Discurso durante a 87ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da manutenção do calendário original dos trabalhos da comissão processante do impeachment de Dilma Rousseff.

Apreensão com a possibilidade de redução de conquistas sociais com Michel Temer no exercício da Presidência da República.

Leitura de trechos de gravações feitas por Sérgio Machado, constantes de sua delação premiada.

Crítica às propostas do Governo Federal para solução da crise na economia nacional.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Defesa da manutenção do calendário original dos trabalhos da comissão processante do impeachment de Dilma Rousseff.
CIDADANIA:
  • Apreensão com a possibilidade de redução de conquistas sociais com Michel Temer no exercício da Presidência da República.
PODER LEGISLATIVO:
  • Leitura de trechos de gravações feitas por Sérgio Machado, constantes de sua delação premiada.
ECONOMIA:
  • Crítica às propostas do Governo Federal para solução da crise na economia nacional.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Ana Amélia, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2016 - Página 12
Assuntos
Outros > SENADO
Outros > CIDADANIA
Outros > PODER LEGISLATIVO
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • DEFESA, MANUTENÇÃO, CALENDARIO, TRABALHO, COMISSÃO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • APREENSÃO, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, DIREITOS SOCIAIS, SITUAÇÃO, MICHEL TEMER, EXERCICIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ENFASE, SAUDE, EDUCAÇÃO.
  • LEITURA, PARTE, DELAÇÃO PREMIADA, AUTORIA, SERGIO MACHADO, EX SENADOR, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, GRUPO, SENADOR.
  • CRITICA, PROPOSTA, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, AUTORIA, GOVERNO FEDERAL.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Acir Gurgacz, quero cumprimentar V. Exª, pois chegamos a esta sexta-feira, confesso, até cansados pelo ritmo de trabalho que tivemos esta semana. Ontem, uma reunião da comissão do impeachment, que começou às 10h, foi até às 21h. E eu quero começar, Sr. Presidente, falando sobre isso, porque eu acho que a comissão que discute o impeachment não pode atropelar prazos.

    Na semana passada, o Senador Anastasia apresentou um cronograma de trabalho dessa primeira fase da pronúncia, que iria até os dias 1 e 2 de agosto. Aí, nós teríamos mais dez dias, e a discussão viria para o Plenário para o julgamento. Ontem, nós fomos surpreendidos, porque houve uma antecipação desses prazos em 20 dias. Vejam bem: o Supremo já definiu que o rito desse impeachment tem que ser o mesmo rito do impeachment de 1992, do Collor. O mesmo prazo. Eles anteciparam em 20 dias! É como se um processo de julgamento que poderia ser feito em até 180 dias eles quisessem fazer em 45 dias.

    Por que mudaram de posição? Por que, na semana passada, o Senador Anastasia dizia uma coisa e ontem houve outra decisão? E aí faço justiça ao Presidente Raimundo Lira, que, depois dos nossos protestos, disse que iria conversar com o Presidente Lewandowski e adiou a definição do cronograma para a próxima segunda-feira, às 16h, quando teremos outra reunião da comissão do impeachment.

    A mudança de posição, tentando antecipar prazos, foi por pressão desse Presidente biônico interino Michel Temer. Está em todos os jornais. Radar: "Preocupado com troca de votos, Temer quer desfecho breve para impeachment". "Eliseu Padilha, ontem, às 13h, deu uma entrevista em que falava para todos os jornais do País sobre a preocupação com a troca de votos". "Temer quer desfecho breve para impeachment." Aqui: "A preocupação com a possibilidade de que eles votem em defesa de Dilma aumentou com a crise provocada pelas gravações do delator da Operação Lava Jato Sérgio Machado, que derrubou dois Ministros de Temer, o Senador Romero Jucá, ex-Planejamento, e o Consultor Jurídico do Senado Fabiano Silveira, ex-Transparência..."

    Então, é um fato concreto.

    Depois, pegou tão mal a entrevista do Eliseu Padilha, que ele coloca no Twitter "Não, mudou o discurso" e diz que agora está seguro quanto ao placar de votação. Não está seguro, porque esta Casa é sensível, sensível aos fatos, sensível à mudança de opinião da sociedade, o que está acontecendo.

    Tenho subido a esta tribuna para pedir pesquisas. Datafolha, coloque uma pesquisa em campo! Por que não há pesquisa de avaliação do Governo do Temer? Por que não há pesquisa sobre o apoio ao impeachment? No Nordeste, já virou. No Nordeste, na última pesquisa que vi, eram 56% contra o impeachment, dizendo que esse impeachment é golpe. Em 15 dias de Governo Temer - agora, são mais de 15 dias -, saiu uma do Ibope, que a CartaCapital trouxe, com o jornalista Mauricio Dias, que, inclusive, é amigo pessoal do Presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, dizendo o seguinte: "A confiança na Dilma aumentou de 18% para 35%." É um salto muito grande em um espaço pequeno de tempo.

    A gente sabe que, se mudar o humor da sociedade, mudam-se votos aqui. Vários Senadores, aqui, estão abertos, querendo saber - o senhor é um, o Presidente desta sessão - se há crime de responsabilidade ou não. A primeira fase foi a da admissibilidade, em que se vota com critérios mais frouxos, digamos assim. Agora, não. É preciso ter rigor. É o julgamento da Presidente. Temos de discutir se a pedalada no Plano Safra foi crime, se houve ato da Presidente, e de analisar os decretos de créditos suplementares. Então, vejo um clima aqui no Senado muito aberto a uma discussão.

    Concedo um aparte à nobre Senadora Ana Amélia.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Olha, Senador Lindbergh, estou aprendendo muito aqui. Numa linguagem bem carioca - o senhor é paraibano, mas mora no Rio de Janeiro há muito tempo, onde fez carreira política; isso é o bom deste nosso Brasil -, o senhor levantou a bola, e eu vou ter de fazer o gol. Não adianta, vou ter de chutar.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Fique tranquila.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Hoje é sexta-feira e digo isso para aliviar a tensão, que ontem foi muito grande lá. Mas é o seguinte: V. Exª lembrou a declaração do Ministro Padilha, que é do Rio Grande do Sul. Não tenho procuração nenhuma, não tenho nada com o Governo, não indiquei cargo nem de terceiro, quinto ou sexto escalão, nada. Não tive nada com Dilma e não terei com o Governo Temer. Quero continuar sendo uma Senadora que presta aqui um serviço ao meu Estado, ao meu País, de forma independente. O meu Partido fez indicações, está no Governo. Estava no governo Dilma e está no Governo Temer. Não tenho nenhuma influência sobre as indicações. As pessoas me pedem, e não as dou. V. Exª falou do Twitter. Logo que mudou o Twitter, ele botou lá o Padilha. A revista Exame publicou um tuíte seu, dizendo que o Temer tinha provocado o aparecimento de 11 milhões de desempregados. Isso foi transcrito e depois foi apagado do seu Twitter. Então, eu queria saber, já que V. Exª está na tribuna, o que aconteceu. Houve realmente a supressão da informação? Ou, de fato, o senhor achava que 11 milhões de desempregados eram provocados por 20 dias de governo? Então, digo isso pela lógica da coisa, só por isso.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não, Senadora Ana Amélia, não sei desse fato do Twitter no caso. Eu trabalho muito com o Facebook.

    Agora, uma coisa eu sei e reafirmo: o Governo Michel Temer vai aumentar muito o desemprego no País, porque estão apresentando uma política extremamente recessiva. A senhora viu o discurso da herança maldita da Dilma. Disseram que a Presidenta Dilma fez um rombo de R$170 bilhões. A senhora sabe como foram os quatro primeiros meses da Presidenta Dilma? Em janeiro, em fevereiro, em março e em abril, sabe de quanto foi o déficit? Foi de R$5 bilhões. Eles botaram para oito meses R$165 bilhões! Como justifica o aumento de 1.300%?

    Digo à senhora, e vou voltar a este tema aqui: vai aumentar muito o desemprego no Governo do Temer. Sabe por quê? Porque é uma política radicalmente recessiva. Vou dizer...

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Mas 11 milhões de desempregados hoje, Senador Lindbergh, não é uma coisa grave?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - É claro que é grave, é claro que é grave! A gente sabe disso. Deixe-me contar aqui: foi uma grande vitória nossa, dos nossos governos, ter saído de um desemprego de mais de 12,8% no último ano de Fernando Henrique Cardoso e tê-lo trazido para 4,3%. Agora, é claro, sabemos da crise que vivemos em 2015 e que estamos vivendo em 2016. Vale dizer que não é essa pesquisa nova, com essa metodologia nova, mas, sim, com a metodologia anterior.

    Se há uma coisa que nós fizemos nesse Governo, foi lutar contra o desemprego. Não digam isso. Os economistas deste Governo... Na terça-feira, vamos ter a sabatina do Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Estou com vários artigos dele dizendo o seguinte: para controlar a inflação, há de se aumentar o desemprego. Fomos nós que combatemos isso. Foi Lula e a Presidenta Dilma! É claro que tivemos uma conjuntura adversa nesse período, mas, se há um Partido e um governo que podem falar em criação de empregos formais, somos nós.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - A senhora lembra o governo de Fernando Henrique Cardoso?

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador, foi um ano duro, foi o ano da estabilização, que foi uma conquista.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não! Foram oito anos sem...

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Houve a estabilização econômica, que foi uma conquista perdida, porque, com inflação de 10%, Senador, nós jogamos no lixo...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - A inflação já está em 7%.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ...a estabilidade econômica.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não, de jeito nenhum!

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Vou lhe dizer sobre essa questão do desemprego...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Os senhores vão ver agora o que é a direita com programa neoliberal de volta ao País. Muitos funcionários públicos aqui protestavam contra o Governo da Dilma. Eu quero vê-los agora! Em oito anos de governo Fernando Henrique, houve reajuste zero! Eles vão ver agora o que vão enfrentar!

    Até vou dar um dado, para a senhora falar novamente: agora...

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Com inflação baixa, os salários... A inflação é que deve acompanhar o reajuste.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - A inflação já vai chegar a 7%.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador, o senhor falou do emprego.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Pode falar.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Só vou falar do emprego. Veja só, eu vou lhe dar um caso que o senhor também conhece bem, porque o Rio de Janeiro também sofreu as consequências da paralisação das refinarias, dos projetos da Petrobras. A cidade de Rio Grande alimentou um sonho maravilhoso. Eu era jornalista ainda, e a Presidente Dilma, que era Ministra de Minas e Energia, deu-me, digamos, o privilégio de receber em primeira mão a informação de que seria construído em Rio Grande, no terceiro maior porto do País, no porto marítimo, o maior do Rio Grande do Sul, um polo naval. Aquilo foi um sonho, porque aquela região é uma região deprimida economicamente. Então se espalharia por toda a metade sul do Rio Grande do Sul um grande sonho de desenvolvimento, numa área especializada, que eram as plataformas marítimas. Cerca de 18 mil pessoas trabalhavam lá, 18 mil. Aquilo ativou tudo, hotéis, pensões, setor imobiliário, construção civil, para atender a uma demanda que, de uma hora para outra, cresceu. Aquele sonho, de uma hora para outra, morreu, tornou-se um pesadelo, Senador, com o caso da Petrobras. Então, esse projeto social de geração de emprego e de geração de renda... O Bolsa Família é sensacional, é um programa que tem de ser mantido sempre. Agora, os erros aconteceram. Foram vistos agora pelo Ministério Público Federal R$2,5 bilhões de desvios de função. Funcionários públicos e pessoas mortas estavam recebendo o seguro. O senhor disse dos 4% de desemprego no governo Lula. O seguro-desemprego, recebido quando a pessoa está em busca de outro emprego, estava em R$48 bilhões, e o Bolsa Família, em R$24 bilhões. Então, havia uma desconexão. A falta de controle, de vistoria e de auditoria nesses programas acaba prejudicando quem? Aquele que mais precisa, aquele que agora não tem seguro-desemprego. Então, essas são as questões. É a questão da gestão do dinheiro: é preciso usar bem o dinheiro público. Então, reconheço, é claro, o esforço. Não sou uma pessoa que não reconhece o que foi feito. Agora, botaram tudo fora, Senador.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senadora Ana Amélia, V. Exª fala sobre a indústria naval, começou falando sobre a indústria naval. Quem recuperou a indústria naval no País?

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Foi Lula, é evidente, mas...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Foi Lula, porque o governo Fernando Henrique Cardoso só comprou plataforma e navio fora do País. E Lula disse: "Não, nós temos condições de fazer."

    Agora, quero deixar claro que esta crise econômica que estamos enfrentando, sinceramente, também é responsabilidade da oposição, não somente da Dilma. Os senhores pararam o País por um ano e meio! Acabou a eleição, e Aécio não reconheceu o resultado. Houve passeata em março, não votavam nada no Congresso Nacional, houve pauta bomba. Nós inviabilizamos o funcionamento do País! Vai dizer agora que a oposição nada tem a ver com isso? Quem é a pessoa séria neste País que pode dizer que não houve interferência da crise política na crise econômica? Todos nós sabemos disso, qualquer analista político. Então, não venham com essa! Acho até que estão arrependidos. Vejo o Senador Aécio Neves cabisbaixo. Se ele voltasse no tempo, ele ia ficar pianinho, porque sobrou para ele. O PSDB foi o Partido que mais perdeu.

    Aqui quero dizer o seguinte: tivemos um recorde de desemprego no País - não sei se a senhora sabe -, que até agora não foi batido. Espero que Michel Temer não bata esse recorde, porque seria terrível para o povo brasileiro! O recorde de desemprego no Brasil é de 12,7 milhões de desempregados, em 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi isso o que houve lá.

    Sabe qual é minha preocupação, Senadora Ana Amélia? É que, com o que eles estão anunciando, vai aumentar muito o desemprego, haverá o aprofundamento dessa recessão.

    E esse limite que eles estão dando? O gasto público tem de ter um limite pela inflação no ano. Sabe o que isso significaria? Vou trabalhar com os números dos últimos dez anos. Em 2006, o governo Lula investiu em saúde R$40,6 bilhões. Em 2015, com Dilma, chegou-se a R$102 bilhões. Sabe o que aconteceria se essa regra existisse em 2006? Estou querendo trabalhar com dez anos. Se essa regra que Temer quer instituir existisse em 2006, o orçamento da saúde, em vez de ser de R$102 bilhões, seria de R$65 bilhões. Nós vamos retirar muitos recursos lá na frente da saúde. Isso impacta na população mais pobre.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Hoje, Senador Lindbergh, é de R$20 bilhões o déficit da saúde, mas não foi Temer que causou isso. Isso é o que veio do Governo Dilma, Senador. São R$20 bilhões de déficit! São 43 mil leitos fechados nesse período!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - O que estou querendo dizer é que essa proposta de Temer - imagine o impacto! - faria cair de R$102 bilhões para R$65 bilhões! Isso vai significar o fechamento de hospital. Será um caos!

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eles já estão fechados, Senador. Muitos, no Rio Grande do Sul, já estão fechados.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Mas vão fechar mais! Olhe aqui, olhe aqui!

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Mas olhe para trás, Senador!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Tenho a grata satisfação de contarmos aqui com o Líder do Governo, Senador Aloysio Nunes Ferreira, a quem passo a palavra.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP. Com revisão do aparteante.) - Muito obrigado. O senhor sabe o quanto admiro o seu esforço para manter sua fidelidade, para manter sua lealdade ao Governo da Presidente afastada e ao seu Partido, o PT. Eu não o recrimino por isso. Ao contrário, o admiro por isso. Estava ouvindo essa troca inteligente de apartes entre o senhor e a Senadora Ana Amélia. Sinceramente, Senador Lindbergh, vi dois estilos bastante diferentes. A Senadora Ana Amélia está focada, determinada em mostrar ao País, debatendo com o senhor, o desastre, a tragédia que foi o Governo Dilma, que está escancarada aos olhos de todos. Ela apontou a destruição da Petrobras. Apontou a precariedade da saúde, o fechamento de leitos. Apontou a recessão. V. Exª dizia: "Vocês verão a recessão que vem aí, a política recessiva." Meu Deus do céu, a maior recessão da história republicana foi provocada pelo Governo irresponsável da Presidente Dilma! Os números que foram divulgados ontem sobre competitividade e crescimento mostram o Brasil, que, em determinado momento, foi um País emergente, na mais profunda decadência, no fundo do poço. Isso foi obra do Governo Dilma. O Governo Lula teve, no início, uma orientação inteligente, sensata, era cercado por bons políticos. Muitos deles depois passaram por vicissitudes que não quero lembrar. Mas havia bons quadros políticos. Teve a clareza de, ao se eleger, abandonar uma linha radical do "sapo barbudo", como dizia Brizola, de chamar Meirelles para Presidente do Banco Central, de organizar um time competente. Palocci estava na Fazenda. Na área econômica, manteve os fundamentos de vinham do governo Fernando Henrique. Chamou a oposição - eu era Deputado do PSDB - para ajudá-lo, uma vez que seu Partido lhe negava apoio, ao completar aquela primeira etapa da reforma da Previdência. Foi um político inteligente. Agora, o Governo Dilma foi um desastre, Senador Lindbergh. Vi a Senadora Ana Amélia, com seu jeito tranquilo, que invejo, porque, como o senhor sabe, o senhor e eu temos um sangue um pouco quente demais. Precisamos nos controlar. E a Senadora Ana Amélia é precisa. Era como se fosse uma luta de boxe entre dois boxeurs. E a Senadora Ana Amélia aplicou-lhe alguns diretos no queixo, alguns diretos que provocaram vários knock-downs, aqueles em que o boxeur cai e se levanta antes de completar a contagem. Agora, como um bom boxeur, V. Exª saçaricou em cima do ringue o tempo todo. Quando ela apertava para um lado, o senhor fugia para outro, sem dar nenhuma resposta convincente a nenhum dos argumentos que foram levantados pela nossa querida colega Senadora Ana Amélia. Mas concluo este aparte, que já vai longo, muito longo, Sr. Senador Lindbergh, para dizer ao senhor que, é claro, vivemos hoje um momento de muita exacerbação política. Vivemos isso ontem na Comissão do Impeachment, com vários momentos de apartes antirregimentais. Espero que, uma vez concluído esse processo, qualquer que seja o resultado... E penso que, para o bem do Brasil, a Presidente Dilma não poderá voltar, porque ela não tem condição de governar. Essa é a realidade dos fatos. Mais do que pedalada ou qualquer coisa, foi demonstrado que ela não tem a menor condição de governar. Ela destroçou a base parlamentar. Não foi a oposição que impediu o Governo Dilma de funcionar. A oposição, no máximo, na Câmara, tinha cem Deputados, somando todos os partidos.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Enfim, o fato, Sr. Senador, é que, passado esse momento, espero que nós tenhamos a possibilidade, como se faz em um país civilizado, oposição e situação - não sei quem será oposição e quem será situação -, de encontrarmos formas e meios de nos entender, como temos nos entendido no Senado em muitas e muitas ocasiões, em que a oposição não fez a política de terra arrasada, o jogo de soma zero. E, muitas vezes - o senhor sabe disso -, em diálogos com o Governo, conseguimos construir saídas positivas para muitos problemas graves no nosso País. Mas receba, mais uma vez, a manifestação da minha estima por V. Exª.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - O Senador Aloysio faz várias estocadas e depois fala da estima. Eu sei. V. Exª sabe do meu respeito também por V. Exª, mas devo dizer uma coisa, Senador: não dá para a oposição dizer que não tem nada a ver com essa crise que estamos vivendo e com essa crise econômica também, porque os senhores pararam o País. Há uma crise política paralisando o País, há um ano e meio. O senhor quer negar isso? Dois dias depois do resultado eleitoral, o PSDB entrou na Justiça contra a Presidenta Dilma. Depois, fez aquele papelão de questionar a urna eletrônica. Depois - olha que ridículo! -, o Senador Aécio entra pedindo para ser diplomado no lugar da Presidenta Dilma. E a Presidenta Dilma não teve um dia de folga. Então, os senhores são responsáveis por essa crise. Não venham com essa. Não vão enganar ninguém. Eu quero saber. O senhor agora é Líder deste Governo, do Governo de Michel Temer, um Governo que, pelo amor de Deus! Vinte dias nós estamos nisso aí. Este Governo não vai se sustentar, Senador Aloysio. Vai cair; vai cair, sim!

    Nós estamos, desde o começo, fazendo um debate sobre a questão do impeachment, porque nós queremos, sim, que a questão da delação do Sérgio Machado e das gravações venham à tona, porque ninguém ali conversava sobre decreto de crédito suplementar, sobre pedaladas fiscais.

    O senhor, que é membro do PSDB, sabe qual é a minha opinião? Qual o partido que mais perdeu com esse processo do impeachment? Foram os senhores do PSDB. Você sabe que o Senador Aécio, em junho do ano passado, na pesquisa do Datafolha, tinha 35 pontos. Sabe quanto estava há um mês? Dezessete. Se botar hoje, não dá 10%. E sabe por quê? Porque os senhores pararam o País nesse processo do impeachment, foram para as passeatas, não se diferenciaram da direita de Bolsonaro. Vocês, em nenhum momento, se diferenciaram do pessoal que defendia a intervenção militar, a ditadura militar. Foram de bracinhos dados com o Bolsonaro e perderam espaço para esse pessoal. E há mais uma coisa: não se diferenciaram no plano dos valores. Todo um discurso de ódio, machista, racista, de preconceito aos nordestinos, à comunidade LGBT, e os senhores colados com essa extrema direita.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - V. Exª me permite?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não, agora não. Daqui a pouco, concedo a V. Exª um aparte. Deixe-me só falar esta parte.

    O PSDB afundou, e hoje é o quê? Sócio minoritário deste Governo sem legitimidade. Os senhores aqui são isso.

    V. Exª é Líder do Governo Temer. V. Exª, no ano passado, dizia que era nem Temer nem Dilma - nem Temer nem Dilma! Queriam eleições. Eu, até agora, não entendi direito a mudança de posição do PSDB.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Quer que eu explique?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Quero.

    Concedo um aparte a V. Exª.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - V. Exª se refere, seguramente, a uma intervenção minha em uma, digamos assim, mesa-redonda promovida pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, em que participei como debatedor. Foi no mês de março de 2015, no início de março. Portanto, o governo da Presidente Dilma não tinha ainda três meses. Já se falava, naquela época, de impeachment. Eu manifestei a opinião que tinha naquela época de que achava que era prematuro se colocar o termo de impeachment naquele momento. A Presidente tinha apenas três meses de governo.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - O senhor disse que era melhor a Dilma sangrar.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Evidentemente, V. Exª sabe que sou um homem incruento. Jamais praticaria uma violência contra ninguém. (Risos.) É sangrar no sentido da oposição.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - É no sentido político, de o Governo ficar fraco, de parar o País.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não, não é isso. O senhor sabe que nós não paramos o País, Senador Lindbergh.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro que pararam.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - O senhor conviveu conosco no Senado.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Os senhores votaram tudo contra.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Quantas e quantas matérias...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Tudo que é pauta bomba.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não, não. Eu não vou discutir isso agora, mas é verdade: estão na crônica parlamentar as vezes em que eu, como Líder do PSDB, me entendi com Eduardo Braga, Líder do Governo, e, agora mesmo, com o Senador Pimentel, uma grande figura do seu Partido, quantas e quantas vezes. Mas o fato é que, naquele momento, considerava que era uma palavra de ordem destinada a levar à frustração e entendia que era preciso que tivéssemos condições de caminhar dentro do calendário constitucional normal. Acontece que, de lá para cá, as coisas se agravaram muito. Ficou estampada a falência de órgãos, a falência múltipla de órgãos do Governo Dilma Rousseff. É um governo que não tem mais condições de voltar, Sr. Senador Lindbergh. Quanto a racismo, a - como o senhor disse? - à xenofobia, pelo amor de Deus, Sr. Lindbergh, o senhor me conhece.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É lógico. Sou incapaz de uma coisa dessa.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não faço essa crítica dirigida a V. Exª, mas o PSDB está de braços dados com o Bolsonaro.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - O meu Partido é um partido que sai da luta democrática. O PSDB é um partido enraizado na tradição democrática do País. E havia, naquela manifestação, nas manifestações, pessoas de direita, como havia pessoas de direita no governo do PT. Ou vai dizer que não? O governo do PT foi um governo que montou uma base de sustentação oceânica, com tudo, e nem sempre com os métodos mais adequados do ponto de vista dos valores. Está aí o mensalão. Está aí o mensalão, que vitimou algumas das melhores cabeças políticas do PT, como, por exemplo, o ex-Ministro Dirceu.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Se V. Exª fala do mensalão, então fale do merendão e do trensalão de São Paulo.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Fale, sim.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não, vem cá... 

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Se vai falar do mensalão, fale dos casos de São Paulo.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Estou falando de compra de apoio parlamentar. Estou falando de crime contra a Constituição, coperpetrado mediante compra de Parlamentares. É disso que estou falando. Agora, não quero voltar a isso. Isso está na Justiça, já há condenações. Não quero trazer questões de fitas. Se nós pegarmos as fitas gravadas de conversa daquele amigo do Senador Delcídio com Ministro Mercadante, sobre a tentativa de acertar com o Delcídio para ele não delatar; a conversa que teria havido entre Dilma, Delcídio e terceiras pessoas, para indicar determinado Ministro para o STJ para livrar o magnata da cadeira; aquela nomeação farsesca do ex-Presidente Lula, que não deveria se prestar a isso - Casa Civil para poder livrá-lo das garras de Sérgio Moro. Isso não tem sentido. O que é mais fantástico é a nota da Direção do seu Partido. Espero, sinceramente, Senador Lindbergh, que o senhor não se alinhe com esse pensamento. Uma nota da Direção Nacional, uma resolução, que, digamos assim, à guisa de autocrítica, sabe o que fala? Fala que se arrepende a Direção do Partido por não ter combatido o que ela chama de conspiração reacionária instalada no topo do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. Quer dizer, fazem autocrítica por não ter encabrestado essas duas instituições. Imagino que esse tipo de direção política fale para um número cada vez menor de pessoas, de militantes tribais, radicalizados, avessos à cultura democrática. Me lembro até do Evangelho de Mateus, capítulo XV: "São cegos conduzindo outros cegos. Deixai-os, porque, quando o cego conduz outro cego, ambos cairão no precipício." Um abraço.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Agradeço, Sr. Líder do Governo.

    Eu estou impressionado com o PSDB, porque eles falam sempre de forma seletiva. Chamava o PT de a grande organização criminosa. O problema era o PT. Eles, quando falam dos casos deles... Eu falei do trensalão e do merendão porque, Senador Aloysio, é escândalo de corrupção envolvendo o Governo do PSDB de São Paulo. Aí eles se calam.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu acho que tem que ser punido todo mundo.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - E eu digo o seguinte: a narrativa da Lava Jato era PT, PT, PT. E agora, Senador, me explica? Quantos citaram o Aécio? Eu já perdi as contas. Eu não sei se foram 10, 11, 12, 13, 14 vezes. É brincadeira! E os senhores ainda continuam com esse discurso?

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Investiguem. É importante que investiguem!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Ah, que dificuldade abrir investigação contra Aécio! Ah, que dificuldade! Porque abrem contra qualquer um. Se falou de alguém do PT abrem na hora. Do Aécio é esta história: vai, não vai, não vai. Pelo amor de Deus! Aí os senhores vêm com esse discurso!

    Eu espero que V. Exª, como Líder do Governo, entre no debate para aliviar o saco de maldades que vem por aí.

    Vou entrar no primeiro ponto, Senador Cristovam. Depois passo a palavra para V. Exª. Há essa proposta do Ministro Meirelles de colocar limite da inflação para os gastos públicos. Peguei aqui o orçamento da saúde e da educação.

    O orçamento da saúde - estou calculando 10 anos -, em 2006, era de 40,6 bi. Em 2015, pulou para 102 bi. Se essa regra valesse, em 2006, sabe quanto seria o orçamento da saúde, Senador Cristovam? Seria de 65 bi. Nós íamos ter uma perda de mais de 35 bi.

    Na educação é pior. Na educação, o montante do orçamento de 2015 foi de 103 bi. Se essa regra deste Governo biônico, interino, golpista tivesse valido, dez anos atrás, sabe quanto seria o orçamento da educação? Seria de 31 bi, Senador Cristovam. Um orçamento 70% menor.

    É isso que eles querem fazer. E querem fazer essa desvinculação também em Estados e Municípios. Isso é um crime. Como é um crime também falar na desvinculação do salário mínimo com os benefícios previdenciários. É maldade, porque os senhores não têm coragem de tocar no andar de cima. Fizeram um acordo com a Fiesp. Não vão aumentar impostos, não tem CPMF, não tem nada. Agora, o aperto está todo em cima dos mais pobres, dos trabalhadores. Vão fazer uma reforma trabalhista para discutir a aplicação daquele projeto de terceirização que o Dr. Eduardo Cunha aprovou lá na Câmara dos Deputados.

    Então, espero que V. Exª, como Líder, atue no Governo para tentar diminuir esse saco de maldades contra o povo trabalhador brasileiro.

    Eles querem aqui acabar com o legado do Lula, do Ulysses Guimarães e de Getúlio Vargas.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Espero ter a contribuição de V. Exª neste debate para ver como é que nós vamos fazer para que o Governo caiba dentro da receita pública. É isso que eu quero que V. Exª me diga, porque o déficit público não é de esquerda nem de direita. Ele é contra o povo. E é preciso encontrarmos uma forma de o Congresso trabalhar no sentido de que se aumenta uma coisa tem que cortar outra, porque há limites físicos para o gasto. Quando se excede esse limite, o resultado é o descalabro que estamos vivendo. Obrigado.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Tem que entrar na discussão sobre a conta de juros.

    O problema do nosso déficit hoje aqui...

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - ...estratosfericamente no seu governo. Pelo amor de Deus!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro! Mas o problema dos juros no País hoje, a grande parte do nosso déficit do ano passado de 10,30% foram 8,5% de juros. Pagamento de juros!

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É verdade.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Pagamento de juros. Essa que é a questão central em que temos que entrar.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Do Governo Temer ou do governo Dilma? Governo Temer ou governo Dilma? Governo Dilma, ora!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Os senhores fizeram um discurso para afastar a Presidenta Dilma em cima da responsabilidade fiscal. Foi esse o discurso que os senhores fizeram. "Ah! A Presidenta Dilma!" Eu já falei para a Senadora Ana Amélia: o déficit nos quatro primeiros meses deste ano da Presidenta Dilma foram 5 b. Foram 5 bi! Que herança maldita é essa de 170 bi? Conversa! Foram eles. Foram 5 bi nos primeiros quatro meses. Aí colocaram 165 bi, porque a trinca Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima e Romero Jucá está querendo pagar a conta do impeachment seja em negociação com o governador, seja em negociação com Parlamentares, seja em pagamento a empreiteiras que estava represado. A verdade é essa. Estão querendo pagar a conta do impeachment. Não me venham com esse discurso.

    E eu quero, antes de passar a palavra para o Senador Cristovam Buarque, entrar em um ponto central, e vamos fazer isso o tempo inteiro: ler as gravações de vários Senadores que mostram que o objetivo desse processo de afastamento da Presidenta Dilma Rousseff não era por questões fiscais, por pedaladas. Eles estavam querendo parar a investigação da Lava Jato.

    Eu quero, antes de passar a palavra para o Senador Cristovam Buarque, ler alguns trechos.

    Sérgio Machado.

    Senador Aloysio, se V. Exª quiser subir à tribuna no meu lugar, pode subir.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não. Sinceramente, o senhor acha que alguém tem condições, ainda que quisesse, de parar a Lava Jato? Fale a verdade!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Os senhores queriam isso.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu não queria coisa nenhuma!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não estou falando pessoalmente de V. Exª.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Veja, tem que combinar com todos os Ministros do Supremo Tribunal Federal; combinar com o Ministério Público inteiro, a começar do Janot até o pessoal que atua em Curitiba; combinar com o juiz Sérgio Moro; combinar com a imprensa. É isso. Vamos parar com essa história da carochinha!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - O senhor está enganado. Que carochinha o quê!

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Isso não existe. A Dilma não conseguiu, o Lula não conseguiu, e ninguém conseguirá.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Os senhores vão tentar e estavam tentando.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Esquece essa história. Isso não existe!

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Esqueço, não! Esqueço nada!

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Isso não existe. Se formos falar em gravação, podemos fazer uma antologia, mas não interessa isso. O povo já conhece, já ouviu o Jornal Nacional. Bobagem! Ninguém para a Lava Jato, e é bom que não pare. Então, vamos parar com essa mitologia. Isso não tem cabimento, não está à altura de um homem da sua inteligência.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Deixe-me falar para o senhor: primeiro, o Ministro da Justiça foi indicado por quem? Por Eduardo Cunha. Esse Alexandre de Moraes foi advogado particular dele. Ele colocou todos os assessores jurídicos da Casa Civil. Colocou o segundo homem na AGU. Você acha que colocou por quê? Qual era o plano que estava claro nessas gravações? Mudar o clima, a imprensa diminuir o foco na Lava Jato, e eles tentarem se livrar com negociações.

    Romero Jucá fala aqui - e ele tem que nos explicar - que conversou com Ministro do Supremo. Está aqui na gravação. Conversa com Ministro do Supremo. O senhor sabe que é verdade, que tem muita gente aqui que se aproveitou de manifestações legítimas do povo contra o governo da Presidenta Dilma para assaltar o poder, para impedir a investigação da Lava Jato.

    E eu vou ler aqui.

    O ex-Senador Sérgio Machado, em conversa com o Senador Romero Jucá: "Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [...]. O Jucá diz: [...] Só o Renan que está contra [isso]. Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha."

    Que bom a gente ver essa confissão! A gente sabe que Eduardo Cunha manda nesse Governo de Michel Temer, mas escutar isso da boca de Romero Jucá - que Renan não gostava porque Michel é Eduardo Cunha...

    E continua o Sérgio Machado: "É um acordo, botar o Michel num grande acordo nacional". Diz Jucá: "Com o Supremo, com tudo." Olha aí, Senador, está falando aqui o Jucá, com o Supremo! E continua Sérgio Machado: "Com tudo, aí parava tudo." E o Jucá: "É. Delimitava onde está, pronto." Está aqui. E continua o Jucá em outro trecho, falando baixinho: "Conversei ontem com alguns ministros do Supremo."

    Ele tem que explicar. Ele está devendo à gente subir a esta tribuna. Ele disse que ia fazer e até hoje não apareceu. Inclusive continua como ministro oculto do Ministério do Planejamento. Ele vai todo dia lá e despacha lá dentro. Deixou o Secretário Executivo como Ministro interino, mas todo mundo sabe que o Ministro continua sendo o Jucá; é um ministro oculto. Nós temos um Presidente interino e um ministro oculto.

    E aí ele fala: "Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de (...) sem ela. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa [fala um palavrão], esse negócio não vai parar nunca'. Entendeu?"

    E há outra gravação aqui do Sérgio Machado... Eu acho que o PSDB... Das duas, uma: o PSDB defendia a cassação pelo TSE. O PSDB não defendia o impeachment e a posse de Michel Temer. Muitos aqui declararam: nem Dilma, nem Temer - era eleição direta. Eles mudaram a partir de determinadas circunstâncias, quando envolveram o Senador Aécio em várias delações.

    E há o Sérgio Machado dizendo o seguinte - e Sérgio Machado está falando, Senador Cristovam, do acordo; está querendo juntar gente para esse acordo. Ele fala: "Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB? Não sei se caiu a ficha (...)." pergunta ele para o Romero Jucá. E o Jucá diz: "Caiu." Caiu a ficha do PSDB. "Todo mundo na bandeja para ser comido." "O primeiro a ser comido vai ser o Aécio."

    E continua aqui o Sérgio Machado com o Renan Calheiros, dizendo o seguinte: "E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros." E o Renan: "E tudo com medo." Sérgio Machado diz: "Renan, não sobra ninguém, Renan!" E aí o Renan diz: "Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'." E o Machado diz: "Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan."

    Olha a conversa! Eles foram construindo uma maioria em cima disso, em cima de uma tentativa de parar a Lava Jato. Esse é o primeiro motivo do golpe. E o segundo motivo é um conjunto de propostas para retirar direito dos trabalhadores.

    E aqui vou ler o último trecho que selecionei, do Romero Jucá falando de uma reunião do PSDB com as principais lideranças na casa do Senador Tasso Jereissati. Há um momento em que ele diz o seguinte, se referindo ao Aécio: "Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

    ...ganha essa eleição, não."

    E ele fala de Lula e Joaquim Barbosa como nomes fortes. E diz o seguinte: "Porque [Aécio] na hora dos debates vão perguntar: 'Você vai fazer a reforma da Previdência?' [Ele fala "tu"] O que é que tu vai responder? Que vou! Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas?"

    E aí, Senador Cristovam, eu queria trazer aqui uma entrevista da Naomi Klein, que, como V. Exª sabe, é a autora de A Doutrina do Choque, em que ela fala sobre a situação brasileira e diz o seguinte. Segundo a Naomi Klein, o programa defendido pelo Governo interino de Michel Temer teria poucas condições de ser implementado através de eleições. Diz ela:

Não há dúvida de que a democracia brasileira está sob ataque. É um tipo diferente de golpe. Eles estão explorando uma situação de caos, uma falta de democracia para impor algo que eles não conseguiriam sem crise e com uma democracia real.

    E aqui é o que eu falei, está lá no Ponte para o Futuro: fim da política de valorização do salário mínimo, fim da vinculação do salário mínimo com os benefícios previdenciários.

    Há todo o ataque ao Pré-Sal. Ontem Pedro Parente, quando assumiu a Petrobras, falou abertamente; acabou, querem votar aquele projeto, estão questionando o modelo de partilha, querem entregar de bandeja para as multinacionais do petróleo.

    Há a mudança da política externa - uma política externa altiva, de fazer uma política Sul-Sul, com BRICS, Celac, com Unasul. Querem voltar a uma política de alinhamento automático aos Estados Unidos. E tem esse conjunto de retirada de direitos, como a terceirização, e esse ataque violentíssimo à saúde e à educação. É isso que eles querem com esse golpe.

    Eu passo para o Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senadora Ana Amélia e Senador Lindbergh, eu ouvi parte deste debate pelo rádio, e eu estava sinceramente orgulhoso quando eu comparava esse debate com o de ontem, na Comissão do Impeachment, Senador Acir. Este é um debate. Lamentavelmente, lá nós nos perdemos em filigranas jurídicas todo o tempo. Eu não falo só do histrionismo; não, eu falo do debate, mesmo. Aqui, não, aqui nós estamos debatendo coisas concretas da economia e da política. E a segunda coisa que me deixa feliz é que eu vejo a coerência, sua e da Senadora Ana Amélia. O senhor, com uma política econômica expansionista de gastança - como alguém usou essa palavra, que eu não tinha ouvido -, de gastar muito para dinamizar a economia, e a Senadora Ana Amélia, com quem eu me identifico, com a ideia de que é preciso equilibrar as contas, é preciso austeridade. A Naomi Klein defendeu a política econômica da Venezuela, defendeu essa política expansionista, de benefícios além do possível. Não deu certo. Hoje há governos que trazem austeridade, muitos deles com incompetência e com maldade. Aí, sim, estou de acordo com sua palavra, porque sacrificam os pobres e não os ricos, mas alguém tem que se sacrificar. Não dá para a bonança geral, porque há uma coisa chamada lei da gravidade e uma coisa chamada lei da aritmética nas finanças. Aí, a impressão que eu tenho, quando se defende muito gasto para se fazer todos os benefícios sociais é de alguém cheio de amigos no décimo andar dizendo: "Olha lá embaixo, tem um jardim com piscina, com lazer. Vamos pular juntos para o jardim!" Não dá certo pular do décimo andar sem levar em conta a lei da gravidade. Não dá certo gastar mais do que se arrecada sem levar em conta as leis da aritmética. Agora, aí vamos ver maldade, e eu não vou defender a política econômica do Meirelles - mas eu defendo, sim, a responsabilidade nos gastos. Eu me considero um progressista social, um radical na busca de que o filho do trabalhador estude na mesma escola que o filho do patrão. Mas eu me declaro um conservador responsável nas finanças, porque senão essa outra parte que eu defendo vira sonhos, sem concretude, ou é uma ilusão por um ponto. Do décimo andar até o chão, todo mundo está iludido, Senador Acir, com o jardim que prometeram, até se esborrachar - como a Venezuela, como outros países e como nós próprios, a partir de 2015, com a inflação, com a dívida. Então, a que eu estou atento nessas propostas que o Senador Lindbergh corretamente nos avisa que podem chegar aqui? É em como chegará esse Orçamento. A ideia de reajustar pela inflação é correta para a soma, não para cada item. Eu vou brigar aqui para aumentar gastos em educação e saúde, obviamente gastando com responsabilidade, porque hoje a gente às vezes gasta de uma maneira não eficiente. Agora, eu vou querer aumentar na saúde e na educação tirando de algum lugar, não mentindo que a gente pode aumentar para tudo. Esse ar condicionado não precisava ser tão frio. Os benefícios que nós temos no Congresso, na Justiça e em muitos setores do Executivo... Nós temos excesso de gastos em alguns lugares. Nós temos que reduzir esse excesso de gastos e trazer para o que é fundamental - por exemplo, no meu caso, a educação; no caso de todos os brasileiros, a saúde, a segurança, a infraestrutura, que eu acho que a gente deve passar o máximo para o setor privado para liberar dinheiro para botar na educação. Então, a ideia de reajustar conforme a inflação...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... chama-se responsabilidade, e chama-se seriedade, e chama-se levar em conta a aritmética, uma coisa tão radical quanto a gravidade. Não brinquemos com a gravidade pulando do décimo andar. Não brinquemos com a aritmética gastando mais do que é possível. Agora, vamos discutir de onde tirar. O problema, Senador Acir, é que nós - e aí eu digo nós, o Brasil -, a gente não gosta de dizer de onde tirar, a gente só gosta de dizer onde colocar gastos. A gente foge, e a esquerda dos anos 1950 tem essa tradição populista de oferecer muito para todos, sem querer tirar de ninguém. O Senador Lindbergh tocou nisso: vamos tirar do andar de cima - mas não vamos gastar na soma mais do que é possível. O Senador Lindbergh falou em tirar dos juros. Juros também têm uma realidade técnica, não dependem só da vontade, e a taxa é resultado do excesso de dívida. Enquanto este País dever muito, vai precisar pegar dinheiro no mercado financeiro para cobrir o déficit. Se você vai buscar dinheiro no mercado financeiro, tem que aumentar juro; não tem como, porque moeda é uma mercadoria. Se todo mundo quer comprar sapato, o preço do sapato sobe. Se todo mundo quer pedir dinheiro emprestado, o juro sobe, e nós cometemos erros - e aí o governo Dilma, muito, mas Lula também - nessa ideia de expandir o consumo. Aí todo mundo se endivida, todo mundo vai buscar dinheiro no banco, ou o próprio comprador ou a empresa. Aí o juro sobe, e o Governo gasta muito. Aí tem um déficit, um buraco, e aí faz como a gente. Como é que a gente faz? Cheque adiantado, cheque especial, cartão de crédito. Aí os juros sobem. A única maneira de os juros baixarem sustentavelmente não é na canetada do Presidente do Banco Central ou do Conselho, é através de uma dívida sob controle. Então, esse sentido de responsabilidade nas finanças públicas, e até mesmo no conjunto da economia, é algo fundamental que, a meu ver, nós perdemos, e aí vem a inflação, como a Senadora Ana Amélia colocou. Mudando agora de assunto, eu quero falar sobre a crise política. O senhor falou aí que nossa crise econômica está paralisada pela política. Será que não é um pouco o contrário? A política está paralisada pela crise econômica também? Nosso debate está paralisado. A crise econômica tem sido, é verdade, uma das responsáveis pela ideia do impeachment. O crime de responsabilidade sozinho - as pedaladas, a safra - dificilmente levaria ao impeachment se a economia estivesse indo bem; isso é verdade. Então, nós ficamos paralisados por esse jogo que temos que quebrar. Aí vem a dificuldade. Eu ouvi o senhor falando dos que estão de um lado, dos que estão do outro e dos que não se decidiram ainda. Eu até eu ouvi que o Senador Acir - pelo menos é quem está presidindo - deve ter levantado o braço, porque eu ouvi pelo rádio. Veja bem, nós estamos numa posição, pelo que ontem eu vi lá na comissão, que dá a seguinte impressão: vamos parar tudo e votar logo, porque todo mundo já decidiu. Se todo mundo já tem clareza da sentença que vai ser aplicada a um réu, não há por que gastar um dinheirão, tempo, fazendo julgamento. Eu quero um julgamento. Eu levo muito a sério as alternativas que nós temos hoje, Senadora Ana Amélia, que são muito difíceis. Uma, interromper o mandato de Presidente eleito - ou eleita, no caso. É muito grave isso. Isso tira um pouco o brilho da democracia, mesmo dentro das regras institucionais. Não tem nada de golpe. Até está atrapalhando um pouco a Presidente Dilma chamar os Senadores de golpistas. Isso atrapalha; não tem nada de golpe. Mas tem um pouco o brilho. O brilho é concluir o mandato. Agora, a volta da Presidente Dilma, que seria a outra alternativa hoje, tiraria o brilho da República, porque não funciona bem a economia, não funciona bem o diálogo, não funcionariam bem as relações entre ela e o Parlamento - porque, mesmo que volte, vai voltar com o quê? Com 30% dos Senadores; dificilmente passaria disso. Então, com falta de base de apoio no Senado, com falta de base de apoio na Câmara... Nós temos, Senador Acir - e eu entendo sua angústia, da qual comparto -, nós estamos entre escolhas muito difíceis. Por isso é importante o julgamento. Por isso é importante ler a defesa da Presidente Dilma. Queriam que a gente tomasse posição antes de ler a defesa, que chegou anteontem. Eu me nego a isso. Eu quero fazer parte de um julgamento em que a minha posição possa até me destruir eleitoralmente, mas me deixe ressalvado historicamente - aliás, uma cobrança que o senhor sempre fez daqui - desta cadeira, aliás, e eu na frente. Eu quero ficar. Hoje, conversando com a minha esposa, de manhã cedo, eu estava dizendo... É muita pretensão, desculpem. Então, não estou me comparando com ele, mas sabe como eu me sinto, um pouco, Senadora Ana Amélia? Como Joaquim Nabuco se, faltando uns três anos para votar a Lei Áurea, ele tivesse de discutir entre República e Império. Seria um desastre, porque a maior parte dos apoiadores da abolição estavam com a República, mas ele era monarquista, morreu monarquista. E talvez até tivesse razão, sinceramente, naquela época - hoje é um absurdo. É mais ou menos essa a situação que a gente vive hoje. Em vez de estarmos discutindo o que eu gostaria - e eu vim para aqui para isto -, que a escola do filho do trabalhador fosse tão boa quanto a escola do filho do patrão, estamos discutindo se interrompemos ou não o mandato de uma Presidente eleita com 54 milhões de votos. Aliás, 54, não, ouviu, Senador Lindbergh? Um dia desses alguém me disse que foram 30 no máximo, o resto foi o PMDB que trouxe, alguém me lembrou disso. Batem no Temer hoje, mas foi ele que elegeu a Dilma, porque a diferença com o Aécio foi muito pequenininha. Se não fossem os prefeitos do PMDB, os vereadores do PMDB no Brasil inteiro, a Presidente Dilma não teria sido reeleita - desculpem eu ter retirado o título. Então, nós estamos debatendo hoje sem a seriedade que nos espera. E aí não somos só nós não, o povo inteiro; o povo inteiro entrou nessa torcida. Hoje eu caminhei um pouco por aí e é incrível como as pessoas cobram já com a posição definida. Eu não sei, mas até acho que pode ser verdade, Senador Lindbergh, o que o senhor falou aqui - aliás, não porque não fosse verdade o que o senhor disse, mas a verdade da fonte - de que deve estar crescendo o número dos que hoje ficaram contra o impeachment e que não eram 15 dias atrás. Por quê? Aí, sim, o Presidente interino Temer precisa perceber: porque a votação pelo impeachment da Presidente Dilma era por razões jurídicas, mas há um pouco do conjunto da obra. Não adianta dizer que não, há o conjunto da obra política. Mas agora vai ser o jurídico e o conjunto da obra da Presidente Dilma; e o conjunto da obra do Presidente Temer. Na hora de se votar aqui, daqui a dois meses, vai se levar em conta o conjunto da obra, vai se levar em conta esse diálogo do Jucá, embora eu ache que isso não tenha nada a ver com o impeachment. O impeachment vem de dentro do governo, de causas internas, da manifestação de juristas, como o Bicudo, de 367 Deputados, de 55 Senadores, mas há esse diálogo aí, sim. Então, esse conjunto da obra vai pesar. Está equivocado quem acha que já está decidido. Agora, veja o problema - e aí eu vou encerrar fazendo uma provocação: o problema da volta é mais um problema para a República brasileira, mesmo que fosse bom para a democracia. O senhor falou que o PSDB foi o grande perdedor, eu diria que todos nós fomos grandes perdedores nesse processo, todos os Partidos - todos! O PT talvez mais, o PSDB junto, logo atrás, mas eu não vejo nenhum ganhando. Aí eu me pergunto, faz meses que eu falo isso, Senadora Ana Amélia: será que para o PT, será que não há essa estratégia na cabeça do Lula, já há muitos meses, de que o melhor seria a saída da Presidente Dilma, mas garantindo a bandeirinha do golpe? A renúncia, não, a renúncia seria ruim para o PT, mas a saída garantindo a narrativa do golpe, jogando toda a culpa no Temer por tudo de errado? Porque daqui a um mês vai cair toda a culpa no Temer por tudo de errado, vai, não há jeito. O senhor mesmo falou do recorde de desemprego. Isso é de um simbolismo fortíssimo. Eu já vi que o senhor está prevendo, se isso acontecer - não que deseje, aliás, o senhor fez questão de dizer que não deseja -, se passar do recorde histórico, se a inflação não for dominada - embora, com essas medidas restritivas, termina sendo a um custo alto, é verdade -, então, será que o PT não tinha analisado, estrategicamente, que tirar a Presidente Dilma sob forma de coação...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... mesmo que legal, dando a bandeira do golpe, jogando nas costas do novo Governo toda a responsabilidade pelo desastre que herdou e que provocará talvez por seus erros, será que essa não é uma estratégia? E aí eu vou lhe dizer uma coisa que pode ser que justifique o que eu estou dizendo: é a sua solidão na defesa dessas bandeiras aqui hoje de manhã. Era para ter outros aqui também. Não a sua solidão, mas uma solidão compartida com três ou quatro Senadores que vejo, hoje em dia, combatendo fortemente o impeachment. São poucos os que estão realmente nisso. E desses, sem dúvida alguma, o senhor, ao lado da Senadora Gleisi, da Senadora Vanessa e, um pouco menos, mas também da Fátima Bezerra, eu acho que vocês parecem que não são o conjunto do PT. Eu temo que o PT esteja com esta estratégia: vamos jogar, vamos deixar que tirem a Dilma - dando a impressão de que lutamos contra isso -, vamos caracterizar a narrativa do golpe, que vai ser a grande bandeira na eleição, e pega, e vamos jogar a culpa da crise em cima do Temer, o que também pega. Não vou dizer que vocês sejam tão maquiavélicos, mas, talvez, voltando ao que o senhor disse, que o PSDB é o grande perdedor, eu quero deixar claro que nós todos somos perdedores nessa crise, todos, politicamente e historicamente. Talvez o PT deixe de ser perdedor nessa estratégia de substituição. E eu já imagino como será 2018: vamos ter um candidato com apoio do PT de outro partido, possivelmente, do Partido do Senador Acir, do PDT, que já tem até um nome. Aí, em vez do lulopetismo, o Brasil vai ter o lupipetismo.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Cristovam...

    O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Se me permite.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro, Senador Acir.

    O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Peço desculpas antecipadamente, mas não posso deixar de fazer uma pequena observação.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro!

    O SR. PRESIDENTE (Acir Gurgacz. Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Eu entendo que os governos do PT e do PMDB são a mesma coisa. Os dois partidos estiveram juntos do começo do Governo da Presidenta Dilma até hoje, com vários ministros participando ativamente do governo. Só essa observação, porque eu não poderia deixar... Estou aqui me segurando, por estar na Presidência, mas eu não poderia deixar de fazer essa pequena observação.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro, Senador Acir. Depois eu vou falar sobre isso, mas na verdade não é. A agenda é completamente diferente. A agenda dos governos Lula e Dilma foi uma, a agenda aqui - eu vou falar sobre esse tema - é completamente diferente. É uma agenda de restauração do neoliberalismo.

    Mas eu quero começar por partes. O Senador Cristovam tocou em tantos pontos importantes. Senador Cristovam, eu sempre faço questão aqui de falar da minha admiração, do meu respeito, um dos grandes Senadores da República. Eu o conheci, Senadora Ana Amélia, como líder estudantil - ele era reitor da UnB. De lá até aqui, sou admirador. As discussões sobre o voto dele são sempre... O voto para o Senador Cristovam é algo muito precioso, ele analisa, estuda muito.

    Nós estamos entrando em outra fase do processo de impeachment, que é o julgamento. A primeira fase era a admissibilidade. Você votava com critérios mais frouxos. E volto a dizer, Senador: eu tenho esperança de que a gente aqui reverta, porque estou convencido de que não há crime de responsabilidade. Acho que está havendo uma virada na sociedade e acho que esse Governo de Michel Temer vai se complicando cada vez mais.

    Não tem jeito, na próxima semana, pode esperar: vai haver outra crise, eu não sei qual é, envolvendo seus ministros. É um Governo que não tem legitimidade e que quer implementar um programa de austeridade extremamente radical. Esse tipo de coisa não... Falta de legitimidade em um programa como esse não dá, não casa. Isso aqui é explosão social, vai ter mobilização social.

    Mas eu vou entrar no primeiro ponto, que é a discussão sobre economia. V. Exª falou assim, como se fosse expansionista. Na verdade, você sabe que os governos do PT fizeram superávit em todos os anos, menos em 2014 e 2015.

    Nesse debate sobre o impeachment, o que me choca é a criminalização da política fiscal. Porque eu defendo, de fato, Senador Cristovam, eu tenho uma visão em que defendo posições keynesianas. O que Keynes dizia? O que foi a experiência do New Deal nos Estados Unidos? Keynes não era o responsável fiscal, mas ele dizia que em momentos de desaceleração econômica de recessão, você tem que aumentar o gasto social, você tem que aumentar os investimentos, você tem que fazer déficit. Em momento de crescimento da economia, você faz superávit maior. Eu sempre cito e estou citando novamente o Primeiro-Ministro do Canadá, Justin Trudeau, porque ele é um cara, viu Senador Cristovam, é um primeiro-ministro, um jovem fantástico. Eu estou empolgadíssimo com ele.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Ao contrário de Michel Temer, ele começou o Governo e colocou metade dos ministros mulheres. E perguntaram para ele: "Por que metade mulheres?" "Porque estamos no século XXI". Está fazendo uma discussão sobre política de drogas. Um sujeito extremamente interessante, que foi eleito dizendo o seguinte: "Eu vou fazer déficit por três anos seguidos, porque eu quero colocar a economia para crescer e depois nós vamos fazer superávit". Então, esse é um debate aberto entre escolas de economistas no mundo inteiro. Infelizmente, isso no Brasil está sendo criminalizado.

    Eu queria falar para o Senador Cristovam: o que está acontecendo neste momento? Nós estamos com déficit dois anos seguidos. Aqui a discussão é sobre quem vai pagar a conta para arrumar a situação fiscal. Esse é o debate. E o que eu estou me opondo é que, pela lógica deles, a conta vai ser paga só pelo andar de baixo, só pelos mais pobres, só pelos trabalhadores. O andar de cima, não, está fora - está fora!

    Você sabe que o Piketty veio aqui no Brasil - Piketty escreveu O Capital no século XXI - e reclamou que a Receita Federal não divulgava os dados do Imposto de Renda. E a Receita Federal teve que divulgar no ano passado. Saiu um estudo agora, Senador, analisando por faixa salarial. Os mais ricos no Brasil são isentos em 65% do que recebem. Os mais pobres e a classe média, não, pagam, por quê? Porque aqui nós temos coisas que só existem no Brasil: isenção tributária para distribuição de lucros e dividendos. Isso só existe no Brasil e na Estônia. Então, aqui um funcionário público que recebe R$5 mil, paga 27,5%. Quem recebe 300 mil a título de distribuição de dividendos, paga zero! Eu não vejo essa discussão ser colocada. O arrocho é só aqui.

    Também não vejo a discussão. Vamos tratar do déficit. Nós temos dois déficits: o primário e o nominal. Eles só discutem o primário, que está ligado à questão dos gastos. O nominal, que está ligado aos juros, eles não discutem. E aqui Senador Cristovam, desculpa por discordar: o problema dos juros no Brasil hoje, veja bem, nós estamos com a maior taxa de juros do mundo. Isso não mudou nem no governo Fernando Henrique, nem em nenhum governo. A Presidenta Dilma tentou, foi a única que tentou naquele período de 2012 e depois subiu novamente. Qual é o problema dos juros? Aqui nós estamos com os juros lá em cima. Aí dizem: "Ah não, a inflação...". Sim, mas a inflação subiu e todo mundo sabe quando vai olhar os números, por causa de preços administrados. Foi centralmente energia elétrica e gasolina. A inflação de demanda estava lá em baixo, porque é essa que a taxa de juros influencia. Estava lá em baixo.

    Eu chego a uma conclusão neste País... O candidato democrata a presidente dos Estados Unidos, Bernie Sanders, fez a campanha toda falando de Wall Street. Eu acho que o nosso grande problema hoje no País é essa discussão sobre rentismo e juros, que beneficiam não só os bancos, mas as maiores empresas do País. Das 250 maiores empresas, 247 têm departamentos financeiros que ficam pensando se a empresa vai investir na produção ou no título da dívida pública, e título da dívida pública está uma maravilha. O cara ganha pouco mais de 14%. Tirando 7% da inflação, ele tem 7% de lucro real.

    Então, há uma concertação política no País, na minha avaliação, que une grandes empresários, sistema financeiro e mídia em relação a essa questão dos juros. Sinceramente, acho que essa é uma das questões mais importantes do País. É dessa forma que eu vejo.

    Eu acho, então, Senador Cristovam - e V. Exª tem uma vantagem nesse debate todo, porque V. Exª é o defensor número um da educação -, que, neste momento, é errado a gente colocar na Constituição o limite de gastos pelo teto da inflação. Você está colocando na Constituição... A população vai crescer? Vai crescer. A população vai envelhecer? Vai envelhecer. É preciso ampliar gastos com saúde? É preciso ampliar gastos com saúde. O que eles estão fazendo é um corte brutal. Qualquer política de valorização dos professores acaba. Eles estão rasgando o PNE. Então, aqui, dessa forma, é um escândalo o que eles estão fazendo.

    Eu digo mais: eu falo que eles rasgam a Constituição do Dr. Ulysses, a Constituição cidadã, porque, na Constituição, o segundo capítulo se refere aos direitos sociais, a educação e saúde como direitos universais. E coloca lá as fontes de vinculação constitucional. É isso que eles querem pegar.

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Então, chamo a atenção para isto, Senador Cristovam: a gente tem que trabalhar para que os mais pobres não sejam penalizados, porque, quando você diminui recursos da saúde pública, você pega o mais pobre. Quando você diminui recursos da educação pública, você está pegando os mais pobres, as pessoas que mais precisam.

    Eu espero que a gente faça uma frente aqui para combater esse projeto dessa forma. Que se apresentem alternativas! Fizeram um acordo com a Fiesp, com o Paulo Skaf, dizendo "imposto, não". A grande questão são esses cortes. Então, faço um apelo aqui para que a gente consiga construir uma frente para preservar direitos dos trabalhadores, do PDT, a CLT de Getúlio Vargas, que também querem rasgar colocando o negociado na frente do legislado.

    Senador Cristovam.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Primeiro, quero pedir que me inclua como segundo assinante dessa frente, mas uma das formas de defender o direito do trabalhador é lutar contra a inflação. A inflação é a pior das corrupções, porque rouba de todo mundo e desestrutura a economia do País. Quase ninguém ganha, a não ser um ou outro que tenha informações privilegiadas. Então, vamos fazer essa frente. Agora, nessa frente, eu não vejo nenhum problema em se dizer para se limitar os gastos conforme a inflação de um ano para o outro. O teto geral. Agora, vamos discutir cada setor. Aí, vamos lutar para aumentar a educação. Se for para baixar da educação, essa frente vai estar comigo, eu vou estar com ela, e vamos brigar. Mas, se for para dizer "vamos limitar os gastos todos, mas o da educação a gente aumenta baixando outros gastos supérfluos que este País tem muito, ou então criando alguns impostos que penalizem os ricos e beneficiem os pobres". E aí, sinceramente, fui dos únicos aqui que defenderam a CPMF. Defendi quando ela foi criada, eu era governador. O PT era contra. Defendi quando o Lula trouxe aqui. Fui dos poucos que defenderam a CPMF, porque é um imposto que não dá para sonegar...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ..., que é recolhido de todo mundo... A única ressalva que eu tinha é que a carga fiscal estava muito alta. Mas hoje o rombo está tão alto que talvez seja preciso um sacrifício, sim. Estou de acordo. Agora, mais uma coisa aí sobre o Malraux - não, sobre o Malraux eu vou falar; uma coisa sobre o Trudeau, esse jovem, filho de um anterior...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Do meu tempo de jovem.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Também foi primeiro-ministro.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Pois bem: isso de ele colocar mulheres é um sinal dos tempos realmente. Aí, quero também fazer uma crítica ao Presidente interino, embora ele tenha voltado atrás. Senador Acir, o Presidente De Gaulle colocava ao lado direito dele, nas reuniões da presidência com os ministros, não o ministro da economia, nem o da defesa; ele colocava o Ministro da Cultura, que era o André Malraux. Uma vez lhe perguntaram por que ele colocava o Ministro da Cultura. Ele disse: "Porque ele me dá um toque de humanismo nas minhas discussões aqui." Então, essa ideia da cultura também foi um equívoco, a meu ver, em que ele voltou atrás. Mas vamos pegar agora Keynes. Eu fui keynesiano, até acontecer a globalização; até acontecer a revolução tecnológica de hoje. Por que eu digo isso? Quando vem a globalização, não adianta um país querer ter uma taxa de juros independente do que acontece no resto do mundo, porque o dinheiro vai embora.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Mas por que só a nossa é maior? Essa é a pergunta.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu não vou defender a taxa de juros, porque eu digo que isso é uma questão técnica. Isso não é uma questão política.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Desculpe, Senador, mas, se fizermos uma comparação internacional, vemos que a nossa dívida líquida está em pouco mais de 30%; que a bruta 60% e tantos, mas porque há reservas cambiais e houve investimento do BNDES. A comparação internacional da nossa dívida é inferior a dos principais países.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É, mas, quando se compara com os Estados Unidos, por exemplo, eles não têm problemas de dívida, porque mandam para o mundo inteiro os seus dólares. Certos países, como o Japão, têm uma confiança imensa e, então, não precisam, para atrair dinheiro, ter juros altos. Mas eu não defendo que a taxa de juros suba ou desça. Eu quero ter um Copom em que eu confie, e aí eu tenha de respeitar. Volto à metáfora da lei da gravidade. É um pouco uma coisa que tem a ver com técnica, sobretudo. Não gosto de politizar. Mas veja bem: a abertura... E hoje se manda dinheiro apertando-se uns botõezinhos no computador. Até, graças a isso, a propina da Petrobras foi para a Inglaterra, para o filho do Machado administrar. Segundo, a informatização não só para transferir dinheiro, como também do ponto de vista do impacto disso no mercado de trabalho, que gerou um desemprego estrutural no mundo inteiro, sobretudo na juventude, os "sem-sem": sem escola, nem emprego. Keynes hoje... Mais uma coisa: é que Keynes trabalhava um mundo quase sem inflação, o mundo do padrão ouro, em que o governo só emitia se tivesse uma quantidade de ouro que cobrisse aquilo. Aí, ele rompeu com isso, para liberar a economia do ouro. É verdade. Foi correto, mas, quando se tem uma cultura inflacionária, especialmente em um país como o Brasil, mais talvez do que em todos os outros, que têm piques de inflação, mas que depois cai... Temos uma cultura de uma geração inteira de inflação. É muito perigoso ser keynesiano hoje, tanto que eles se dizem neokeynesianos. Há uma vasta literatura do neokeynesianismo. E tem que ser um neokeynesianismo responsável. Acabou o tempo de se poder ser irresponsável. Até os anos 50, dava para se ter um grau de irresponsabilidade: fazer Brasília com esses gastos imensos, que poderia ter sido mais barata, e bonita também. Acabou a margem de irresponsabilidade. E como se acabasse a gordura. Não há mais gordura para fazer essas coisas.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Então, a responsabilidade fiscal é fundamental. Agora, estou na sua frente, para que a responsabilidade fiscal sacrifique outros setores, supérfluos, onde tem gordura - e não educação, e não saúde, e não segurança. E vamos ver onde é que a gente sacrifica, mas tem que ter. Eu gostei muito e anotei aqui uma coisa sua, fundamental, o melhor disso: quem paga a conta?

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Fora do microfone.) - Isso.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Talvez o melhor de provocação, para que eu continue refletindo quando sair daqui, é isso. E eu vou trabalhar. Quem é que paga a conta? Essa é a pergunta que a gente tem que fazer, porque há uma conta a pagar, porque a farra acabou. Agora alguém tem que pagar a conta.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Cristovam, eu agradeço.

    Quando V. Exª fala de Keynes, talvez hoje seja perigoso. Até aí tudo bem. O que não pode é criminalizar o debate, porque, aqui no Brasil, a gente está entrando numa coisa em que isso é crime. Nós temos que ter um debate aberto sobre essas questões, essas opções econômicas.

    E eu digo: não vejo relação entre a globalização e as políticas anticíclicas defendidas pelo Keynes, principalmente porque o que acontece no mundo hoje é o contrário desse discurso aqui do Brasil, Senador Cristovam. O FMI - eu vou trazer na próxima reunião - soltou um documento agora falando disso, que nós temos, numa conjuntura recessiva como esta, que ter cuidado com ajustes fiscais muito radicais. Temos que ter políticas de estímulo à economia. É o Fundo Monetário Internacional. Então, essa é uma discussão que existe no mundo, e eu acho que a gente está indo na contramão.

    Em relação à questão do projeto que limita a inflação, o problema é o seguinte, Senador Cristovam: quando a economia cresce, a receita está sempre acima da inflação. Se a gente quiser manter o que está vinculado na Constituição, o senhor sabe hoje, todo Município tem que investir 15% em saúde e 25% em educação. No Estado, é 12% em saúde e 25% em educação. Então, é essa a divisão. Se você faz o crescimento pela inflação, e não pela receita, nós vamos baixando isso proporcionalmente; vamos baixando. É fato, está baixando.

    Eu citei aqui um número que é tão forte que eu vou citar de novo: se essa regra valesse em 2006 - hoje o investimento em saúde foi de R$100 bilhões -, se ela valesse em 2006, o investimento em saúde seria de R$65 bilhões! Na educação, em vez dos R$103 bilhões, seriam R$31 bilhões.

    E é aqui onde entra uma outra discussão: por que estão fazendo isso? É a velha disputa pelo orçamento num momento de crise. Porque, quando há déficit fiscal como esse, acaba não sobrando dinheiro para se pagarem juros. Rola-se, porque não houve superávit. A grande questão aqui por trás é que eles querem, de toda forma, pagar primeiro o superávit, os juros para os rentistas, e o resto que sobrar divide-se para políticas sociais, para educação, para saúde. É isso que está por trás desse plano.

    E eu encerro a minha fala, porque estou aqui já há quase uma hora, dizendo, com muita sinceridade, Senador Cristovam: eu não vejo ninguém do PT torcendo pela saída da Dilma para ficarmos na oposição pelo golpe, porque esse é um processo muito doloroso para a gente também que está vivendo isto aqui. O senhor vê às vezes que nós não estamos fazendo teatro. A gente às vezes fica indignado, mas indignado de verdade, porque é um absurdo o que está acontecendo!

    Nesta situação toda de desgaste da política do País que existe, talvez, quando você olha para a Presidenta Dilma, você esteja dizendo: quem neste País é mais honesto e honrado que a Presidenta Dilma? Eu sei que há muitas pessoas, o Senador Cristovam e muitas outras pessoas, mas a Presidenta Dilma é desse patamar.

    A gente olha Eduardo Cunha, Romero Jucá, essa turma dando um... Eles jogaram para a eleição indireta. É um ataque ao voto popular.

    Então, Senador, eu digo de coração, de verdade mesmo aqui: nesta hora, não tem ninguém nosso fazendo cálculo político para 2018, pensando "Ah, a Dilma vai sair, e nós vamos para a oposição, o PSDB vai morrer, o PMDB vai morrer, e nós voltamos em 2018". Essa é uma avaliação tão pragmática que não cabe neste momento de tanta emoção para a gente, com essa discussão tão forte no País sobre esse impeachment.

    Às vezes, a gente diz que é o segundo impeachment, Senador Cristovam, mas, na verdade, não é o segundo, é o quarto. Esse é um fato pouco visitado, a imprensa sempre fala do segundo, mas, na posse de Juscelino Kubitschek, houve uma tentativa de golpe. Se não fosse o Marechal Lott, que era o Ministro da Guerra, que se antecipou... Diziam o seguinte: "O Juscelino não teve a maioria absoluta dos votos". O Café Filho se licenciou, entrou o Presidente da Câmara, Carlos Luz; depois da movimentação do General Lott, houve um impeachment do Carlos Luz e depois um impeachment do Café Filho. Eu estava visitando essas páginas da história há pouco tempo e pensava: no Brasil, todo mundo, toda a imprensa fala que é o segundo impeachment, mas, em verdade, é o quarto impeachment.

    Eu faço questão de registrar isso para a história e quero agradecer aos Srs. Senadores pela paciência com o tempo, agradecer ao Presidente Acir Gurgacz.

    Eu digo que a diferença entre o PT e o PMDB está nesses projetos, que são projetos diferentes. Um foi um projeto de inclusão social. E é inegável. O maior crítico do PT que exista tem de reconhecer que houve um processo vigoroso de inclusão social no País. O outro projeto que está aí é justamente de caminhar no sentido do retrocesso, de retirar direitos sociais conquistados nas últimas décadas, e - volto a repetir o que é meu mantra - ataca o legado do Lula, de Ulysses Guimarães e de Getúlio Vargas.

    Muito obrigado, Senador Acir Gurgacz. Muito obrigado, Senador Cristovam. Muito obrigado, Senadora Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2016 - Página 12