Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de José Ribamar Viana, o Papete, cantor e compositor maranhense.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento de José Ribamar Viana, o Papete, cantor e compositor maranhense.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2016 - Página 22
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, CANTOR, COMPOSITOR, MUSICA POPULAR, MARANHÃO (MA), APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, DIFUSÃO, FOLCLORE, REGIÃO.

    O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, é com muita tristeza e orgulho que venho hoje a esta tribuna homenagear o grande cantor e compositor maranhense José Ribamar Viana, o Papete, como era mais conhecido; conterrâneo, amigo fraterno, músico de renome nacional e internacional, além de incansável defensor da cultura tradicional do nosso Estado.

    Coincidência ou não - e isto me consola -, quis o destino que ele fosse para os braços do Senhor justamente no dia de Corpus Christi, no último dia 26 de maio, quando se celebra o Mistério da Eucaristia, um dos sete sacramentos instituídos na última ceia por Jesus, quando disse aos comensais: “Este é o meu corpo. Isto é o meu sangue. Fazei isto em memória de mim."

    Quero, portanto, registrar aqui os meus sentimentos aos familiares do Papete. Quero mencionar o nome de Manoel Viana; o de Dr. José Viana, em Bacabal; Valdemiro Viana; Jurandir Ferro de Lago, parente por afinidade; Rosário, meu grande amigo que Deus já levou também, que era tio do Papete; Homero Viana. Ao povo do Maranhão e a todos aqueles que tinham em Papete uma referência não só de boa música e virtuosismo, mas de amigo, conselheiro, mestre da vida, pesquisador e preservador da nossa cultura e do nosso folclore.

    José de Ribamar Viana, nosso Papete, era de fato um homem de muitas facetas. Nasceu no Município de Bacabal, onde também nasci e onde desejava, quando morresse, que suas cinzas fossem jogadas nas águas do rio Mearim.

    Como muitos nordestinos, aos 18 anos, ele migrou para São Paulo, em busca de um futuro melhor, mas nunca se esqueceu de suas raízes maranhenses. Dono de uma obra monumental, Papete nos deixa um legado de valor inestimável, em que prestigia a cultura maranhense de muitas maneiras.

    Chegou a publicar o livro Os senhores cantadores, amos e poetas do Bumba Meu Boi do Maranhão, que reúne pesquisas e entrevistas com esses amos e cantadores, resgatando a sua história. O material também contém fotografias, DVD e CD com várias toadas.

    Nele, Papete mostra que o Bumba Meu Boi é feito de luta, sacrifício, paixão e poesia. Dos seus versos, nascem as toadas que conduzem a brincadeira mais importante do folclore maranhense.

    São vidas de muita dedicação e dificuldade para manter viva a cultura popular, pois esses homens, apesar de muito simples, muito humildes, possuem uma noção profunda da importância simbólica das suas tradições culturais, as quais mantêm acesa a chama da identidade e o sentido de pertencimento do povo, enfim, a sua alma coletiva.

    As canções de Papete marcaram época, e, até hoje, são presença certa nas festas juninas de todo o Estado do Maranhão. Boi da Lua, Catirina, Bela Mocidade, Coxinho, Bandeira de Aço, entre muitas outras que, só de lembrar, já me embargam a voz e marejam os olhos, pois remetem a doces lembranças da minha própria vida, e, sei bem, o mesmo ocorre com muitas outras pessoas.

    Seu talento musical e seu trabalho de resgate da cultura popular são reconhecidos no Brasil e no mundo inteiro. Para se ter uma ideia, na década de 1980, Papete participou três vezes do prestigioso Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, onde foi reconhecido como um dos melhores percussionistas do mundo.

    Sua obra e seu legado são periodicamente festejados, ocasiões em que diversos artistas cantam suas canções, como no Projeto BR-135, que, em 2013, homenageou os 35 anos do lançamento do álbum Bandeira de Aço.

    Nos últimos dias, as autoridades governamentais maranhenses e grandes artistas, como a célebre cantora Alcione, nossa conterrânea, se manifestaram, por ocasião do seu falecimento. Todos com muito pesar, mas, certamente, com o coração preenchido e agradecido pelo legado que herdaram do mestre Papete.

    Trata-se de uma perda inestimável.

    Para nossa sorte, todavia, José de Ribamar Viana, o nosso Papete, era mesmo um mestre, em todos os sentidos em que possamos conceber essa palavra. Com seu amor pela cultura popular e com sua presença mágica, conseguia inspirar e despertar esse mesmo sentimento naqueles que conviveram com ele e em todos que ouviam as suas canções, porque elas vão direto ao coração.

    No dia 10 de junho próximo, estarei na minha querida Bacabal, cidade de que fui Prefeito, cidade de um povo que eu amo e que acho que gosta muito de mim. Estarei no Arraial do Sesi, com a Profª Magna, Diretora do Sesi, para ouvir os cantores do nosso folclore; só que, desta vez, sem a presença habitual do nosso amigo e companheiro Papete.

    Tenho certeza de que seus discípulos, seus amigos e o povo maranhense jamais o esquecerão. Irão prestigiar a sua obra, levar adiante o seu legado e continuar a luta pela preservação do folclore e da rica identidade cultural do nosso querido Estado do Maranhão.

    Vá em paz, meu amigo Papete!

    Que Deus o receba de braços abertos!

    Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2016 - Página 22