como queria o pai, Francisco foi estudar Agronomia. Estava no sangue o amor às plantas, o amor à natureza.

    Depois de formado, em 1969, veio para Brasília, tendo a passagem de avião sido paga pelo irmão. Depois de dez anos trabalhando no Departamento de Parques e Jardins da Novacap, foi escolhido para chefiar o órgão. Avesso ao poder, segundo ele mesmo, escolheu um mau método de administrar, pois a porta de seu gabinete nunca estava fechada para ninguém.

    Apesar de sua simplicidade, Francisco Ozanan tinha contato com pessoas influentes. Trabalhou com vários governadores. Tinha, na sala de casa, um quadro que Oscar Niemeyer fez para ele após um encontro em que discutiram sobre algumas mangueiras que se encontravam no local do Museu do Índio e que deveriam ser salvas. Também conheceu Lúcio Costa e Burle Marx.

    Tinha uma conversa agradável, era um grande contador de causos e ria das próprias piadas. Certamente, as pessoas de seu convívio próximo vão sentir muito a sua falta. Ele realmente deixa saudades em nós moradores do Distrito Federal.

    Conforme declaração do próprio Ozanan, conseguiu-se produzir em escala de ajardinamento e plantar em Brasília exatamente 75 espécies do Cerrado. Porém, não foi tudo um mar de rosas até Brasília chegar a ser uma das cidades mais verdes do País e, quiçá, do mundo. Nos anos de 1975 e 1976, quase toda a população de árvores adultas plantadas pelo Departamento de Parques e Jardins morreu, lamentavelmente.

    As críticas à falta de um projeto de paisagismo que acompanhasse o plano urbanístico vieram contundentes, mas não tiraram o ânimo do denodado Ozanan. Imediatamente, partiu-se para uma ação intensa de replantio, com todas as mudas conseguidas por meio de escritórios descentralizados da Novacap, os escritórios do Rio, de São Paulo, de Belo Horizonte, de Goiânia e de Anápolis.

    Hoje, dos quatro milhões de árvores plantadas no Distrito Federal, sete entre dez são nativas. Isso é muito importante, nobre Senador Paulo Paim. Aliás, logo após a praga que quase exterminou a população de árvores em meados dos anos 70, o Departamento de Parques e Jardins, o DPJ, adotou uma estratégia interessante: cada quadra residencial receberia uma determinada espécie. No caso de alguma praga oportunista, provavelmente sempre se salvariam algumas espécies.

    E, no início dos anos 80, quando ainda eram vivas as lembranças do desastre de 1975/1976, começou-se o plantio das árvores frutíferas, outra característica da vegetação urbana de Brasília. Foram jaqueiras, mangueiras, abacateiros, jambeiros, sapotizeiros, pés de graviola, tamarindos, introduzidos, nobre Senador Paulo Paim, inicialmente, no Parque da Cidade e, depois, em outras vias e locais públicos, de tal forma que, em Brasília, principalmente na época do outono, ninguém passa fome, porque, se tiver vontade de comer, as nossas árvores vão alimentar com a manga ou com a jaca ou com o sapoti ou com alguma fruta plantada pelo nosso querido Ozanan.

    Srªs e Srs. Senadores, os erros e acertos da arborização de Brasília estão descritos no livro Arborização Urbana do Distrito Federal, que tem quase 400 páginas e que foi escrito sob a coordenação de Francisco Ozanan.

    Se Brasília tem mais ar puro para respirar, o que propicia melhores condições de saúde, deve isso, sem dúvida, a Ozanan. Para ele, os jardins, os parques, as árvores eram o que mais importava. Esse engenheiro agrônomo, nobre Sr. Presidente, teve um papel especial na construção da paisagem tão recheada de verde que observamos na Capital do País e merece todo o nosso respeito e nossas homenagens por tudo o que fez de bom em prol da comunidade brasiliense. Nosso ar é melhor, nosso clima é mais saudável devido à dedicação desse apaixonado pelas plantas na nossa Capital.

    Que cada um de nós se inspire em Ozanan, em seu amor a uma causa, em seu respeito ao meio ambiente. São mais do que merecidas nossas homenagens a este ilustre personagem, que foi Francisco Ozanan.

    Era o que eu tinha a dizer, nobre Sr. Presidente, neste momento, dando condolências a toda a família, desejando que Ozanan esteja nos braços do Senhor, defendendo todas as nossas árvores do Distrito Federal da sanha daqueles que são contra o verde, contra o meio ambiente.

    Um forte abraço aos nossos ouvintes, um forte abraço à família do nosso nobre Francisco Ozanan e um forte abraço a V. Exª, que está presidindo estes trabalhos!

    Muito obrigado, nobre Senador Paulo Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2016 - Página 84