Pela Liderança durante a 83ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos argumentos utilizados pelo PT com a intenção de deslegitimar o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Presidente da República.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas aos argumentos utilizados pelo PT com a intenção de deslegitimar o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Presidente da República.
Aparteantes
Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2016 - Página 40
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, DISCURSO, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, TENTATIVA, VINCULAÇÃO, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOLPE DE ESTADO, REGISTRO, IMPOSSIBILIDADE, PARALISAÇÃO, OPERAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, AUTOR, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL.

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, num belo dia do verão de 1968, Antônio Oliveira Salazar, que era ditador de Portugal - governou durante décadas aquele país, com mão de ferro -, para aproveitar o sol da tarde, sentou-se numa cadeira de lona, e a cadeira desabou. Salazar, então, bateu a cabeça numa pedra, e isso lhe provocou um dano cerebral gravíssimo no hemisfério direito do cérebro, responsável, entre outras coisas, por nos dar o sentimento da realidade. Ele, é claro, teve de ser afastado do governo. O Presidente da República nomeou outro primeiro-ministro - que era o título que ele ocupava -, para continuar o governo. Mas, para não dar a Salazar a visão e a sensação de perda do poder, seus ministros criaram uma fantasmagoria: despachavam com ele, simulavam reuniões de conselhos de ministros sob a presidência dele. E ele, embalado por essa ilusão, acabou por morrer em paz.

    Esse episódio me veio à lembrança quando li a última entrevista da Presidente afastada. Não é que eu deseje mal a ela, de jeito nenhum! Quero que ela tenha uma vida longa e saudável. Mas a vi refestelada numa poltrona do Palácio da Alvorada, onde está vivendo à tripa forra, reclamando, inclusive, porque não lhe serviam pão de queijo quente. E se põe a dar uma entrevista em que ela parece que está governando o Brasil - é uma coisa inacreditável! -, operando no surrealismo mais completo. E parece que ela está governando do jeito que governava quando era Presidente, antes de ser afastada, criando em torno dela um mundo irreal, esmerando-se em disfarçar sua própria responsabilidade, falando da crise como se não fosse culpa dela ou, pelo menos, em grande parte responsabilidade do seu governo, falando em desemprego.

    Olha o desemprego, temos 11 milhões de desempregados no Brasil, o que foi provocado por uma política econômica desastrosa, que arrebentou o Brasil, afundou o Brasil. Agora mesmo, tivemos de reconhecer pelo menos R$170 bilhões de déficit este ano. Foram dois anos consecutivos de queda do Produto Interno Bruto. "Ah, a área social!" Esse governo, ao longo dos 13 anos do reinado petista, deixou fechar 23 mil leitos do SUS. E a Pátria Educadora? Acabaram com o Ciência sem Fronteiras, aumentaram os juros e reduziram o período de carência do financiamento estudantil. O Pronatec, que foi um grande ornamento na vitrine do governo, foi reduzido pela metade, e por aí afora.

    Cria-se em torno dela uma fantasmagoria. Felizmente, a sua audiência se reduz cada vez mais. Talvez, faça uma reunião com blogueiros mercenários para repetir o de sempre. Mas ela tem um Ministro que a acompanha, esse sim, que é um gigante das letras jurídicas nacionais e que é também seu advogado, José Eduardo Cardozo.

    Ainda hoje ou ontem, se não me engano, um jornal argentino que se chama Página/12 adiantou aquilo que será a defesa apresentada pela Presidente na comissão que examina o impeachment. Não disse nenhuma novidade, é a ladainha a que nós já estamos assistindo, que tem sido repetida nesta tribuna e em entrevistas pelos seus correligionários: “Trata-se de um golpe, e a prova do golpe é que o Eduardo Cunha procedeu com vingança.” É como se tivéssemos no Senado ou no Congresso um sincerômetro para medir a motivação precisa dos atos que cada um pratica aqui dentro. Ah, se tivéssemos esse sincerômetro, tenho a impressão de que muitas reputações não ficariam de pé.

    Mas o próprio Ministro Teori Zavascki, ao repelir pela enésima vez as tentativas da Presidente e do seu advogado de deter o processo, já declarou que isso era uma questão absolutamente irrelevante, que é preciso analisar nesse processo as acusações que pesam contra ela, que são cometimentos, no meu entender, absolutamente claros de crime de responsabilidade.

    Agora, acrescenta-se outra. Ele, ex-Ministro Cardoso também, adiantou este argumento: “As gravações do Jucá. Estão tentando parar a Lava Jato. É a prova de que o afastamento da Presidente Dilma foi mera manobra para parar a Lava Jato." E a prova seriam as gravações recolhidas pelo ex-Presidente da Transpetro, que, aliás, nomeado, permaneceu durante todos esses anos no Governo do PT, na direção daquela empresa.

    Essas gravações, talvez, segundo ouvi, conforme declarações de um dos grampeados, apenas seja um gesto de benevolência com alguém aflito ou talvez até uma visão realmente de que os procedimentos dos procuradores não estariam de acordo com a lei e de que realmente essa operação seria abusiva. Algumas dessas pessoas que foram grampeadas podem ter efetivamente esse ponto de vista.

    Agora, Sr. Presidente, vamos falar aqui francamente entre nós. A Lava Jato não pode ser parada. Quem é que vai parar a Lava Jato? Nem se o Papa Francisco quisesse parar a Lava Jato - e ele não quererá -, não conseguiria. Ninguém! Para parar a Lava Jato, seria preciso fazer uma enorme combinação, muito além dos Senadores que foram grampeados. Seria preciso envolver todos os Ministros do Supremo Tribunal Federal, porque não basta o Teori Zavascki, encarregado especificamente da Lava Jato. Os demais todos tinham de entrar no jogo, todos, porque, conforme o objeto do inquérito, ele é distribuído para outros Ministros que são sorteados. Hoje é a Eletrobras; logo mais, será o BNDES, e assim por diante.

    Seria preciso envolver, nessa conspiração, além dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República, o Dr. Janot. E mais: além do Dr. Janot, seria preciso envolver todos aqueles procuradores que nós nos acostumamos a ver na televisão a cada etapa dessa operação, a começar pelo Dr. Dallagnol. Seria preciso também, além do envolvimento deles, trazer para essa conspiração fantasmagórica a Polícia Federal, não apenas aqueles que estão em Curitiba, mas também a hierarquia da Polícia Federal. Seria preciso trazer para essa conspiração, para abafar a Lava Jato, sabem quem mais? O juiz Sérgio Moro.

(Soa a campainha.)

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E seria preciso envolver toda a imprensa nesse negócio.

    Os senhores acham que uma história dessas fica de pé, que alguém pode acreditar num conto da carochinha desses? Obviamente, não!

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu não posso porque estou falando como Líder. Eu gostaria, mas, infelizmente... Estou desolado. Mas eu ficaria fascinado em debater sobre esse tema com o senhor em outra ocasião.

    Essa estória da carochinha não para de pé. Esse é apenas um tema que foi levantado. Além do tema da sinceridade do Presidente afastado da Câmara, há esse outro que agora é trazido à colação e que será seguramente apresentado na próxima quinta-feira pelos defensores da Presidente afastada.

    Quem realmente teve atitudes concretas para segurar atos processuais é gente que está do outro lado.

(Interrupção do som.)

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Quem não se lembra daquela farsesca nomeação do ex-Presidente Lula para a Casa Civil e da gravação da Presidente Dilma dizendo "olha, eu vou mandar aí o Bessias com o papel, e você usa quando for preciso"?

    Quem não se lembra das palavras, gravadas também, de inconformidade com a ação da Receita Federal, dos Procuradores do Ministério Público, proferidas pelo Presidente Lula?

    E, se é para dar crédito a delações - e não sou como a Presidente Dilma, que diz que despreza delatores; eu posso até desprezar delatores, mas não desprezo a delação, que pode ser um instrumento de prova -, lembremo-nos da delação de Delcídio do Amaral, que afirmou que combinou com a Presidente Dilma e com o Ministro da Justiça de procurar uma pessoa, um juiz que era indicado para o Superior Tribunal de Justiça mediante o compromisso, que teria que ser assumido por este, de livrar alguns empreiteiros da cadeia de Curitiba. Se é para dar crédito a delações, vamos dar crédito a essa também! Se é para dar crédito a gravações, vamos dar crédito também a uma gravação, que foi feita por alguém ligado ao Senador Delcídio, de uma conversa do Ministro Mercadante extremamente comprometedora nessa área de obstrução da Justiça.

    "Ah, querem, agora, acabar com a lei, restringindo delações premiadas e impedindo que alguém preso possa fazer esse tipo de acordo!"

(Soa a campainha.)

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois quem apresentou esse projeto de lei foi um dos mais destacados petistas da Câmara dos Deputados: o Deputado Wadih Damous. Está lá na Câmara dos Deputados. Não veio de um de nós do PSDB.

    Srªs e Srs. Senadores, esse tipo de argumento não se sustenta, não tem a menor viabilidade. Ele é apenas, como dizem nossos irmãos latino-americanos, un saludo a la bandera. Amigos da Presidente Dilma fazem aqui um discurso, talvez até motivados pela ideia de defendê-la, mas sabendo, todos, que ela não voltará, que ela não tem a menor condição de dirigir o País - a menor condição -, pela sua inépcia, pelo seu distanciamento da realidade, pelo ambiente radical de que ela se cercou, por isso tudo. E quem transformou a obstrução da Lava Jato numa doutrina foi o PT!

    Vejam, Srªs e Srs. Senadores, lembrem-se, da última resolução da direção nacional do PT, que aborda esse tema. Lembro aos senhores o que eles dizem. Dizem o seguinte: "Nós nos arrependemos por não termos posto um freio na conspiração reacionária da cúpula da Polícia Federal e do Ministério Público Federal."

(Soa a campainha.)

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Ou seja, batem no peito não para se dizerem arrependidos daquilo que fizeram de ruim para o País, mas batem no peito por não terem conseguido - felizmente, não conseguiram - barrar as investigações, que vão prosseguir, para o bem do nosso País.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2016 - Página 40