Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro de audiência com o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, acerca da questão de controle de estoque de grãos.

Considerações sobre a atuação do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal em investigações de corrupção envolvendo a classe política.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Registro de audiência com o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, acerca da questão de controle de estoque de grãos.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Considerações sobre a atuação do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal em investigações de corrupção envolvendo a classe política.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2016 - Página 51
Assuntos
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • REGISTRO, AUDIENCIA, BLAIRO MAGGI, MINISTRO, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), LOCAL, COMISSÃO DE AGRICULTURA, SENADO, ASSUNTO, ESTRATEGIA, CONTROLE, ESTOQUE.
  • COMENTARIO, PROCEDIMENTO, AUTORIA, JUDICIARIO, MINISTERIO PUBLICO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, CLASSE POLITICA.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos assistem pela TV Senado, todos que nos acompanham pelas redes sociais. Sr. Presidente, tivemos hoje, na Comissão de Agricultura, uma audiência com o Ministro da Agricultura e toda a sua equipe justamente sobre as dificuldades e também as saídas, as soluções para a agricultura no Brasil. Uma audiência muito boa, em que todos ficaram satisfeitos com a presença do Ministro, porque é um Ministro desta Casa e também um membro da Comissão de Agricultura.

    Falamos sobre controle de estoques - nós que tivemos um problema sério com feijão, falta de feijão -, também sobre o estoque de milho. Tivemos ali um bom debate e esperamos que, dentro em breve, encontremos saída para a pesca, que agora está no Ministério da Agricultura, para todos os entraves que atrapalham o nosso setor produtivo. O Mato Grosso, por exemplo, tem um grande desafio; o Rio Grande do Sul já é mais estruturado, já tem uma maior infraestrutura; o Mato Grosso produz muito, mas não tem uma infraestrutura consolidada.

    Dito isso, Sr. Presidente, eu também não tinha como me furtar aos assuntos que foram noticiados hoje no País. Eu vi aqui, Sr. Presidente, vários Senadores passarem falando muito que a Polícia Federal, que o Ministério Público passou a fazer investigação, passou a ter autonomia, passou a fazer muitas operações só a partir do Governo Lula - lógico que, por via transversa, dizendo que só está investigando por causa do Governo do PT.

    Eu quero rememorar que o Presidente Itamar Franco... É bom que se fale a verdade, que se diga a verdade, que se conte o outro lado, porque o grande responsável por tudo o que está acontecendo hoje no Brasil nesse setor foi Itamar Franco. Itamar Franco, nos idos de 1993, contratou em torno de 5 mil policiais na esfera federal, Senador Paim. Acontece que, no meio policial, como no Ministério Público ou na academia... Quando um professor entra na academia, na universidade, ele não constrói uma tese que vira Prêmio Nobel da Paz, Prêmio Nobel de Química, Prêmio Nobel de Física no dia seguinte àquele em que entrou. Demora, tem uma maturação. Ele vai dar aula em alguma disciplina, vai construindo e, a partir de certo tempo, entre oito e dez anos, ele começa a ter uma maturação e começa a produzir intensamente e com qualidade. Antes, é uma parte de aprendizado, de como funciona, de como as coisas se encaixam. E ele, então, passa a ser aquele professor, aquele cientista que vai produzir, que vai trazer patentes.

    Pois bem, no Judiciário, no Ministério Público, na Polícia, também é assim. Esses profissionais entram, vão aprendendo e, a partir de certo tempo, começam a produzir com qualidade. Nós tínhamos uma... Cito, por exemplo, o caso da Polícia Rodoviária Federal, em que até os idos da década de 1990, os policiais entravam com um salário muito pequeno; ela era ainda ligada ao DNER, até 1988. Mas, em 1993, Itamar chama 4 mil policiais de uma tacada só, com um salário atraente. Alguns anos depois, essa Polícia tornou-se uma polícia de excelência, uma polícia que não deixa a desejar a nenhuma corporação desse naipe no mundo - com helicópteros, com equipamentos. Uma turma que entrou com muito gás, com recursos humanos de alta qualidade - médicos, engenheiros, físicos, muitos profissionais.

    Tive o privilégio de entrar naquela época, em 1993. Vi esse desenrolar e acompanhei também a evolução da coirmã, a Polícia Federal. Esses frutos não começaram imediatamente, não foi imediatamente que a árvore começou a dar frutos; foi justamente quando o Presidente Lula entrou. Ele colheu boa parte, é bom que se faça essa justiça. Foi só por causa do PT? Não foi por causa do PT, do PSDB nem de ninguém. Esses órgãos são autônomos. Um partido ou um presidente não consegue tirar uma multa de trânsito, porque hoje é tudo dentro do sistema. Um promotor não está adstrito a pressão política, ele é concursado.

    É como a história do TCU aqui. O TCU, por exemplo, é ligado a esta Casa. É um órgão de investigação e está ligado ao Senado Federal. Qual Senador tem ingerência sobre um técnico daqueles, do TCU? Nenhum. Ninguém tem, porque eles são independentes. Então, dito isso, quero só deixar claro: a Polícia Federal, o Ministério Público, o juiz Sérgio Moro... Não é por causa do PT. Não é o PT. "Ah, é o PT, agora, que está combatendo a corrupção." Não. O PT não combate a corrupção. Quem faz esse combate são as instituições, os órgãos... Por isso é que eu digo que não há ingerência partidária. Então, sem isso de querer pegar esse mérito de dizer: "Olha, é o partido que mais combate a corrupção."

    Aclarada essa mentira, vamos a outro ponto: "Olha, estão fazendo o impeachment para acabar com a Lava Jato." Não é para acabar com ela. Isso não existe. Isso é mentira deslavada. Sabem por quê? Porque, cada vez que a Lava Jato atinge alguém, ela é extremamente criticada aqui, seja por A ou por B. Então, a Lava Jato não é do Governo e não é do partido A ou do partido B. A Lava Jato é uma operação que surgiu, e ela não tem dono. Ela é do povo brasileiro, é do Ministério Público, do Judiciário. São as instituições funcionando. Então, não existe isso de dizer: "Olha, estão fazendo a Operação Lava jato para acabar com o impeachment." "É o Temer que está fazendo, é o Michel que está fazendo, é o Romero Jucá..." Não. Ninguém está fazendo Lava Jato para acabar com o impeachment. Isso é falácia.

    Então, aclarada também mais essa inverdade, mais essa mentira, deixo claro para o povo brasileiro: não existe complô, aqui, formado para acabar com a Lava Jato através do impeachment. Não existe isso. É conversa fiada. Tanto é que, quanto a esses mesmos Senadores que estavam querendo proteger a Lava Jato - falando em proteção da Lava Jato e criticando, dizendo que o Romero estava querendo acabar com a Lava Jato -, eu tive o cuidado de ver e há uma lista dos que foram reclamar, no CNJ, do Sérgio Moro. Então, não existe isso. Não é verdade que aqui exista um complô para acabar com a Lava Jato ou que esse impeachment é para acabar com a Lava Jato. Não é, porque a Presidente não tinha como ter ingerência ali - como eu já disse, são funcionários públicos, concursados, independentes, que estão tocando aquilo ali. Ninguém tem. O povo brasileiro pode ficar tranquilo: a Lava Jato, mal ou bem, vai até o final. Eu tenho dito: essa Lava Jato é como um trem que saiu da estação; vai passar por muitas estações. A minha vida inteira... Eu passei 20 anos trabalhando e assistimos a essas operações. Elas começam e só vão terminar na última estação. Então, o povo brasileiro pode ficar tranquilo: a Lava Jato vai até o seu final. Não existe isso de que alguém vai conseguir... Pode até querer, mas não consegue acabar com a Operação, porque ela tem vida própria. É isso que está acontecendo.

    Ontem, na Comissão do Impeachment, um Senador disse algo interessante. Ele citou, até, em provocação ao Magno Malta, Eclesiastes 3. Ele disse... Eclesiastes 3 diz o seguinte: que há tempo para tudo debaixo do céu - tempo de rir, tempo de chorar, tempo de plantar, tempo de colher, tempo de ajuntar, tempo de espalhar... E por aí vai. E por que eu estou citando Eclesiastes 3? Porque hoje, ali na Comissão, eu senti que, para boa parte dos Senadores, era tempo de chorar. Tempo de velório.

    E a oposição chegou ali e respeitou. Porque velório, não importa de quem quer que seja, pode ser do seu inimigo, você tem a obrigação de respeitar. Velório é lugar de respeito, velório é lugar onde você fica quieto e escuta. Não fala nada, quando muito cumprimenta os parentes, é lugar de respeito.

     Bem, o ambiente político às vezes é uma selva. Mas hoje, de que jeito a oposição se comportou desde as primeiras horas da manhã? Eu, por exemplo, moro ao lado do apartamento da nossa Senadora, cheguei ali na Comissão e fiquei quieto, respeitando a dor dos amigos e dos colegas da Senadora. Obviamente, a ninguém é dado o direito de sapatear em túmulo alheio, tenho dito isso.

    Na época em que aconteceu aquele episódio com o Senador Delcídio do Amaral, o meu Partido exigiu que entrássemos com uma representação no Conselho de Ética. Como eu era o único representante, cumpri o que o Partido tinha dito, mas não sapateei em cima da situação. Votei pelo afastamento, mas não sapateei, porque eu não acho que isso...

    A Bíblia diz: "Aquele que está em pé olhe para que não caia!" Então, eu procuro cuidar muito de mim e não sou um ser perfeito. Essa é a maneira como me conduzo. E a oposição hoje se conduziu dessa forma aqui.

    Mas eu achei de uma extrema falta de senso o que aconteceu. Sabem o que aconteceu? Aqueles que estavam chorando começaram a atacar - a atacar. E eu não poderia ir para casa hoje em paz se não dissesse isso aqui. Eu não ia tocar no assunto hoje, mas... Senador Paim, é por isso que cada dia eu o admiro mais pela sua postura, pela forma como V. Exª se conduz aqui. E isso não é confete, eu já tenho dito isto muitas vezes e tenho dito no meu Estado: V. Exª é um Senador no qual me espelho. Fiquei muito indignado de ver que no momento de choro, no momento que era para estar na defesa - é legítimo que defendam a Senadora, é do Partido, é uma irmã -, aproveitar esse momento para atacar a oposição! Deveriam ter devolvido pelo menos o respeito, e quando eu digo deveriam não incluo o Senador Paim.

    Operação policial é terrível, arrebenta com o psicológico daqueles que são atingidos. Por quê? Porque, no momento em que a polícia chega, é a longa mão do Estado, é a ponta de lança, é a vídia, a parte mais dura do Estado que chega. Quando você responde a processo, o advogado toca, não é tão chocante; mas quando a polícia chega, é devastador. E eu entendo isso.

    Agora, politizar isso para acusar a oposição é terrível. Eu ouvi quieto da minha cadeira ali, mas pensei: "Não posso ir para casa sem falar". Por quê? Porque o Partido estava cheio de polícia, a polícia estava dentro do Partido! E eu respeito a história do PT, respeito a história do PT porque ajudei a construí-la. Eu sonhei esse sonho junto, Senador Paim.

    Mas eu achei a atitude pequena. Como é que você pode acusar o outro quando o seu partido está dentro, está lotado de polícia? Quando você está com a maioria dos seus presos? Quando o seu presidente de honra está correndo atrás de um cargo de ministro para não ser preso? Não se faz isso. Não se faz guerra de estilingue quando o seu telhado é de vidro. Engoli em seco ali, ouvi tudo isso, mas não posso aceitar calado.

    Outro versículo diz o seguinte: "Retira a trave que está no teu olho para depois olhar o argueiro do teu irmão". Eu tenho feito críticas aqui, críticas conjunturais, mas não gosto dessa crítica de apontar o dedo para o outro.

    Tem sido constante na Comissão do Impeachment. Esses Senadores que aqui falaram hoje - ali são três minutos para fazer pergunta - gastam dois minutos e trinta segundos falando dos outros e trinta segundos para defender a Presidente. Esse é o tipo de comportamento que não acrescenta nada à boa discussão política. O embate político tem que haver no campo das ideias.

    E volto a remeter ao Senador Paim, que é um desses que fazem o embate duro. Quando mexem com as suas bandeiras, ele sobe ali, e eu já vi um touro ali brigando pelas suas bandeiras. O debate político tem de ser esse, não o debate pessoal.

    Há um ditado que diz o seguinte: "Os grandes homens falam de projetos, os medíocres falam de coisas e os imbecis falam de pessoas". Eu fico com o pé atrás quando vejo a pessoa falando do outro pessoalmente. Isso depõe muito. Para mim, depõe mais contra quem fala do que quem está sendo falado.

    Por isso, eu não gosto desse debate, agora, me revolta e hoje tive de entrar nessa seara de falar. Não têm moral para falar de ninguém! Não têm moral! E, quando a gente não tem moral, a gente tem que ficar quieto. Esse debate do impeachment é um debate que tem de ser feito. Ótimo, vamos por aí. Agora, quando você está com quase todos os seus companheiros na cadeia ou sendo acusados, você tem de ficar quieto. Retraia-se, procure ajudar defendendo. Agora, não dá para aceitar o que eu acabei de ouvir.

    As delações, as acusações servem para os outros. Quando sai alguma coisa que o Janot manda, passam o dia inteiro lendo: "Olha aqui, o Janot falou isso aqui!" O Ministério Público faz as acusações, o papel do Ministério Público é acusar. É dessa forma. É que nem petição de Vara do Trabalho. Às vezes, você pagou todos os direitos do seu funcionário. Ele entra na Justiça contra você, pede hora extra, pede não sei o quê, pede... É uma lista do tamanho... Você fica maluco e fala: "Não, espera aí". Aí, vai-se o processo e vai ver o que daquilo dá para fazer.

    O Ministério Público, quando ele acusa, acusa às vezes no todo. Em dúvida, pro societate. É o que se fala. Tem qualquer indício, acusa. Depois é que se vai ver se aquilo é verdade ou não. É assim que é. Então, o que o Ministério Público falou é verdade? Pode ser. Pode ser que seja, pode ser que não. É por isso que há processo. Mas aqui o que tem sido tomado? Se acusa Paulo Paim, que é meu adversário, bom, então, está acusado e está condenado; mas se acusa um que é do meu partido, não, vamos ver, isso não é bem assim.

    Acabei de ouvir aqui na tribuna. Porque dois de certo partido foram acusados recentemente, dois baluartes, inclusive uma vestal; uma vestal que vive na tribuna da Câmara apontando o dedo para os outros. Caiu, está quietinha por aí. Mas os seus companheiros estão dizendo: "Não, não é bem assim, o problema é o sistema".

    Por isso que eu digo: o debate precisa ser feito em outros níveis, em outros termos. Depois reclamam que os políticos estão sem moral. Sabem por quê? Porque quem está lá do outro lado da TV e vê isso, vê toda hora a mentira, as manobras, essa coisa tacanha e compara... A pior coisa do político é quando ele começa a subestimar a inteligência daqueles que o colocaram aqui. A mentira é que nem as nuvens, ela tampa às vezes o sol, mas o sol uma hora vai brilhar. Não tem detergente melhor do que a luz do sol. Então, a gente pode até vir aqui, usar essa tribuna, mentir e mentir, mas a verdade vai vir à tona.

    Por que será que Paulo Paim, um homem sem dinheiro, um trabalhador que não foi para Harvard, não foi para o MIT, por que será que ele já está aqui em inúmeros mandatos? Quantas vezes a Polícia Federal o colocou num camburão e o levou? O eleitor julga isso, ele olha essas coisas. Então, não adianta eu começar a falar contra a honra dele aqui. Não vai pegar. Por quê? Porque só se sustenta quando é verdade.

    Então, eu tenho feito o contraponto dessas coisas aqui, porque tem gente que parece que não entende uma coisa: existe um novo Brasil surgindo aí, existe um Brasil subterrâneo que está aí. De repente, esse povo, em 2013, foi para as ruas. Pensavam que eram por vinte centavos, depois não eram vinte centavos. E eles vieram para as ruas de novo e estão aí empurrando. Está saindo a Dilma agora. O povo tirou. Podem até fazer milhares de discursos: "Olha, foi o PSDB, o culpado é FHC, o culpado é fulano". Podem pôr a culpa em quem quiser, mas a grande realidade é que é esse novo Brasil que está tirando.

    Sabem por que aqueles Deputados votaram? "Ah, foi desvio de finalidade do Cunha." Foi nada. Foi nada. Aqueles Deputados votaram com medo da pressão, da pressão popular. Esta Casa aqui, por exemplo, estava com inúmeros projetos indo para um lado, em 2013. De repente, com aquela pressão das ruas - e o Senador Paim acompanhou isso -, mudou-se totalmente o veio. Não há ser vivo na face da Terra com instinto de sobrevivência maior do que o político. Mudaram totalmente o curso: pressão popular.

    Então, esse novo Brasil está aí. O que a classe política vai fazer nesse novo momento? Eu não sei, eu vejo que não há saídas ainda. Mas eles estão passando um recado claro: "Olha, tem que fazer diferente". Não estou querendo fazer aqui discurso de vestal, não. Eu estou dizendo que está aí. Essa nova meninada que está chegando aí repudia cada um de nós aqui; não repudia a Dilma, não, Michel, ou qualquer... Repudia a política.

    Isso é ruim, porque a sinalização foi passada. Eles é que estão indo para a rua. Então, temos de nos reinventar, reinventar. E reinventar talvez seja voltar ao primeiro amor, Senador Paulo Paim. Sabe qual é o primeiro amor? Aquele amor que fez Paulo Paim entrar na política. Aquele amor e aquela conduta que fizeram Ruy Barbosa, patrono desta Casa, em seus escritos, ficar na história.

    Vamos ter uma nova política? Não vamos ter uma nova política, porque não existe outra política. Existe a política, a política correta que se deve fazer. É óbvio que temos n reformas para fazer, mas o que estou alertando é que... Olha, gente, não tentem pessoalizar. Talvez, num debate pequeno, se quiserem culpar um simplesmente para acusar o adversário, façam isso. Pessoalizar no Moro ou em fulano e beltrano. Não, é uma coisa maior que está aí.

    Polícia Federal. O grande debate é que a Polícia Federal tem errado. Gente, se a Polícia Federal errou há todas as instâncias no Brasil, todas as instâncias possíveis para corrigir. Entrou num apartamento que não era para entrar? Tem corregedoria e funciona, conheço bem e funciona.

    Certa vez, Senador Paulo Paim, eu estava de madrugada em casa. Chegou todo esse aparato, com televisão e tudo. A polícia chegou e arrombou a minha casa, entrou, com criança e tudo, me colocaram dentro de um camburão e me levaram. Meu coração quase saiu pela boca. O que estava acontecendo? Foram descobrir, 15 minutos depois, que tinham entrado na casa errada. Tinham entrado na casa errada! No bairro em que eu morava ficaram achando que eu era bandido. O que eu fiz? Não fui politizar, não. Eu era candidato a Deputado Federal. Sabe o que fiz? Entrei na Justiça e já ganhei primeira instância. É assim que a gente deve fazer.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Sem querer me delongar muito, Senador Paulo Paim, temos agora também o Sérgio Moro extremamente atacado. O que tenho dito em relação à Polícia Federal é a mesma coisa em relação a Sérgio Moro. Quem é Sérgio Moro? É um servidor público.

    Senador Paulo Paim, não há lei que funcione mais no Brasil do que o danado do Código de Processo Administrativo; não há coisa que funcione mais do que a Lei nº 8.112; não há coisa que seja mais draconiana do que a Lei da Magistratura. O Juiz Sérgio Moro é um servidor público passível também de erros. Por isso, quem se sentir aviltado pode reclamar ao Conselho Nacional de Justiça, como já reclamaram; pode invocar a Loman. Mas o que irrita no Sérgio Moro não são os seus erros; o que tem irritado muita gente no Sérgio Moro é o diabo da eficiência. Ela é escandalosamente grande. Enquanto existe um nível de desacertos nas estatísticas do Judiciário, na dele não chega a 3%. Essa eficiência amedronta.

    É o mesmo discurso que eu falava... Não queriam o Senador Antonio Anastasia de jeito nenhum na Relatoria da Comissão de Impeachment. Estou fazendo esse paralelo só para fazer um comparativo. Depois fui descobrir por que não queriam. Sabem por quê? Pela eficiência, pelo conhecimento. Conhecimento assusta. Ter um adversário que detém conhecimento é terrível! É a mesma coisa de jogar e o seu adversário ser o Messi.

    Agora há pouco - e isso tem sido batido aqui quase como uma reza constante, como um pingo d'água -, também ouvi dizer: "Estão tirando uma Presidente honesta, uma Presidente que não cometeu crime algum, e não há nenhuma investigação contra ela." E tentam politizar essa coisa. Lógico, é um processo político e está correto.

    Agora, há alguns mitos, e é importante colocá-los para serem derrubados. Primeiro, a PGR tem um inquérito, sim, contra a Presidente Dilma, com investigação, para investigar possível obstrução da Justiça, com tudo que foi dito já. Mas aí tenta-se desqualificar esse processo como se: "Olha, quatro decretos e pedaladas." Como se fosse uma coisa do nada. Não, nós estamos investigando coisas gravíssimas. E tem sido acusado como se estivesse levando a Presidente para a forca por um nada. Não, não é por um nada. Nós estamos em uma grave crise neste País, que foi construída pela Presidente, sim. Ela foi a timoneira desse navio. "Ah, outras pessoas ajudaram!" Mas ela era a principal e está sendo investigada, com todas as fases, com todas as delongas. Longuíssimo e amplíssimo, eu diria - como José Dias do personagem de Dom Casmurro -, direito de defesa.

    E estamos sendo acusados a todo o momento de estar com um entendimento preconcebido. Eu tenho simplesmente dito o seguinte: talvez seja de um lado e de outro, porque, antes de o processo chegar aqui, no Senado, já se dizia que era golpe. Como se o processo não tinha entrado ainda nessa fase de saber se havia crime ou não? Mas é o debate político, e esse é válido. É lícito e é direito daqueles que estão respondendo a um processo que se defendam.

    Agora, para encerrar, Senador Paulo Paim, o que não dá para aceitar é você levar pedrada, ser atacado, como eu vi hoje aqui, e se jogar para os outros a responsabilidade, enquanto estava o partido se esfacelando na rua, em todas as emissoras de TV. E aí vêm dizer, subir aqui e fazer discurso de santidade, como se fosse a maior vestal da santidade. Não se faz isso! Enquanto eu estiver aqui, vou fazer esse contraponto. Não venha bancar de santo e acusar os outros, estando em uma situação como essa. A sede do partido lotada de polícia, os companheiros sendo presos, e aí vem aqui falar de um morto. O sujeito morreu ontem! Respeitemos os mortos.

    Há poucos dias, estava acontecendo um debate aqui e vieram falar de Thomaz Bastos. Eu falei: olha, inclua-me fora dessa! Ele não está aqui para se defender. O rapaz morreu ontem, era um empresário... Vir aqui levantar que... O Eduardo Campos morreu, que se investiguem os vivos, e quem estiver vivo que pague por seus pecados. Falar dos mortos aqui para justificar que está em dificuldade, não! Cuidemos de nossos erros.

    Mas é esse tipo de comportamento que talvez tenha levado à derrocada desse grande sonho. No PT, há só gente ruim? Não! Cansei de repetir: estamos aqui diante de um dos maiores baluartes da política brasileira. E ele é de onde? Do PT, desde o seu início. Agora, há muita gente que precisa tomar um chá de personalidade, um chá de caráter, para aprender a fazer política, a política que faz o País ficar maior, que faz o debate ficar maior.

    Estamos no Senado Federal brasileiro e é uma pena que, às vezes, as pessoas tenham que assistir - e as pessoas assistem muito à TV Senado - e tenham que ouvir essa mentirada para justificar malfeito. Como eu disse, não gosto de apontar, mas não posso tolerar esse tipo de comportamento.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2016 - Página 51