Discurso durante a 79ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao teor do diálogo divulgado pelo jornal Folha de São Paulo, entre Sérgio Machado, ex-Presidente da Transpetro, e Romero Jucá, Ministro do Planejamento.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Críticas ao teor do diálogo divulgado pelo jornal Folha de São Paulo, entre Sérgio Machado, ex-Presidente da Transpetro, e Romero Jucá, Ministro do Planejamento.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2016 - Página 46
Assunto
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • CRITICA, DIALOGO, SERGIO MACHADO, EX PRESIDENTE, EMPRESA DE TRANSPORTE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ROMERO JUCA, MINISTRO DE ESTADO, PLANEJAMENTO, DIVULGAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, PACTO, IMPEDIMENTO, CONTINUAÇÃO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CRIME, APREENSÃO, AUMENTO, CORRUPÇÃO.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, colega Senadora Vanessa, Senadoras, Senadores, todos que nos acompanham pela Rádio Senado e pela TV Senado, estamos iniciando uma semana do pior jeito, do ponto de vista político. 

    Temos um Governo interino no nosso País. O Chanceler, nosso colega Senador Serra, faz a sua primeira viagem para a Argentina e vive manifestações em frente à nossa embaixada, coisa que há muitos e muitos anos não se via. Há pouco soubemos que o Presidente interino, Michel Temer, veio entregar sua proposta de ajuste fiscal - se é que podemos chamá-la de ajuste fiscal - ou desajuste fiscal para o Congresso Nacional. Mesmo sem ter avisado a ninguém, mesmo sem ter divulgado, foi recebido - não sei como, acho que é essa comunicação on-line que a gente tem agora - aqui com manifestação, gritos e pessoas. Foi tão alto que, inclusive, atrapalhou o andamento da sessão.

    Mas tudo se agravou hoje com a notícia e a divulgação de grampo telefônico - não é grampo, mas gravação de conversa, porque não foi um grampo - de um ex-Senador, um importante Senador, Sérgio Machado, que foi Líder do PSDB aqui no Senado durante anos, influente, operoso. Depois, ele foi presidir a Transpetro, uma importantíssima companhia da Petrobras.

    Por isso que não posso fazer coro com algumas avaliações. E que ninguém venha dizer que é o PT que está criando dificuldades. Quem gravou o Presidente do PMDB, Romero Jucá, não foi a Polícia Federal, a partir de um mandato judicial, não foi nenhum adversário. Quem gravou foi um importante aliado, uma das pessoas mais importantes do próprio PMDB. É isso o que nos choca.

    Hoje tivemos mais uma operação da Lava Jato em cima do PP, o Partido Progressista. Fico impressionado que o pessoal do Partido Progressista (PP) vai para a televisão, faz programas convidando para se filiarem, como se nada estivesse acontecendo. Hoje prenderam gente.

    Não gosto, acho muito ruim esta fase, não quero o mal para ninguém, falo isso sinceramente. Mas, quando estou aqui na tribuna, fico pensando na juventude do Brasil, nas pessoas que esperam uma posição diferente da gente, que nos cobram uma solução para essa crise política e econômica que parece não ter fim e que se reflete na vida dos brasileiros.

    Aqui se cassou um Senador. "Ah, nunca tinha acontecido antes!" Cassou-se com essa motivação, cassou-se. Pode haver outros, mas o problema, a crise se reflete na vida das pessoas, daqueles que não têm nada a ver com os confrontos políticos, partidários e com esse modelo.

    Desculpem-me, com todo carinho e respeito ao Senador Cristovam, não há aqui nenhuma ofensa, de jeito nenhum, ao contrário. Se há algum Senador aqui que pode cobrar de um lado e de outro é V. Exª, mas eu também, com o respeito que temos, divirjo de V. Exª tranquilamente.

    Senador, ouça! O senhor está incomodado, não gosta, acha inadequado, entende que pode pegar mal, que pode até criar algum desconforto nas relações aqui o uso da palavra "golpe". Está previsto na Lei nº 1.079 e na Constituição o impeachment, mas impeachment sem causa...

    Eu acho que o mais grave dessa gravação que foi feita e tornada pública hoje é que o Presidente do PMDB... Foi desta tribuna. Eu estava sentado ali e vi o Senador Jucá fazendo um discurso meio sem pé nem cabeça, agressivo, porque ele é uma pessoa de bom trato aqui com todos nós, foi Líder dos nossos governos. Por que eu iria negar isso?

    O PMDB tinha em muitos momentos a parte mais importante do nosso Governo. Eu era um dos que diziam: "Já não está ficando mais o nosso governo!", de tanta descaracterização dos programas. E V. Exª tem razão em criticar especialmente o nosso segundo mandato... (Pausa.)

    Ouçam os gritos! E aqui é tudo fechado, vedado. Inclusive, há uma proteção acústica para o Plenário funcionar. Mas são os gritos de quem? Ninguém chamou manifestação aqui, não foi o PCdoB, não foi o PT. Eu nem sabia que o Presidente Michel Temer viria aqui. Os gritos estão aí fora. Não sei se a imprensa vai tornar público. Deve fazê-lo, eu espero.

    Mas o que coloco com isso é que o PMDB é um Partido que durante anos governou este País dentro do Governo do PSDB e durante anos governou este País dentro do Governo do PT.

    Então, quem está hoje no Ministério do Planejamento é o Senador Romero Jucá... (Pausa.)

    É difícil. Esse som, essa situação é constrangedora de alguma maneira, mas talvez mostre o momento de dificuldade e de gravidade que estamos vivendo.

    Senador Cristovam Buarque, eu queria só dizer a V. Exª: a íntegra, quando se ouve todo o diálogo entre duas pessoas importantíssimas do PMDB - um foi Líder do PSDB aqui e é um grande quadro do PMDB, Sérgio Machado, pessoa respeitada, Senador importante; o outro é o Senador Romero Jucá, Presidente Nacional do PMDB, hoje Ministro do orçamento, uma das pessoas mais próximas ao Presidente Michel Temer -, a conversa entre eles torna público que houve um golpe! Eles não discutiram em nenhum momento o impeachment, Senador Cristovam. Não existe essa palavra, o que existe é Lava Jato, controlar o Supremo - isso está colocado lá -, controlar o MST e fazer com que Renan Calheiros... Eles dizem lá que o Renan tem de entender que Michel é Eduardo Cunha - Michel Temer é Eduardo Cunha -, e o Presidente Renan, nós sabemos aqui, procurando ter uma posição de independência.

    É nesse aspecto. Se V. Exª se dedicar e ler direitinho vai dizer: ali está - agora há uma palavra que está na moda no Brasil, narrativa, enredo -, se estava faltando, quem trouxe a narrativa do golpe não foi o PCdoB, não foi o PT, não foi nenhum jurista, não foi José Eduardo Cardozo, a narrativa do golpe foi trazida pelo Sr. Romero Jucá, Presidente Nacional do PMDB. Ele disse com todas as letras o que teria de acontecer, o que iria acontecer. Ele falou aquilo em março. Eu acho muito grave.

    O Senador Delcídio - eu estou falando aqui tranquilo - virou delator, foi cassado no Conselho de Ética e cassado por este Plenário, porque tentou interferir na Lava Jato para tentar livrar o Sr. Cerveró. A conversa de Sérgio Machado e Romero Jucá é para livrar todos da Lava Jato. Isso é muito grave, dizer que fala com Ministros do Supremo - Ministros do Supremo! Eu acho que os Ministros do Supremo precisam vir a público tomar uma medida. Quando foi na hora do Delcídio - não estou pedindo prisão de ninguém -, prenderam o Delcídio.

    O Presidente do PMDB, Ministro do Planejamento do Governo Michel Temer, disse que iria trabalhar com os Ministros do Supremo. Para quê? Para pôr fim a esse ambiente de investigação a que a política e os políticos estão submetidos.

    É claro que o sistema político nacional faliu de financiamento de campanha, isso vale para todos nós. Eu não estou livrando ninguém, mas uma coisa é ter financiamento de campanha, é ter financiamento partidário, outra coisa é ter uma situação de "propineiros", negociação de contratos, ter uma situação de fazer cobrança de propina e de chantagem.

    Eu não posso, eu não concordo de a gente ficar aqui botando o dedo e apontando seja para um partido, seja para outro. Eu acho que o PT, a gente sofreu tanto, e não foi sem razão: nós cometemos muitos erros no nosso governo e no PT. O Partido dos Trabalhadores começou agora a reconhecer isso. Isso é importante. Se a gente não reconhece também os erros que comete, como é que a gente pode estabelecer um diálogo com a sociedade? Como é que a gente pode mudar o nosso comportamento? Nós erramos muito, mas me preocupa a situação em que nós estamos hoje.

    Vieram aqui todos - eu vi a imprensa inteira -, todos pedem a saída do Senador Romero Jucá. Dos que eu li, os principais articulistas de O Globo, da Folha de S.Paulo, do Estadão, dos principais veículos que usam as redes sociais, e aqui matéria do New York Times, do Washington Post. Que segurança o País pode ter, gente, com essa situação?

    Agora o impasse que fica é o seguinte: o Presidente Michel Temer - interino, como ele diz - reúne as condições para demitir o Presidente do PMDB do Governo? Olha, eu li ainda agora, por acaso, dois tuítes do Pastor Silas Malafaia. Eu não o conheço pessoalmente, eu só sei que ele é uma pessoa muito ativa, combate muito o PT. Eu não estou aqui fazendo juízo, mas sabe o que ele diz, Senador Cristovam? Ele diz que se o Governo Michel Temer recuou para o Ministério da Cultura e o trouxe de volta, agora tem que ir em frente e demitir Romero Jucá. Ele diz que o Governo Michel Temer não terá moral - quem fala é o Silas Malafaia - de seguir em frente. Ele é o mais importante aliado que eu vi, pelo menos que eu li nas redes sociais. Não quero fazer juízo das posições, mas ele está firme lá dizendo que o Romero Jucá não reúne as condições.

    Veja a que situação nós chegamos. Sabe por que nós chegamos a essa situação? É porque eu acho que nós pegamos o caminho errado, de tentar fazer o impeachment sem tipificar o crime; aí divide mais o País ainda. Eu estou muito preocupado, Senador Cristovam e, quando eu uso essa palavra golpe, é como uma consequência de uma análise, não é para acusar ninguém, não. Eu não sou acusador, eu nunca participei dessas comissões que acusam, nunca. E nada contra quem participa, não vim para cá para isso. Eu vim para tentar, com um pouco da experiência, ver se ajudo o meu País.

    Senador, por que é que, no Brasil, não há pesquisa? Nunca se falou tanto em opinião pública. Há uma censura, no Brasil, hoje. O Governo que tomou conta do Palácio do Planalto não permite que haja pesquisas feitas pelo Datafolha e pelo Ibope.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, V. Exª me permite?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Com todo prazer, Senador Garibaldi.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Estou sendo indelicado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, senhor. V. Exª jamais será indelicado.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Há uma pesquisa do Ibope. Eu acho que V. Exª tomou conhecimento. É uma pesquisa que realmente dá ao Governo Michel Temer uma dose de confiança, uma parcela de confiança, mas, diante deste momento tumultuado, também há aqueles que descreem do Governo. É uma pesquisa do Ibope.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Obrigado. Eu ouvi, parece que saiu uma notinha no Lauro Jardim, porque foi uma pesquisa fantasma do Ibope, a primeira que eu vi, porque ela apareceu e desapareceu. E eu não estou pedindo pesquisa para julgar o Governo Michel Temer, porque seria injusto. Ele recém assumiu, dez dias. Isso não cabe. É óbvio que, diante da crise econômica, vai dar um mau resultado. Eu queria a pesquisa neste momento, já que temos um novo Governo interino, era para ver o que é que a opinião pública pensa de saída para crise, só para isso, Senador Garibaldi, porque eu acho que seria importante nós sabermos o que a opinião pública quer.

    Uma parcela não queria o governo da Presidenta Dilma e do PT, está bom, importante, foram às ruas. Outra parcela foi às ruas defender a democracia, milhares de pessoas, movimentos sociais. Trouxeram de volta algo que estava meio de lado, o sonho de um País plenamente democrático. E eu agradeço aos movimentos sociais, aos democratas que nos estão ensinando a ter mais e mais responsabilidade com a democracia. Por isso é que eu queria, não era para acusar ninguém, porque, certamente, o PT, o governo da Presidenta Dilma vai sair mal avaliado. Mas será que não era hora de nós construirmos juntos? Como é que fazemos?

    Com todo respeito aos colegas, pessoas honradas que ocupam o PMDB, fui um daqueles que lutei muito para que esse nosso casamento pudesse encontrar um melhor desfecho - PT, PMDB -, mas acho que o modelo faliu, o modelo de governo de coalizão faliu. Não importa quem esteja governando, não se consegue governar com 35 partidos. É impossível! Nos Estados, não é muito diferente, mas, no plano nacional, é muito pior.

    O que vamos fazer para superar isso? Qual é o caminho? Certamente não é tirando o poder da soberania do voto, como estamos fazendo no processo de impeachment. Nesse, há uma divergência: a soberania do voto, Senador Cristovam, tem que estar acima dessas nossas divergências. No limite, consultemos a opinião pública. Vamos apresentar uma proposta suprapartidária de ouvir se a população não quer uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política, que não sairá nunca com essa composição que temos na Câmara e até aqui, no Plenário do Senado Federal.

    Isso é resposta segura e rápida, mas insistir, achar que botando um Governo que teve... E aqui também não estou fazendo juízo. Como vou fazer juízo de um Governo... Outro dia, o Senador Garibaldi acertadamente... Como vou fazer juízo de um Governo que está há dez dias, onze dias? Não posso. Fui do Executivo, trabalhei na prefeitura e no governo, não tenho o direito de fazer isso. Tenho coragem de falar isto: não tenho o direito. Mas o governo que vimos na prática comprometeu boa parte dos Ministérios naquela votação do dia 17, na Câmara dos Deputados. Se o Romero Jucá sair, ficarão dois Senadores, o PMDB ficará com um. Havia três no nosso governo. É uma situação absurda, porque se insiste num remédio que não é remédio para governar, é veneno. Veneno não cura ninguém. A diferença, às vezes, do remédio para veneno é o tamanho da dose. Aí falaram o seguinte: "Não, o PT estava sofrendo com fisiologismo. Vamos botar mais fisiologismo dentro do governo." O Brasil não aguenta, não. E nós, como vamos ficar?

    Falo assim, com toda sinceridade, acho que tínhamos que ter... Faço um apelo ao Datafolha, faço um apelo ao Ibope, não custa nada. Trocou-se um governo, derrubou-se um governo antes do julgamento no processo de impeachment, assumiu outro governo e não há uma pesquisa.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, desculpe. Há uma pesquisa do Ibope, é só pedir.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Foi feita quando, Senador?

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Recentemente, agora.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, é só um comentário de uma pesquisa velha, antiga, Senador. Só saiu uma notinha no Lauro Jardim.

    Eu acho que seria bom para o País. Sabe por quê? Porque, se muitos votaram o impeachment por conta da opinião pública, pode ser que a opinião pública esteja dizendo: "Olha, nós queremos eleições diretas daqui a um ano ou daqui a seis meses ou daqui a um ano e meio." Pode ser. Só estou dizendo que pode ser, é meu direito. Só isso. Pode ser que o pessoal diga: "Olha, eu quero a Dilma fora, mas não aceito Michel Temer." Pode ser, só estou dizendo que pode ser. Mais nada!

    Agora eu acho que o nosso País vai superar essa crise, com o nosso povo, com a união e a pacificação deste País, mas essa união e pacificação só virão quando o Brasil se reencontrar com a sua plena democracia. Não pode, na primeira viagem do Serra, chanceler novo, nosso colega Senador, ele ir para a Argentina e ser recebido com gente na rua, chamando o Serra de golpista, dizendo que ele não representa o Brasil. Gente, nós estamos plantando vento e vamos colher tempestade!

    Eu ouço o Senador Cristovam.

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador, se V. Exª me permite.

(Soa a campainha.)

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É que acabou de ser noticiado pelo G1 que o Ministro do Planejamento, Senador Romero Jucá, acaba de solicitar licença do Ministério. Apenas para informar.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Vamos ter um Governo interino com um Ministro licenciado. Eu não estou entendendo mais nada.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Nós vamos ter dois Presidentes, dois Presidentes da Câmara, um Ministro do Planejamento...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E um Ministro de Planejamento, da economia, de licença.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Na hora em que mais se precisa de credibilidade, de confiança, ninguém sabe quem é o Ministro do Planejamento. Essa é uma posição tímida do Presidente da República e que vai contra todo o projeto de retomar confiança e credibilidade na economia. Em qualquer outro Ministério era ruim ter dois, mas Planejamento e Fazenda é suicídio. É quase que ter dois do Exército em momentos de...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - De guerra.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ...conturbação e guerra. Senador, eu quero aqui primeiro dar apoio à ideia de...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Consultar.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... pesquisa. Tem que haver pesquisa. Segundo, apoio à eleição. Nós defendemos... O senhor foi um. Embora alguns de nós tenhamos feito o documento pedindo eleições antecipadas, que muitos ridicularizaram, eu sei de alguns do PT que apoiaram, sim, e tentaram. E aí a Presidente perdeu o momento. Se ela tivesse, naquela época, apoiado isso, eu creio que o Vice-Presidente Temer ficaria tão acabrunhando e empurrado em uma quina da luta que ele teria sido obrigado a aceitar também. Se os dois aceitassem, aqui a gente encontrava o caminho para levar adiante as eleições antecipadas. Eu continuo achando que pode ser uma saída, na medida em que vem o descrédito, como está vindo, sobre o Governo Temer, e que o Presidente Temer não recupera, pelo menos ainda...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Presidente Dilma.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Dilma. Eu disse quem?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Presidente Temer.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Temer!

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - O senhor misturou os dois nomes.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Está certo, o gênero e... E a Presidente Dilma não se recupera, neste momento. Eu acho que, ao longo do tempo, pode, sim, acontecer, não descarto isso. Eu creio que voltar a falar em eleições pode ser uma saída, até porque um ponto o senhor falou aí, com que estou de acordo. A gente tem que se encontrar, o Brasil tem que se reencontrar. Através da manutenção do Fla-Flu, não se levará o Brasil ao seu reencontro, que a gente precisa fazer, sem intolerâncias, cada um sendo capaz de reconhecer seus erros, suas falhas e buscar um caminho.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - E, finalmente, eu só quero lembrar o que muitos esquecem, que este Governo é quase todo composto de Ministros da Presidenta Dilma. O Vice-Presidente foi escolhido por ela. Ela pediu duas vezes que o povo votasse nele, porque, ao votar nela, votava nele. Eu recebi uma crítica, um dia desses, que disse: "A Presidente Dilma era para ser Presidente. Ele era para ser apenas Vice." Seria irresponsabilidade. Vamos tirar a Presidente Dilma. É irresponsabilidade um presidente escolher um vice sem acreditar que esse vice é capaz de fazer o trabalho perfeito, porque ninguém é imortal. Quando um presidente assume a República, pode acontecer qualquer tragédia que faça com que o vice tenha que assumir. E, no caso da história brasileira, o vice assumindo tem sido muito constante. Então, ao assumir, ao escolher o vice-presidente, o presidente tem que ter, nesse gesto, o máximo total de...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - As críticas que eu ouço hoje, dos que estavam ao redor da Presidente Dilma em relação a Temer, fazem-me perguntar: será que esse foi um crime de responsabilidade dela ao ter escolhido o Vice-Presidente Temer, ao ter pedido voto para ele, ao fazer com que 54 milhões votassem nele como Vice, sabendo que ela não é imortal, como o senhor nem eu, ou mesmo que a gente não morra pode ficar doente e ter que ser substituído? Eu acho que ela deveria ter levado em conta isso. Se não levou, foi uma irresponsabilidade. E, se ela levou, não dá para estar acusando tanto assim o Presidente. Eu me sinto à vontade para criticá-lo, porque não votei nele em 2014, mas quem votou nele pode até dizer: "Eu estava errado." Mas tem que dizer antes que estava errado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Cristovam, querido colega, V. Exª tem que também constatar algo: com a sua autoridade - eu lamentei, porque o senhor tem uma história junto com a gente e lamentei termos votado em separado na admissibilidade, estou sendo justo -, Senador Cristovam, quem votou pela admissibilidade afastou a Presidenta Dilma, ela está afastada. Ponto final. Agora, a discussão é o Governo que está e o que nós vamos fazer, porque o julgamento ainda nem começou.

    Veja como essa Lei do Impeachment é uma insanidade: com maioria simples, afasta-se quem veio das urnas, e quem assume provisoriamente pode desmontar o Estado brasileiro todo, o Governo todo e fazer um governo antes de ter iniciado o julgamento daquele que veio das urnas. Essa é uma situação que nenhum país aguenta. Repito: nenhum país aguenta.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, permita-me.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Com certeza.

     As manchetes dos jornais de hoje... Veja, está começando a segunda semana do Governo Michel Temer e eu tenho procurado, em vez de ficar encontrando ferida para pôr o dedo, ver como é que posso colaborar com o meu País, mas hoje das dez manchetes que vemos no UOL, no G1, onze são sobre essa crise da gravação que envolve o Sérgio Machado, ex-Senador, ex-Líder do PSDB aqui, do PMDB, que é uma pessoa importante, ex-Diretor, no nosso governo, de uma das mais importantes empresas do conglomerado da Petrobras, com o Senador Romero Jucá. Foi ele quem resolveu gravar. Eu não sei, mas parece que ele tornou pública essa conversa e dizem que ele tem outras que ele gravou, tentando buscar uma proteção contra Lava Jato.

    Aqui está dizendo Mônica Bergamo: "Temer já pensa em sucessor". Ou seja, o Governo provisório do PMDB vai demitir o Presidente Nacional do PMDB. É isso que está ocorrendo. Olha que situação que nós estamos vivendo. Se era essa a ideia de passar alguma tranquilidade para o tal do mercado, de fazer um anúncio para o País, foi por terra. Vai ficar quem? O Meirelles? O Meirelles não tem o tal do lastro político que o Jucá se coloca como tendo. Então, sinceramente espero - vou passar para V. Exª, Senador Garibaldi - que o palco, o espaço, o Plenário para discutir a crise seja o Senado, na Lei do Impeachment e conforme a Constituição estabelece.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Tomara que o Senado tenha sabedoria e encontre um jeito, no diálogo, pensando o País, pensando a democracia, que encontre uma maneira de dizer não a esse caminho torto de botar um governo provisório, que não veio das urnas. Mas que também encontre uma maneira de lidar com o nosso governo, que, por seus erros, estava pondo em risco um legado importante, que eu tenho muito orgulho de ter acompanhado e realizado no nosso País, para ver como sair dessa quadra de enfrentamento, pacificar o nosso povo e fazer algo que possa ser melhor do que o que nós estamos vivendo.

    Está ruim para o PMDB agora, que governa, mas estava ruim para nós, que governávamos até outro dia, ou seja, está ruim para todo mundo.

    Eu ouço V. Exª, Senador Garibaldi.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Jorge Viana, eu não estou aqui para tapar o sol com a peneira. Eu apenas esperei de V. Exª, que é um moderado como eu...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - V. Exª está vendo que eu estou bem moderado.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ...que V. Exª pudesse saudar...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ...esse pedido de licença do Senador Romero Jucá.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Mas é porque eu não confirmei, Senador. Eu não posso.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Não.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu quero saudar. Eu vou terminar meu discurso e vou saudar o ato do Presidente Michel Temer - eu quero encerrar com isso - de ter trazido de volta... Eu fiz um apelo aqui também. Ele não o fez me atendendo, mas quero elogiá-lo, porque o Presidente Michel Temer tomou uma medida importante no fim de semana, trazendo de volta o Ministério da Cultura. Eu pedi aqui e tenho que reconhecer isso, mesmo entendendo que não foi nada pelo meu pedido, mas por conta de um clamor nacional dos artistas, inclusive na Virada Cultural desse fim de semana.

    Agora, eu só não me refiro a essa coisa do Senador Romero Jucá porque estou aqui, não tive acesso a isso. Mas acho que - e aí eu posso também já apresentar a minha opinião -, neste momento, o ideal é fazer como foi feito na época do Hargreaves, como foi feito pelo Presidente Itamar, do PMDB de V. Exª. Quando houve uma denúncia, salvo engano, de Antonio Carlos Magalhães contra o Chefe da Casa Civil Hargreaves, o Itamar Franco afastou o Hargreaves, que se defendeu, provou que não tinha culpa e voltou a ser o Chefe da Casa Civil.

    Como o nosso colega Romero Jucá está em uma posição que é muito complexa nessa quadra desse governo provisório, o mínimo que ele tinha que fazer seria se afastar e provar que não está usando a influência de Ministro, Ministro do dinheiro. Romero Jucá hoje é o Ministro do dinheiro, o homem do orçamento e da liberação do dinheiro.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas foi o que ele fez.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não. Eu não tenho certeza. Se V. Exª está dando certeza...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Não.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu recebi aqui uma informação da Senadora Vanessa.

    Se foi, ele tomou a atitude correta. No mínimo tem que se afastar do cargo para poder se defender. Para se defender. Eu não estou acusando ninguém.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Na verdade, o noticiário dá conta...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É porque eu não tive acesso agora.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - ...de que ele pediu licença para provar que está certo.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Mas licença do mandato de Ministro?

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Do cargo de Ministro do Planejamento.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E quem vai ser o Ministro neste período? A gente não sabe ainda.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Eu não sou...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É porque eu não tomei conhecimento.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas eu não me chamo Michel Temer.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Se se chamasse, eu acho que nós estaríamos melhor um pouco, Senador. Mas eu agradeço.

    Realmente, acho que é o mínimo que o Senador Romero Jucá, diante desse turbilhão que movimenta tudo...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Não. Mas eu queria, sem ferir V. Exª, dizer o seguinte: se o Romero Jucá não tivesse pedido essa licença, V. Exª estaria condenando-o vigorosamente. Agora que ele pediu...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não. Não é assim.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Eu acho que V. Exª...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, Senador. Eu só estou dizendo que o que o diálogo dele...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Agora que ele pediu, V. Exª não o saúda.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, não. Eu estou aqui na tribuna.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Na atitude.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu não estou lendo jornal, não estou vendo internet. Estou aqui fazendo o meu pronunciamento também ... (Fora do microfone.) Não, mas V. Exª ainda está tranquilo aí, pode dar uma olhada numa notícia. Eu, nem isso. Eu estou na tribuna. Eu tenho que respeitar a tribuna.

    Agora, o que ficou claro com a fala do Senador Romero Jucá, com a gravação divulgada por um correligionário dele é que, antes da votação da Câmara, tinha uma operação. Tinha uma operação para fazer um combate à Lava Jato, frear a Lava Jato. E o caminho dela era aprovar o impeachment na Câmara, vir para o Senado, afastar o governo e assumir um governo provisório. Esse governo provisório - essa é a narrativa - ir trabalhar no Supremo, na imprensa, no Judiciário e resolver o problema de todos que estão, de um jeito ou de outro - não estou acusando ninguém -, sendo investigados.

    Eu não gosto, não quero nessa hora fazer uma ação contra o colega, Senador Romero Jucá.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu espero - e é uma atitude correta - o afastamento dele. Ele agora se defende, vem aqui, presta esclarecimento, torna público, mas acho lamentável que em apenas dez, doze dias de governo tantos vacilos, tantas idas e vindas.

    E termino dizendo: acho importante a atitude do Presidente Michel Temer de trazer o Ministério da Cultura de volta. Isso é importante. O Ministério é do Brasil. Não era do PT, não é do Governo do PMDB. É do Brasil. E isso para mim merece o registro.

    Obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2016 - Página 46