Comunicação inadiável durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do senhor Werner Ricardo Voigt, empresário e sócio-fundador da empresa de motores WEG.

Defesa da redução da taxa básica de juros.

Autor
Dário Berger (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Dário Elias Berger
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do senhor Werner Ricardo Voigt, empresário e sócio-fundador da empresa de motores WEG.
ECONOMIA:
  • Defesa da redução da taxa básica de juros.
Aparteantes
João Capiberibe.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2016 - Página 20
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, EMPRESARIO, FUNDADOR, EMPRESA, FABRICAÇÃO, MOTOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, REDUÇÃO, TAXA, JUROS.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente, Senador Acir Gurgacz. Cumprimento V. Exª e cumprimento também o Senador João Capiberibe.

    Na verdade, Sr. Presidente, a obrigação me leva até este momento importante para fazer dois registros.

    O primeiro: eu venho a esta tribuna para manifestar o meu profundo sentimento de pesar pelo falecimento ocorrido ontem, em Jaraguá do Sul, do empresário Werner Ricardo Voigt, sócio-fundador da empresa de motores WEG.

    Sr. Presidente, esse homem não emprestou apenas a primeira letra do seu nome para formar essa marca conhecida mundialmente como uma das principais indústrias de motores do mundo; esse homem foi um ícone do empreendedorismo catarinense e também do Brasil, mostrando a nossa principal característica de Santa Catarina, que é a característica do empreendedorismo, que deve ser sempre relembrada e que foi através do trabalho que foi construída essa grande empresa, hoje multinacional.

    O Sr. Werner, como era conhecido, emprestou a inicial de seu primeiro nome para batizar a WEG, empresa que fundou junto com Geraldo Werninghaus, também falecido em 1999, e Eggon João da Silva, que nos deixou em setembro do ano passado.

    Nascido em oito de setembro de 1930, descendente de imigrantes alemães, vindo da região de Düsseldorf, Werner sempre teve a eletricidade como uma das preocupações contínuas na cabeça. Desde menino, Werner sempre soube que os fios, os dínamos, os geradores e as bobinas fariam parte de sua vida. Aos seis anos, já demonstrava toda a sua inclinação para os assuntos da eletricidade, produzindo, inclusive, maquetes completas de serrarias, coisa impressionante.

    Parece-me, Senador Acir, que as pessoas já nascem prontas. O sucesso é previsível nos primeiros dias de vida.

    Na mesma época de infância, Werner também foi despertando para os prazeres da leitura, porque o avô, que era construtor e professor, recebia, na época, inúmeros livros e revistas técnicas da Alemanha.

    Isso se deu em um período difícil, inclusive. Eu, como descendente de alemães de pai e mãe, posso relembrar daqueles tempos difíceis, quando falar alemão era proibido. Muita gente foi torturada e perseguida exatamente por esse viés.

    Outro mestre que exerceu forte influência em sua formação foi Purnhagen - em alemão, é assim que se pronuncia -, eletricista e músico que o orientou profissionalmente a partir dos 14 anos de idade, tanto na área técnica quanto na artística, vindo Werner a se tornar um exímio clarinetista.

    Adolescente, foi morar em Joinville, onde estudava no Senoi e trabalhava na oficina de um senhor também chamado Werner, cujo sobrenome era Strohmeyer.

    Aos 18 anos, foi convocado para servir ao Exército em Curitiba, no Paraná. Após o serviço militar, conseguiu ser um dos dois soldados selecionados para frequentar a Escola Técnica Federal, onde se especializou em radiotelegrafia e eletrônica.

    No retorno a Joinville, passou a trabalhar na empresa Empresul, concessionária de energia elétrica; onde permanece por apenas dois anos. Aos 23 anos de idade, atuou na oficina Kanning & Weber.

    Em setembro de 1953, Werner dá início ao seu lado empreendedor e abre o seu próprio negócio, instalando uma pequena oficina no centro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. A oficina evoluiu, sempre prestando serviços gerais, desde equipamentos domésticos, até em residências e fazendas, no interior do município.

    Além disso, Werner era o assistente quase que exclusivo para a manutenção de cerca de duas dezenas de veículos motorizados que existiam na época. Na época, em Jaraguá do Sul, havia aproximadamente duas dezenas de veículos motorizados. O Sr. Werner era quem fazia a manutenção, na época, desses veículos, e dos de toda a região.

    Também montava rádios e radiolas, fabricava e instalava geradores, realizava bobinagens, orientava a instalação de rodas d´água, que, na época, eram muito importantes.

    Enfim, a oficina de Werner atendia a praticamente todas as necessidades na área. E os serviços apareciam sempre em maior quantidade, tanto que foram contratados vários auxiliares, e a empresa cresceu.

    Ato contínuo, em 1961, juntamente com Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus, funda a WEG, que na época produzia apenas motores elétricos.

    Do motor elétrico, a WEG começa a diversificar sua produção, passando a produzir sistemas elétricos industriais completos, incluindo geradores, transformadores, componentes e sistemas de automação industrial.

    Werner participou diretamente dos destinos da empresa, levando-a a ser uma das maiores do mundo no setor, com participação destacada, inclusive, no mercado nacional e internacional.

    Assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, perde Santa Catarina, perde o País um de seus maiores exemplos de como empreender e de como atuar no mundo industrial de forma competente e responsável.

    De Werner Ricardo Voigt fica a lição de que devemos acreditar na nossa força de trabalho. Werner nos deixa um legado de competência profissional e pessoal, além do mais importante: uma herança de cidadania e de amor a sua terra e a sua gente.

    Esse era o registro que eu queria fazer.

    E gostaria de fazer também outro registro, Senador Capiberibe: quando estava no carro vindo para o Senado Federal, pude acompanhar o pronunciamento de V. Exª, Senador Acir. E, já no final, parece-me que V. Exª abordou um tema sobre o qual tenho batido e que é importante: a questão dos juros. E me chamou muito a atenção que um ponto percentual dos juros - V. Exª relatou, e eu ouvi, prestei bastante atenção - representa cerca de R$14 bilhões de pagamento do serviço da dívida e dos juros. Bem, está aí um ponto que não foi abordado pelo novo Governo, de cuja Base eu faço parte - agora as coisas se inverteram, Senador Capiberibe. E eu não posso acreditar que nós precisamos manter uma taxa de juros de 14,25%, quando sempre me explicaram - eu não sou economista - que o objetivo principal da taxa de juros elevada é conter os processos inflacionários. Mas os processos inflacionários, pelo que posso perceber, dão-se invariavelmente pelo excesso de consumo, que aumenta o preço. E, aumentando o preço, aumenta a inflação. E é o que não está acontecendo hoje no Brasil. Na verdade, o que está acontecendo hoje é exatamente uma situação inversa.

    Portanto, parece-me racional que os juros pudessem ser baixados imediatamente. E, se nós baixarmos dois, três, quatro pontos percentuais... Vamos baixar quatro pontos percentuais. Vamos multiplicar quatro pontos percentuais por catorze. Quanto daria isso? R$60 bilhões aproximadamente. Com isso, nós já alavancaríamos grande parte do déficit fiscal, hoje de R$170,5 bilhões.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - O Senador me permite um aparte, Senador?

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Eu permito, com muito prazer, o aparte de V. Exª.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) - Senador, essa é uma questão que nós não debatemos aqui, nem no plenário do Senado, nem no da Câmara dos Deputados. Eu cheguei já no finalzinho do discurso do Senador Acir, e realmente ele tem inteira razão. Como é que pode uma economia, como a economia americana, ter juros quase negativos? E, no entanto, a inflação é absolutamente controlada! Há outra questão que também me intriga: a base monetária no Brasil não pode ultrapassar 5%. Quando a moeda circulante atinge um pouco mais de 5%, o Banco Central recolhe todos os depósitos dos bancos e transforma isso em título, pagando 14,25% de juros sem qualquer risco para os bancos - não é à toa que os bancos têm lucros fantásticos no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, e nos países industrializados, nos países de ponta, a base de moeda circulante chega a 40%, e não há inflação. Ou seja, juros baixos, muito dinheiro circulando e sem inflação. E nós caminhamos na contramão porque este País tem dono, tem dono; aqui meia dúzia é que manda na economia, manda na política. Nós sabemos, aqui nesta Casa, que nós mandamos pouquíssimo ou quase nada. Aqui todo mundo, de vez quando, tem uns ataques de inutilidade porque é meia dúzia que determina e que manda. Então, é um País que continua tendo donos. A gente se libertou dos portugueses, caímos na mão dos ingleses e agora estamos na mão do capital financeiro internacional. É uma tragédia! Eu quero parabenizá-lo pelo aparte que V. Exª fez ao discurso do Senador Acir. Eu ia intervir naquele momento, mas senti que ele já estava concluindo. Eu queria lhe agradecer o aparte. Obrigado.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Eu agradeço a V. Exª e continuo relatando esse assunto, porque precisamos fazer da nossa voz uma regra que possa ser ouvida, pelo menos, e que algumas atitudes possam ser tomadas.

    (Soa a campainha.)

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Senador Acir, eu sou administrador de empresas e não posso me conformar em analisar o demonstrativo da execução orçamentária do Brasil de 2015 e lá perceber que o serviço da dívida mais os juros representaram quase um trilhão de reais. E o que é pior: se nós tivéssemos dinheiro suficiente para pagar essa dívida, e o serviço da dívida, e os juros, etc, etc, etc, tudo bem, mas como é que nós vamos pagar? Foram pagos R$940 bilhões, no ano passado, de juros e do serviço da dívida - é só pegar a execução orçamentária de 2015 do Governo Federal -,...

    (Interrupção do som.)

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Mais um minutinho, Senador Acir?

    (Soa a campainha.)

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - ... enquanto, Senador Capiberibe, nós investimos em saúde menos de R$100 bilhões; investimos em educação menos de R$100 bilhões; investimos nas estradas deste País menos de R$10 bilhões. É por isso que nós não temos rodovias duplicadas, e, além de não serem duplicadas, todas elas estão esburacadas e com dificuldade de transportar a riqueza deste País. Então, na verdade, acho que nós temos muitos pontos a discutir.

    E o Senado Federal não pode se apequenar diante de um dado tão relevante, pois é só pegar a execução orçamentária que saltam aos olhos aqueles números exagerados, e nós vamos ver lá que são juros, serviços da dívida, etc., enquanto as nossas famílias, os nossos filhos, os nossos irmãos brasileiros e brasileiras estão ...

    (Soa a campainha.)

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - ... agonizando nas portas dos hospitais - já vou concluir, Sr. Presidente - sem atendimento; onde os nossos alunos, os secundaristas estão revoltados com a qualidade da educação, com a infraestrutura que é fornecida para que eles possam, evidentemente, se formar e construir o futuro deste País. Portanto, é um tema que eu deixo aqui para reflexão.

    Agradeço o aparte de V. Exª, Senador João Capiberibe, e também cumprimento, para concluir, o tema tão bem abordado pelo Senador Acir, que traz à tona, na minha opinião, talvez o maior problema que nós temos que enfrentar a curto prazo que são as elevadas taxas de juros, porque delas decorrem também 400% do cheque especial, 500% do cartão de crédito, e por aí vai.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2016 - Página 20